rocketman

Título Original

Rocketman

Lançamento

30 de maio de 2019

Direção

Dexter Fletcher

Roteiro

Lee Hall

Elenco

Taron Egerton, Kit Connor, Jamie Bell, Richard Madden, Bryce Dallas Howard, Stephen Graham, Gemma Jones, Jason Pennycooke, Charlie Rowe, Steven Mackintosh, Tom Bennett, Matthew Illesley, Kit Connor

Duração

121 minutos

Gênero

Nacionalidade

Inglaterra

Produção

Adam Bohling, David Furnish, David Reid, Matthew Vaughn

Distribuidor

Paramount Pictures

Sinopse

A trajetória de como o tímido Reginald Dwight (Taron Egerton) se transformou em Elton John, ícone da música pop. Desde a infância complicada, fruto do descaso do pai pela família, sua história de vida é contada através da releitura das músicas do superstar, incluindo a relação do cantor com o compositor e parceiro profissional Bernie Taupin (Jamie Bell) e o empresário e o ex-amante John Reid (Richard Madden).

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Rocketman | Crítica

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Muitas cinebiografias cometem o erro de tratar seus protagonistas não como seres humanos, mas como mitos idealizados – não é à toa que, em muitas destas obras (O Destino de uma NaçãoBohemian RhapsodyTolkien; etc), os responsáveis estão mais interessados em celebrar a imagem do biografado do que em traçar um perfil psicológico a seu respeito, criando narrativas que buscam não ofender o público e que “higienizam” praticamente todas as atitudes tomadas pelo indivíduo. E foi por isso que fiquei surpreso quando vi, logo nos primeiros minutos de Rocketman, o Elton John de Taron Egerton surgir vestindo uma fantasia laranja (com asas, chifres e óculos no formato de corações), sentando no meio de um grupo de apoio e assumindo seu vício em bebidas, sexo, drogas e compras. Ora, ali está um artista talentoso, amado no mundo inteiro e habituado a aparições chamativas, mas que não esconde sua condição de ser humano. Como não admirar isso?

Não que Rocketman escape totalmente da estrutura clássica das cinebiografias, já que as etapas mais óbvias do processo (ascensão, queda e redenção) estão todas presentes aqui. Em compensação, o diretor Dexter Fletcher (que terminou o horrível Bohemian Rhapsody depois que Bryan Singer foi demitido) adota estratégias formais que quase sempre impedem o longa de cair no lugar-comum. A primeira delas é a tendência ao exagero: ao contrário da maioria de seus “colegas” de gênero, que tentam buscar realismo na maneira como lidam com seus protagonistas, este novo longa resolve investir em uma abordagem mais lúdica e enfocar a jornada de Elton John ressaltando seus excessos. E a decisão não poderia ser mais bem-sucedida, já que, ao reconhecer que é simplesmente impossível conferir naturalidade a certos clichês, Fletcher aproveita para assumir a artificialidade em diversos momentos – e isso serve, inclusive, para ilustrar as condições psicológicas do protagonista, que frequentemente se entrega a viagens alucinadas que mudam o que passa em sua cabeça.

Assim, quando Elton se apresenta para uma plateia e sente que está finalmente sendo elevado a um patamar superior, Fletcher faz questão de mostrá-lo flutuando junto às pessoas presentes naquele salão, resultando numa cena que poderia soar tola, mas que funciona como poesia justamente por ser tão óbvia. Da mesma forma, é divertido que o tal “Homem-Foguete” descrito no título seja transformado em algo tão literal a partir de certo momento – o que nos traz à sequência principal de Rocketman: aquela onde o protagonista se afoga numa piscina e tem… digamos, um reencontro especial, dando início ao número musical mais importante do filme. Aliás, a decisão de contar a história de Elton John usando a estrutura dos musicais consiste em mais um acerto de Fletcher, pois serve como uma desculpa perfeita para que todas as canções do artista sejam usadas em momentos-chave e, com isso, reforcem o que elas realmente significam para ele.

Mas não só: ao transformar Rocketman num legítimo musical, Fletcher permite que o longa fuja um pouco do padrão das cinebiografias, enfocando toda a trajetória de Elton John a partir de uma ótica menos convencional – e a passagem de tempo (outro elemento difícil de ser retratado) é desenvolvida de maneira cuidadosa, porém dinâmica pela ótima montagem de Chris Dickens (Todo Mundo Quase MortoChumbo GrossoQuem Quer Ser um Milionário?), que, para citar um exemplo, aproveita um movimento de câmera sutil para saltar do passado ao presente durante a apresentação de Saturday Night. De todo modo, é claro que os números musicais não funcionariam se a direção de Fletcher não correspondesse às suas ambições, sendo um alívio, portanto, que o resultado faça jus à qualidade das canções (já excelentes por natureza): mantendo a câmera distante e deixando que o espectador sempre aprecie as coreografias e os atores em cena, o cineasta consegue imprimir ritmo às sequências mesmo empregando, na maior parte do tempo, planos relativamente longos, empolgando o espectador sem tornar as danças ininteligíveis.

Para completar, é impossível discutir uma cinebiografia sem falar sobre seu elemento mais importante: o biografado. Mais preocupado em explorar a persona de Elton John do que a imagem icônica criada a seu respeito, o roteiro de Lee Hall estabelece com calma cada componente responsável por transformar o artista em um exemplo de autonegação: quando criança, Elton era reprimido por seus pais e impedido de ser quem era; à medida que foi crescendo, no entanto, o sujeito buscou estratégias para eliminar quem era no passado e se tornar uma pessoa nova (aliás, esta transição é reforçada de maneira óbvia, porém eficaz pela fotografia de George Richmond e pelos figurinos de Julian Day); e é claro que, mais cedo ou mais tarde, ele percebe que negar sua personalidade não valeu a pena. Ou seja: sim, o velho clichê do “Seja você mesmo” está presente aqui, mas… o fato é que, quando o filme chega ao fim, o espectador sente que realmente conheceu e compreendeu as nuances que levaram Elton John a ser daquele jeito – e a performance de Taron Egerton (Kingsman) é uma grata surpresa, adotando composições cada vez mais explosivas (tom de voz forte; caras e bocas intensas; sotaque carregadíssimo; postura corporal cheia de vitalidade) a fim de retratar a instabilidade emocional do protagonista.

Eficiente também em seu design de produção (que, assinado por Peter Francis e Marcus Rowland, consegue ao mesmo tempo resgatar o espírito de cada década revisitada pelo filme e ilustrar as diferentes etapas na vida do protagonista, desde a infância carregada em sombras até a juventude repleta de cores e fantasias), Rocketman tropeça apenas em seus minutos finais, que, sentindo a necessidade de fazer Elton John se “reconciliar” com o passado (não direi como), atingem um resultado cafona mesmo considerando as intenções declaradamente absurdas de Fletcher. E sei que parecerei detalhista demais, mas devo dizer que a maneira como o filme termina me soou… abrupta, ligando o desfecho aos créditos finais de um jeito meio estranho.

Mas isso não anula as quase duas horas anteriores. Comparado à maioria das outras cinebiografias, Rocketman torna-se uma aula de como retratar a vida de um artista no Cinema sem sucumbir à mais batida das narrativas.

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