Super Mario Bros. (1)

Título Original

The Super Mario Bros. Movie

Lançamento

06 de abril de 2023

Direção

Aaron Horvath e Michael Jelenic

Roteiro

Matthew Fogel

Elenco

As vozes de Chris Pratt, Charlie Day, Anya Taylor-Joy, Jack Black, Keegan-Michael Key, Seth Rogen, Fred Armisen, Sebastian Maniscalco, Charles Martinet e Kevin Michael Richardson

Duração

92 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Chris Meledandri e Shigeru Miyamoto

Distribuidor

Universal Pictures

Sinopse

Mario é um encanador junto com seu irmão Luigi. Um dia, eles vão parar no reino dos cogumelos, governado pela Princesa Peach, mas ameaçado pelo rei dos Koopas, que faz de tudo para conseguir reinar em todos os lugares.

Publicidade

Super Mario Bros. – O Filme | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

O universo de Super Mario Bros. é tão absurdo e os designs de seus personagens são tão icônicos que seriam difíceis de ser transportados para uma versão em live-action sem que algo importante se perdesse no meio do caminho – uma dificuldade que já se provou real através do fracasso monumental da adaptação de 1993, que, estrelada por Bob Hoskins e John Leguizamo, enterrou qualquer chance da Nintendo entrar no ramo cinematográfico e praticamente inventou a “maldição dos filmes adaptados de videogames” que até hoje custa a ser quebrada. Assim, não é surpresa que agora, exatos 20 anos depois daquela tentativa, os personagens criados por Shigeru Miyamoto ressurjam nas telonas em uma animação, fazendo jus às possibilidades gráficas daqueles mundos fantásticos sem qualquer prejuízo (e evitando o mal que acometeu os fracos longas do Sonic, que pecavam por desperdiçar o potencial lúdico daquele universo em prol dos mesmos cenários reais – e sem graça – de sempre).

Produzido pela mesma Illumination de Meu Malvado Favorito e A Vida Secreta dos Pets, este novo Super Mario Bros. narra uma trama tão simples quanto a do game que o inspirou: enquanto os irmãos Mario e Luigi vivem tentando estabelecer uma carreira regular como encanadores (mas frustrando-se cada vez mais), em outro mundo o tirânico Bowser, rei das tartaruguinhas Koopas, reúne seu exército em busca da Superestrela, um artefato mágico que lhe trará poder suficiente para conquistar todos os demais universos e, principalmente, para… pedir a princesa Peach em casamento. No entanto, depois que algo faz Mario e Luigi irem parar nas dimensões paralelas de Bowser e Peach, os dois encanadores se descobrem capazes de unir-se à princesa e contribuir com a derrota do vilão e, por consequência, com a salvação de todos os mundos.

É uma premissa bobinha e simplória, de fato, mas que o roteiro do estreante Matthew Fogel faz funcionar ao amarrar cada etapa diferente da história de forma eficiente, costurando uma estrutura coesa que consegue incorporar as diferentes “fases” dos jogos de maneira orgânica, estabelecendo claramente o propósito narrativo de cada uma e o que leva uma situação à outra sem que estas soem aleatórias e episódicas – e, com isso, nós entendemos bem por que num momento os heróis terão de ir à fortaleza de Donkey Kong e, mais tarde, pilotar karts na Pista do Arco-Íris, encadeando cada passagem com uma lógica que vai além do mero fan service. Da mesma forma, as pequenas brincadeiras que o filme faz ao prenunciar certos detalhes da narrativa mostram-se inspiradas por fugirem do óbvio (não me passava pela cabeça, por exemplo, que o Mario poderia detestar cogumelos a ponto de tirá-los um a um do spaghetti que jantará), saindo-se igualmente bem ao reservar elementos emblemáticos (e, portanto, inevitáveis) dos jogos para os momentos nos quais caberão na trama (como as roupas “táticas” de raposa e gatinho, os cogumelos que Mario ingere para ganhar superpoderes, o balaço preto que é guardado para o clímax, etc).

Dito isso, o que realmente torna Mario bem-sucedido não é só o fato de incluir no roteiro os aspectos narrativos do jogo, mas, principalmente, o de conseguir traduzir, em uma narrativa essencialmente fílmica, as sensações que tínhamos quando jogávamos o game (mas sem que a ausência de nossa interatividade se torne um problema, como ocorreu na horrorosa adaptação de Assassin’s Creed, por exemplo). Investindo numa abordagem visual sempre ágil e dinâmica, os diretores Aaron Horvath e Michael Jelenic levam o espectador a experimentar um senso de desafio e atividade que remete àquele que teria numa jogatina – algo que já é prenunciado no primeiro ato quando o protagonista, solitário em seu quarto, aparece jogando um Atari (pelo jeito, seu passatempo favorito envolve a mídia na qual foi criado, numa sacada bacana por parte do longa). Há exemplos mais pontuais desta estratégia (quando Mario e Luigi saem correndo pelas ruas e atravessam um monte de obstáculos, o ato é registrado através de um travelling simétrico que recria a “visão de rolagem lateral”, ou side-scroller, dos jogos), mas também se aplica à decisão de retratar boa parte das lutas/perseguições/corridas pelos cenários em planos longos e movimentados que remetem ao fato de que, numa gameplay, a ação naturalmente ocorre de maneira fluída e sem cortes. Além disso, é interessante notar que, à medida que a narrativa avança, ela se torna cada vez mais desafiadora, aludindo ainda mais à ideia de “fases”.

Ao mesmo tempo, todos os momentos que de alguma forma remetem a qualquer elemento dos jogos (seja uma referência, um conceito ou uma aparição de algo/alguém que conhecemos) são enfocados pela dupla de diretores com uma naturalidade surpreendente, soando como aspectos que fazem parte da dinâmica própria do longa em vez de serem registrados através de uma pausa solene para que os fãs identifiquem aquilo e aplaudam euforicamente (quando, em certo instante, um figurante se senta num banco e, com isso, faz uma tartaruguinha ao lado ficar ricocheteando de um lado a outro, parando apenas quando o sujeito toca em cima dela, se trata de uma passagem breve se assemelha mais a um detalhe do que a uma referência escancarada). O mesmo se aplica à ótima trilha de Brian Tyler e Koji Kondo (este último compositor dos games originais), que não só resgata os temas dos jogos nos momentos certos como os insere no meio de melodias inéditas a fim de fazê-los parecerem mais naturais ao serem reproduzidos (por outro lado, a seleção de canções famosas escolhidas pela produção se mostra pouco inspirada, limitando-se às mais que manjadas “Battle Without Honor Or Humanity”, “Holding Out For A Hero”, “Take On Me”, “Thunderstruck”, etc).

Impressionante em seus aspectos técnicos (todo o trabalho dos animadores da Illumination, que se atêm a detalhes que vão desde a fluidez na movimentação dos personagens até a textura de suas roupas e acessórios, é admirável, ao passo que a direção de arte enche os olhos ao investir nas cores vibrantes e na fantasia absurda, criando mundos que parecem bolos gigantescos e que, mais uma vez, remetem diretamente à sua origem nos games), Mario acerta especialmente na concepção de seus adoráveis personagens – e o encanador que dá título ao filme, em especial, conquista graças à sua personalidade simultaneamente heroica e vulnerável (ele não parece uma figura imponente, mas nem por isso se revela atrapalhado, medroso ou reverente demais), sendo uma pena, porém, que o roteiro decida relegar Luigi a segundo (minto: a terceiro) plano durante a maior parte da projeção, desperdiçando seu carisma e interrompendo a ótima interação que os dois irmãos mantinham no início. E se Toad e Donkey Kong cativam em função do humor de suas respectivas personalidades (e limitações, no caso do gorilão), Peach se revela uma bem-vinda atualização do conceito da “princesa em apuros”, transformando-a numa heroína forte e independente que o filme não enxerga de maneira cínica nem se sente obrigado a transformar em par romântico do herói. Por último, Bowser provoca algumas das melhores risadas da projeção ao se apresentar não como um ser apenas megalomaníaco, mas como uma figura amorosamente insegura e patética que, caso parasse de tentar dominar/destruir o mundo, poderia se dar muito bem na carreira de coach misógino de Internet.

Atropelando-se um pouco em sua metade final, que fica dando voltas no mesmo lugar e se complicando mais que o necessário (culpa, em parte, desta velocidade alucinante que a narrativa adota ao atirar seus conceitos e easter-eggs), Super Mario Bros. ainda assim é uma aventurinha divertida e eficiente que eu não me espantarei caso venha a se tornar o modelo ideal de adaptações de videogames para o Cinema. Afinal, seria uma conquista mais do que merecida.

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

Mais para explorar

Garfield Fora de Casa | Crítica

Animação da Sony com alma de Illumination, a nova aventura do gato mais famoso das tirinhas em quadrinhos cria uma narrativa tão caótica que sobra pouco espaço para Garfield esbanjar sua personalidade e seu carisma habitual – o que é uma pena.

Planeta dos Macacos: O Reinado | Crítica

Às vezes parece um exemplar “menor”, menos ambicioso e um pouco menos eficaz – mas segue indicando que a série tem vida longa pela frente.

Close-Up | Crítica

Não importam as dúvidas sobre o que é real e o que é ilusório; sobre o que é documentação e o que é ficcionalização. No fim das contas, o que sobra na obra-prima de Abbas Kiarostami é o homem. E o Cinema.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *