The Flash (3)

Título Original

The Flash

Lançamento

15 de junho de 2023

Direção

Andy Muschietti

Roteiro

Christina Hodson

Elenco

Ezra Miller, Maribel Verdú, Michael Keaton, Sasha Calle, Ron Livingston, Ben Affleck, Michael Shannon, Kiersey Clemons, Jeremy Irons,

Duração

144 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Barbara Muschietti e Michael Disco

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

Os mundos colidem quando Flash viaja no tempo para mudar os eventos do passado. No entanto, quando sua tentativa de salvar sua família altera o futuro, ele fica preso em uma realidade na qual o General Zod voltou, ameaçando a aniquilação.

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The Flash | Crítica

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Superman. Batman. Homem-Aranha. Thor. Capitão América. Hulk. X-Men. Mulher-Maravilha. Homem de Ferro. Aquaman. Lanterna Verde. Quarteto Fantástico. Demolidor. Shazam! (ou “Capitão Marvel”). Flash Gordon. The Spirit. O FantasmaO Sombra. Os Vingadores. Liga da Justiça. Acredito que, de todos os heróis e heroínas mais tradicionais dos quadrinhos, um dos únicos que ainda faltavam ganhar seu próprio filme solo era… o Flash (ou, como muitos chamam, “o The Flash”), que, criado em 1940, se estabeleceu como um dos rostos mais conhecidos da DC (muito graças às séries live-action e animadas produzidas por esta), mas que, no Cinema, apareceu apenas como coadjuvante das histórias dos outros. Assim, é irônico – e até meio sacana – que, ao finalmente protagonizar um longa que carregue seu nome no título, o tal “homem mais rápido do mundo” surja dividindo boa parte do espaço (e do tempo de tela) com outros heróis que já tiveram várias oportunidades de estrelar suas aventuras.

Felizmente, o roteiro escrito por Chistina Hodson (Bumblebee, o melhor exemplar da série Transformers) jamais perde o foco do personagem que dá título ao filme, trazendo os demais personagens mais para agregar ao arco do protagonista do que para roubar as atenções para si. Neste sentido, é curioso perceber que, ao mesmo tempo em que é uma continuação dos eventos retratados em Liga da Justiça, The Flash não deixa de ser, também, uma história de origem, já que a forma com que o roteiro insere recursos como viagem no tempo e multiversos permite que conheçamos melhor o passado do protagonista, de onde vieram seus poderes e, principalmente, os traumas de infância que definiram o resto de sua vida. Determinado a usar sua supervelocidade para voltar ao dia em que sua mãe morreu a fim de salvá-la, o jovem Barry Allen acaba gerando um rombo no espaço-tempo (ou algo parecido) e indo parar numa realidade na qual conhece uma versão adolescente (e ainda mais imatura e bobalhona) de si mesmo. O que nenhum dos dois Barries esperava, contudo, é que naquela mesma época o general Zod está prestes a realizar o ataque alienígena que víramos em O Homem de Aço – mas, como nesta dimensão Superman nunca chegou à Terra, os Flashes contarão com a ajuda (pasmem!) da Supergirl e do Batman de Michael Keaton.

Mas se o fato de envolver tragédias familiares, realidades paralelas, viagens temporais ou interdimensionais e aparições de outros personagens da DC dá a entender que The Flash é uma obra grandiosa (em termos dramáticos e de escala), na prática a abordagem do diretor Andy Muschietti (que construiu sua carreira no Terror, incluindo aí It: Capítulo 1 e Capítulo 2) surpreende ao se dedicar abertamente a um humor despretensioso, cartunesco e quase paródico, buscando, como resposta do público, o riso – algo que fica claro já na sequência que apresenta o título do longa, que vai se formando na tela até ser interrompido por crianças que aparecem para tietar o Flash na rua. Neste sentido, The Flash é geralmente bem-sucedido em seus esforços cômicos, que funcionam principalmente quando exploram o lado “perdedor”, a inadequação e a falta de traquejo social do protagonista, que é estabelecido como o mais desastrado (e menos vivido sexualmente) dos membros da Liga da Justiça – e, assim, a imagem que vemos em dado momento de Barry sorrindo timidamente enquanto um dente cai de sua arcada se converte num resumo perfeito das escolhas do projeto. Dito isso, há ocasiões em que as tentativas de provocar o riso acabam passando do ponto, sendo notório, por exemplo, como toda a piada envolvendo a (quase) participação de Eric Stoltz em De Volta para o Futuro se estende até perder completamente a graça.

De todo modo, a verdade é que The Flash definitivamente não funcionaria caso o ator por trás do protagonista não desse conta do recado – e, se conseguimos rir em vários momentos da projeção, boa parte do mérito está na performance de Ezra Miller, que se mostra bem mais à vontade ao encarnar Barry Allen aqui do que nos filmes anteriores*. Lidando com a ousada tarefa de compor duas versões simultâneas do mesmo personagem (uma mais velha, tímida e introspectiva; outra mais nova, extrovertida e bem-humorada), Miller é hábil ao estabelecer não só as diferenças entre uma e outra, mas também a dinâmica entre ambas, já que um Barry Allen tem a oportunidade de se espelhar no outro, reconhecer as respectivas falhas/qualidades e, portanto, amadurecer ao seu próprio modo – embora seja importante dizer que, às vezes, a versão mais nova e expansiva do herói soe mais irritante do que engraçada (o que é importante de um ponto de vista narrativo, pois permite que o Barry mais velho perceba o quão babaca e imaturo é/era, mas não a ponto de tornar menos agonizantes, por exemplo, as risadinhas desafinadas de sua versão adolescente). Ainda assim, o timing de Ezra Miller se mostra não só eficiente, mas fundamental para o sucesso das passagens mais irreverentes, provocando o riso a partir de gestos sutis como, por exemplo, o (baixinho) gemido de dor que solta ao tentar atravessar uma parede e dar de cara no chão.

Enquanto isso, o retorno do Bruce Wayne de Michael Keaton representa, sem dúvida alguma, um dos pontos altos da produção – mesmo que a cena que (re)introduz o personagem, numa versão deprimida e cabeluda, se revele um dos piores momentos da projeção, tentando surpreender momentaneamente o espectador (afinal, ninguém esperaria reencontrar o herói de forma tão inusitada – para não dizer ridícula) apenas para, poucos minutos depois, trazê-lo de volta já com seus dilemas totalmente resolvidos. A sorte, contudo, é que assim que o “Batkeaton” surge em cena (com seu inevitável “Yeah… I’m Batman”), torna-se impossível conter um sorrisinho e um arrepio na espinha – o que se deve não só ao retorno dos temas criados por Danny Elfman para os filmes dirigidos por Tim Burton, mas também à maneira com que Andy Muschietti aproveita o herói nas sequências de ação, explorando bem suas habilidades ao passo que, nos instantes mais introspectivos, aprofunda o personagem ao retratar a experiência emocional que o tempo lhe trouxe.

Trazendo ainda o Batman de Ben Affleck naquela que talvez seja a melhor aparição desta versão do personagem (e o monólogo que oferece a Barry Allen sobre a impossibilidade de se mudar o passado, em especial, é tocante), The Flash conta com a presença de outra figura que, mesmo com menos tempo de tela, se destaca na medida do possível: a Supergirl de Sasha Calle, que é apresentada como uma heroína imponente e cuja personalidade durona (e até sombria) é resultante de uma vida inteira de dores, traumas e torturas. Em contrapartida (já que estamos falando sobre a forma com que o filme inclui outros rostos conhecidos da DC), é decepcionante chegar ao terceiro ato e perceber que os realizadores não resistem à tentação de enfiar, no meio do clímax, uma longa e dispensável sequência que traz vários outros personagens do estúdio (em suas mais diversas encarnações) por motivos de puro fan service, cometendo ainda a imensa falha ética de recriar digitalmente imagens de atores já falecidos e que, portanto, não teriam como autorizá-las aqui – e até mesmo a aparição surpresa de um Superman que quase foi interpretado por um astro famoso nos anos 1990 fracassa por se apresentar como uma piadinha que só os mais inteirados vão pescar e que, para piorar, surge no meio de um momento supostamente urgente e grandioso.

O que nos traz ao ponto mais delicado (e, no entanto, inevitável) de The Flash: a baixíssima qualidade dos efeitos gerados em computação gráfica. Sim, filmes de super-heróis com efeitos visuais problemáticos são o que menos falta por aí, mas, ainda assim, o que vemos aqui são composições que, honestamente, não me parecem apenas “artificiais”; me parecem incompletas mesmo – uma percepção que acredito se confirmar pela quantidade de sessões antecipadas que a Warner fez nas últimas semanas exibindo o que afirmava não ser a versão final do longa. Da velocidade com que o Flash corre (notavelmente inferior à aceleração no espaço ao seu redor) às texturas lavadas dos bonecos digitais (que soariam mais adequadas numa cutscene de um jogo de PlayStation 2), os efeitos visuais de The Flash são duvidosos do início ao fim – e, sinceramente, não acho que se tratem de uma escolha artística proposital, já que a qualidade das composições oscila de cena em cena e, muitas vezes, surgem mais “convincentes” em momentos que se beneficiariam de algo mais cartunesco do que em passagens mais solenes e/ou dramáticas.

Dito isso, os momentos em que The Flash se permite abraçar a estilização merecem certo crédito, já que revelam uma disposição notável a imaginar coisas realmente criativas – e, se o instante que se aproxima do olho de Barry a ponto de enfocar suas moléculas enquanto atravessam uma parede é admirável (de novo: há uma tentativa de assumir um aspecto cartunesco que funciona bem), a sequência no início que acompanha o herói salvando (em câmera lenta) vários bebês que caem de um prédio não poderia ser mais divertida (por mais artificiais que sejam os efeitos digitais, ao menos estão à mercê de algo imaginativo em termos visuais e de ação). E se as cenas de ação são coordenadas por Andy Muschietti com clareza e dinamismo constantes, a ótima trilha de Benjamin Wallfisch se encarrega de complementá-las com ainda mais energia.

Mas, no fim das contas, a maior surpresa de The Flash é o fato de se revelar uma aventura autocontida que, em meio a momentos de pura comédia, explanações sobre multiversos e aparições de outros heróis, jamais perde de vista os dramas de seu personagem. Sim, o riso é a reação que tive com mais frequência no filme, mas o nó que tive na garganta ao ver o encontro final entre Barry Allen e sua saudosa mãe foi infinitamente mais marcante.

–––––

*Sim, eu sei que as atitudes do ator em sua vida pessoal, fora das telonas, têm sido motivo de controvérsias horrorosas ao longo dos últimos anos (em especial, deste último), mas acredito que vocês entendam que o foco desta análise diz respeito exclusivamente ao seu trabalho no filme. Enfim… sigamos.

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

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