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Título Original

It: Chapter Two

Lançamento

5 de setembro de 2019

Direção

Andy Muschietti

Roteiro

Gary Dauberman

Elenco

James McAvoy, Jaeden Martell, Jessica Chastain, Sophia Lillis, Jay Ryan, Jeremy Ray Taylor, Bill Hader, Finn Wolfhard, Isaiah Mustafa, Chosen Jacobs, Jack Dylan Grazer, Andy Bean, Wyatt Oleff, Bill Skarsgård, Jackson Robert, Joan Gregson, Javier Botet, Élodie Bouchez, Teach Grant, Nicholas Hamilton, Jess Weixler, Will Beinbrink, Xavier Dolan e Taylor Frey

Duração

169 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Roy Lee, Dan Lin e Barbara Muschietti

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

27 anos depois dos eventos de “It – A Coisa”, Mike (Isaiah Mustafa) percebe que o palhaço Pennywise (Bill Skarsgård) está de volta à cidade de Derry. Ele convoca os antigos amigos do Clube dos Otários para honrar a promessa de infância e acabar com o inimigo de uma vez por todas. Mas quando Bill (James McAvoy), Beverly (Jessica Chastain), Ritchie (Bill Hader), Ben (Jay Ryan) e Eddie (James Ransone) retornam às suas origens, eles precisam se confrontar a traumas nunca resolvidos de suas infâncias, e que repercutem até hoje na vida adulta.

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It: Capítulo 2 | Crítica

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Quando o primeiro “capítulo” de It chegou aos cinemas, em 2017, me peguei positivamente surpreso com o resultado final, já que eu nunca havia lido o livro escrito por Stephen King e nem assistido à minissérie lançada em 1990. Resgatando boa parte do estilo estético que marcou os anos 1980, o diretor Andy Muschietti conseguiu manter um equilíbrio eficiente entre os momentos de puro horror e a ingenuidade típica de produções infanto-juvenis feitas naquela época – e, além disso, a maneira como o roteiro lidava com o conceito de medo era tematicamente ambiciosa, retratando como o mundo dos adultos podia ser ameaçador aos olhos de uma criança, por exemplo. Era, em resumo, um belo filme de terror. Infelizmente, não sou capaz de dizer o mesmo sobre este Capítulo 2, que, mesmo cumprindo bem a tarefa de encerrar a história iniciada no longa anterior, apresenta uma série de problemas que acabam enfraquecendo o resultado final.

Encarregando-se de adaptar a segunda metade do imenso livro de Stephen King, esta continuação se passa 27 anos após os eventos do primeiro filme e já começa revelando, para o espectador, que Pennywise voltou para aterrorizar a cidadezinha de Derry. Assim, os antigos integrantes do “Clube dos Otários” – agora crescidos e transformados em seis adultos bem estabelecidos – decidem se reunir para acertar as contas com o palhaço de uma vez por todas; o que, na prática, significa que eles terão que encarar seus traumas de infância e finalmente resolvê-los de maneira permanente. A partir daí, o roteiro de Gary Dauberman passa a se dividir em duas linhas temporais: embora situada no presente, enfocando os seis adultos enquanto lidam com seus problemas individuais, a narrativa frequentemente mergulha em flashbacks que voltam à infância dos personagens, justificando o retorno das crianças que conhecemos no “capítulo” anterior.

Soando como uma extensão orgânica de todos os temas que foram abordados no primeiro longa, It: Capítulo 2 revela-se ainda mais ambicioso do que o Capítulo 1, aspirando a uma grandiosidade cada vez maior e se superando no que diz respeito à quantidade de ideias propostas pelo roteiro (não é surpresa, portanto, que o filme tenha quase três horas de duração). Desta maneira, o roteiro de Dauberman (com base, claro, no livro de King) faz um bom trabalho ao propôr uma evolução de tudo aquilo que foi apresentado no anterior: se antes o foco estava no medo que a perversidade dos adultos gerava nas crianças, agora passou a estar nos traumas que os adultos adquiriram quando crianças e que tendem a persegui-los para sempre. Aliás, as situações que mais perturbam o “Clube dos Otários” giram em torno não de monstros assassinos ou de visões assustadoras, mas de temores mundanos: quando Richie, agora um comediante profissional, falha em realizar seus bits durante um show de stand-up, a reação enfurecida da plateia causa um mal estar notável no rapaz. Mas nada é tão revelador quanto a cena inicial do filme, que, mostrando um casal gay sendo espancado no meio da rua, faz o espectador a perceber como a figura de Pennywise pode não ser tão assustadora quanto a de um grupo de homofóbicos, por exemplo.

Em contrapartida, um dos maiores problemas de It: Capítulo 2 é justamente… seu excesso de ambição (o que não deixa de ser irônico): por um lado, é admirável que o roteiro de Dauberman apresente tantas ideias interessantes; por outro, estas mesmas ideias vão se acumulando a ponto de transformarem o filme em um caos narrativo, conceitual e estrutural, como se os conceitos introduzidos aqui simplesmente não funcionassem bem em conjunto. Perdendo tempo com subtramas, conceitos e personagens dispensáveis (o retorno do bully Henry Bowers, em especial, poderia ter sido facilmente descartado, já que, a rigor, não acrescenta nada à trama principal), o longa investe em uma estrutura ambiciosa, mas que tende a prejudicá-lo o tempo todo: ao oscilar entre sequências ambientadas no presente e flashbacks concentrados na infância dos protagonistas, a narrativa frequentemente perde o foco, como se não definisse qual das duas épocas será a base da história como um todo. Além disso, a dinâmica que compõe o segundo ato revela-se frouxa e repetitiva, consistindo em uma espécie de “rodízio” de momentos nos quais cada integrante do “Clube dos Otários” enfrentará seu trauma particular e se deparará com Pennywise (aqui, Beverly levará um susto do palhaço; ali, será a vez de Ritchie; mais à frente, chegará a hora de Bill; e assim por diante).

Mas o que mais decepciona em It: Capítulo 2, por incrível que pareça, são os tropeços cometidos por Andy Muschietti, que, ao contrário do que ocorria no primeiro filme, desta vez entrega um trabalho notavelmente irregular: para cada momento em que o cineasta consegue envolver o espectador em uma atmosfera de tensão consistente (a cena em que Pennywise conversa com uma menina no escuro é um exemplo disso – e o mesmo se aplica à sequência em que uma criança se vê presa entre Bill e o palhaço no meio de um labirinto num parque de diversões), há outros dois ou três que adotam táticas terrivelmente óbvias, como musiquinhas graves, barulhos que interrompem o silêncio de forma repentina e sustinhos que, de tão previsíveis, acabam não gerando impacto algum. Ao contrário de seu antecessor, que construía o terror de maneira sempre eficiente e cautelosa, este Capítulo 2 está sempre apelando para jump scares tolos, artificiais e frequentemente engolidos pelos fracos efeitos digitais. Há, inclusive, algumas cenas que soam constrangedoras em vez de assustadoras, como aquela em que a canção “Angel of the Morning” surge brevemente no meio de uma ação. Como se não bastasse, existem vários momentos assustadores e/ou dramáticos que serão fragilizados pela insistência do roteiro em fazer piadinhas o tempo inteiro – e o personagem de Bill Hader, em especial, parece obrigado a fazer alguma gracinha em todas as cenas das quais participa.

Não que Hader ou qualquer outro ator esteja mal no filme – aliás, um dos prazeres oferecidos por It: Capítulo 2 consiste em reencontrar os personagens do Capítulo 1 agora em suas versões adultas, descobrindo o que o destino reservou para cada integrante do “Clube dos Otários”. Transformando-se em uma espécie de avatar do próprio Stephen King (um escritor que recebe elogios por seus trabalhos, mas que costuma ser acusado de “não saber como terminar uma narrativa”), James McAvoy encarna Bill como um roteirista bem estabelecido, mas que precisa aprender a lidar com as críticas que eventualmente recebe e com a insegurança que, em menor ou maior grau, tende a acentuar seus problemas de dicção, ao passo que Jessica Chastain estabelece Beverly como uma mulher perseverante e determinada a enfrentar os abusos que sofreu de seu pai e que vinha sofrendo de seu marido. Já Isaiah Mustafa posiciona Mike quase como “líder” do grupo, enquanto Jay Ryan, ao viver Ben, exemplifica o drama de alguém que sofreu bullying quando criança e que carrega as cicatrizes disso até hoje.

E há, claro, Bill Skarsgård e sua interpretação de Pennywise. Quando escrevi sobre o Capítulo 1, comentei que aquele provavelmente seria o filme responsável por formar uma nova geração de crianças que morrem de medo de palhaços – e muito disso vinha da performance de Skarsgård, que, com seu olhar ameaçador (e estrábico), seu sorrisinho bizarro, seus lábios levemente mordidos (sugerindo a “fome” que o palhaço tinha de atacar suas vítimas) e seu tom de voz ao mesmo tempo inocente e perturbado, fazia o espectador sentir-se, no mínimo, incomodado diante da presença do personagem. Neste Capítulo 2, Skarsgård segue investindo neste tipo de composição e retratando Pennywise como uma persona intimidadora, revelando-se correto sempre que surge em cena – o problema, no entanto, é que o tempo de tela conferido ao personagem é ridiculamente pequeno (não, sério: a participação do palhaço ao longo do filme inteiro deve totalizar uns dez minutos no máximo!), o que é frustrante.

Surpreendendo ao apresentar um epílogo bem mais emocional e intimista do que poderíamos esperar, It: Capítulo 2 ao menos complementa razoavelmente bem o arco iniciado lá no Capítulo 1, oferecendo um desfecho eficiente para a história como um todo – e é admirável que, seguindo o exemplo de seu antecessor, o filme empregue a estrutura do Terror para falar sobre como as coisas que nos assustam são infinitamente mais mundanas do que um monstro como Pennywise, podendo ser, por exemplo, um trauma que carregamos desde a infância e que nunca conseguimos superar. No fim das contas, é importante encarar os demônios do passado e exorcizá-los de uma vez por todas, mesmo que isso seja terrivelmente assustador – e isto é algo que It demonstra com competência. Só é uma pena que esta segunda metade seja tão inferior à primeira.

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