Trumbo (1)

Título Original

Trumbo

Lançamento

28 de janeiro de 2016

Direção

Jay Roach

Roteiro

John McNamara

Elenco

Bryan Cranston, Diane Lane, Helen Mirren, Louis C.K., Elle Fanning, John Goodman, Alan Tudyk, Dean O’Gorman, John Getz, Adewale Akinnouoye-Agbaje e David James Elliott

Duração

124 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

John McNamara, Michael London, Kelly Mullen, Janice Williams, Shivani Rawat, Monica Levinson, Nimitt Mankad e Kevin Kelly Brown

Distribuidor

Califórnia Filmes

Sinopse

O roteirista Dalton Trumbo (Bryan Cranston) tem uma história singular em Hollywood: apesar de ter escrito algumas das histórias de maior sucesso da época, como A Princesa e o Plebeu (1953), ele se recusou a cooperar com o Comitê de Atividades Antiamericanas do congresso e acabou preso e proibido de trabalhar. Mesmo quando saiu da prisão, Trumbo demorou anos para vencer o boicote do governo, sofrendo com uma série de problemas envolvendo familiares e amigos próximos.

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Trumbo: Lista Negra | Crítica

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Considerando que não há um dia sequer onde os meios de comunicação social não sejam inundados por um tsunami de xingamentos e ataques baixos assim que se acendem discussões ideológicas envolvendo temas como política, religião e ética (algo que também relatei no texto sobre Expresso do Amanhã), Trumbo – Lista Negra acaba se revelando um filme relevante e que merece ser visto por promover o debate como substituto da agressão verbal de maneira eficaz. Dito isso, é uma pena que uma obra tão valorosa do ponto de vista temático seja sabotada por um roteiro que apela constantemente para diálogos rasos e concepções caricaturais dos personagens – e mesmo que conte com o fabuloso Bryan Cranston no papel principal, a produção ainda é prejudicada por uma direção frágil e pouco inventiva.

Dirigido por Jay Roach (de Austin Powers e Entrando Numa Fria) e escrito por John McNamara com base no livro biográfico de Bruce Alexander Cook, o longa gira em torno do roteirista Dalton Trumbo, que, dono de um talento invejável, se torna vítima do macarthismo e passa anos na cadeia, passando a compor a Lista Negra que trazia diversos nomes relacionados ao entretenimento de Hollywood a serem boicotados por simpatizarem com o Partido Comunista. Ao ser liberto da prisão, Trumbo entrou numa jornada para reconquistar o prestígio em meio a uma indústria/sociedade que refutava os comunistas, o que levou o roteirista a utilizar pseudônimos em seus trabalhos – para se ter ideia, Trumbo “ganhou” dois Oscars em anonimato: um por A Princesa e o Plebeu e outro por Arena Sangrenta.

Inteligente ao evitar o levantamento de bandeiras ideológicas ou opiniões partidárias, Trumbo não visa enaltecer o comunismo e tratá-lo como uma solução para os problemas sociais – na realidade, o principal discurso que a obra procura imprimir afirma que o ideal para que uma sociedade progrida de maneira sadia é debater racionalmente e sem jamais apelar para insultos que só depõem contra a sabedoria daqueles que os proferem. Trata-se de uma película que merece ser conferida principalmente por conta de sua relevância, já que, em tempos onde pessoas são hostilizadas apenas por passarem perto de determinadas manifestações utilizando vestimentas vermelhas e figuras conhecidas são atacadas em momentos íntimos apenas por defenderem publicamente certas ideologias/partidos (algo que ocorre com o próprio Dalton Trumbo ainda nos minutos inicias do longa), é de se admirar que uma produção artística se disponha a promover o debate de ideias sem panfletar – aliás, o próprio roteiro (por mais problemático que seja) é hábil ao questionar a vida cômoda que o protagonista leva, tendo sua riqueza questionada em razão de sua posição como comunista.

Assim, é uma pena que John McNamara se entregue ao maniqueísmo barato e transforme a maior parte dos coadjuvantes em caricaturas com a profundidade de um pires que servem somente como ferramentas a contribuírem para o avanço da jornada do personagem-título e da narrativa. No processo, a colunista Hedda Hopper é caracterizada como uma vilã diabólica e incapaz de realizar quaisquer ações que não possam ser descritas como nefastas ao passo que os executivos dos estúdios cinematográficos se resumem, em sua maioria, a figuras aproveitadoras e oportunistas que repreendem Dalton aqui antes de requisitar seu apoio ali. Como consequência, boa parte dos antagonistas do longa surgem excessivamente cartunescos e vazios; e mesmo quando tenta conferir densidade, por exemplo, à família de Trumbo, o roteiro se entrega a soluções fáceis e o tempo de tela para os conflitos criados soa insatisfatório.

Pra piorar, o desempenho de Jay Roach como diretor é igualmente sintomático: realizando um trabalho que parece mais adequado a uma produção televisiva, o cineasta peca brutalmente ao adotar com frequência planos fechados demais nos rostos dos personagens, numa decisão deselegante e que tende a potencializar a precariedade técnica do longa. E por mais que os figurinos e o design de produção sejam minuciosos e eficazes ao retratar a época onde o filme se passa, a direção de fotografia se mostra aborrecida e pobre ao ponto de utilizar aqui e ali alguns planos rodados com a câmera na mão (e estes não aparentam ter sido feitos com o intuito de acrescentarem à película um tom similar ao dos documentários, já que surgem apenas pontualmente em meio a tantos outros quadros estáticos igualmente infames). Como se não bastasse, Roach ainda se mostra falho e terrivelmente óbvio na condução de determinadas sequências dramáticas, algo que só não constrange mais do que os eventuais zooms lentos que o diretor aplica nos atores sempre que estes proferem algo significativo ou simbólico.

Felizmente, Trumbo é salvo por dois fatores decisivos: seu protagonista e o homem que o interpreta. Indicado ao Oscar por seu desempenho aqui, Bryan Cranston (o Walter “Heisenberg” White da fantástica série Breaking Bad) consegue conferir profundidade ao personagem-título do filme e caracteriza-lo como um sujeito claramente imperfeito, porém capaz de ganhar a admiração do público – e, assim como nas últimas produções que integrou (até em Godzilla), o ator demonstra uma capacidade impressionante de acrescentar energia a detalhes pequenos como risos, tosses e falas gaguejadas. Por sinal, Cranston é hábil ao transformar Dalton Trumbo numa figura poderosa quando se encontra realizando seu ofício, o que faz das sequências que trazem o protagonista datilografando em sua máquina de escrever surpreendentes pelo grau de vivacidade conferido pelo ator. E se Diana Lane se sai bem numa performance serena e humana, Louis C.K. (um dos grandes nomes do humor contemporâneo) cria um indivíduo denso e cujo receio que demonstra quanto à possibilidade de lutar por seus ideais o torna mais vulnerável, ao passo que John Goodman surge como uma presença agradável – como já era de se esperar – num papel que automaticamente remete ao personagem que o mesmo ator viveu em O Artista.

Saindo-se relativamente bem ao investir num desfecho didático, porém eficiente em seus esforços dramáticos (e muito disso se deve, novamente, ao poder das interpretações – não serei mais específico que isso para evitar spoilers), Trumbo é uma obra cujo valor temático a torna inquestionavelmente relevante. É uma pena, no entanto, que isto não seja o suficiente para torná-la verdadeiramente efetiva como produto artístico; e por mais que o trabalho de Bryan Cranston garanta a alegria do espectador, o mesmo não pode ser dito com relação à direção de Jay Roach ou ao roteiro de John McNamara.

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