Turma da Monica Lições 4

Título Original

Turma da Mônica: Lições

Lançamento

30 de dezembro de 2021

Direção

Daniel Rezende

Roteiro

Thiago Dottori e Mariana Zatz

Elenco

Giulia Benite, Kevin Vechiatto, Laura Rauseo, Gabriel Moreira, Laís Vilella, Vinícius Higo, Emilly Nayara, Lucas Infante, Monica Iozzi, Malu Mader, Paulo Vilhena, Luiz Pacini, Isabelle Drummond, Augusto Madeira, Fafá Rennó, Gustavo Merighi, Rodrigo Kenji, Giovani Nicholas, Pedro Souza, Sofia Munhoz, Gabriel Blotto e Camila Brandão

Duração

97 minutos

Gênero

Nacionalidade

Brasil

Produção

Daniel Rezende, Karen Castanho, Marcio Fraccaroli e Fernando Fraiha

Distribuidor

Downtown Filmes

Sinopse

Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão fogem da escola. Agora, terão que encarar as suas consequências, e elas não serão poucas. Nesta nova jornada, a turma descobrirá o real valor e sentido da palavra amizade. 

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Turma da Mônica: Lições | Crítica

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Turma da Mônica: Lições é uma bela demonstração de como uma produção dita “popular” ou “popularesca” pode, sim, ser tratada com cuidado e carinho. Obviamente projetado para atingir um público amplo (afinal, estamos falando dos personagens de quadrinhos mais amados da História do Brasil), o filme não encara isso como desculpa para se resumir a uma peça publicitária que escancara sua natureza de produto pré-pronto em uma esteira transportadora e que insiste em calar a voz e os sentimentos de seus realizadores a fim de tratá-los como operários, permitindo, em vez disso, que seu diretor, Daniel Rezende (Bingo: O Rei das Manhãs), exiba não só uma personalidade própria (e mais atenciosa à forma e ao estilo em si), mas também sentimentos que soam resultantes do real afeto dos realizadores por aqueles personagens em vez de criados artificialmente para arrancar um riso ou uma lágrima.

Escrito por Thiago Dottori (que já tinha roteirizado o anterior) e por Mariana Zatz (das séries Hard e Ninguém Tá Olhado) a partir da HQ homônima que os irmãos Vitor e Lu Cafaggi publicaram na coleção “Graphic MSP” (e que ainda não li), Turma da Mônica: Lições conta uma história curiosamente simples, mas que funciona justamente por isso (como discutirei adiante): preparando-se para encenar uma versão infantil de Romeu & Julieta na próxima feira que ocorrerá no Bairro do Limoeiro, a turminha encabeçada por Mônica é convencida por Cebolinha a fugir da escola por um único dia – uma fuga que, no entanto, acaba resultando num acidente que termina por fraturar o braço da personagem-título e por levar os pais das crianças a considerá-las má influência umas às outras. Com isso, o pai e a mãe de Mônica decidem se mudar para outro bairro e matriculá-la em outra escola, tudo com o intuito de separá-la de Magali, Cascão e, principalmente, Cebolinha. A partir daí, Lições passa a se concentrar basicamente na dor da solidão de Mônica (agora perseguida por um valentão que toma o Sansão para si) e das saudades dos outros três amigos – e a ideia de espelhar a dinâmica de Mônica e Cebolinha no romance de Romeu e Julieta (a ponto de inseri-lo explicitamente na trama) é um detalhe particularmente inteligente do roteiro.

Sem cometer o erro comum de simplesmente repetir as mesmas batidas do longa original, exagerando na dose dos ingredientes que outrora deram certo, esta continuação conquista por sua simplicidade, que é ainda mais assumida que no filme passado: se Laços ainda tentava criar uma aventura relativamente grandiosa, com as quatro crianças partindo numa missão em busca do Floquinho, Lições mal sente a necessidade de inventar uma trama muito elaborada, interessando-se mais nos pequenos instantes que compõem a dinâmica e a intimidade entre Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali – afinal, por menores que sejam em escala, estes momentos são grandiosos para aqueles personagens. (E, de todo modo, estas passagens são encadeadas em uma estrutura coesa que as impede de soarem isoladas, episódicas.) Para a turma que dá título ao filme, a simples ideia de pensar em se distanciar (e romper os laços construídos no capítulo anterior) já representa uma tragédia absoluta, um choque grande demais para ser processado, sendo apropriado, portanto, que Daniel Rezende encare a separação dos personagens como um drama concreto e (não menos importante) a inevitável reunião deles como um momento catártico o bastante para merecer ser enfocado em uma câmera lenta que se prolonga por minutos.

Pois o que Turma da Mônica: Lições defende é que a lealdade contida nas amizades das crianças resulta de uma integridade emocional que falta ao universo dos adultos – que, habituados a lidar com seus problemas de adultos, muitas vezes se esquecem de dar atenção e manter viva uma das coisas mais preciosas que podemos cultivar em qualquer momento da vida: os tais laços de amizade. Neste sentido, a decisão de Daniel Rezende de voltar à mesma estilização que pontuou o filme anterior (a paleta multicolorida; os efeitos sonoros que remetem a um desenho animado; as casas que frequentemente parecem artificiais de propósito) mostra-se eficiente não só por resgatar a natureza lúdica e colorida do universo criado pelos quadrinhos do genial Mauricio de Sousa, mas também por ajudar a calcar a narrativa em um imaginário infantil (mas que o filme nunca deixa de levar a sério e de tratar com carinho). Em contrapartida, ocasionalmente a direção de atores peca por insistir em uma abordagem mais realista do que o texto exigia, fazendo boa parte das falas soarem mecânicas em vez de espontâneas (seja para o lado da naturalidade ou, num outro extremo, da caricatura proposital).

Montado por Marcelo Junqueira com um dinamismo que não só confere ritmo e fluidez à narrativa como também ilustra bem a fertilidade da imaginação das crianças (logo na cena que abre a projeção, alternamos entre os ensaios para a peça de Romeu & Julieta e as visões que os meninos têm de como será a apresentação), o filme se apresenta eficiente também em suas tentativas de humor, que, trazendo as participações de vários outros personagens criados por Mauricio de Sousa (além das divertidas pontas dos irmãos Cafaggi, do editor Sidney Gusman e – minha preferida – do próprio Sousa), funcionam dentro desta chave de simplicidade e conseguem sempre encontrar formas novas de extrair o riso a partir das mesmas premissas: sim, constantemente as piadas giram em torno da gula de Magali (que parece incapaz de não comer qualquer coisa que esteja à sua frente) ou da aversão de Cascão à ideia de encostar em água, mas estas jamais se tornam repetitivas, já que, embora a premissa das tiradas se repita, a execução destas frequentemente se renova (pensem em Chaves sempre encontrando uma situação diferente para dizer “Foi sem querer querendo” ou no Professor Raimundo a cada semana fazendo uma pergunta provocativa nova a fim de sempre levar Dona Bela à mesma reação de horror).

Aliás, assim como no original, esta continuação traz um momento (no terceiro ato) no qual cada personagem ganha a oportunidade de superar algum receio pessoal, seja Mônica se distanciando de Sansão, Magali tendo que controlar o impulso de comer algo ou Cascão tendo que molhar as mãos. A diferença é que, se antes as crianças tinham que fazê-lo porque a urgência da situação as obrigava, desta vez é porque o compromisso que elas estabeleceram entre si (realizar uma versão mirim de Romeu & Julieta) as compele naturalmente a encarar estes desafios.

Em outras palavras: o que fez aquelas quatro crianças entenderem e levarem a sério suas responsabilidades e compromissos não foi (só) o aprendizado das consequências de seus atos, mas, sim, o amor contido naquelas relações de amizade (afinal, amizade também é compromisso; algo óbvio que muitos adultos insistem em esquecer). É a franqueza do companheirismo entre Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão que os faz… amadurecer, levar a vida mais a sério – e, se um dos poucos tropeços de Laços consistia na dificuldade de decidir se o protagonismo caberia a Mônica ou a Cebolinha, Lições corrige esta fragilidade ao estabelecer todos os quatro como peças relevantes, complementares e que balanceiam bem o tempo de tela um do outro (embora Mônica seja, sim, a protagonista).

Mas o crescimento das crianças rumo à vida adulta não torna Turma da Mônica: Lições menos otimista ou gentil (na verdade, o que o filme defende é justamente que a importância e a inevitabilidade do amadurecimento não precisam nos tornar cínicos e impessoais quando crescidos), sendo tocante, por exemplo, que até aquele que considerávamos o principal vilão da narrativa (o valentão que ameaça Mônica) tenha uma oportunidade de redenção.

Crescer, afinal, não é tornar-se impiedoso, pessimista ou descrente da capacidade do ser humano de melhorar. Isto é algo que todos deveríamos aprender com as crianças.

***

(Lembre-se: a pandemia não acabou. Se for sair de casa e ir ao cinema, siga todos os cuidados sugeridos pelas organizações sérias de Saúde: use máscara, mantenha uma distância segura dos demais espectadores, evite se aglomerar e – o mais importante – vá ao posto tomar sua vacina. Se já tomou a primeira dose, tome a segunda. Se já tomou a segunda e já chegou a vez de tomar a terceira, tome a terceira – se ainda não chegou, espere e vá assim que ela estiver disponível. É triste ter que escrever isto, mas… não escute o atual presidente da República (ou mesmo seu ministro da Saúde): vacine-se e proteja-se. Só assim conseguiremos construir um caminho para finalmente vencermos a COVID-19 e sairmos desta crise que ninguém aguenta mais. #ForaBolsonaro)

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