Ninguém esperava que Uma Aventura LEGO daria tão certo: embora concebido como uma imensa peça publicitária para uma das maiores marcas de brinquedo da História, o filme era dirigido por Chris Miller e Phil Lord de maneira inesperadamente alucinada e contava com personagens adoráveis, uma imaginação visual riquíssima e um senso de humor inspirado, rápido e debochado – não é à toa que, no ano seguinte, a Academia recebeu duras críticas por deixar o longa de fora da categoria de Melhor Animação, reconhecendo apenas a (ótima) canção “Everything is Awesome”. Mas aí começaram a surgir os spin-offs e os resultados aos poucos perderam a graça: se LEGO Batman ainda fazia jus ao longa que o originou, o mesmo não pode ser dito sobre LEGO Ninjago, que, confesso, sumiu instantaneamente da minha memória assim que terminei de vê-lo.
É uma pena, portanto, que Uma Aventura LEGO 2 represente mais uma decepção: sim, o filme até consegue divertir ocasionalmente, mas a graça e o sentimento de novidade que existiam no original acabaram desaparecendo aqui. Novamente escrito por Chris Miller e Phil Lord, o roteiro desta sequência retoma a história a partir do momento em que a deixamos no primeiro longa, com a irmãzinha de Finn chegando para brincar com os bonequinhos e com o mundo de LEGO que seu pai criou. O problema, no entanto, é que a imaturidade da garota (ainda muito pequena) leva o universo de Emmet, Megaestilo e cia ao colapso, transformando a cidade de Bricksburg em um deserto pós-apocalíptico. Depois que uma ameaça de outro planeta leva Megaestilo, Batman, Unigata, Benny e Barba de Ferro para longe, Emmet se vê obrigado a resgatá-los – no caminho, seu caminho se cruza com o de Rex, um navegante que resolve ajudá-lo.
Assim, a narrativa se bifurca e resulta em duas tramas paralelas: uma se concentrando na interação de Emmet com Rex e outra acompanhando a chegada dos demais personagens ao mundo da Rainha Watevra Wa-Nabi. E parte dos problemas de Uma Aventura LEGO 2 começam por aí: estruturado de maneira frouxa e inconsistente, o roteiro de Miller e Lord não consegue sequer estabelecer um foco para a história, separando os acontecimentos em duas linhas que não se interagem muito bem e saltando de um ponto a outro em momentos onde não deveria fazê-lo (pensem na estrutura de O Império Contra-Ataca, porém executada sem nenhum cuidado). Como consequência, a narrativa soa disperso e o ritmo torna-se irregular, transformando o segundo ato em um tédio quase absoluto – e quando a história finalmente recupera seu fôlego, percebemos com frustração que o filme já está chegando ao fim.
Mas existe algo que desaponta ainda mais que o roteiro de Chris Miller e Phil Lord: o fato de que ambos deixaram o comando do projeto e retornaram somente como produtores e roteiristas – desta vez, a direção ficou por conta de Mike Mitchell, cuja carreira medíocre inclui Gigolô por Acidente, Sky High (do qual, ok, gosto), Alvin e os Esquilos 3, Trolls e Shrek para Sempre. E o resultado desta substituição ingrata não poderia ser outro: falhando em resgatar o frescor, o bom humor e a velocidade que Miller e Lord exibiam no primeiro filme, Mitchell não demonstra ter a mesma sutileza que seus antecessores e acaba caindo no lugar-comum que o original ironizava constantemente – e se Uma Aventura LEGO tinha um senso de auto-paródia que lhe permitia reconhecer os clichês presentes em sua premissa, esta continuação sequer percebe estar se rendendo às convenções do gênero, investindo em uma trama batida, lições de moral tolas e intermináveis números musicais (estes, em especial, beiram o insuportável).
Criando momentos dramáticos que, além de excessivamente melosos, não combinam com a proposta irreverente que a franquia vem apresentando desde o primeiro filme, Uma Aventura LEGO 2 ao menos continua manifestando a imaginação visual que se espera de uma animação como esta: observem, por exemplo, como o designer de produção Patrick Marc Hanenberger se diverte concebendo o futuro pós-apocalíptico no qual a trama se passa, trazendo referências claras a Mad Max (com veículos estilizados, roupas baseadas em couro e Bricksburg se reconstruindo no meio de um deserto) ao mesmo tempo em que remete pontualmente à Las Vegas arruinada e alaranjada de Blade Runner 2049. Da mesma forma, é interessante constatar como isto se contrasta ao aspecto high tech que define o interior da nave de Rex e às cores que tomam conta do castelo da Rainha Watevra Wa-Nabi.
Para completar, os protagonistas que haviam brilhado no primeiro filme continuam a se destacar aqui: preservando o sorriso mesmo após o mundo inteiro ter sido devastado, Emmet se mantém otimista e ingênuo a ponto de irritar todos que estão ao seu redor, não deixando de ser curioso que o roteiro confronte (e, até certo ponto, desconstrua) essa personalidade através da figura de Rex. Já Megaestilo mostra-se ainda mais forte desta vez, tomando para si o controle de boa parte da ação e exigindo o reconhecimento que, antes, era destinado somente a Emmet. Por outro lado, o Batman rende algumas piadas divertidas, mas parece ter sido deixado um pouco de lado – o que talvez seja consequência do fato de um filme inteiro já ter sido dado a ele.
Quando escrevi sobre Uma Aventura LEGO, encerrei aquela crítica afirmando que o longa “abria portas para uma franquia que parecia promissora” e que estava “ansioso para assistir aos capítulos que viriam a partir dali“. Ao escrever sobre Uma Aventura LEGO 2, porém, me sinto obrigado a reconhecer que a fórmula talvez tenha se esgotado e que a franquia precisa, no mínimo, de uma pausa para recuperar suas energias.