Yesterday capa

Título Original

Yesterday

Lançamento

29 de agosto de 2019

Direção

Danny Boyle

Roteiro

Richard Curtis

Elenco

Himesh Patel, Lily James, Ed Sheeran, Kate McKinnon, Joel Fry, Sanjeev Bhaskar, Meera Syal, Lamorne Morris, Sophia Di Martino, Ellise Chappell, Justin Edwards, Sarah Lancashire, James Corden, Michael Kiwanuka e Robert Carlyle

Duração

117 minutos

Gênero

Nacionalidade

Inglaterra

Produção

Danny Boyle, Tim Bevan, Eric Fellner, Bernie Bellew, Matthew James Wilkinson e Richard Curtis

Distribuidor

Universal Pictures

Sinopse

Após sofrer um acidente, um cantor-compositor (Himesh Patel) acorda numa estranha realidade, onde ele é a única pessoa que lembra dos Beatles. Com as músicas de seus ídolos, o protagonista se torna um sucesso gigante, mas a fama tem seu preço.

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Yesterday | Crítica

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O plágio é um dos maiores crimes que um artista poderia cometer: quando alguém tem uma ideia (não importa qual seja), este alguém automaticamente merece ser creditado por ela – e, quando outra pessoa decide roubá-la para um trabalho particular sem dar os créditos necessários, isto representa não apenas um crime (sim, plágio é crime), mas também uma clara desvalorização do esforço de quem a criou. Neste sentido, Yesterday propõe uma boa discussão a respeito do plágio e da autoria em si, o que naturalmente o estabelece como uma obra, no mínimo, promissora. Em teoria, isto parece perfeito – na prática, porém, é mais um filme água-com-açúcar dirigido por Danny Boyle (o que tampouco significa que seja ruim, apenas… inofensivo demais).

Escrito pelo mesmo Richard Curtis de Um Lugar Chamado Notting Hill, Simplesmente Amor e Questão de Tempo, o roteiro de Yesterday nos apresenta a Jack Malik, um jovem aspirante a cantor que vive tocando músicas dos Beatles em bares, festas e pequenos eventos de entretenimento, sendo sempre apoiado por sua melhor amiga, Ellie Appleton. No entanto, a vida de Jack muda radicalmente depois que um ônibus o atropela no meio da rua – e, ao acordar no hospital após algumas semanas, o rapaz aos poucos começa a perceber algo estranho: ninguém ao seu redor jamais ouviu falar nos Beatles, como se estes nunca tivessem nem existido. Assim, enxergando nisso uma possibilidade de finalmente construir uma carreira musical bem-sucedida, Jack decide aproveitar o fato de estar em um mundo no qual a banda mais influente de todos os tempos nunca existiu, cantando todas as músicas dos Beatles como se fossem suas e ganhando notoriedade por isso.

Propondo uma discussão interessante – e importante – a respeito do conceito de autoria, Yesterday faz o espectador questionar constantemente as ações do protagonista mesmo que, a rigor, ele esteja proporcionando ao mundo um prazer que lhe foi arrancado de uma hora para a outra (não é à toa que, em dado momento, dois fãs específicos de Jack Malik se aproximam para agradecê-lo por ter “criado” canções tão memoráveis). Além disso, o filme se encarrega de imaginar como um artista do nível dos Beatles se encaixaria no modelo de produção industrial ao qual a Música é submetida hoje em dia, não sendo surpresa, portanto, que várias das ideias que tornaram John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr populares nos anos 1960 sejam vetadas quando sugeridas por Jack Malik em 2019 (a capa de Abbey Road não teria a mesma personalidade, ao passo que “Hey Jude” talvez se transformasse em algo como “Hey Dude”).

Por outro lado, Yesterday é bem menos eficaz ao tentar imaginar o que seria da Terra (e da sociedade) caso os Beatles nunca tivessem existido: em vez de elaborar o que seria da Música caso a banda mais influente de todos os tempos não lhe tivesse impactado, o máximo que Danny Boyle e Richard Curtis fazem é… bem, apresentar exatamente a mesma visão de mundo que temos hoje, mas com as pessoas nunca tendo ouvido falar em Beatles – e ignorando, com isso, o fato de que tudo aquilo que eles inspiraram provavelmente não existiria hoje. Além disso, algumas etapas da jornada particular de Jack Malik são construídas de maneira terrivelmente superficial, não se dando ao trabalho de explorar, por exemplo, a ascensão gradual do cantor (em um momento, Jack está apenas começando sua carreira; pouco depois, ele já ganhou fama internacional e já coleciona milhões de fãs pelo mundo).

Mas o maior problema de Yesterday consiste, sem dúvida alguma, no romance entre Jack e Ellie: em vez de explorar devidamente os temas propostos por sua premissa (o suposto sumiço dos Beatles) até o fim, o roteiro de Richard Curtis prefere, a partir de certo momento, abrir mão de seu potencial temático em prol de uma historinha de amor boba, artificial e que não chega a lugar algum. Aliás, a relação entre Jack e Ellie é tão frágil que o próprio filme parece não saber o que fazer com ela: observem, por exemplo, a quantidade de vezes em que os dois entram em conflito sem que isto gere consequência alguma para a narrativa ou para os arcos individuais dos personagens (aqui, Ellie questionará o distanciamento de Jack; ali, ambos voltarão a se encontrar como se nada tivesse acontecido; mais à frente, Jack se declarará para Ellie, mas não será correspondido; e assim por diante). Para piorar, a razão que leva Jack a se perguntar se deve ou não abrir mão das músicas dos Beatles, parafraseando Zezé Di Camargo e Luciano, “É o amooooooooor” – e não o mais óbvio: a ética.

Não que os dois atores centrais não façam um bom trabalho: Himesh Patel encarna Jack Malik como um sujeito que busca trazer algum sentido à sua vida frustrada, mas raramente conseguindo se sentir à vontade com suas conquistas (talvez por estas pertencerem a outra propriedade intelectual?), ao passo que Lily James faz o que pode com o esboço de personagem que lhe foi concedido, transformando Ellie Appleton em uma figura suficientemente doce e carismática. Já Ed Sheeran pouco tem a fazer a não ser… interpretar Ed Sheeran, ao passo que Kate McKinnon encarna a empresária por trás do protagonista como uma caricatura simplesmente constrangedora (para ter uma ideia, basta se ater ao fato de sua última fala no filme ser “Em nome do dinheiro, eu lhes ordeno que parem!“).

Obviamente fortalecido pelo simples fato de ser enfeitado por diversas músicas dos Beatles (o que sempre é favorável), Yesterday apresenta-se como um passatempo divertidinho e simpático, mas que certamente poderia ter se tornado inesquecível se tivesse um pouco mais de ambição. Em outras palavras: é mais um filme apenas razoável de Danny Boyle.

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