Valor Sentimental 1

Festival do Rio 2025 | Preparativos

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Amanhã (2), começa a 27ª edição do Festival do Rio e, mais uma vez, estarei lá cobrindo o evento e assistindo a uma penca de filmes para trazer textos (sejam críticas completas ou breves comentários) sobre cada um deles, como fiz no ano passado. Curiosamente, o primeiro título que conferirei não será o longa de abertura do Festival, Depois da Caçada, mas sim The Mastermind – o outro verei em cabine, na sexta-feira (3).

Como fiz em 2024, voltarei a priorizar os competidores da Première Brasil: devo assistir a todos das categorias de Ficção e Documentário e quase todos da Novos Rumos (sem contar os curtas, que já matarei em sua grande maioria nas sessões dos longas, já que são exibidos em conjunto). Entre os Midnight Movies, já garanti meu lugar na sessão de A Própria Carne e pretendo conferir também a versão tupiniquim de Nosferatu. (Também tenho interesse em Copacabana, 4 de Maio, documentário sobre o apoteótico show de Madonna em 2024, mas não conseguirei encaixá-lo em minha programação.)

Ah, sim: e podem ficar tranquilos que verei O Agente Secreto. 😉

E quanto aos gringos? Bom, além dos já citados trabalhos de Luca Guadagnino e Kelly Reichardt, já retirei ingresso também para Se Eu Tivesse Pernas, Eu Te Chutaria, que gerou burburinho no Festival de Berlim. Infelizmente, não consegui reservar minha entrada para Hamnet, novo longa de Chloé Zhao, que marcará a sessão de encerramento. Mas, teimoso como sou, não desistirei e continuarei a tentar uns contatos na esperança de conseguir um ingresso sobrando! Por outro lado, Dois Procuradores realmente… não deu para encaixar.

Dito isso, dois dos filmes mais disputados desta edição, Alpha Valor Sentimental, ficaram de fora da minha lista por um motivo simples: ambos já passaram recentemente no MUBI Fest e, como os conferi naquela ocasião, não precisarei mais correr atrás deles. Assim, como uma espécie de “aperitivo” para o Festival do Rio, deixarei abaixo os meus textos sobre estes dois longas – e, nos próximos dias, voltarei com mais e mais filmes para discutir, ok?

Bom Festival do Rio 2025 a todos nós!

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1) Alpha (Idem, França, 2025) – 2 estrelas em 5

Não sou fã de Titane, longa de Julia Ducournau que venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2021 e, com isso, se tornou o segundo filme dirigido por uma mulher a conquistar tal proeza (o anterior tinha sido O Piano, de Jane Campion, 28 anos antes). Até considero que havia alguns elementos promissores, como a mesclagem entre o drama convencional e o horror visceral e “esquisitão”, mas no fim das contas todo este esforço resultava apenas em uma exploração sádica da violência que, para piorar, pouco ou nada desenvolvia sobre as ideias nas quais pretendia se aprofundar. Em suma: era um filme que tentava reivindicar para si o status de “malvadinho”, mas soava apenas patético no processo, como um adolescente trevoso tentando “chocar”.

Lembrei disso ao assistir a Valor Sentimental, novo longa do norueguês Joachim Trier (Thelma, A Pior Pessoa do Mundo e Oslo, 31 de Agosto) no qual uma família de artistas mantém uma relação com um espaço particular – a casa que abrigou suas últimas cinco/seis gerações – e, agora que tem de se despedir dele, encontram na Arte uma forma de preservá-lo de algum modo e (talvez?) curar/ressignificar velhas feridas que afetavam a interação entre aqueles indivíduos desde sabe-se lá quando. Não me vejo como artista; não acho que minha cabeça funcione como a de tal ou que minha produção (textos/vídeos) me qualifique para tal título. Mas entendo como o ímpeto do registro – ou, no caso da família que estrela o filme, da encenação via Arte – pode conter em si um aspecto redentor, que alivie dores, tenha papel central na conservação da memória e faça jus a algo/alguém que se foi.

Escrito e dirigido por Ducornau, o roteiro acompanha a personagem-título Alpha, uma menina de 13 anos que vive com a mãe solteira (e médica) em uma realidade em que um vírus mortal ganha o mundo e transforma todos os contaminados em mármore. Assim, quando a garota surge em casa com um “A” (em referência ao próprio nome, é claro) tatuado no braço com uma agulha improvisada, não é surpresa que a mãe vá à loucura com a hipótese da filha ter se infectado no processo. Tudo muda, porém, quando o tio de Alpha (ou seja: irmão da mãe), há muito em estado de dependência química, volta para casa e cria, com a protagonista, uma afeição mútua – até pelos problemas que, às suas próprias maneiras, ambos têm com a médica/irmã-do-tio/mãe-da-filha.

(…) Para continuar a ler o texto na íntegra, clique aqui.

2) Valor Sentimental (Affeksjonsverdi, Dinamarca, 2025) – 4 estrelas em 5

O lugar que mais visitei em toda a minha vida foi, sem dúvida alguma, o apartamento dos meus avós. De certa forma, foi minha “meia-casa”, já que, mesmo morando em outro endereço há 21 anos, aquele foi o palco de, digamos, cinco em cada dez lembranças de infância/adolescência que eu tenha. Cada metro quadrado daquele imóvel continua bem vivo em minha memória, já que o conheço desde antes de me entender por gente. Nele morei por quase um ano (em 2003), dormia todo fim de semana (de 2007 até 2014) e passei a maior parte de todas as férias escolares (do fim de 2006 ao início de 2015). Com a partida dos meus avós, porém, as coisas mudaram bastante de figura: foi como se o apartamento fosse morrendo aos poucos nos últimos 10 anos; a perda de seus residentes – a “alma” do local – foi se alastrando gradualmente em cada centímetro das paredes/mobílias/eletrodomésticos/etc.

Em janeiro deste ano, o imóvel finalmente foi vendido e, antes que as chaves fossem entregues aos novos donos, o visitei uma última vez para… tirar fotos e gravar vídeos de cada canto da casa, só para registrar em algum lugar além da minha memória.

Lembrei disso ao assistir a Valor Sentimental, novo longa do norueguês Joachim Trier (Thelma, A Pior Pessoa do Mundo e Oslo, 31 de Agosto) no qual uma família de artistas mantém uma relação com um espaço particular – a casa que abrigou suas últimas cinco/seis gerações – e, agora que tem de se despedir dele, encontram na Arte uma forma de preservá-lo de algum modo e (talvez?) curar/ressignificar velhas feridas que afetavam a interação entre aqueles indivíduos desde sabe-se lá quando. Não me vejo como artista; não acho que minha cabeça funcione como a de tal ou que minha produção (textos/vídeos) me qualifique para tal título. Mas entendo como o ímpeto do registro – ou, no caso da família que estrela o filme, da encenação via Arte – pode conter em si um aspecto redentor, que alivie dores, tenha papel central na conservação da memória e faça jus a algo/alguém que se foi.

Escrito por Trier ao lado de Eskil Vogt (que trabalhou com o diretor em todos os trabalhos de ficção – curtas e longas – da carreira deste), Valor Sentimental gira em torno da irmã mais velha Nora, uma atriz que segue ativa no teatro, e da caçula Agnes, que há muito largou as artes cênicas para dedicar-se à psicologia, mesmo que, na infância, tenha estrelado o filme mais prestigiado de seu pai, o cineasta Gustav Borg. Eis que, quando a mãe da família morre, o pai (então divorciado e residente na Suécia) volta para reencontrar as filhas e, de quebra, rodar um longa com tons autobiográficos (por mais que ele recuse a admiti-los). Para o papel principal, Gustav convida Nora, mas esta declina por ainda guardar mágoas por todos os anos de má relação que dividiu com o sujeito – e, para substituir a filha, o diretor contrata a estadunidense Rachel Kemp, que já vem ganhando certa notoriedade e vê no papel a chance de deslanchar sua carreira de vez.

(…) Para continuar a ler o texto na íntegra, clique aqui.

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(A cobertura do Festival do Rio 2025 prosseguirá entre os dias 2 e 12 de outubro, com textos, vídeos e postagens em redes sociais sobre o evento e sobre os filmes vistos.)

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