Ah, 2016…
Discorrer sobre este ano é uma tarefa complicada do ponto de vista cinematográfico: muitos blockbusters frustraram amargamente, várias oportunidades foram desperdiçadas e até mesmo algumas decepções pessoais surgiram. Todavia, o que mais doeu em 2016 para o mundo do Cinema foi a perda de tantos nomes – alguns de maneira terrivelmente trágica. Não vou tentar criar um mini-obituário, pois tenho certeza que acabarei dando mais espaço a uns e deixando de lado outros, então quero evitar esse tipo de injustiça. Foram mais de 200 pessoas que se foram, mas que deixaram marcas imortais através da Arte.
Agora, voltando ao “ponto de vista cinematográfico” e aos “blockbusters que frustraram amargamente”, devo dizer que 2016 de fato foi um ano marcado por diversos desapontamentos neste sentido: de seis filmes estrelados por personagens de DC ou Marvel, ao menos três representaram grandes decepções; as adaptações de games para o Cinema desperdiçaram oportunidades enormes para conquistarem uma redenção; o representante brasileiro no Oscar de melhor longa estrangeiro foi um constrangimento; e, se o Cinema de terror surpreendeu positivamente de modo geral, a exceção ficou por conta do novo Bruxa de Blair…
Por outro lado, o gênero “terror” surpreendeu com obras que fugiam do lugar-comum, alguns filmes de grande orçamento aproveitaram suas circunstâncias para transmitir mensagens importantes (como a ideia de que conflitos não são formados necessariamente por “bem” ou “mal”), as animações apresentaram discursos surpreendentemente progressistas, algumas comédias me fizeram rir alto e o Cinema nacional foi presenteado com o belíssimo Aquarius. E o que dizer de A Chegada?! Em termos de lançamentos, 2016 pode até ter sido irregular, mas não foi um desastre completo; por isso, vamos relembrar as dez maiores preciosidades que chegaram às telonas neste ano.
Como sempre é bom avisar, esta lista foi feita com base nas minhas opiniões pessoais a respeito dos longas que vi no decorrer dos últimos 12 meses – e caso você se questione por que certo título não estar presente, lhe digo que isso se deve a duas probabilidades: ou eu não acho que tal filme mereça integrar a seleção ou eu simplesmente não pude conferi-lo ainda. Se você, nobre leitor, não gostou do seguinte ranking ou acha que incluí/excluí alguma obra injustamente, então ressalto que se trata somente das minhas percepções e sugiro que faça a sua própria lista (pois o importante é que o Cinema continue sendo tema de conversas e debates).
Ah, e não poderia esquecer de avisar que, como sempre tem aquelas produções que nunca chegam por aqui no ano em que foram produzidas (vide uma grande parte dos indicados ao Oscar), resolvi considerar somente os longas que foram lançados comercialmente no Brasil entre 1º de janeiro e 29 de dezembro.
Agora, sim, vamos lá…
Os 10 MELHORES filmes de 2016:
- Steve Jobs (Idem, EUA, 2015)
“Em vez de cometer um erro comum em cinebiografias, esta segunda e mais recente transposição da vida de Jobs para o Cinema evita transformá-lo num sujeito infalível e opta por se concentrar não no ícone representado pela figura do co-fundador da Apple, mas no ser humano que este era.” – Crítica completa aqui.
- Dois Caras Legais (The Nice Guys, EUA, 2016)
“Um dos melhores e mais divertidos filmes lançados neste irregular ano de 2016, levando o espectador a deixar a sala de cinema quando a projeção chega ao fim com um desejo incontrolável de voltar a ver Shane Black assumindo projetos autorais e obtendo resultados igualmente formidáveis.” – Crítica completa aqui.
- O Regresso (The Revenant, EUA, 2015)
“Iñárritu dá origem a um ‘filme de sobrevivência’ aterrador e que tende a se tornar cada vez mais angustiante conforme a narrativa avança, mas que também se mostra imponente o bastante para levar o espectador a se sentir mais disposto a encarar as dificuldades da vida assim que a projeção chega ao fim.” – Crítica completa aqui.
- Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War, EUA, 2016)
“Não deixa de servir como um reflexo da época em que vivemos: afinal, se nos habituamos a ver indivíduos se entregando à irracionalidade em razão de suas opiniões políticas/éticas/etc, não é surpresa que os super-heróis que deveriam disseminar a paz pelo mundo também acabem sucumbindo à agressividade pelos mesmos motivos.” – Crítica completa aqui.
- Anomalisa (Idem, EUA, 2015)
Charlie Kaufman (responsável pelos roteiros de Quero Ser John Malkovich, Adaptação e Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças) volta à direção depois de comandar Sinédoque, Nova York. Financiado através de uma campanha via crowdfunding, Anomalisa é uma animação em stop-motion que cria de maneira sensível e imersiva a realidade do solitário Michael Stone, e a fotografia defasada ressalta o estado de espírito mórbido do personagem principal. Ainda assim, o que mais me chamou a atenção foi a sacada genial envolvendo os voice actors: se o protagonista é interpretado por David Thewlis, todo o resto é vivido por Tom Noonan a não ser Lisa, cuja voz é feita por Jennifer Jason Lee – o que ilustra a diferença significativa que esta personagem projeta em Michael (para ele, todo o resto da Humanidade é indiferente).
- Capitão Fantástico (Captain Fantastic, EUA, 2016)
“Uma aventura emocionante e que questiona os valores socialmente tidos como ‘normais’ ao mesmo tempo em que aborda temas como morte e luto de maneira admiravelmente alegre e otimista.” – Crítica completa aqui.
- Animais Noturnos (Idem, EUA, 2016)
Só o fato de estarmos falando sobre Animais Noturnos já representa uma enorme satisfação para qualquer um que aprecie uma linguagem narrativa aperfeiçoada, um estilo de direção instigante e o bom Cinema de modo geral.
- Elle (Idem, França, 2016)
A carreira de Paul Verhoeven chama a atenção ao ponto de fazer com que o espectador mantenha um interesse em conferir suas novas obras. Felizmente, em Elle, a sensação gerada é de que esta fixação segue plenamente sustentável: dando origem àquele que talvez seja um dos filmes mais desafiadores do ano, Verhoeven cria um longa estranho (num bom sentido) e complicado, mas que instiga o público a decifrar sua excentricidade.
- A Chegada (Arrival, EUA, 2016)
“Pode parecer precipitado dizer que estamos diante de um clássico recém-nascido, mas o fato é que o status é mais que merecido, pois A Chegada é uma daquelas obras que nos fazem recordar os motivos que tornam a ficção científica é tão poderosa e consagram o Cinema como uma Arte tão rica. (…) Denis Villeneuve nasceu para ser cineasta.” – Crítica completa aqui.
- Aquarius (Idem, Brasil, 2016)
“Trazendo adoração e apego como componentes fundamentais da narrativa, Aquarius é um filme encantador sobre o significado que as memórias têm para a vida de qualquer pessoa e do quão importante é mantê-las vivas (seja material ou mentalmente) em vez de deixar que elas simplesmente desapareçam ou sejam substituídas por versões recauchutadas.” – Crítica completa aqui.
OUTRAS 15 MENÇÕES HONROSAS (em ordem ALFABÉTICA):
Águas Rasas (The Shallows, EUA, 2016)
A Bruxa (The Witch, EUA/Inglaterra, 2015)
Carol (Idem, EUA/Inglaterra, 2015)
Creed: Nascido para Lutar (Creed, EUA, 2015)
A Grande Aposta (The Big Short, EUA, 2015)
Kubo e as Cordas Mágicas (Kubo and the Two Strings, EUA/Japão, 2016)
Mogli: O Menino Lobo (The Jungle Book, EUA, 2016)
Os Oito Odiados (The Hateful Eight, EUA, 2015)
Quando as Luzes se Apagam (Lights Out, EUA, 2016)
O Quarto de Jack (Room, EUA, 2015)
Rogue One: Uma História Star Wars (Rogue One: A Star Wars Story, EUA, 2016)
Snoopy & Charlie Brown: Peanuts – O Filme (The Peanuts Movie, EUA, 2015)
Spotlight: Segredos Revelados (Spotlight, EUA, 2015)
Star Trek: Sem Fronteiras (Star Trek Beyond, EUA, 2016)
Zootopia (Idem, EUA, 2016)
Os 10 PIORES filmes de 2016:
- Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos (Warcraft, EUA, 2016)
“Warcraft é um filme feito por um fã para fãs. A princípio, esta afirmação poderia representar um enorme elogio, mas é triste que, no processo, o diretor Duncan Jones tenha se esquecido de fazer com que os demais espectadores se sentissem igualmente cativados pela obra – e foi por este motivo que, conferindo esta adaptação, senti-me como se estivesse num lugar onde não era bem-vindo.” – Crítica completa aqui.
- Demônio de Neon (The Neon Demon, EUA/França/Dinamarca, 2016)
“Um sucessor à altura do ótimo Suspiria, de Dario Argento, poderia ser concebido caso o cineasta Nicolas Winding Refn ainda contasse com o mesmo brilhantismo demonstrado em Bronson (seu melhor filme). Como não é este o caso, Demônio de Neon surge como uma obra que se acha desafiadora quando, na realidade, é apenas superficial e burra.” – Crítica completa aqui.
- Joy: O Nome do Sucesso (Joy, EUA, 2015)
“Demonstrando que o prestígio vem diminuindo cada vez mais seu talento, David O. Russell se entrega à obviedade e transforma Joy numa experiência tematicamente vazia e que aparenta explorar ao máximo o conceito de melodrama. (…) Se o diretor vai reconquistar o brilho, aí teremos que aguardar para descobrir – no momento, tenho certeza apenas de que, da próxima vez em que vir o nome do cineasta envolvido num projeto, não saberei de imediato se é um fato a ser celebrado ou temido.” – Crítica completa aqui.
- Pequeno Segredo (Idem, Brasil, 2016)
“Ao levar para as telonas a trajetória de sua família, David Schürmann transforma Pequeno Segredo num exercício de sentimentalismo dos mais irritantes. (…) É uma obra que deve ser especialmente evitada por diabéticos, já que a quantidade de açúcar que a envolve é das mais nocivas.” – Crítica completa aqui.
- Independence Day: O Ressurgimento (Independence Day: Resurgence, EUA, 2016)
“Perto deste O Ressurgimento, o primeiro Independence Day é uma verdadeira obra-prima. (…) Concebido como mais uma daquelas sequências que, na realidade, são refilmagens disfarçadas de continuações, Independence Day 2 é uma repetição de todas as falhas do primeiro, porém nula em carisma ou empatia (…) Posso apostar que o destino desta continuação não será outro além de cair no esquecimento.” – Crítica completa aqui.
- Alice Através do Espelho (Alice Through the Looking Glass, EUA, 2016)
“Trata-se de uma produção que acredita que o conceito de ‘filme para crianças’ se resume a uma coletânea de caretas, diálogos ridículos e ideias ruins disfarçadas de ‘inocência’, trazendo atores cuja maioria trabalha como se fossem aqueles adultos que fazem palhaçadas tentando agradar bebês como se eles fossem mentalmente problemáticos.” – Crítica completa aqui.
- X-Men: Apocalipse (X-Men: Apocalypse, EUA, 2016)
“Depois de uma fascinante trilogia e dois excelentes prequels, descobrir o quão incompetente é este X-Men: Apocalipse deixa de ser ‘apenas’ uma imensa decepção para provocar um sentimento ainda pior: o de que fomos traídos por um amigo querido que já conhecíamos há 16 anos.” – Crítica completa aqui.
- Esquadrão Suicida (Suicide Squad, EUA, 2016)
“Oscila desajeitadamente entre a sobriedade fúnebre de Batman vs Superman e a irreverência de títulos surpreendentemente bem-sucedidos como Guardiões da Galáxia e Deadpool, se estabelecendo como um dos piores filmes de super-heróis (ou, no caso, anti-heróis) já realizados.” – Crítica completa aqui.
- Deuses do Egito (Idem, EUA/Austrália, 2016)
Fracassando terrivelmente em suas tentativas de ser divertido apesar de sua natureza trash (existem diversas piadinhas que despertam vergonha alheia em vez de risadas), Deuses do Egito é o tipo de filme que leva o espectador a questionar o porquê de um estúdio ter investido centenas de milhões de dólares em algo tão absurdo e que, se não for simplesmente esquecido pelo público (o que acho bem provável), na melhor das hipóteses será lembrado como um colega de “pérolas” como Batman & Robin, Super Mario Bros., A Reconquista, Mulher-Gato, As Aventuras de Pluto Nash, Dragonball Evolution, Norbit, Transformers e os desastres estrelados por Adam Sandler. O que deu origem a Deuses do Egito não foi uma produção; foi um conluio.
- Zerando a Vida (The Do-Over, EUA, 2016)
Um típico filme de Adam Sandler. Preciso dizer mais?