Close-Up (1)

Título Original

Klūzāp, nemā-ye nazdīk

Lançamento

1º de fevereiro de 1990

Direção

Abbas Kiarostami

Roteiro

Abbas Kiarostami

Elenco

Hossain Sabzian, Mohsen Makhmalbaf, Abbas Kiarostami, Abolfazl Ahankhah, Mehrdad Ahankhah, Monoochehr Ahankhah, Mahrokh Ahankhah, Haj Ali Reza Ahmadi, Nayer Mohseni Zonoozi, Ahmad Reza Moayed Mohseni, Hossain Farazmand, Hooshang Shamaei, Mohammad Ali Barrati, Davood Goodarzi, Hassan Komaili e Davood Mohabbat

Duração

98 minutos

Gênero

Nacionalidade

Irã

Produção

Ali Reza Zarrin

Distribuidor

Celluloid Dreams

Sinopse

Um iraniano se faz passar por um diretor famoso para seduzir uma mulher.

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Close-Up | Crítica

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No Cinema, a linha que separa o real do ficcional é muito tênue, uma vez que tudo que é registrado pela câmera cinematográfica é fruto, em maior ou menor grau, de uma encenação; de decisões formais que ajudam a enquadrar o que se desenrola à frente das lentes. Não acho que isso seja surpresa para muitos, eu sei. Mas uma obra como Close-Up, por sua vez, demonstra como a fronteira entre a documentação do real e a dramatização do mesmo pode ser complementar em vez de excludente; um pode se alimentar do outro em vez de ter, obrigatoriamente, que funcionar à parte. Seja em termos narrativos, estilísticos, dramáticos, temáticos… o que for.

Lançado em 1990, este clássico dirigido pelo mestre iraniano Abbas Kiarostami (responsável por várias outras obras-primas) teve início com o interesse do diretor por um caso em andamento de um cidadão, Hossain Sabzian, que se aproximou e obteve vantagens de uma família, os Ahankhah, fingindo ser o famoso cineasta Mohsen Makhmalbaf. A partir daí, Kiarostami conseguiu a autorização das autoridades locais para documentar o julgamento, registrando-o do início ao fim. Não satisfeito, porém, o diretor decidiu elevar as ambições de seu projeto a níveis ainda mais complexos, convencendo o próprio Sabzian e a família Ahankhah a atuarem em cenas reconstituindo o que eles viveram no passado – e, assim, criando uma fusão entre documentações e reencenações/dramatizações.

À medida que Close-Up avança, as imagens que documentam o real in loco (tudo que se passa no tribunal, por exemplo) e os momentos que reconstituem/dramatizam o passado dos personagens (os diálogos no ônibus, na casa da família Ahankhah, etc) vão se misturando. Podemos até saber o que é documentário e o que é ficcionalização, já que a “lógica” fala por si só – mas, em termos de mise-en-scène, é como se um se fundisse ao outro; um se tornasse o outro e o outro, um.

Neste sentido, é fascinante como Hossain Sabzian acaba se tornando um reflexo da dinâmica inteira proposta por Kiarostami: é um sujeito que exala vulnerabilidade e melancolia, que traz um olhar constantemente dolorido e amedrontado, como se temesse o que o mundo pode lhe oferecer. Em tantos outros momentos, contudo, é também um cara habilidoso no trato social a ponto de aliciar e ludibriar, de conquistar com suas palavras e envolver em sua mentira (ou melhor: no mundo imaginário, ilusório, que impõe à realidade dos Ahankhah). Da mesma forma como o documentário e a ficcionalização se integram a ponto de tornarem-se um só, Sabzian é complexo a ponto de levar o espectador a frequentemente hesitar sobre quem ele é de fato; sobre qual “versão” do personagem é a definitiva. É o protagonista ideal para o filme que melhor se adequa a ele (de novo: um enriquece o outro).

De todo modo, é com a entrada de Sabzian que Close-Up deixa de ser intrigante e passa a ser sublime. A humanidade contida naquele sujeito, tão complexo e indecifrável, é suficiente para tornar a imagem de seu semblante, por si só, inesquecível. E é justamente ao aproximar-se do rosto daquele homem (aí o close-up do título deixa de ser literal, dum ponto de vista técnico, e passa a ser especialmente simbólico) que Kiarostami revela as contradições do mundo ao seu redor – com suas barbaridades particulares (sociais, econômicas, etc) que, afinal, foram o que levaram Sabzian àquela condição e àquele banco dos réus; a sociedade não deu ao protagonista outra alternativa que não fosse… ser aquilo.

Não importam as dúvidas sobre o que é real e o que é ilusório; sobre o que é documentação e o que é ficcionalização. No fim das contas, o que sobra ali é o homem. E o Cinema.

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