Taxi Driver

Título Original

Taxi Driver

Lançamento

8 de fevereiro de 1976

Direção

Martin Scorsese

Roteiro

Paul Schrader

Elenco

Robert De Niro, Cybill Shepherd, Jodie Foster, Albert Brooks, Harvey Keitel, Leonard Harris e Peter Boyle

Duração

113 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Julia Phillips e Michael Phillips

Distribuidor

Sony Pictures

Sinopse

Em Nova York, um homem de 26 anos (Robert De Niro), veterano da Guerra do Vietnã, é um solitário no meio da grande metrópole que ele vagueia noite adentro. Assim começa a trabalhar como motorista de taxi no turno da noite e nele vai crescendo um sentimento de revolta pela miséria, o vício, a violência e a prostituição que estão sempre à sua volta. Perde bastante noção das coisas quando leva uma bela mulher (Cybill Sheperd), que trabalha na campanha de um senador, para ver um filme pornô logo no primeiro encontro, mas tem momentos de altruísmo ao tentar persuadir uma prostituta de 12 anos (Jodie Foster) para ela largar seu cafetão, voltar para a casa de seus pais e ir para a escola. Porém, em contra-partida, compra quatro armas, sendo uma delas um Magnum 44, e articula um atentado contra o senador (que planeja ser presidente) e para quem sua amiga trabalha.

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Taxi Driver

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Ambientado num universo frio e opressor onde ninguém parece se sentir exatamente confortável em habitar, o longa apresenta o submundo de Nova York como um lugar intimidador e que exibe de maneira desavergonhada aquilo que a sociedade procura evitar ou esconder por considerar imoral, indo de cinemas pornô abundantes até absurdos imperdoáveis como prostituição infantil. Neste processo, Scorsese idealiza Travis Bickle como uma figura complexa e completamente atípica: ao mesmo tempo em que sente um repúdio inquestionável, o personagem cuja profissão dá nome ao filme também expõe uma forte atração pelas pessoas e costumes comuns, descrevendo a realidade em que vive como uma imundice sem deixar de tentar interagir com outros indivíduos como se buscasse compreender mais a fundo a normalidade.

E claro que, sendo um sujeito que não tem muitas noções básicas de convivência, Bickle é fracassado em diversas ocasiões, chegando ao constrangimento de levar uma namorada a um cinema pornô sem má intenção alguma e se esforçar (sem êxito) para desfazer o erro através de um telefonema – o que dá origem a uma das sacadas visuais mais inteligentes e famosas da carreira de Scorsese, onde o cineasta afasta a câmera e não apenas poupa o espectador de experimentar parte do embaraço da situação encarada por Travis como ainda enfoca uma porta aberta que oferece uma pequena vista para o mundo exterior, como se o diretor sutilmente dissesse que a vida do protagonista consiste mesmo naquilo que ele enfrenta nas ruas. Além disso, é curioso que o Bickle não saiba direito como expressar seus sentimentos acerca da realidade em que vive, algo que reforça o fato de que o personagem é claramente desajustado não somente nos meios sociais, mas em sua própria mentalidade (como comprova seu diálogo com o senador Palantine, onde o taxista reclama da “podridão” e do “cheiro” da cidade levando o político a crer que ele está se referindo à poluição).

Com isso, Travis (um sujeito tremendamente racista e misógino, diga-se de passagem) começa a elaborar uma forma de ser reconhecido pela população sem a intenção de ser necessariamente altruísta – na verdade, seu real objetivo é ganhar notoriedade por uma ação que a sociedade julga justiceira. Sociedade esta que, graças à eficácia de Scorsese, do diretor de arte e dos figurinistas, é sempre ilustrada através da cor vermelha, seja nas paredes da repartição onde os apoiadores de Palantine atuam, nas caixas de leite ou até mesmo nas luzes que enchem o rosto de Bickle no início e no fim da projeção. E se as duas principais conversas que o personagem tem com representantes do sexo feminino (a primeira, uma adulta interpretada por Cybill Shepherd; a segunda, uma adolescente que é obrigada a se prostituir e é vivida por Jodie Foster em início de carreira) ocorrem numa lanchonete e trazem o motorista tratando as duas como “donzelas em perigo”, isto indica o quão cíclica e circular é a lógica de Travis Bickle, que não só subestima a força das mulheres como ainda se oferece para “salvá-las”.

Mas claro que este estudo de personagem dependeria de uma atuação à altura para que funcionasse verdadeiramente – e acredito que aqui reside um dos maiores momentos da carreira de Robert De Niro, que transmite a sociopatia de Bickle mantendo uma expressão neutra que sempre dá a entender que ele está fora de sintonia (e a loucura contida em seus olhos é igualada apenas pelo seu sorriso que jamais deixa de soar insano, destacando-se também a fixação intensa com que ele se distrai observando um remédio diluído num copo). Para completar, não há como não se impressionar com o treinamento a que Travis se submete para agir como um “justiceiro”, chegando a queimar a carne de seu corpo para fazer com que os músculos tornem-se mais rígidos e chamando a atenção desde a montagem perspicaz que retorna ao início do discurso do protagonista quando ele comete alguma gafe até a emblemática cena onde o taxista encara um espelho e questiona “You’re talking to me?” (frase esta que se tornou popular ao ponto de levar De Niro a repeti-la desastrosamente no horroroso As Aventuras de Alceu e Dentinho).

Em suma, Taxi Driver é uma obra pesada e angustiante que reflete a natureza infeliz do universo imundo onde Travis Bickle segue dirigindo seu táxi buscando reconhecimento e entender como opera a sociedade que desperta nele um desprezo tão grande quanto o interesse. É, Martin Scorsese é mesmo um gênio.

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