The Post (1)

Título Original

The Post

Lançamento

25 de janeiro de 2018

Direção

Steven Spielberg

Roteiro

Liz Hannah e Josh Singer

Elenco

Meryl Streep, Tom Hanks, Bob Odenkirk, Matthew Rhys, Tracy Letts, Bruce Greenwood, Sarah Paulson, Michael Stuhlbarg, Alison Brie, Carrie Coon, Jesse Plemons, David Cross, Zach Woods, Pat Healy, John Rue, Rick Holmes, Philip Casnoff, Jessie Mueller, Stark Sands, Brent Langdon, Christopher Innvar, James Riordan, Kelly AuCoin e Cotter Smith

Duração

116 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Steven Spielberg, Amy Pascal e Kristie Macosko Krieger

Distribuidor

Universal Pictures

Sinopse

Em 1971, os editores Katharine Graham e Ben Bradlee do Washington Post arriscam suas carreiras e liberdade para expor segredos governamentais que abrangem três décadas e quatro presidentes dos Estados Unidos.

Publicidade

The Post: A Guerra Secreta | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

O Steven Spielberg de hoje não é o mesmo Steven Spielberg de A Lista de SchindlerTubarãoE.T.: O ExtraterrestreIndiana JonesContatos Imediatos de Terceiro GrauA Cor PúrpuraJurassic Park e Munique – tanto que, quando escrevi sobre o mediano Ponte dos Espiões (que, diferente de Cavalo de Guerra Lincoln, ao menos era suportável), comentei como a ânsia de vencer o Oscar por um projeto mais sério e “adulto” está levando o cineasta a realizar cada vez mais obras esquemáticas e monótonas que, na tentativa de arrancar lágrimas do espectador, apelam para recursos sempre artificiais e exagerados. Podemos dizer, portanto, que o diretor explorou demais o conceito de água com açúcar em suas últimas produções.

Dito isso, quando a primeira cena de The Post veio à tona mostrando um tiroteio feroz no meio do Vietnã (com ecos de O Resgate do Soldado Ryan), me senti suficientemente confiante para imaginar a frase “Meu Spielberg está vivo!” – e essa ótima impressão inicial é mantida até o fim, resultando num filme que, mesmo cometendo um excesso aqui e outro ali, exemplifica com precisão as características do bom Jornalismo ao passo que traz um Steven Spielberg bem mais contido e inteligente do que aquele que andamos vendo na última década.

Baseado na história real (ou seja: não há spoilers possíveis, certo?) dos repórteres que levaram a público um documento sigiloso, porém de suma importância, The Post tem início com o ex-analista militar Daniel Ellsberg encontra e copia as milhares de páginas dos arquivos ultra-secretos do Pentágono, expondo toda a ação do governo norte-americano na Guerra do Vietnã e como esta foi completamente imunda. Após entregar o documento copiado para os principais jornais dos Estados Unidos, Ellsberg deixa a editora Katharine “Kay” Graham e o editor-executivo Ben Bradlee (ambos do Washington Post) numa situação complicadíssima ao lado da equipe do New York Times – o que eles devem fazer num caso desses: ocultar uma informação que o povo tem o direito de conhecer ou correr riscos publicando algo que obviamente mancharia a imagem do governo de Richard Nixon? (Aliás, este filme formaria uma bela sessão dupla com Todos os Homens do Presidente, que cronologicamente começa do ponto onde The Post termina.)

Demonstrando uma disciplina notável ao manter o tom da narrativa sob controle, Steven Spielberg não se rende ao sentimentalismo barato e constrói um sentimento de urgência que funciona genuinamente, surpreendendo também ao deixar de lado aquele ufanismo tolo que havia em algumas de suas obras anteriores. Ok, de vez em quando o diretor tem dificuldades para conter seus impulsos melodramáticos (e o travelling semi-grandioso que contorna Meryl Streep enquanto esta diz que “Qualidade e rentabilidade caminham juntas” é um exemplo desses curtos instantes onde Spielberg quase perde o autocontrole), mas até mesmo essas pequenas falhas merecem absolvição diante da excelente sequência onde três personagens dividem uma linha telefônica e o cineasta resolve enfocá-los como se estivessem num encontro presencial, estabelecendo uma espécie de “eixo” mesmo que este seja apenas imaginário. Além disso, tanto Spielberg quanto o diretor de fotografia Janusz Kaminski criam momentos visualmente interessantes (como aquele onde a câmera “passeia” pela redação do Washington Post até chegar na sala de Ben Bradlee) e imprimem tensão através de quadros que conseguem ser instáveis sem que se tornem excessivamente frenéticos.

Por falar em fotografia, Kaminski se sai bem ao adotar uma iluminação reduzida e cores dessaturadas que evocam dramaticidade sem descambar para o absurdo – ao contrário do recente O Destino de uma Nação, que, na tentativa de usar a escuridão para conceber imagens marcantes e poderosas, acabava soando ridículo ao confinar os cenários a um breu quase absoluto. E se a trilha sonora do extraordinário John Williams (indicado ao Oscar por seu trabalho em Star Wars: Os Últimos Jedi) mostra-se pontual e correta ao complementar as emoções que o espectador deverá sentir, a montagem de Sarah Broshar e Michael Kahn conquista duas proezas simultâneas: conferir agilidade ao ritmo da narrativa (que jamais torna-se cansativa) e exibir um apuro estético atraente por natureza (não há como não apreciar, por exemplo, a maneira como os tiros de um fuzil são sonoramente associados às hélices de um helicóptero que pousa em outro lugar/tempo).

Atributos técnicos à parte, o que realmente chama a atenção em The Post é o modo como o roteiro de Liz Hannah e Josh Singer se concentra nas ações dos jornalistas que protagonizam a trama – e aqui retomo o que abordei em meu texto sobre Spotlight: é uma pena que a imprensa em geral esteja visivelmente subjugada aos interesses ideológicos de seus proprietários e passe por cima da imparcialidade que deveria caracterizar o Jornalismo de qualidade, fazendo questão de inventar notícias falsas, manchetes desonestas e informações comunicadas de forma manipulativa a fim de privilegiar certa vertente política. Assim, é particularmente admirável quando uma obra se propõe a valorizar os princípios que deveriam compor um repórter íntegro, trazendo uma série de momentos onde os personagens são obrigados a abrir mão de privilégios pessoais e encarar situações de extremo risco com o objetivo de levar a verdade ao público – mesmo que esta verdade resulte no fim de uma velha amizade, numa ameaça que talvez arruíne um veículo ou mesmo num possível mandato de prisão.

O que não quer dizer, porém, que os jornalistas não sejam seres humanos que, de fato, sentem pavor diante da encruzilhada em que se encontram: quando se dá conta do perigo que sua conduta profissional pode gerar, Kay Graham claramente hesita antes de soltar um trêmulo “Publique!” – e, neste sentido, a performance de Bob Odenkirk ilustra habilmente os muitos temores que certamente existem neste tipo de situação, equilibrando-se entre o medo de pôr a própria vida em risco e a necessidade de fazer jus ao cargo que lhe foi concedido. Para completar, o roteiro mais uma vez surpreende ao demonstrar uma maturidade que (de novo) faltava nos últimos trabalhos de Steven Spielberg, escapando da ideia maniqueísta de que os repórteres do Washington Post são mocinhos incorruptíveis e os políticos do outro lado são vilões nefastos: se por um lado Kay e Bob reconhecem que já permitiram a interferência de questões particulares em suas ações profissionais (mas com o intuito de não repetir o erro), por outro há aqueles que estão ligados ao governo e, além de servirem como fontes de informações, são também cidadãos que têm hábitos comuns.

Mas The Post vai além: claro que, por ser uma mulher ocupando um alto cargo em plena década de 1960, Katharine Graham logicamente é uma representante do sexo feminino no meio de um vespeiro dominado por machos. Sendo assim, o filme encontra espaço para enfatizar o vigor de Kay, cuja posição profissional era constantemente diminuída pelos homens ao seu redor, tinha que bater de frente com o pensamento sexista de seu âmbito e exibia uma coragem que inspirava seus colegas do ponto de vista moral e ético. Sim, é verdade que Spielberg exagera ao incluir um momento onde Katharine Graham caminha entre mulheres apenas para ver a multidão ser substituída por homens depois de passar por uma porta rumo ao ofício que exercerá – da mesma forma, o diretor volta a apelar para a obviedade nos minutos finais da projeção, quando mulheres de todas as idades abrem alas para que a protagonista passe como se fosse uma deidade. De todo modo, estes são tropeços menores que jamais comprometem a força de Kay nem diminuem o valor de sua história.

Mais interessante ainda é notar como o filme consegue conferir densidade dramática à heroína, que, vivida por Meryl Streep como uma mulher repleta de nuances que tendem a torná-la tridimensional, encontra-se dividida entre a fragilidade que parece provir do desrespeito sofrido em seu ambiente de trabalho e a força que põe para fora de maneira surpreendente em momentos cruciais. Streep, por sinal, oferece uma performance que justifica sua indicação a prêmios, saltando de um leve movimento com os olhos que sugere uma delicadeza iminente para outros instantes onde sua expressão torna-se um pouco mais rígida e sua voz assume ares mais intensos. Por fim, é um alívio ver Tom Hanks enfim saindo da persona sábia, bondosa e inspiradora que se acostumou a interpretar em diversos projetos, recompondo Ben Bradlee como um sujeito imperfeito e vulnerável que, no auge de sua rouquidão provocada pelo hábito de fumar, surge dizendo palavrões e sendo grosseiro com seus colegas, mas tudo com o propósito nobre de preservar sua integridade profissional (por trás de sua casca grossa, há um editor-executivo digno de aplausos).

Conseguindo ser didático a respeito da história que reencena sem menosprezar a inteligência do público, fazendo questão de evitar diálogos expositivos ou explicações artificiais, The Post une-se a Todos os Homens do PresidenteZodíaco e Spotlight na lista de filmes que deveriam ser exibidos em faculdades de Jornalismo. É, por fim, o melhor longa que Steven Spielberg dirigiu em anos. Tomara que ele continue no bom caminho.

Mais para explorar

Coringa: Delírio a Dois | Crítica

Na maior parte do tempo, Coringa 2 se limita a remoer eventos do antecessor a ponto de soar, na prática, como um imenso epílogo de 138 minutos; uma obra inteira que jamais consegue se estabelecer – e se desenvolver – por conta própria.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *