Emoji (1)

Título Original

The Emoji Movie

Lançamento

31 de agosto de 2017

Direção

Tony Leondis

Roteiro

Tony Leondis, Eric Siegel e Mike White

Elenco

As vozes de T.J. Miller, James Corden, Anna Farris, Maya Rudolph, Steven Wright, Jennifer Coolidge, Patrick Stewart, Christina Aguilera, Sofía Vergara, Sean Hayes, Rachel Ray, Jeff Ross, Jake T. Austin e Tati Gabrielle

Duração

86 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Michelle Raimo Kouyate

Distribuidor

Sony Pictures

Sinopse

Textopolis é a cidade onde os Emojis favoritos dos usuários de smartphones vivem e trabalham. Lá, todos eles vivem em função de um sonho: serem usados nos textos dos humanos. Todos estão acostumados a ter somente uma expressão facial – com exceção de Gene, que nasceu com um bug em seu sistema, que o permite trocar de rosto através de um filtro especial. Determinado à se tornar um emoji normal como todos os outros, eles vai encarar uma jornada fantásticas através dos aplicativos de celular mais populares desta geração – e no meio do caminho, claro, fazer novos amigos.

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Emoji – O Filme | Crítica

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Um filme sobre os emojis.

A que ponto chegamos? Se bobear, até mesmo uma aventura protagonizada pela película do Samsung Galaxy S4 seria mais promissora. Ou melhor: o que acham de um longa sobre um iPhone que parte numa jornada em busca de um carregador da Apple? De todo modo, acho que nenhuma premissa pode se igualar à de Tablet vs iPad: Dawn of Cellputer. E se você se espantou com a quantidade de marcas que citei neste parágrafo, saiba que estou apenas fazendo jus ao product placement ambulante que é Emoji – O Filme.

Aliás, quem tem meu contato sabe que tenho o costume de usar emojis ao final de quase todas as mensagens que digito, pois acredito que estas carinhas complementam bem o que pretendo comunicar. Depois de Emoji – O Filme, porém, acho que vou voltar ao tempo onde eu enviava os textos logo após o ponto final.

Escrito por Tony Leondis, Eric Siegel e Mike White (criar um roteiro que gira entorno de emojis deve ser uma tarefa difícil demais para um único profissional), o filme tem início mostrando o dia a dia da cidade de Textópolis e como seus habitantes trabalham fazendo carinhas que se transformarão em mensagens a partir do celular de Alex, um menino que vive querendo se declarar para uma colega de classe. O problema surge quando “Meh” descobre que é expressivo demais para ser um emoji de uma cara só, o que eventualmente gera falhas na memória do aparelho e leva Alex a buscar uma loja para consertá-lo. Assim, “Meh” parte numa jornada a fim de alcançar o Dropbox, chegar à “nuvem”, reiniciar sua configuração e se tornar entediado para sempre; mas isso deve ocorrer antes que o celular seja formatado.

Vocês leram isso?

Não é errado produzir um longa com o intuito de promover marcas, afinal, o ótimo Uma Aventura LEGO está aí para provar que é possível extrair algo interessante com base num product placement declarado. Infelizmente, Emoji – O Filme não consegue justificar a própria existência: em primeiro lugar, há o “Ctrl+C/Ctrl+V” de várias outras animações populares, com direito a um mundo digital (como a terra dos games de Detona Ralph), pessoinhas que definem as ações de uma pessoa (como as emoções de Divertida Mente) e um emprego onde estas criaturas interagem com os humanos a fim de manter o funcionamento de seu bem-estar (como os trabalhadores de Monstros S.A.). Além de copiar descaradamente uma infinidade de projetos melhores, este produto (não há termo mais apropriado) tenta despistar sua falta de conteúdo tratando algumas circunstâncias obviamente banais com uma grandiosidade desproporcional (e por mais que eu seja um adepto dos emojis, nunca cheguei para alguém e disse algo como “Ué, mande um emoji!” como se estas carinhas fossem um milagre que pudesse facilitar tanto assim a vida de uma pessoa).

Isso porque nem citei o fato do filme já nascer datado, pois se as referências a Candy CrushJust Dance, FacebookInstagramDropbox, “hashtags”, vídeos de gatinhos no YouTube e ao passarinho do Twitter já soam tolas e forçadas hoje, obviamente empalidecerão ainda mais se forem revisitadas daqui a 20 ou 30 anos. Por falar em todas estas marcas, Emoji – O Filme ainda tenta criar lições de moral sem saber o que elas significarão de fato – e me atrevo a dizer que o longa se entrega à hipocrisia neste sentido: de minha parte, acredito que a Internet separa as pessoas tanto quanto as une, porém é difícil acreditar na sinceridade de um roteiro que fala sobre o valor da amizade e a necessidade de ser honesto consigo mesmo depois que um emoji olha para o Facebook e diz que o usuário “não conhece tantas pessoas, mas o que importa mesmo são as curtidas”. Há também um momento onde uma personagem diz que “Os homens levam todo o crédito por ideias dadas pelas mulheres“, mas esta discussão é imediatamente esquecida logo após isso.

Mas os problemas do roteiro não param por aí, já que a própria narrativa se perde ao jogar arcos dramáticos que acabam se confundindo: se os emojis parecem saber que o celular de Alex será formatado em breve, então por que “Meh” continua se esforçando para alcançar seu objetivo e se tornar unidimensional? Ah, e por que diabos os vilões permaneceriam caçando o protagonista se eles também seriam “apagados” em seguida? E mais: por que gastar tanto tempo com uma subtrama onde os pais de “Meh” passam a enfrentar problemas matrimoniais constantes? Diga-se de passagem, este casal toma atitudes que ultrapassam os limites da normalidade, chegando a pedir para que o filho se tranque em casa a fim de evitar o constrangimento público que a família sofreria.

De qualquer forma, o caos narrativo de Emoji – O Filme não é mais embaraçoso do que as tentativas de humor que são praticamente ininterruptas e mal-sucedidas (aliás, este foi um dos longas com mais piadas de duplo sentido que lembro de ter visto desde Batman & Robin). Sim, aqui e ali surge uma criação que se destaca – como o “Cavalo de Troia” que trabalha como barman e a caixinha de spam que distribui panfletos publicitários -, mas para cada gracinha moderadamente divertida como aquela que traz um emoji chorando de tristeza mesmo tendo ganhado na loteria, existem outros setenta trocadilhos infames como o “cocôzinho” que “Está ficando muito mole” (leia-se: sentimental), o “High-Five” que “Precisa de uma mãozinha” e a lanterna que apaga quando perguntam se ela pode “Dar uma ideia“. O pior, no entanto, é que o roteiro não consegue sequer encontrar um equilíbrio entre tiradas infantis e adultas, saltando de comentários bobinhos para gags visuais grosseiras envolvendo uma nuvem em formato de pênis apontando para o ânus de um elefante.

Já os personagens são, em sua maioria, aquilo que já está ilustrado em seus rostos: o “cocôzinho” é nojento; a “lâmpada” dá ideias; o “diabinho” é safado; o “High-Five” tenta ser descoladão; e o sorvete… bem, é um sorvete, seja lá o que isso quer dizer. A única que quase escapa de uma caracterização unidimensional (eu disse “quase”) é a carinha sorridente, que se estabelece como a principal vilã da história e toma atitudes claramente raivosas sem nunca perder sua risada. Quanto ao núcleo principal (tirando o já citado “High-Five”), pode-se dizer que a hacker parece conter um entusiasmo intenso dentro de sua personalidade rebelde e que “Meh” é o típico herói inseguro deste tipo de aventura. Para concluir, se o tom de voz incessantemente monocórdio dos pais do protagonista são engraçadinhos no começo, depois tornam-se repetitivos e constituem uma piada que perde a graça com rapidez.

Enfraquecido também pela quantidade absurda de clichês que caem na trama aleatoriamente (o que leva os personagens a mudarem de comportamento com uma precisão das mais convenientes), Emoji – O Filme ao menos conta com uma abordagem visual razoavelmente interessante que investe em cores fortíssimas, sendo curioso também em seus esforços de conferir três dimensões àquilo que está presente nos celulares de milhões de pessoas. Por outro lado, a montagem vai piorando no decorrer da película e aposta em transições deselegantes como cortes de fusão e fades o tempo todo; além, é claro, de afrouxar o ritmo da obra e fazê-la parecer mais longa do que é na verdade.

Se o objetivo era copiar Divertida Mente, o resultado acaba soando mais como uma versão sem palavrões, sem violência, sem escatologia e sem graça de Festa da Salsicha. Eu estava pensando em terminar este texto falando sobre como o “cocôzinho” ilustra a qualidade geral de Emoji – O Filme, mas creio que nem quinhentos “cocôzinhos” seriam o suficiente. Acho que, neste caso, o termômetro ideal seria o “vomitaço” do Facebook.

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