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Título Original

Atomic Blonde

Lançamento

31 de agosto de 2017

Direção

David Leitch

Roteiro

Kurt Johnstad

Elenco

Charlize Theron, James McAvoy, Sofia Boutella, Til Schweiger, Toby Jones, Eddie Marsan, John Goodman, Bill Skarsgård, Sam Hargrave, James Faulkner, Roland Møller e Barbara Sukowa

Duração

115 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Charlize Theron, Beth Kono, A.J. Bix, Kelly McCormick, Eric Gitter e Peter Schwerin

Distribuidor

Universal Pictures

Sinopse

Lorraine Broughton (Charlize Theron), uma agente disfarçada do MI6, é enviada para Berlim durante a Guerra Fria para investigar o assassinato de um oficial e recuperar uma lista perdida de agentes duplos. Ao lado de David Percival (James McAvoy), chefe da localidade, a assassina brutal usará todas as suas habilidades nesse confronto de espiões.

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Atômica | Crítica

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Quando escrevi sobre o ótimo John Wick 2, há alguns meses, comecei o texto relembrando a eficácia do primeiro capítulo daquela franquia, que se chamava De Volta ao Jogo e era repleto de sequências de ação empolgantes e memoráveis. Keanu Reeves surgia como um brucutu surpreendentemente eficaz, é verdade, mas o principal destaque daquela produção era mesmo a dupla que dirigia o projeto: Chad Stahelski e David Leitch, que não foi creditado. O resultado deu certo, mas os dois resolveram seguir caminhos separados a partir daquele momento. Felizmente, ambos parecem estar se dando bem em suas carreiras particulares: Stahelski retornou ao universo de John Wick com uma continuação ainda melhor que o original e Leitch consegue criar uma aventura eficiente (embora imperfeita) com este Atômica.

Inspirada numa graphic novel chamada The Coldest City, escrita por Anthony Johnston e ilustrada por Sam Hart, a trama se passa em 1989 e nos apresenta a Lorraine Broughton, uma integrante do MI6 que é enviada a Berlim para investigar um assassinato e encontrar uma lista que inclui os nomes de vários agentes duplos. Ao chegar à capital alemã, nos últimos dias da Guerra Fria, Lorraine se alia ao chefe de estação David Percival e passa a lutar ferozmente contra vários espiões – ao mesmo tempo, a heroína também conhece a francesa Delphine Lasalle e desenvolve um caso amoroso com ela.

Ambientado num universo que parece saído de uma HQ adulta, Atômica se apresenta estiloso por natureza (as legendas que revelam os nomes de certos lugares, por exemplo, surgem sempre escritas como se fossem pichações coloridas; em vez de aparecerem grafadas em uma tradicional e sem graça fonte branca), sendo beneficiado, em especial, pela fotografia de Jonathan Sela, que acerta não só ao retratar as ruas geladas e azuis de Berlim, mas também ao contrapor a frieza destas às cores de algumas cenas de festas mais intensas em suas cores. Mais interessante, contudo, é a recomposição da época em que o filme se passa: resgatando com precisão o clima de imprevisibilidade política da Guerra Fria, o designer de produção David Scheunemann leva o espectador a sentir os dias que antecederam a queda do Muro de Berlim através de figurinos e itens pertencentes àquele período (mas sem descambar para caracterizações camp, o que é um alívio).

Como representante do gênero “ação”, Atômica volta a se destacar – e, neste aspecto, o diretor David Leitch faz jus às boas expectativas criadas após De Volta ao Jogo: favorecidas pela classificação indicativa mais elevada que permite a presença de sangue (entre outras coisas, como palavrões e nudez), as sequências de ação frequentemente testam a imaginação dos realizadores e trazem Lorraine utilizando armas inusitadas como cordas, garrafas e saca-rolhas. Além disso, Leitch sempre encontra maneiras eficazes de ilustrar a ação, construindo esses momentos com cuidado e adotando planos longos e abertos o bastante para que a pancadaria se torne visualmente compreensível – e talvez o instante mais memorável seja o plano-sequência (simulado) que começa num corredor e termina numa perseguição de carros, remetendo a um momento similar de Filhos da Esperança. Para completar, o contexto que ambienta a narrativa é fortalecido pela excelente seleção de canções, que mais uma vez ajuda a resgatar o espírito dos anos 1980 ao incluir músicas como “Cat People” (de David Bowie), “London Calling” (da banda The Clash), “Under Pressure” (do Queen) e “99 Luftballons” (tanto a versão de Nena quanto a de Kaleida).

Mas a verdade é que nem a ação funcionaria se o espetador não acreditasse na força da protagonista – e a sorte é que, para este tipo de personagem, Charlize Theron é uma escolha perfeita. Dona de uma fisicalidade que impressiona do início ao fim, a atriz exibe uma personalidade rígida e imponente que acaba sendo fundamental para que o público esteja convencido de que ela é uma figura poderosa. Assim, sempre que Lorraine Broughton começa a distribuir socos, tiros e facadas em seus adversários, é possível aceitar o que ela está fazendo – em compensação, há também momentos pontuais em que Theron confere uma sutil dimensão dramática à personagem (há sinceridade no modo com que ela interage com Delphine, como se estivesse tentando conquistar uma humanidade que lhe faz falta). Em outras palavras: sim, Charlize Theron consagrou mais uma heroína depois da Furiosa de Mad Max.

Por outro lado, se Atômica não chega a ser espetacular, isto se deve ao roteiro problemático: talvez temendo que alguns espectadores pudessem criticar a premissa simples e pouco inventiva do filme (afinal, trata-se de mais uma trama envolvendo espionagem, intrigas e revelações), o roteirista Kurt Johnstad decide desenvolver a história de maneira desnecessariamente confusa e inchada. Desta forma, a impressão que fica é de um longa que se faz de difícil em vez de aceitar sua essência descompromissada, entupindo a narrativa com reviravoltas e personagens demais (o papel de Sofia Boutella, por exemplo, só é justificado quando o filme está perto do fim). É graças a estas “gorduras”, aliás, que Atômica acaba se tornando mais longo e pretensioso que o ideal, durando quase duas horas sendo que uns 20 minutos poderiam ser eliminados com facilidade – e, além disso, é um pouco estranho que, numa aventura protagonizada por espiões, todos pareçam saber que a principal heroína é uma agente secreta.

Embora longo, ocasionalmente cansativo e mais enrolado que o necessário, Atômica funciona bem quando se concentra naquilo que interessa: suas sequências de ação. Para encerrar, espero poder reencontrar Lorraine Broughton em novas empreitadas, pois esta é uma personagem que conquistou a minha empatia. E, já que estamos falando sobre um filme de David Leitch, por que não torcer para que a espiã eventualmente se encontre com seu “irmão” John Wick? Este, sim, é um crossover que eu gostaria de ver.

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