Tenho duas notícias a dar sobre o novo filme do mutante mais amado do mundo. Uma boa e a outra, mais ou menos. Primeiro, a boa: Wolverine – Imortal é infinitamente superior ao horrendo X-Men Origens: Wolverine – o que não é muito difícil. Agora, a mais ou menos: todos os demais filmes da franquia X ainda são melhores.
A trama é baseada na ótima graphic novel Eu, Wolverine e se passa algum tempo após os acontecimentos de X-Men 3. Logan vive isolado e sofrendo por ter matado Jean Grey no final daquele longa, até que um dia recebe a presença da japonesa Yukio e o pedido de ir ao Japão para reencontrar Yashida, cuja vida foi salva pelo protagonista em 1945 no bombardeamento em Nagasaki. Ao reencontrar Yashida, que se tornou dono da mais valiosa empresa do Japão, é surpreendido por receber a chance de se tornar mortal. Ele se recusa, mas mesmo assim acaba percebendo que seu fator de cura foi abalado e que ele está mais vulnerável que nunca. Tendo maior dificuldade para se curar de seus ferimentos, o protagonista resolve proteger a todo custo Mariko Yashida, neta do ex-soldado salvo pelo Wolverine, da Yakuza – que estava relacionada com a empresa do milionário.
Como sempre, Hugh Jackman brilha ao encarnar o mutante e aqui seu personagem é apresentado da forma como deveria em 2009. Logan é um cara agressivo e sempre com algum insulto ou um comentário sacana na ponta da língua, chegando até a se apresentar um personagem ainda mais marcante que o da trilogia Singer-Ratner. Ao menos, o núcleo narrativo envolvendo o enfraquecimento de seu fator de cura é desenvolvido de maneira regular, embora pudesse ser mais que isso – o duro de engolir é o Wolverine liberando as garras sem dar nenhum sinal de dor; afinal, são seis lacerações gravíssimas nas mãos. Mas quem chama a atenção mesmo é Rila Fukushima, que executou neste filme o primeiro papel de sua carreira. Yukio acaba sendo uma personagem interessante e bastante funcional nas cenas de ação, mas ainda conta com a interpretação de uma atriz que (ao que parece) tem futuro.
Ainda que seja um tanto rápido ao se consolidar, o romance entre Logan e Mariko é trabalhado de forma razoável pelo roteiro escrito por Mark Bomback e Scott Frank (e pelo não-creditado Christopher McQuarrie). Já Tao Okamoto acaba se mostrando uma atriz mediana e inexpressiva demais para o papel, apesar de sua imensa beleza, enquanto Hiroyuki Sanada consegue transmitir perfeitamente toda a frieza e mal-caratismo que Shingen (o pai de Mariko) precisa para convencer o espectador, demonstrando ter sido a escolha certa para o papel. O ator consegue fazer o espectador odiar seu personagem (no bom sentido) sem dificuldade alguma.
As cenas de ação são excelentemente coreografadas e acabam provando que Imortal não é um filme de super-heróis, e sim um filme de ação – praticamente todas as cenas de ação são corpo a corpo. Todos os golpes e movimentos corporais são muito bem coordenados pelo coreógrafo de luta (que não sei quem é) da produção, porém algumas sequências acabam sendo prejudicadas por rápidos cortes e movimentos de câmera (algo que em 3D deve atrapalhar muito). Por mais empolgante e otimamente coreografada que seja a sequência do trem-bala, ela certamente seria muito mais impactante se fosse maior – e ela tem menos de dois minutos. Aliás, é possível notar que tiveram cenas que foram cortadas para se adequarem à tão odiada classificação PG-13, como a cena da batalha entre Wolverine e os ninjas – que por sinal possui uma belíssima imagem do personagem preso à uma grande quantidade de flechas com cordas, como um animal caçado.
Um dos grandes pontos negativos do filme é realmente o terceiro ato, que acaba sendo construído de uma forma que definitivamente puxa (muito) para baixo o excelente desempenho que o longa apresentava até o momento. Além de ter um patético e desnecessário plot twist durante a sequência de ação final, o terço final do filme ainda cria uma série de situações inúteis e abandona aquela linhagem de ”filme de porrada” para seguir um tom mais ”super-heroico”. A batalha final contra o Samurai de Prata (e isso não é spoiler) é terrível, totalmente esquecível e aparenta estar lá apenas para justificar os US$ 120 milhões investidos no longa – por sinal, US$ 30 milhões mais barato que X-Men Origens: Wolverine. Além disso, a vilã Víbora (Khodchenkova) se apresenta uma personagem inacreditavelmente tosca e totalmente deslocada do tom do filme em si; sem contar que a atriz (cujo nome é praticamente impronunciável) não exibe um pingo de carisma em momento algum que aparece em tela.
Algo que não deve deixar de ser mencionado é que a produção foi bastante feliz e até respeitosa em criar cenas inteiramente faladas em japonês, algo que a maioria dos estúdios resolve deixar de lado quando suas produções são ambientadas em locais fora dos EUA graças ao famoso desgosto sentido por muitos americanos em ler legendas. E além da produção ter respeitado a inteligência dos espectadores em deixar o idioma japonês ser livremente usado em muitos momentos, ela ainda merece palmas por seu grande talento em recriar com perfeição cenários japoneses embora o longa tenha sido filmado em terras australianas, demonstrando que o diretor James Mangold percebeu que era necessária a verossimilhança e o sentimento de que o ambiente era outro.
Ainda que tenha suas falhas e um péssimo ato de encerramento, Wolverine – Imortal ainda se mantém um filme extremamente divertido e muito mais digno do personagem do que a piada de mau gosto que foi X-Men Origens: Wolverine. Enquanto o longa de 2009 simplesmente não era o filme do Wolverine que todos gostaríamos de ver, o longa de 2013 diz que um dia, talvez, possamos ver o filme do Wolverine que tanto queremos.