Vingadores

Título Original

Marvel’s The Avengers

Lançamento

27 de abril de 2012

Direção

Joss Whedon

Roteiro

Joss Whedon

Elenco

Robert Downey Jr., Chris Evans, Scarlett Johansson, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Tom Hiddleston, Jeremy Renner, Samuel L. Jackson, Clark Gregg, Cobbie Smulders, Stellan Skarsgård

Duração

142 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Kevin Feige

Distribuidor

Disney

Sinopse

Loki, o irmão de Thor, ganha acesso ao poder ilimitado do cubo cósmico ao roubá-lo de dentro das instalações da S.H.I.E.L.D. Nick Fury, o diretor desta agência internacional que mantém a paz, logo reúne os únicos super-heróis que serão capazes de defender a Terra de ameaças sem precedentes. Homem de Ferro, Capitão América, Hulk, Thor, Viúva Negra e Gavião Arqueiro formam o time dos sonhos de Fury, mas eles precisam aprender a colocar os egos de lado e agir como um grupo em prol da humanidade.

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Os Vingadores – The Avengers | Crítica

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A ideia de cruzar franquias não é nova no Cinema: os monstros clássicos da Universal (Lobisomem; Frankenstein; Drácula) se encontraram ainda nos anos 1940; o Godzilla já brigou com vários monstros de outras propriedades intelectuais, como King Kong; os slashers Freddy Krueger e Jason Voorhees extraíram litros de sangue um do outro quando se esbarraram em 2003; o Alien e o Predador saíram no braço não só uma, mas duas vezes; Os Mercenários, mesmo não sendo uma reunião de personagens pré-estabelecidos na década de 1980, foi o mais próximo já alcançado disso; etc.

No entanto, quando comparamos isto ao feito da Marvel em Os Vingadores, a diferença torna-se inegável – afinal, as produções que citei no parágrafo anterior (além de serem de qualidade duvidosa) só foram planejadas depois que todos os personagens estrelaram suas aventuras particulares, como se o crossover entre estes nada mais fosse que um mero lucro adicional para franquias já consolidadas, ao passo que Os Vingadores, além de contar com uma verba multimilionária que o estabelece de cara como uma superprodução, é também a conclusão de um planejamento ambicioso que começou lá na cena pós-créditos do primeiro Homem de Ferro e que seguiu com HulkThorCapitão América.

A estratégia, claro, trouxe algumas desvantagens, já que alguns destes longas anteriores acabaram soando pontualmente como grandes trailers para um filme-clímax, esquecendo-se de funcionar por conta própria. No entanto, é difícil assistir a Os Vingadores sem sentir que o resultado fez valer toda a preparação – e, se do ponto de vista narrativo e estrutural o filme não impressiona, ao menos funciona bem como espetáculo de ação; o que se deve, em grande parte, ao fato de já termos conhecido e nos apegado aos heróis presentes aqui em seus filmes individuais.

Dirigido e roteirizado por Joss Whedon, Os Vingadores narra uma historinha simples e, convenhamos, bobinha: quando Loki, o irmão adotivo de Thor, vem à Terra e rouba o poderoso Tesseract (aquele cubo mágico apresentado em Capitão América), o superagente Nick Fury, diretor da organização secreta SHIELD, resolve pôr em prática a “Iniciativa Vingadores” e entra em contato com Tony Stark, Capitão América, Thor, Viúva Negra, Gavião Arqueiro e Bruce Banner (que torna-se Hulk sempre que fica irritado) para tentar uni-los em prol da paz mundial. Claro que, antes de enfrentarem a horda de alienígenas liderada por Loki, os seis integrantes terão que aprender a deixar suas diferenças de lado para, então, trabalhar em equipe.

Encarando seus heróis mais como ícones do que como humanos que por acaso têm superpoderes (afinal, seus dramas pessoais já foram abordados em seus filmes-solo), Os Vingadores  é um longa de super-herói daqueles que trazem seus protagonistas em poses elegantes ao som de uma trilha sonora bombástica e com várias explosões acontecendo ao fundo (imaginem, portanto, a quantidade de frases de efeito ditas aqui). Assim, o primeiro aspecto que chama a atenção no filme é a atmosfera criada por Joss Whedon, que, ao manter uma leveza sempre divertida e contagiante, evoca o espírito inocente dos quadrinhos criados por Stan Lee e Jack Kirby nos anos 1960 – e o bom humor, por sinal, revela-se fundamental ao impedir o longa de entregar-se à solenidade (mas sem sucumbir ao deboche que destruiu, por exemplo, Batman & Robin e Quarteto Fantástico).

Em outras palavras: sim, Whedon vai na direção contrária à de Christopher Nolan, cujos Batmans obtiveram sucesso investindo justamente numa atmosfera adulta e “realista” (na medida do possível). Assim, o designer de produção James Chinlund e a figurinista Alexandra Byrne abraçam com unhas e dentes a ideia de estarem participando de uma adaptação de HQs, criando um universo multicolorido cujos cenários e objetos de cena vão de uma torre high tech no meio de Manhattan até um porta-aviões voador. E, se o diretor de fotografia Seamus McGarvey acerta ao investir numa paleta que realça a intensidade das cores (contrastando o uniforme azul do Capitão América à capa vermelha de Thor e à armadura vinho do Homem de Ferro – que, por sua vez, complementam o verde do Hulk e da roupa de Loki), a ótima montagem de Jeffrey Ford e Lisa Lassek é particularmente hábil ao “amarrar” o primeiro ato, costurando o encontro das franquias anteriores de maneira ágil, orgânica e coerente. Para completar, o veterano Alan Silvestri realiza um trabalho fabuloso ao compor um tema musical marcante para os heróis, ao passo que os editores de som Frank Eulner e Christopher Boyes se atentam a pequenos detalhes que conferem não só peso, mas personalidade ao Tesseract, aos veículos pilotados pelos alienígenas e às armas usadas pelos personagens.

Mas nenhum nome se destaca tanto em Os Vingadores quanto o de seu diretor, Joss Whedon, que se mostra especialmente inspirado na cena (talvez a melhor do filme) em que os personagens trocam farpas numa sala e cuja câmera “passeia” pelos rostos de cada um deles até culminar no cajado de Loki de cabeça para baixo, demonstrando com economia como aquele item desestabilizou a relação entre os heróis. Além disso, na hora de conduzir a ação, Whedon dá uma aula no enlouquecido Michael Bay: sempre que vai enfocar uma batalha grandiosa, por exemplo, o diretor faz questão de oferecer um plano aberto, geral ou conjunto que nos permite compreender a geografia do cenário que abrigará a luta e as posições dos personagens em meio a este espaço – e assim, por mais destrutivo e movimentado que seja o clímax no centro de Nova York, o espectador nunca deixa de entender objetivamente a ação retratada na tela.

Outro mérito de Whedon diz respeito ao roteiro, que, mesmo cometendo alguns tropeços (que discutirei adiante), é eficaz ao desenvolver a dinâmica dentro dos Vingadores (algo que, de novo, convence ainda mais graças ao fato de já termos nos familiarizado com estes): Tony Stark e Steve Rogers nutrem antipatia um pelo outro e protagonizam a discussão mais acalorada do longa (o que não impede o Capitão de salvar o Homem de Ferro poucos minutos depois); Stark e Banner simpatizam mais rápido em função dos assuntos que têm em comum (e as provocações feitas por Stark a fim de testar o autocontrole de Banner são fruto desta identificação); a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro dividem algo próximo a uma tensão sexual sem que precisem se relacionar; Thor se posiciona como o mais deslocado naquela equipe, sem contar a nuance extra em seu jeito de enxergar Loki (seu irmão, afinal); etc. Assim, fica mais fácil, para o espectador, entender – e curtir – a interação entre os personagens, o que chega ao ápice no excelente instante em que o Capitão América assume a postura inquestionável de líder e especifica o que deve ser feito por cada um dos colegas – que, por sua vez, compreendem e aceitam as ordens.

Já Loki é interpretado por Tom Hiddleston com uma irreverência bem maior do que em Thor, sendo um alívio, portanto, que o ator confira ao vilão o carisma necessário. E se Samuel L. Jackson se diverte encarnado Nick Fury como uma figura de autoridade surpreendentemente leve e inofensiva, Mark Ruffalo é bem-sucedido ao injetar em Bruce Banner um humor que faltava às composições de Eric Bana e Edward Norton – o que não elimina, porém, a angústia incessante do cientista, que, aliás, surge sempre arqueado e inquieto. No entanto, a grande surpresa é o agente vivido por Clark Gregg, que, entusiasmado ao conhecer os super-heróis (ele conserva uma coleção que cards do Capitão América que espera que sejam autografados pelo próprio), se transforma num avatar para que o fã projete na tela sua própria devoção.

Por outro lado, é uma pena que Whedon não seja igualmente hábil ao elaborar a trama em si – que, por sua vez, pouco mais é do que uma reciclagem pouco inspirada de clichês batidos (super-heróis tendo que aprender a deixar as diferenças de lado? E para defender a Terra de uma invasão alienígena? Que criativo, não?). Mas o problema nem é a premissa em si; o que incomoda mesmo é a incapacidade de Whedon de torná-la narrativamente instigante, já que a forma como a história se desenvolve é excessivamente… básica (os personagens apenas têm que ir do ponto A ao B, sem maiores desafios ou surpresas). Assim, torna-se mais interessante acompanhar o que os Vingadores estão fazendo do que a situação ao redor deles – e vejam bem: não estou pedindo para que tudo seja sombrio e pesado como O Cavaleiro das Trevas; basta pensar em como Superman – O Filme Homem-Aranha 2 eram estimulantes sem perderem o apelo fabulesco de suas premissas.

Prejudicado também por algumas soluções fáceis e por um ou outro diálogo mais tolo (a primeira conversa entre Nick Fury e Loki, em especial, envolve trocas de frases de efeito pavorosas), Os Vingadores ainda evita se aprofundar nas consequências da destruição ocorrida no terceiro ato – que certamente resultou na morte de milhares de vidas inocentes. Para completar, a motivação que leva os heróis a finalmente se unirem (vocês a reconhecerão) me soou um pouco questionável, pois parece que o que os levou a resolver suas pendências foi mais um sentimento de vingança pessoal do que uma vontade altruísta de fazer o bem (lembrem-se: até aquele momento, Loki já havia matado mais de oitenta pessoas).

Ainda assim, Os Vingadores decola de vez quando os personagens-título enfim se encontram, resultando em alguns dos momentos mais empolgantes já produzidos pelo subgênero dos super-heróis – e comprovando, portanto, a eficácia do filme como entretenimento.

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