O Incrível Hulk

Título Original

The Incredible Hulk

Lançamento

13 de junho de 2008

Direção

Louis Leterrier

Roteiro

Zak Penn e Edward Norton

Elenco

Edward Norton, Liv Tyler, William Hurt, Tim Roth, Tim Blake Nelson, Ty Burrell, Christina Cabot, Lou Ferrigno, Débora Nascimento e Robert Downey Jr.

Duração

112 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Kevin Feige

Distribuidor

Universal Pictures

Sinopse

Vivendo escondido e longe de Betty Ross (Liv Tyler), a mulher que ama, o cientista Bruce Banner (Edward Norton) busca um meio de retirar a radiação gama que está em seu sangue. Ao mesmo tempo ele precisa fugir da perseguição do general Ross (William Hurt), seu grande inimigo, e da máquina militar que tenta capturá-lo, na intenção de explorar o poder que faz com que Banner se transforme no Hulk.

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O Incrível Hulk | Crítica

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Prejudicado pela abordagem narrativa excessivamente dramática conferida pelo diretor Ang Lee, Hulk foi rejeitado pelo grande público e amargou com números indesejáveis nas bilheterias mundiais junto à reprovação por parte de boa parte da audiência, ainda que colecione vários defensores – entre os quais me identifico como um deles. Assim, não foi uma grande perda para a Universal Pictures quando esta decidiu abrir mão do personagem no Cinema e o devolveu aos seus donos, retornando como distribuidora em 2008 quando a produtora Marvel Studios, em franca ascensão após o sucesso de Homem de Ferro, apresentou ao mundo O Incrível Hulk, uma nova tentativa de fazer um filme do Golias Esmeralda ignorando o que havia sido mostrado cinco anos antes e apostando numa roupagem que privilegiasse a ação sem se esquecer da melancolia que faz parte da essência do personagem-título.

Inteligente ao não retornar à origem do protagonista, relembrando-a brevemente durante a sequência de créditos iniciais, o roteiro (escrito por Zak Penn e alterado por Edward Norton) tem início no Brasil com o pobre fugitivo Bruce Banner trabalhando numa fábrica de refrigerantes ao mesmo tempo em que se comunica, na sua casa no alto da Rocinha (a verdadeira nas tomadas externas e Tavares Bastos nas internas), por computador com contatos misteriosos em busca de uma cura para a sua maldição. Infelizmente, tudo vira de cabeça para baixo quando o exército dos Estados Unidos o identifica e ocasiona mais uma aparição indesejável de Hulk. Vendo que voltou a ser um alvo facilmente identificável, Banner decide reencontrar sua amada Betty Ross para visitar o cientista de faculdade Samuel Sterns e, enfim, fazer testes que indiquem um fim do Golias Esmeralda, ao mesmo tempo em que o soldado Emil Blonsky recebe doses do soro do supersoldado (sim, o mesmo do Capitão América) e enlouquece posteriormente.

Hábil ao aludir abertamente à memória do seriado protagonizado por Bill Bixby e Lou Ferrigno entre 1977 e 1982, O Incrível Hulk traz o primeiro em uma cena exibida na televisão, o segundo em uma ponta divertida, uma menção ao nome “Jack McGee” (saudosistas entenderão), o melancólico solo de piano que acompanhava Bruce (ou David) Banner enquanto vagava por aí, o protagonista pesquisando meios de se livrar de sua “maldição”, conseguindo empregos menores e interagindo com objetos de cena inspirados no design de produção da série (a máquina que concede a radiação gama a Banner, por exemplo, é a mesma da série). também contamos com referências, por exemplo, a Jim Wilson (nas HQs, sobrinho do Falcão), à origem de Capitão América com o já mencionado soro do supersoldado, à minissérie Hulk Cinza e à fase do roteirista Bruce Jones. Mas essas referências todas certamente não funcionariam caso fossem jogadas artificialmente, e graças à equipe de produção assumidamente fã do seriado e das HQs de Hulk, essas pequenas alusões funcionam maravilhosamente bem e de maneira orgânica, sem jamais parar o desenvolvimento da narrativa apenas para apresentar demonstrações de fan-service. Assim, O Incrível Hulk funciona bem mais como um filme que apenas como teaser para Os Vingadores, escapando do problema que assombra alguns dos filmes da Marvel.

Críticas ao elenco também não existem: Edward Norton (Clube da LutaA Outra História Americana) apresenta um Bruce Banner bem mais interessante e convincente que aquele vivido por Eric Bana, enquanto Tim Roth (Cães de Aluguel) surge como um vilão verdadeiramente ameaçador e imprevisível. Mas se Ty Burrell (Modern Family) e Tim Blake Nelson se saem bem respectivamente como Leonard Samson (sem seu cabelo verde e físico grande) e Samuel Sterns (antes de se tornar o vilão Líder), Liv Tyler (O Senhor dos Anéis) e William Hurt (O Beijo da Mulher AranhaMarcas da Violência) revelam-se versões de Betty Ross e Thaddeus “Thunderbolt” Ross não tão memoráveis quanto as de Jennifer Connelly e Sam Elliot. Enquanto isso, Hulk é reapresentado como uma criatura sensível e ganhadora da compaixão do espectador; o que não significa que o CGI empregado para concebê-lo seja dos melhores – e tanto o verdão quanto o vilão soam como bonecos digitais de videogames, quebrando a imersão do espectador ao fazê-lo perceber a falsidade das criaturas.

Mesmo contando com personagens multidimensionais e dramas pessoais cativantes, O Incrível Hulk sofre com um antagonista cujas motivações são estabelecidas de maneira apressada, tornando Emil Blonsky num personagem sem grande profundidade mesmo que profundamente ameaçador. Assim, é uma pena que o personagem perca totalmente seu valor ao transformar-se no Abominável, passando por uma transição de “soldado idealista” para “monstro enlouquecido” conduzida de forma simplória, vazia. Como se não bastasse, ainda vemos alguns infelizes problemas técnicos: a montagem peca ao dar saltos maiores que os ideais na narrativa, causando elipses incorretas e dúvidas em relação a alguns pontos do desenvolvimento da trama (ok, subentendemos que o Hulk pode ter ido do Brasil à Guatemala em um pulo, mas como diabos Bruce Banner conseguiu entrar nos Estados Unidos?). Para piorar, a trilha sonora de Craig Armstrong chega a ser embaraçosa, com trechos que mastigam demais a intenção (dramática, cômica ou catártica) de cada cena.

Em compensação, O Incrível Hulk é agraciado com a direção favorável de Louis Leterrier (Carga ExplosivaCão de Briga), que além de criar sequências de ação eficientes, também consegue apresentar alguns bons planos – ainda que nada revolucionários. O bom momento em que Bruce Banner é perseguido por homens do exército norte-americano passando por locações na Rocinha e na Tavares Bastos, além de ser construído com a dose correta de tensão e energia, ainda é beneficiado por enquadramentos como aquela (excelente) tomada panorâmica que traz o fugitivo passando por entre várias casas. Mas Leterrier também não é um gênio (aliás, seu futuro com o remake Fúria de Titãs deixa isso bem claro): o confronto final entre o Hulk e o Abominável, em particular, revela-se genérico em função da computação gráfica artificial, falhando em explorar o potencial destrutivo das duas criaturas (há apenas um momento memorável neste clímax, no qual o herói cria duas “luvas de boxe” a partir dos destroços de uma viatura de polícia).

Mas um dos grandes problemas do longa é, sem dúvida, sua (falta de) identidade. Vemos aqui um filme o qual temos a impressão de já termos visto em meio a zapeadas pelos canais da TV por assinatura, por motivos que vão desde o visual até o próprio clima criado ao longo do decorrer da trama, tornando-se um simples “filme de fugitivos” e/ou ou simples “filme de super-heróis”. Isso sem contar, é claro, que é fácil perceber o quão conturbada foi a produção do longa: na época do lançamento do filme, foram reveladas informações de que Edward Norton brigou com a produção por “diferenças criativas” – e é possível sentir isso no resultado final de O Incrível Hulk. É fácil, assim, identificar e sentir dois “subfilmes” brigando entre si: o de Edward Norton e o da Marvel. Sabendo recriar com perfeição 95% do que ilustra quando se ambienta no Rio de Janeiro (sim, sou morador da cidade), o filme também é capaz de irritar fartamente os espectadores brasileiros ao apresentar alguns intérpretes (creio eu) latinos falando um português caricaturalmente falso, chegando a provocar o riso graças ao ridículo das falas.

E, ainda assim, o filme consegue saltar com segurança entre o drama e o humor, mostrando-se cuidadoso ao encontrar espaço para a comédia numa trama protagonizada por um personagem tão melancólico (e há momentos divertidíssimos no filme), ainda que não ganhe do primeiro Homem de Ferro. Assim, mesmo com seus tropeços, O Incrível Hulk se estabelece como uma boa adição ao Universo Cinemático Marvel, sabendo conciliar a tristeza do personagem-título e o clima bem-humorado imposto pelo estúdio da Casa das Ideias.

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