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Dossiê George Romero | Parte I: A Hexalogia dos Mortos

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Não há quem duvide que George Andrew Romero é um dos principais nomes do Cinema de horror – e, provavelmente, o cineasta que mais contribuiu para a imagem dos zumbis que hoje temos em mente e que lotaram o imaginário popular. Ainda assim, é provável que muitos tenham a imagem dos mortos-vivos de Romero como algo relativamente distante: sim, muitos sabem da importância do diretor e já ouviram falar na trilogia (ou hexalogia) dos mortos, mas muitos também podem não ter assistido aos tais filmes. Assim, para estimular a discussão, decidimos organizar este “dossiê” para relembrar cada um dos seis capítulos da hexalogia dos mortos e mostrar como cada um deles têm suas particularidades!

Com vocês, os comentários de Sequeira Kamiya e Pedro Guedes sobre George Romero e seus mortos-vivos!

*****

 

A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead, 1968)

Assistir A Noite dos Mortos Vivos, seu primeiro filme, logo depois de passar por toda obra posterior, revela-nos mais sobre a singularidade do primogênito de George Romero e sua tripulação de esqueletos.

Em primeiro lugar, o abandono completo do mistério, do místico, tão forte e marcante em outras produções do gênero (ao menos em algumas de suas inúmeras ramificações, algumas mais frutíferas que outras). A Noite… é o horror da superfície, daquilo que emerge para ela: ficamos grudados na epiderme dos atores, ora catatônicos (Barbra, a mulher que vemos desde o início do filme) ora impotentes (Harry, o homem cuja família se esconde no porão da casa), e a todo tempo precisando mover-se de um lado para o outro, buscando a totalidade de um espaço cada vez menos amistoso (Ben, o homem que chega no meio do caos). Suas personagens são constantemente enquadradas confrontando uns aos outros, as suas diferentes maneiras de resistir a investida dos ghouls (a palavra zumbi jamais é mencionada neste filme), a forma como suam, pegam em objetos apenas para, imediatamente em seguida, perceberem que estes de nada ajudarão, sendo obrigados a refazerem suas estratégias, apenas para reiniciar o ciclo.

A invasão dos meios tecnológicos, o rádio e a televisão, ocorrem de forma abrupta, tal como a entrada dos mortos vivos em cena: invade o espaço sonoro, enquanto constroem suas barricadas, cria um ponto fixo de atenção para todos, único momento que parecem não estar a perambular pelos cantos da casa. A conciliação dos sobreviventes com a informação, mediada pelos aparelhos, é a única que parece existir, visto que ninguém confia em ninguém, a sociedade colapsa e retorna-se para as cavernas em busca de proteção. As únicas janelas não barricadas, a televisão e seu antecessor, o rádio, serão suficientes para (literalmente) a gasolina seja jogada no incêndio que é a situação. Romero é cruel: suas personagens são vítimas de sua própria ignorância, de seu próprio processo de isolamento, da incapacidade de imporem suas vontades e suas tentativas de salvação sem que os efeitos das mesmas se voltem contra eles. Romero é um cientista, suas personagens cobaias em um experimento maléfico. Em termos dantescos, dentro desta primeira trilogia, A Noite dos Mortos Vivos seria o que melhor se encaixa na concepção de inferno.

Em relação a questão racial, tão discutida e retomada ao se lembrar deste filme, devemos recordar um fato curioso: o personagem Ben (interpretado por Duane Jones) jamais fora pensado como um homem negro, sendo que Jones o conseguiu por ter sido o melhor nos testes. Interessante vermos, entretanto, e como o próprio Jones confirmaria mais tarde, que mesmo a concepção original não tendo sido esta, o fato de um sujeito negro ter sido escalado para o papel principal daria um peso completamente diferente ao filme. E, mais do que isso, percebemos também que, como os próprios Ghouls, os ruídos culturais, que muitos evitavam ouvir (ou faziam-se de catatônicos, fingindo não existir) acabam sendo assimiladas pela produção de Romero: seu método não resulta da sutileza sugestiva, e sim da analise, a criação de uma entropia, de uma exposição das fraturas, e de uma nova relação com a violência e a reverberação que as diferentes escalas da mesma tem uma com a outra. Não sendo um diluidor, ou alguém a prestar contas, Romero acaba por amplificar estes ruídos, torná-los um filme sufocante, suas personagens misantropas, aversas ao ser humano. Ao fim, em um momento irônico, quase cômico, evitando o contato ao extremo, os ganchos penetrando a carne de Ben no encerramento deste filme são o ápice do que é o horror e a singularidade desta obra específica em relação às outras de Romero, que em uma hora e meia, dentro de uma pequena casa, mostra o colapso de toda a sociedade.

Sequeira Kamiya

 

O Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead, 1978)

Ponto de virada na filmografia de George Romero, cuja vontade de realizar um novo filme de zumbis (o outro havia sido A Noite dos Mortos Vivos, que em seu lançamento não teve boa recepção imediata[1]) se aliou com a sugestão de Dario Argento para ambos produzirem juntos uma continuação para o filme de 68. Argento receberia George Romero em Roma, onde este escreveria o roteiro sem passar necessidades (os quatro filmes que realiza nos anos 70 também não foram grandes sucessos), e ambos retornariam à cidade natal de Romero, Pittsburgh (local onde realiza todas as suas produções, com exceção de algumas em que filma nas redondezas da cidade), para filmarem em um shopping center local, que foi a inspiração inicial para a trama deste segundo filme da primeira trilogia dos mortos (ou segundo da hexalogia como um todo).

Diferente do que o título brasileiro pode indicar, o “despertar” não se dá somente entre os mortos, apesar da ligação destes com os vivos ir se tornando cada vez mais nítida, e a separação das duas “espécies” menos fundamentada. O início de Noite dos Mortos Vivos mostrava o primeiro zumbi, à primeira vista, como um ser indistinguível de qualquer outro humano, e é a este estado para o qual os zumbis de Romero irão evoluir (no caso retornar) ao longo deste e dos outros filmes. Noite… mostra o ser humano obrigado a regredir a um estado pré-histórico, a sociedade destruída e isolada, e os mortos caminhando livremente pela terra. Despertar… são os escombros deste mundo, que agora precisa acordar para explorar o que sobrou, mesmo que não abandonem alguns de seus impulsos passados (como no momento em que o filme foge de seus personagens principais para assistirmos o cotidiano de um grupo de rednecks armados, matando zumbis enquanto bebem barris de cerveja e tiram fotos).

O shopping center é ponto central: suas infinitas lojas revelam um labirinto, suas personagens corrompem-se com facilidade, tornam-se cúmplices e fazem planos para o futuro, em um mundo que já carece de segredos. A catatônica Barbra de A Noite dos Mortos Vivos dá lugar a Frances (Gaylen Ross), produtora televisiva, que durante o filme está grávida, mulher que se vê em necessidade de despertar, trocar o pesadelo de sua cabeça pelo horror de estar acordada no mundo concreto. Os outros três homens (dois soldados da SWAT e um repórter de trânsito, marido da produtora) que, junto a ela, compõem o grupo principal, precisam também eles passar por esse processo. Pois os corredores fantasiosos do shopping prendem não só os mortos (“esse era um lugar importante para eles”, afirma o piloto de helicóptero ao chegarem ao local pela primeira vez e contemplar os mortos), como também atrai os vivos, que confundem a segurança com o conformismo mortífero. Seu despertar se dá neste nível: permanecer naquele espaço os divide mais, e conforme a progressão do filme são vistos mais isoladamente, usufruindo dos resquícios daquele mundo que já não voltará mais, tentando reencena-lo, de forma que, subitamente, transborda uma tristeza profunda que é rara nestes filmes, ao menos do que se realiza nestes.

Confesso achar difícil expor o por que deste filme especifico tornar-se tão marcante para aqueles que nele resolvem adentrar. Uma cena, então, e com esta evidencia encerro este trecho: Roger (Scott Reiniger) e Peter (Ken Foree), ambos soldados da SWAT, se encontram cara a cara pela primeira vez. Peter (vestindo uma máscara respiratória) foi responsável por matar outro soldado, que estava matando civis desarmados em um cerco realizado contra um prédio (residindo nele majoritariamente imigrantes latinos, que foram cercados por não entregarem os seus mortos para o governo). Roger, ao se refugiar no porão do prédio (e ter seu primeiro contato com os mortos), encontra o outro soldado fazendo o mesmo.

No restante do prédio, os mortos já começaram a atacar tanto os oficiais quanto os moradores, muitos sendo seus familiares. Ambos apontam suas armas um ao outro, mas Roger, que era do esquadrão do oficial assassinado por Peter, percebe que nada tem a ganhar dedurando o mesmo. Abaixam-se as armas, e ambos dividem cigarros (fato esse que irá se repetir ao longo do filme), como símbolo de sua cumplicidade recém descoberta. Pouco depois, ambos se deparam com um quarto repleto de mortos-vivos, e Peter, agora desmascarado, os põe para fora de sua miséria, enquanto se ouve a trilha sonora do Goblin no fundo. Seus olhos começam a lacrimejar. “Por que mantê-los aqui?” questiona Roger, no que Peter, sério, afirma “Pois ainda tem respeito pela morte”.

Aponta sua pistola para um dos mortos, e um tiro, como o que dará em Roger quando este se transforma depois de toda sua jornada dentro do shopping, um gesto violento e ao mesmo tempo um gesto de afeto, finaliza esta sequência. Resta apenas voar até o combustível aguentar. Pois isto, que germina dos restos mortais de A Noite…, a vontade de viajar até este mundo harmônico, que está sempre quase lá, e deste quase, como o “quase” derradeiro de Ben em A Noite…, o “quase” fatídico de Roger e Stephen neste filme, o “quase” da tentativa de estabelecer esta harmonia forçosamente mesmo tudo ao redor jogando contra (a música final dos créditos enquanto os mortos caminham por seus corredores, leia-se, poesia), que nunca de fato alcança seu ponto final (morrer já não é possível), emerge ele: o horror.

[1]Errata: Na realidade o filme até possuiu boa bilheteria, principalmente se pensarmos nas condições que foi feito, arrecadando bem em seu lançamento tanto nos EUA quanto no exterior. Seu sucesso, entretanto, não permitiu que as suas produções posteriores (ao menos até Despertar dos Mortos) tivessem nem orçamentos ou condições melhores de trabalho.

PS: Existem três cortes deste filme: a versão comercializada nos cinemas, a versão estendida de George Romero e o corte europeu montado por Dario Argento. Todas brilhantes, cada qual com suas particularidades.

PS.2: Se não comento com muitos detalhes o remake Madrugada dos Mortos (2004), de Zack Snyder, é porque este não vale o peido de um bode.

Sequeira Kamiya

 

Dia dos Mortos (Day of the Dead, 1985)

Enxerga-se a ironia de George Romero quando este batiza de Dia dos Mortos um filme que se passa quase inteiramente dentro do subterrâneo. Mas talvez a situação não seja tão irônica assim: começamos o filme com a doutora Sarah Bowman, protagonista deste filme, em um quarto branco e carente de moveis, com a exceção de um calendário. Ela se aproxima da parede que o prende, e vê quase todos os dias marcados, porém sem qualquer numeração. Vê também uma foto de um campo de abóboras, o máximo que tem contato com o mundo exterior. Ela passa a mão na imagem, e inúmeros braços de mortos vivos irrompem da parede, tentando agarrá-la.

Não passa de um sonho (teria Frances tido pesadelo similar no início de Dawn of the Dead?), mas estar acordada não melhora muito a situação. As personagens de Dia dos Mortos, diferente das de Despertar dos Mortos, estão em sua maioria em uma hierarquia maior, com ambições maiores: estudar e entender os mortos. Porém, como as personagens de A Noite… sua busca os leva a ciclos viciosos: já não confiam em ninguém, se isolam e brigam, a cientista contra os militares principalmente. Os dias não são numerados, nem tem por que serem, já que para eles só existem os dias em que se está vivo e o dia que se morrerá. “Este é o problema com o mundo, as pessoas tem ideias diferentes a respeito do que querem da vida”, afirma John, o piloto de helicóptero em determinado momento do filme, enquanto ele e seu parceiro caminham ao longo de um estreito corredor branco (os únicos que não vestem uniformes de qualquer tipo durante o filme) para Sarah, que permanece estática, presa em sua posição (em todos os sentidos) . Qual seria o dia dos mortos, ou melhor, em que momento ele é desencadeado? Quando o soldado Miguel comete um deslize que resulta na morte de outro soldado, desencadeando os eventos que levam ao fim da base? Quando Sarah , John e Bill (o operador de rádio) decidem escapar? Ou quando o zumbi Bub começou a reaprender sobre seus hábitos humanos, e por um instante conseguiu matar um homem não como um morto, e sim como um igual, quando este atua dentro de um plano/contraplano (Bub, vitorioso, saudando um militar, assassinado, como costumava fazer em sua vida anterior) que até o momento é reservado apenas para os vivos ?

Possivelmente todos. Pois Dia dos Mortos é esta sequência de acontecimentos, cada qual com o seu espaço, um grande subterrâneo, porém completamente decupado tal como a situação exige: cada plano é uma revelação, seja de uma ordem tomada como piada, uma ameaça prestes a se concretizar, o conflito presente entre dois planos e vários olhares, em suma, o cinema. E, como revelação, diferente do que ocorre em Noite… vemos o ápice de uma evolução que se iniciara em Despertar… , e pela primeira vez, os mortos, agora com a capacidade de aprender (em Despertar eles já indicavam poder se lembrar de determinados aspectos de suas vidas), tem também em Bub seu representante máximo, o soldado que aprendeu a se rebelar, e os vivos, que conseguiram parar de se preocupar e viver entre os mortos.

Sequeira Kamiya

 

Terra dos Mortos (Land of the Dead, 2005)

George A. Romero já era a referência absoluta dos zumbis no Cinema quando, em 2005, decidiu retomar o universo de mortos-vivos que o consagrou. Assim, 20 anos após concluir sua “trilogia dos mortos” com Dia dos Mortos, Romero julgou ser prudente estender a série e transformá-la em uma hexalogia, começando com Terra dos Mortos – um longa curioso que, ao mesmo tempo em que se adéqua ao dinamismo e à ação explosiva dos novos tempos, também se mantém fiel ao humor e ao gore particulares do diretor (e que se manifestavam principalmente em O Despertar dos Mortos e em Dia dos Mortos), demonstrando como Romero, mesmo depois de duas décadas, não perdeu o interesse em explorar as possibilidades gráficas oferecidas por seus zumbis (em dado momento, por exemplo, aparece um morto-vivo aparentemente decapitado que logo revela sua cabeça, na verdade, suspensa e caída em suas costas).

Claro que o Cinema trash tem a vantagem de naturalmente estimular seus realizadores a explorarem o que o baixo orçamento permite em termos de escatologia e imaginação visuais (algo que comentei em meu texto sobre Bad Taste – Náusea Total, longa de estreia de Peter Jackson), mas Terra dos Mortos comprova que Romero seguia vivo não apenas em seus interesses gráficos, como também em sua vontade de expandir a mitologia do universo que criou nos três capítulos anteriores – e o fato de empresários, donos de companhias e chefões do submundo do crime capturarem os zumbis e exibi-los nos eventos que organizam (permitindo que visitantes tirem fotos com eles ou assistam a uma luta dentro de um octógono entre uma mulher viva e dois mortos-vivos) é um detalhe de construção de mundo que tem tudo a ver com a ideia de Romero de que os seres humanos fatalmente se revelariam mais perigosos que os monstros-título, tirando proveito do apocalipse zumbi em benefício próprio.

Ou seja: 20 anos depois, os mortos-vivos de George Romero continuavam servindo de palco para alegorias socioeconômicas, desta vez apontando para como o empresário rico e corrupto tende a aproveitar-se daqueles que subjuga para manter-se confortável no alto de um prédio de luxo. Não é surpresa, portanto, que, ao final de Terra dos Mortos, os zumbis surjam realizando uma espécie de insurreição contra os vilões ricos e usando, como armas, britadeiras, pás, ferramentas, tubos de combustível, etc. É a classe operária contra-atacando e Romero voltando a mostrar como suas criações são versáteis ao permitirem alegorias das mais distintas.

Pedro Guedes

 

Diário dos Mortos (Diary of the Dead, 2007)

Infelizmente, quando George Romero tentou prosseguir com sua nova trilogia, o resultado se esvaziou logo no segundo capítulo (ou, ok, quarto): acompanhando um grupo de estudantes de Cinema que decidem rodar um filme e que são surpreendidos pela eclosão de um apocalipse zumbi (sim, um novo apocalipse zumbi; não mais aquele que acompanhamos de A Noite dos Mortos-Vivos até Terra dos Mortos), este Diário dos Mortos busca adotar a estética do found-footage que, após ser empregada em Holocausto Canibal, viria a se popularizar de vez em 1999 com A Bruxa de Blair. No caso do filme de Romero, porém, a impressão que fica é a de que o veterano cineasta ficou deslumbrado com o advento deste novo subgênero e decidiu aventurar-se nele sem ter um propósito concreto – e, com isso, acabou criando um longa que poderia ter saído da mente de qualquer outro diretor menos experiente.

Sim, aqui e ali Romero até ensaia um comentário pertinente sobre o sensacionalismo e a banalização da violência ao apontar como os cinegrafistas do filme pouco parecem se chocar com o conteúdo que registram (zumbis atacando e despedaçando vítimas indefesas), mas, de modo geral, a discussão se resume a uma ou outra frase feita, não se aprofundando tanto no assunto. E, para piorar, desta vez Romero decidiu afastar-se de seu humor característico e criar conflitos dramáticos reais – o problema é que estes soam sempre artificiais e pré-prontos, sendo também quebrados pelos poucos momentos em que a comicidade do cineasta se manifesta. Assim, pela primeira vez desde que criou sua hexalogia, George Romero pareceu perder o controle da atmosfera, dos comentários sociais e do universo que ele mesmo concebeu.

Pedro Guedes

 

A Ilha dos Mortos (Survival of the Dead, 2009)

Por último, veio A Ilha dos Mortos – que, ao contrário de seu antecessor, ao menos tentava retomar a proposta do universo dos mortos-vivos que George Romero mantinha até Terra dos Mortos. Os esforços do diretor, no entanto, acabaram tendo resultados mais uma vez decepcionantes, já que, embora trazendo de volta o gore dos quatro capítulos anteriores, este A Ilha dos Mortos tropeçou ao insistir na solenidade dramática vista em Diário dos Mortos, transformando o humor de Romero em algo que realmente havia ficado para trás (sim, aqui e ali há uma piada que resgata esta dinâmica, porém sempre resumindo-a a esforços ocasionais). Como se não bastasse, as possibilidades temáticas oferecidas pelos zumbis de Romero foram abandonadas de vez, já que os monstros-título nada oferecem em termos de discussão, alegoria sociopolítica ou comentário sobre o subgênero “filmes de zumbis”. De modo geral, A Ilha dos Mortos apenas recicla premissas e elementos dos quatro primeiros capítulos, mas sempre de forma burocrática, como se o interesse de George Romero no universo de mortos-vivos que ele mesmo consagrou tivesse se esgotado por completo.

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