Bohemian Rhapsody

Título Original

Bohemian Rhapsody

Lançamento

1 de novembro de 2018

Direção

Bryan Singer

Roteiro

Anthony McCarten

Elenco

Rami Malek, Lucy Boynton, Gwilym Lee, Ben Hardy, Joseph Mazzello, Aaron McCusker, Aidan Gillen, Tom Hollander, Allen Leech, Mike Myers

Duração

134 minutos

Gênero

Nacionalidade

Inglaterra

Produção

Graham King, Jim Beach

Distribuidor

Fox

Sinopse

Freddie Mercury, Brian May, Roger Taylor e John Deacon formam a banda de rock Queen em 1970. Quando o estilo de vida agitado de Mercury começa a sair de controle, o grupo precisa encontrar uma forma de lidar com o sucesso e os excessos de seu líder.

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Bohemian Rhapsody | Crítica

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Bohemian Rhapsody (a música, não o filme) é uma experiência sensorial fascinante: contando com vários trechos isolados que, se escutados separadamente, não parecem pertencer à mesma canção, a obra – que dura consideráveis seis minutos e não possui um refrão específico – apresenta uma construção rítmica complexa, uma letra curiosa que deixa o ouvinte na dúvida do que ela realmente significa e uma mistura de gêneros musicais que tinha tudo para soar bagunçada, mas que acaba funcionando de maneira genial (quem seria capaz de imaginar uma composição que flertasse com a ópera sem deixar o rock de lado?). E eu estou longe de ser um especialista em Música, mas mesmo assim sou admirador do Queen, me empolgo ao ouvir em loop as canções da banda e considero Freddie Mercury um artista inacreditável cujo poder (tanto na voz quanto em sua performance ao vivo) jamais será igualado.

Assim, era questão de tempo até que Hollywood resolvesse levar a história de Mercury e do Queen aos cinemas – e o resultado é este Bohemian Rhapsody, que carrega o título de uma das músicas mais emblemáticas da banda. Tomando como ponto de partida o ano de 1970, o filme começa com o jovem Farrokh Bulsara se oferecendo para ocupar o cargo de vocalista da banda Smile, agora formado pelo guitarrista Brian May, pelo baterista Roger Taylor e pelo baixista John Deacon. Após descobrirem que Farrokh é dono de uma capacidade vocal absolutamente formidável, os quatro mudam o nome da banda para Queen e vão conquistando um espaço cada vez maior; até se consolidarem, nos anos seguintes, como um dos maiores fenômenos já registrados na História do rock. No meio disso tudo, uma série de problemas fazem Farrokh (que mudou seu nome para aquele que todos têm em mente: Freddie Mercury) brigar com os integrantes da banda original e entrar em colapso.

Ou seja: trata-se de mais uma jornada de “ascensão-sucesso-queda-redenção” que já vimos em trocentas outras obras. E o pior é que não precisava ser assim, já que a história de Freddie Mercury traz diversas particularidades que poderiam impedir que o projeto caísse no lugar-comum. Infelizmente, o roteiro de Bohemian Rhapsody foi escrito pelo mesmo Anthony McCarten de A Teoria de Tudo e O Destino de uma Nação, o que explica boa parte dos problemas do filme: evitando tocar em temas polêmicos apenas para que o público médio não se sinta “ofendido”, o longa acaba deixando de lado quaisquer peculiaridades que pudessem haver na vida de Mercury, o que ameniza sua trajetória a ponto de transformá-la em uma narrativa como qualquer outra. O que falta, portanto, é algo que mostre como Freddie Mercury era único – e nada é mais frustrante do que ver um dos maiores artistas de todos os tempos ser reduzido a um arquétipo batido e intercambiável.

Mas os problemas do roteiro não param por aí: focando todas as atenções em Mercury e praticamente esquecendo que Brian May, Roger Taylor e John Deacon também eram peças indispensáveis para o sucesso do Queen, Bohemian Rhapsody ainda ignora detalhes que deveriam ser fundamentais na construção da narrativa, como as crises que ocorreram no casamento de Freddie com Mary Austin, os motivos pelos quais o protagonista não se dava bem com os pais e as brigas que causaram o afastamento da banda. Além disso, sempre que o filme começa a acompanhar o processo criativo que levou à produção de alguma música, a montagem de John Ottman imediatamente corta o que está sendo mostrado para avançar alguns meses no tempo e passa rapidamente pelas turnês que vieram depois disso, o que impede que o espectador veja e aprecie com calma o resultado daquela canção e o impacto que ela gerou.

Em contrapartida, há um fator que quase salva Bohemian Rhapsody: Rami Malek, que se destacou na série Mr. Robot e que, aqui, (re)encarna o icônico Freddie Mercury. Sim, é verdade que existem alguns momentos onde Malek soa jovem e magro demais para o papel, mas estas diferenças físicas são compensadas pela maquiagem (que resgata o penteado, o bigode e a arcada dentária do Mercury original) e, claro, pelo esforço do ator, que se mantém fiel ao tom de voz, às danças e a cada maneirismo executado pelo cantor, desde os mais sutis até aqueles que o faziam brilhar no palco. É uma pena, no entanto, que não haja muito o que Malek possa fazer para contornar a superficialidade do roteiro, que parece escrito por um moleque que só passou a conhecer Freddie Mercury depois de dar uma breve lida em alguns verbetes da Wikipédia.

Aliás, para um filme que fez tanta questão de se declarar como apoiador da causa LGBT, Bohemian Rhapsody demonstra uma resistência notável ao abordar a sexualidade de seu protagonista: sempre tratando a bissexualidade de Mercury como algo novelesco (o primeiro indício de sua atração por homens é retratado de maneira caricatural, com ele sorrindo ao olhar de longe um caminhoneiro entrando e saindo de um banheiro), o roteiro de Anthony McCarten revela-se careta e até mesmo covarde ao praticamente ignorar os detalhes mais significativos da vida sexual do protagonista a fim de não desagradar à parcela mais conservadora do público, neutralizando ao máximo possível a representatividade LGBT que deveria haver em um filme centrado em Freddie Mercury. Como se não bastasse, McCarten, o diretor Bryan Singer e o montador John Ottman ainda invertem a ordem cronológica de certos acontecimentos para fazer parecer que a vida (profissional e pessoal) do artista entrou em colapso somente depois que ele passou a se relacionar com homens, o que é tristemente revelador.

Obviamente fortalecido pelas canções que permanecem brilhantes do início ao fim (vocês esperavam menos de um filme do Queen?), Bohemian Rhapsody é dirigido sem muita inspiração por Bryan Singer, que segue a cartilha básica das cinebiografias, investe em uma abordagem estética simplista e desaponta ao criar números musicais que empalidecem diante daqueles que vimos no recente Nasce uma Estrela – a única exceção encontra-se no terceiro ato, que atinge um clímax eficiente ao recriar quase na íntegra o show do Live Aid (um dos maiores que a banda já fez). E se a fotografia de Newton Thomas Sigel acerta ao empregar cores intensas que complementam bem o estilo lúdico dos anos 1970, o designer de produção Aaron Haye nem sempre consegue recuperar o espírito daquela época sem sucumbir à cafonice, ao passo que as maquiagens frequentemente se entregam ao exagero e à artificialidade (as próteses aplicadas em Mike Myers, em especial, são pavorosas).

Pontuado por momentos bem humorados que funcionam de vez em quando (o raccord que interliga o canto de um galo ao “Galileo” cantado por Roger Taylor é divertidinho), mas que às vezes interrompem e prejudicam o peso dramático que havia em outras cenas (o momento da reconciliação entre Mercury e os demais integrantes da banda, por exemplo), Bohemian Rhapsody é uma obra convencional e burocrática – dois adjetivos que nunca se aplicaram aos artistas retratados aqui. E, se ainda assim é capaz de entreter o espectador, isto se deve mais ao amor que este já tinha pelo Queen antes de entrar na sala de cinema do que aos méritos particulares do filme.

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