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Título Original

A Star is Born

Lançamento

11 de outubro de 2018

Direção

Bradley Cooper

Roteiro

Bradley Cooper, Eric Roth e Will Fetters

Elenco

Lady Gaga, Bradley Cooper, Sam Elliot, Andrew Dice Clay, Rafi Gavron, Dave Chappelle, Anthony Ramos e Michael Harney

Duração

136 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Bradley Cooper, Bill Gerber, Jon Peters, Todd Phillips e Lynette Howell Taylor

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

Jackson Maine (Bradley Cooper) é um cantor no auge da fama. Um dia, após deixar uma apresentação, ele para em um bar para beber algo. É quando conhece Ally (Lady Gaga), uma insegura cantora que ganha a vida trabalhando em um restaurante. Jackson se encanta pela mulher e seu talento, decidindo acolhê-la debaixo de suas asas. Ao mesmo tempo em que Ally ascende ao estrelato, Jackson vive uma crise pessoal e profissional devido aos problemas com o álcool.

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Nasce uma Estrela (2018) | Crítica

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Nasce uma Estrela tinha tudo para dar errado – afinal, trata-se da quarta versão de uma história contada desde 1937 e cujas refilmagens ajudaram a mantê-la viva no imaginário popular (a segunda, estrelada por Barbra Streisand e Kris Kristofferson, não foi bem recebida pela Crítica, mas fez um enorme sucesso nas bilheterias). Além disso, a trama em si está longe de ser das mais originais, girando em torno de temas batidos como a busca por um talento desconhecido, a necessidade de ser descoberto e alcançar o prestígio, a decadência de um artista alcoólatra que acompanha com amargura as novas tendências que surgem em sua profissão, o relacionamento entre um casal que se destrói graças à vaidade e tantos outros. Se o cineasta que tivesse que lidar com este projeto não fosse capaz de contornar os clichês, o resultado certamente soaria esquemático e artificial.

É um alívio, portanto, que este não seja o caso do novo Nasce uma Estrela, que se sai admiravelmente bem ao escapar do melodrama e manter o espectador envolvido com a história mesmo que esta já tenha sido contada em diversas outras ocasiões. E o mais louvável é que isto tenha sido feito por um diretor que está apenas estreando na função, o que é uma grata surpresa.

Co-roteirizado pelo ator Bradley Cooper ao lado de Eric Roth e Will Fetters, o filme começa nos apresentando a Jackson Maine, um cantor bem-sucedido que vive encantando multidões com suas músicas country – o que o coloca numa posição diametralmente oposta à de Ally, uma jovem frustrada que trabalha como garçonete e sempre quis entrar para o mundo da Música, porém nunca conseguiu porque seu nariz era considerado “grande” demais. Depois que Jackson vê uma apresentação de Ally num cabaré, ele resolve se aproximar da garota e lhe conceder a oportunidade de brilhar num palco. A partir daí, as portas se abrem para a aspirante a cantora e ela aos poucos se torna uma popstar prestigiada no país inteiro – em contrapartida, Jackson segue o caminho contrário ao de sua companheira e ruma em direção a um espiral de vícios, constrangimentos e fracassos.

Levando o espectador a sentir-se dentro dos vários shows e números musicais que surgem ao longo da narrativa (que já começa com uma ótima apresentação de Jackson Maine diante de milhares de pessoas), Bradley Cooper revela-se hábil e disciplinado ao estrear na direção e investe em planos longos que cumprem suas funções de maneira visualmente charmosa, mas sem chamarem a atenção para si mesmos – e impedindo, com isso, que a elegância visual do filme soe como mero exibicionismo. Da mesma forma, Cooper e o diretor de fotografia Matthew Libatique (colaborador habitual de Darren Aronofsky) acertam ao empregarem o azul e o vermelho de modo harmonioso e sempre refletindo o estado emocional no qual os personagens se encontram (aliás, está explicado o motivo de Libatique ter feito um péssimo trabalho em Venom: ele provavelmente estava dedicando todos os seus esforços a Nasce uma Estrela e deixou o outro projeto em segundo plano).

De todo modo, o maior mérito de Cooper reside em sua capacidade de lidar com uma trama como esta sem sucumbir à pieguice: como foi dito anteriormente, este é um filme cuja história batida pode oferecer uma série de armadilhas para o cineasta responsável por narrá-la, sendo então um alívio que a maior parte dos conflitos que ocorrem ao longo da narrativa seja retratada de maneira impactante e conte com o peso dramático certo. Sim, é verdade que, em alguns momentos, o diretor não consegue contornar a artificialidade de certas situações – e a sequência ambientada na premiação do Grammy, por exemplo, soa esquemática demais; o que também se aplica a toda a cena no Saturday Night Live, bem artificial que o necessário. Em compensação, Cooper merece pontos pela forma sutil e inteligente com que sugere uma tragédia que acontece no terceiro ato sem precisar mostrá-la.

E não é somente como diretor que Bradley Cooper se destaca: dono de uma carreira bastante sólida como ator (com direito a quatro indicações ao Oscar), o sujeito também se sai muitíssimo bem ao encarnar Jackson Maine e ao transformá-lo num personagem multifacetado que, embora dominado por um ego que obviamente provém de seu sucesso como cantor, demonstra um interesse sincero pela personalidade e pelo talento de Ally ao tentar se aproximar dela, jamais enxergando-a como uma oportunidade a ser aproveitada. Quando chega o momento em que a jovem começa a brilhar mais do que ele nos palcos, porém, Jackson é imediatamente contaminado pela inveja e passa a protagonizar situações cada vez mais embaraçosas – o que, vale ressaltar, não chega nem perto de eliminar seu amor por Ally (e a dor que sente ao perceber que está oferecendo um risco à carreira de sua parceira é um dos elementos dramáticos mais eficientes do filme). Para completar, a performance de Cooper em cena é impecável, já que sua postura arqueada e seu tom de voz constantemente grave contribuem para que o personagem convença como uma persona imponente, porém torturada pelas consequências de seus atos.

Mas falemos sobre Lady Gaga. Um dos maiores expoentes da cultura pop na última década (caramba, já faz dez anos desde que Bad RomancePoker Face estouraram!), a cantora finalmente surge como protagonista de um longa-metragem e obtém um resultado mais do que digno: vivendo Ally como uma jovem tremendamente insegura e desiluda, já que todos os seus sonhos resultaram em fracassos, Gaga consegue transmitir com precisão o nervosismo que a personagem sente quando seus talentos são testados pela primeira vez diante do público, a euforia que toma conta de seu corpo quando sua carreira enfim começa a decolar e o peso que se acumula em seus ombros quando as loucuras de Jackson passam a abalar sua autoestima – e o mais admirável é que a atriz seja tão bem-sucedida ao saltar organicamente entre todos esses traços de personalidade. Além disso, é curioso notar como os figurinos adotados por Ally subvertem a imagem que a própria Lady Gaga moldou ao longo dos anos: se em sua vida pública a cantora costuma ser vista utilizando vestidos e peças extravagantes, aqui ela aparece sempre com roupas simples e maquiagens discretas.

Aliás, é interessante constatar como os arcos de ambos os personagens servem como extremos opostos que acabam se cruzando à medida que evoluem: se Jackson inicia sua trajetória como um músico no auge da carreira e aos poucos vai caindo em desgraça, Ally segue o caminho contrário e abandona a ruína na qual se encontrava para rumar em direção ao progresso que sempre desejou. E se Cooper e Gaga merecem aplausos por suas respectivas performances, o mesmo deve ser dito a respeito de Sam Elliot, que vive o irmão mais velho de Jackson como uma figura surpreendentemente sensível e emotiva que, mesmo amargando uma série contínua de frustrações, jamais deixa de lado o amor e a preocupação que sente pelo cantor (que é o que restou de sua família). Já o comediante Andrew Dice Clay interpreta o pai de Ally com leveza e bom humor, porém nunca permitindo que isto anule o peso dramático exigido pelo papel.

Por outro lado, o excelente Dave Chappelle não conta com a mesma sorte e pouco tem a fazer sob a pele de Noodles (o melhor amigo de Jackson), que é introduzido de maneira aleatória e demora a assumir um papel de importância na trama. Mas este não é o maior problema de Nasce uma Estrela, que tropeça principalmente ao não se aprofundar em questões que deveriam ser fundamentais: a ascensão de Ally, os primeiros conflitos com Jackson, a decadência do cantor e até mesmo suas tentativas de recuperar sua credibilidade são eventos que precisavam ser apresentados com cuidado, mas que soam apressados e atropelados no meio da narrativa – e quando a protagonista se vira para o namorado e diz que “Não aceitará mais suas mancadas“, o espectador é levado a questionar quais foram as tais “mancadas” que Jackson cometeu, já que os dois estavam relativamente bem até 15 minutos atrás.

Embora deixe de tocar em alguns assuntos que poderiam tornar o resultado mais rico do ponto de vista temático (o sexismo presente na indústria – que só passou a reconhecer Ally depois que um homem a revelou ao mundo – nem é citado), Nasce uma Estrela é uma obra comovente e sincera que, ancorada por duas performances centrais memoráveis, ainda faz questão de mostrar para o espectador o quão valiosa é a Música e como ela pode servir para aproximar as pessoas. E, em tempos nos quais a Arte vem sendo continuamente atacada e menosprezada, é indispensável que um filme propague este tipo de mensagem.

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