Jackie

Título Original

Jackie

Lançamento

2 de fevereiro de 2017

Direção

Pablo Larraín

Roteiro

Noah Oppenheim

Elenco

Natalie Portman, Billy Crudup, Greta Gerwig, John Hurt, Peter Sarsgaard, Max Casella, Beth Grant, Richard E. Grant, Caspar Phillipson e John Carroll Lynch

Duração

99 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Darren Aronofsky, Juan de Dios Larraín, Mickey Liddell, Scott Franklin e Ari Handel

Distribuidor

Diamond Films

Sinopse

Jacqueline Kennedy, inesperadamente viúva, lida com o trauma nos quatro dias posteriores ao assassinato de seu marido, o então presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy.

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Jackie | Crítica

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Quando Pablo Larraín encerrou sua trilogia sobre a ditadura de Augusto Pinochet com o excelente No, de 2012, uma coisa era evidente: o diretor certamente contava com uma habilidade admirável quando o assunto envolvia questões políticas, figuras relevantes e a reconstituição de momentos historicamente importantes. Em Jackie, o cineasta volta a explicitar sua capacidade de abordar temas engajados e de retratar a realidade através de uma atmosfera sombria; por outro lado, é uma pena que, desta vez, o resultado final traga problemas tão numerosos e difíceis de negar, surgindo como um retrato eficiente, porém difuso e imperfeito a respeito de quem foi a esposa do 35º presidente dos Estados Unidos.

Roteirizado por Noah Oppenheim e produzido, entre outros nomes, por ninguém menos que Darren Aronofsky (responsável por Pi, Réquiem para um Sonho, Fonte da Vida, O Lutador Cisne Negro; no qual ele, inclusive, colaborou pela primeira vez com Natalie Portman), o filme acompanha Jacqueline Lee Kennedy Onassis nos dias que sucederam o assassinato de seu marido, em 22 de novembro de 1963. Desta forma, o longa mostra o impacto que a tragédia causou na até então Primeira Dama, revelando o modo como ela teve que lidar com o evento ao mesmo tempo em que a trama se divide em duas épocas distintas: uma enfocando a entrevista que Jaqueline cedeu ao jornalista Theodore H. White, da revista Life; e outra composta por flashbacks que recriam os instantes que vieram logo depois da morte de John F. Kennedy.

E é neste ponto onde começam os problemas de Jackie: adotar uma estrutura narrativa onde duas linhas temporais são acompanhadas em paralelo sempre é uma decisão ousada, pois alternar entre as diferentes épocas pode prejudicar seriamente o ritmo da projeção (que, de maneira súbita, corta uma situação interessante no meio para levar o espectador ao “presente”). Infelizmente, é isso o que acontece aqui; e se as sequências que mostram Jacqueline reagindo à morte do marido soam impactantes e imergem o público no meio de um caos repleto de tensão e imprevisibilidade, as cenas que trazem a protagonista sendo entrevistada pelo repórter vivido por Billy Crudup (Watchmen) quebram constantemente o dinamismo que deveria haver na narrativa, servindo mais para enfatizar informações que já eram claras. Além disso, a trama que envolve o depoimento que Jackie dá ao jornalista nunca deixa de soar artificial e tola, o que tende a torná-la ainda mais prejudicial e descartável.

Já Pablo Larraín oferece um trabalho ocasionalmente problemático, porém competente o bastante: se os planos fechados demais por vezes dão ao filme uma aparência excessivamente “televisiva” (parecendo um episódio de Veep), ao menos existem algumas composições que se destacam aqui e ali, como o plano aberto que coloca Jackie sentada no chão do Salão Oval (como se fosse esmagada por este) ou o primeiríssimo plano que traz a protagonista chorando enquanto remove o sangue de seu rosto (como se Larraín explorasse de maneira intrusiva o sofrimento sentido pela mulher). E se a ótima trilha sonora composta por Mica Levi (Sob a Pele) constrói a tensão de forma magistral, repetindo melodias amedrontadoras a fim de estabelecer um clima verdadeiramente opressivo, a fotografia de Stéphane Fontaine acerta ao investir numa textura granulada que parece ter saído diretamente dos anos 1960 e em tons cinzentos que criam um contraste curioso com as roupas rosas e vermelhas vestidas por Jacqueline.

Em contrapartida, Jackie decepciona justamente em seu aspecto mais esperado: a interpretação de Natalie Portman. Replicando de modo artificial cada detalhe presente nas falas, nos maneirismos, nos trejeitos e nas expressões faciais da ex-Primeira Dama, a atriz (que venceu merecidamente o Oscar por seu trabalho brilhante em Cisne Negro, onde ela se entregou de fato ao papel) nunca parece estar vivenciando, mas imitando a personalidade da protagonista. Sim, é verdade que a forma travada como Jackie andava é recriada com eficiência, da mesma maneira como podemos argumentar que os excessos presentes no desempenho de Portman ilustram a falsidade com que a personagem interagia com o restante do mundo – no entanto, isso se anula a partir do momento em que percebemos que ela sempre age deste jeito, soando mais como uma caricatura de Jacqueline Kennedy graças aos exageros cometidos pela atriz. Assim, os instantes mais comoventes da obra (como aquele onde Jackie é forçada a dizer para os filhos que “o pai não vai voltar para casa”) se devem não ao talento de Portman, mas à competência do roteiro.

Apesar dos pesares, o fato é que Jackie funciona relativamente bem – um mérito que, sem dúvida alguma, se deve ao roteiro de Noah Oppenheim: hábil ao se aprofundar nas incertezas e fragilidades que a personagem-título naturalmente enfrenta após o trauma ocorrido, a obra não se limita à superfície quando o objetivo é a explorar a vaidade ou o histrionismo da ex-Primeira Dama diante da mídia e do público, transformando Jacqueline Kennedy numa figura complexa que, mesmo passando por um momento tão difícil, é forte e ágil o suficiente para se sobressair emocionalmente diante das circunstâncias encaradas.

Faltou apenas um Darren Aronofsky para transformar Jackie em um grande filme e levar Natalie Portman a compor uma das melhores performances de sua carreira.

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