Gladiador 2 capa

Título Original

Gladiator II

Lançamento

14 de novembro de 2024

Direção

Ridley Scott

Roteiro

David Scarpa

Elenco

Paul Mescal, Connie Nielsen, Denzel Washington, Pedro Pascal, Joseph Quinn, Fred Hechinger, Lior Raz e Derek Jacobi

Duração

148 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Ridley Scott, Michael Pruss, Douglas Wick, Lucy Fisher, Walter F. Parkes, Laurie MacDonald e David Franzoni

Distribuidor

Paramount Pictures

Sinopse

Lúcio Vero deve entrar no Coliseu após os poderosos imperadores de Roma conquistarem sua terra natal. Com raiva no coração e o futuro do império em jogo, ele olha para o passado para encontrar a força e a honra necessárias.

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Gladiador II | Crítica

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Gladiador é um filme que considero… legal. E não muito mais que isso. Hábil ao aproveitar elementos históricos reais para criar uma história relativamente simples, que já vimos em uma penca de outras produções (melhores, inclusive), aquele era um longa que funcionava bastante graças ao tom de epopeia evocado por Ridley Scott – e a ambientação na Roma Antiga e a trilha bombástica de Hans Zimmer e Lisa Gerrard ajudavam a injetar suficiente adrenalina àquela narrativa. Por outro lado, a fraca montagem de Pietro Scalia pecava ao tornar a transição entre as cenas um tanto abrupta e truncada, saindo-se ainda pior ao retalhar as sequências de ação a ponto de transformá-las num caos quase impossível de se entender. Até a decisão de Scott e do diretor de fotografia John Mathieson de diminuírem a taxa de quadros por segundo em alguns momentos se apresentava gratuita, deselegante. Mas de todo modo, ainda era uma obra eficiente naquele que era seu principal objetivo: envolver o espectador por duas horas e meia.

O que nos traz a este Gladiador II, uma continuação que, só pelo fato de ter sido feita (e 24 anos depois do sucesso do original!), já reafirma como aquele filme foi abraçado pelo público a ponto de reverberar por tanto tempo. É uma pena, no entanto, que o novo longa seja tão irregular. Sim, se o compararmos a alguns dos trabalhos mais recentes de Ridley Scott (como, por exemplo, seu último mergulho histórico no medíocre Napoleão), podemos concluir que Gladiador II nem está abaixo da média – mas abaixo do premiado filme que o originou, aí creio que todos podemos concordar que sim.

Escrito por David Scarpa (que colaborou com Scott em Todo o Dinheiro do Mundo e Napoleão), o roteiro se passa mais de 20 anos depois da morte de Maximus e passa a enfocar Lúcio Vero, sobrinho do vilão do filme anterior que, agora, é um guerreiro bem formado. A partir daí, o arco do novo protagonista se revela bem similar ao do herói do original: numa invasão coordenada pelo general Acacius, a esposa de Lúcio é morta em combate e ele, por sua vez, é escravizado, transformado em gladiador, lançado em uma jornada de vingança contra aqueles que assassinaram sua amada e… é basicamente a mesma trajetória que já vimos com Maximus, sem tirar nem pôr. E é aí que, infelizmente, começam os problemas de Gladiador II: mostrando-se excessivamente dependente de elementos que se desdobram da trama do primeiro filme, esta é uma continuação que nada mais faz do que reverberar eventos, situações e arcos (mais interessantes) que rolaram no longa de 2000. É como se Scott e Scarpa assumissem que são incapazes de imaginar algo novo, que vá chegar à altura do original e, então, entregassem os pontos.

O resultado disso é que em momento algum das duas horas e meia de projeção Gladiador II me pareceu incapaz de andar com as próprias pernas, recorrendo constantemente a aspectos do filme anterior ora com objetivo de puro fan service (como ao repetir frases familiares e/ou um gesto específico que Maximus fazia ao esfregar areia nas mãos antes de um combate), ora como forma de simplesmente reciclar ideias já exploradas – e melhor! – em 2000. Aliás, me atreveria a dizer que, na maior parte do tempo, esta continuação é praticamente uma refilmagem (disfarçada de sequência) do original – algo que só é “quebrado” lá pela virada do segundo para o terceiro ato, quando (aí, sim) o roteiro de David Scarpa encontra cores novas para as motivações de Acacius e para a jornada de Lúcio Vero, o que ajuda a trazer uma dinâmica particular. Mas não particular o bastante para eliminar a interminável sensação de “mais do mesmo”.

No caso, um “mais do mesmo” bem inferior à versão original, já que até a forma com que Ridley Scott lida com os mesmos dramas que já tinha abordado no anterior, aqui, soa um tanto atrapalhada. Em especial, as “viradas de chave” dos personagens são executadas de maneira brusca, como se faltasse algo que as motivasse e que ajudasse a trazer consistência às evoluções/alterações de seus arcos. Um indivíduo que numa hora parece ter algum resquício de caráter, pouco depois ressurge como um completo salafrário; um líder militar que aqui se apresenta como um cara puramente megalomaníaco e interesseiro, de repente se converte num idealista disposto a doar a própria vida em prol do bem maior; e o rancor que Lúcio nutre pela mãe, num estalar de dedos, dá lugar a um amor incondicional e a uma vontade de se sacrificar por ela se necessário. Ok, há pinceladas de arcos promissores; há pontos de partida e de chegada que não poderiam ser mais intrigantes, mas o desenvolvimento que liga uns aos outros, para conferir coesão ao todo, falta aqui – e até mesmo a missão de vingança de Lúcio acaba sendo esquecida depois de um tempo, ficando pelo meio do caminho.

Dito isso, Gladiador II tem seus momentos divertidos, funcionando, em boa parte, graças ao fato de que, desta vez, Ridley Scott parece um pouco mais disposto a se entregar ao absurdo. Que ele é um cineasta que nunca se preocupou muito com a veracidade factual dos eventos históricos que aborda, isso já sabemos desde 2000 – e tudo bem, nunca foi um problema. Porém, nesta continuação, Scott surpreende ao sair um pouquinho daquela pompa esplendorosa que havia no original para, então, flertar – não chega a abraçar totalmente, mas flertar – com uma abordagem propositalmente artificial. Isso ajuda a trazer uma dinâmica que revigora as sequências de ação, que, estapafúrdias ou não, ao menos são entretenimento puro: como resistir, por exemplo, à ideia de uma batalha naval em um Coliseu inundado, com gladiadores tendo que enfrentar tubarões? Não tem como! Neste sentido, até mesmo a cena que envolve uma luta contra macacos em computação gráfica funciona justamente por assumir o aspecto cartunesco de tais bichos. Além disso, com exceção do conflito final entre herói e vilão (que é de um anticlímax terrível), de modo geral Ridley Scott coordena bem as sequências de ação, registrando os golpes, socos e chutes de maneira cuidadosa, sem sucumbir ao caos visual (como acontecia em vários momentos do original) nem sacrificar o ritmo enérgico da montagem.

Para completar, Gladiador II é (assim como o antecessor) um filme que se beneficia muito da força de seu elenco: Pedro Pascal, por exemplo, contorna a fragilidade do roteiro – que custa a decidir qual será a posição e o lado de Acacius na história – ao retratar bem cada “etapa” do personagem (mesmo que as transições de uma à outra sempre soem abruptas), sendo bem-sucedido ao transmitir ameaça e intimidação, mas também simpatia quando necessário. Em contrapartida, se Connie Nielsen pouco pode fazer como a mãe de Lúcio, esforçando-se para trazer consistência a uma personagem que é inconsistente por si só, Denzel Washington praticamente rouba o filme inteiro para si, se divertindo imensamente ao interpretar Macrinus como um sujeito ardiloso que, sempre de formas sutis, manipula a política de Roma a seu favor. Washington, por sinal, se equilibra muitíssimo bem entre a hostilidade que o vilão tem de emanar e a jocosidade de Macrinus ao se entreter com a própria perversidade – e a maneira com que diz a frase “It’s just politics”, prolongando exageradamente a sílaba final da última palavra, é hilária. Infelizmente, Paul Mescal (um ator cujo talento já ficou claro para qualquer um que tenha visto Aftersun) não tem muita sorte aqui, falhando em demonstrar a intensidade e a presença necessárias para sustentar o protagonismo de uma trama épica como esta.

O mais irônico é que, embora soe apressado demais em seu desenvolvimento e brusco demais nas “viradas” de seus personagens, Gladiador II é, ao mesmo tempo, um filme que parece longo demais – o que é paradoxal, mas também é a pura verdade. Assim, mesmo contado com momentos divertidos e ideias interessantes aqui e ali, estas quase sempre terminam sobrecarregadas pelo tanto de elementos simplesmente recauchutados – e sem a mesma força – do original.

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

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