John Wick 3

Título Original

John Wick: Chapter Three – Parabellum

Lançamento

16 de maio de 2019

Direção

Chad Stahelski

Roteiro

Derek Kolstad, Shay Hatten, Chris Collins, Marc Abrams

Elenco

Keanu Reeves, Ian McShane, Halle Barry, Mark Dacascos, Laurence Fishburne, Anjelica Houston, Asia Kate Dillon, Lance Reddick, Saïd Taghmaoui, Jerome Flynn, Jason Mantzoukas, Robin Lord Taylor

Duração

131 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Basil Iwanyk, Erica Lee

Distribuidor

Paris Filmes

Sinopse

Após assassinar o chefe da máfia Santino D’Antonio (Riccardo Scamarcio) no Hotel Continental, John Wick (Keanu Reeves) passa a ser perseguido pelos membros da Alta Cúpula sob a recompensa de U$14 milhões. Agora, ele precisa unir forças com antigos parceiros que o ajudaram no passado enquanto luta por sua sobrevivência.

Publicidade

John Wick 3: Parabellum | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

O preconceito com Cinema de gênero é algo que vem me incomodando cada vez mais. Tratando-se de uma Arte audiovisual, é mais do que compreensível (e louvável) que muitos realizadores decidam usar as ferramentas que estão à disposição para fins… plásticos, sem se preocuparem necessariamente com grandes temas, arcos dramáticos e/ou narrativas elaboradas. (Isso porque nem levei em conta o óbvio: há, sim, vários filmes de gênero que lidam com grandes temas, arcos dramáticos e/ou narrativas elaboradas.) Não existem regras no Cinema; se o cineasta está disposto a criar uma experiência “barulhenta”, então… que crie uma experiência “barulhenta” (de preferência, uma que funcione). Infelizmente, a ideia de que filmes de gênero (Ação; Fantasia; Terror; etc) pertencem a uma categoria inferior apenas por serem mais apreciados pelo povão, como se existissem somente para movimentar uma esteira industrial, ainda é disseminada com frequência.

Ora, por que um filme como Roma, por exemplo, deveria ser considerado “mais Cinema” do que John WickMad MaxMissão: ImpossívelA OrigemO Exterminador do FuturoSenhor dos AnéisJurassic Park, Avatar ou mesmo Os Vingadores? Não é surpresa, portanto, que o Oscar custe a incluir produções “populares” nas categorias principais – afinal, boa parte dos membros da Academia parece incapaz de reconhecer que uma obra de gênero pode estar entre os melhores lançamentos do ano. Além disso, não me entra na cabeça como alguns dos que insistem em atacar os filmes de ação não parecem ter problema algum com musicais, já que a estrutura de ambos os gêneros é bastante similar: são narrativas construídas a partir de set pieces (ou seja: momentos que se destacam por conta própria, como sequências de ação ou números musicais) amarradas por uma trama que as interliga.

Para ter uma ideia do esforço artístico por trás de um bom filme de ação, basta assistir aos primeiros 30 minutos de John Wick 3: Parabellum e constatar o posicionamento dos atores em cena, a quantidade de itens/coreografias que integram aquelas sequências e a dificuldade que o diretor Chad Stahelski provavelmente enfrentou ao coordenar tantos elementos distintos no set. Reconhecendo que uma trama elaborada não é uma prioridade para todas as obras – não esqueçamos que Cinema é uma linguagem audiovisual que permite esforços exclusivamente estéticos e/ou formais –, o roteiro de Derek Kolstad, Shay Hatten, Chris Collins e Marc Abrams cria uma narrativa bem desenvolvida, mas que nunca se torna mais complexa que o necessário, servindo basicamente para sustentar as várias sequências que envolvem socos, chutes, tiros, facadas perseguições e etc. Assim, o que é importante saber é que o filme gira em torno de John Wick e de sua luta contra todos os assassinos do mundo, que estão em busca de uma recompensa de US$ 14 milhões pela cabeça do personagem-título.

Constatando que o simples fato de atirar centenas de sequências de ação em cima do espectador não é o suficiente para empolgá-lo, já que estas podem acabar cansando justamente por serem tão numerosas, Chad Stahelski adota uma estratégia importantíssima para que John Wick 3 jamais perca o fôlego: conferir personalidade própria a cada uma das set pieces – e, neste sentido, o fato de contar com um orçamento maior obviamente favoreceu este capítulo em relação aos dois anteriores. Desta maneira, as cenas de ação deste novo filme se destacam por nunca se repetirem: aqui, um livro será a arma do protagonista; ali, milhares de facas cruzarão a tela; mais à frente, uma luta num estábulo culminará em uma perseguição a cavalo; acolá, o herói vai a Casablanca e co-estrela (junto com Sofia, vivida por Halle Barry) um momento que chega a envolver cachorros treinados; e, quando parece que nada mais poderá surpreender, surgem ninjas, motos, equipes da SWAT, etc. Além disso, é impressionante que Stahelski costure a narrativa de maneira tão dinâmica (a primeira meia hora de projeção, em especial, consiste quase que numa imensa sequência de ação) – o que não significa, por outro lado, que algumas das pausas que ocorrem entre uma set piece e outra não se alonguem um pouquinho mais do que precisavam, criando pequenos inchaços que logo se desfazem (mas que, sim, representam pecadilhos pontuais).

Mas o que realmente faz a diferença em John Wick 3 é a construção das cenas de ação: já favorecido pelo fato de cada sequência lidar com seus próprios elementos particulares (como discuti no parágrafo anterior), Stahelski confere agilidade e dinamismo às lutas/perseguições/tiroteios sem jamais sucumbir à “Síndrome de Michael Bay”, empregando planos suficientemente longos, evitando cortes a cada meio segundo e mantendo a câmera relativamente distante dos atores; o que permite que o espectador não só entenda a lógica espacial/geográfica daqueles momentos, como também aprecie a coreografia e a performance corporal dos participantes da cena. Já a fotografia de Dan Laustsen (A Forma da Água) é um mérito à parte, injetando uma vitalidade ainda maior às sequências de ação e investindo em luzes de neon que, privilegiando com frequência o verde e o roxo, complementam bem o azul de uma noite chuvosa, por exemplo.

Keanu Reeves, por sua vez, parece ter encontrado o papel de sua vida nesta franquia (sim, mais do que no Neo de Matrix): não que a jornada até aqui tenha sido impecável – de minha parte, sempre o considerei um ator limitado a uma ou duas expressões faciais pouco convincentes e ocasionalmente monótonas –, mas quando chegamos a John Wick 3 e percebemos a entrega física de Reeves ao papel (principalmente nas sequências que envolvem golpes, tiros e facadas), fica difícil não admirar seu comprometimento (e não acho absurdo compará-lo a Tom Cruise neste sentido). Além disso, Reeves se sai muitíssimo bem ao defender a aura de brucutu que rodeia o personagem-título, chegando a brincar com o arquétipo ao manter os dentes cerrados, o olhar de baixo para cima e a voz divertidamente rouca (“Guns… lots of guns“). Já Halle Barry ganha a oportunidade de se destacar em uma ótima sequência ambientada em Casablanca, estabelecendo uma dinâmica bastante eficaz com Reeves (ou com Wick, dependendo da interpretação).

Dotado de um senso de humor eficiente que brinca com a postura durona e praticamente invencível do protagonista (o vilão interpretado por Mark Dacascos vive bajulando o herói, afirmando ser seu “maior fã” e sentindo-se “honrado” ao enfrentá-lo), mas que também serve para fazer pequenas referências ao passado da franquia (quando Sofia reclama de alguém que quase matou seu cachorro, Wick apenas responde com “Eu sei como é“, numa clara piscadinha para a premissa do primeiro filme), John Wick 3 faz um bom trabalho ao expandir ainda mais o universo que já tinha crescido no capítulo anterior. Assim, descobrimos novos detalhes sobre o passado de John Wick, sobre o Hotel Continental que gerencia boa parte das ações tomadas pelo protagonista e sobre a sociedade de assassinos que se autointitula Alta Cúpula – e o mais empolgante é que, ao fim da história, nada parece igual ao que era no início, gerando a sensação de uma narrativa que progrediu sem deixar nada estagnado.

Como se não bastasse, o filme termina preparando terreno para um eventual Capítulo 4 que, ao que tudo indica, mostrará o personagem-título ainda mais furioso, potente e implacável do que nunca – o que, claro, só deixa o espectador ainda mais entusiasmado para conferir o que virá a seguir. Pois é uma pena que as produções de ação (e o Cinema de gênero, em geral) costumem sofrer tamanho preconceito; num mundo ideal, obras como John Wick 3 seriam tidas não como passatempos meramente descartáveis, mas como trabalhos artisticamente impressionantes em seus árduos esforços.

Mais para explorar

Divertida Mente 2 | Crítica

Voltando a criar um mundo impressionante em sua imaginação, esta continuação expande bem o universo do original à medida que melhor compreende seus personagens e os sentimentos destes.

Assassino por Acaso | Crítica

Este novo trabalho de Richard Linklater se apresenta como uma obra profundamente interessada pelo ato de interpretar, de performar algo que não é, tornando-se um filme que justamente conquista por ser tão inspirado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *