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Título Original

Malu

Lançamento

31 de outubro de 2024

Direção

Pedro Freire

Roteiro

Pedro Freire

Elenco

Yara de Novaes, Juliana Carneiro da Cunha, Carol Duarte, Átila Bee, Marina Provenzzano, Felipe Haiut e Márcio Vito

Duração

100 minutos

Gênero

Nacionalidade

Brasil

Produção

Roberto Berliner, Sabrina Garcia, Tatiana Leite e Leo Ribeiro

Distribuidor

Filmes do Estação

Sinopse

Malu é uma atriz desempregada que vive das memórias de seu passado glorioso e divide uma casa em uma favela do Rio de Janeiro com sua mãe conservadora. Ela também tem um relacionamento conturbado com sua filha.

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Malu | Crítica

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Longa de estreia do paulistano Pedro Freire, Malu é uma experiência íntima através da qual o cineasta mergulha nas memórias (mesmo as mais amargas) de sua saudosa mãe a fim de encontrar, na Arte que produz, um meio para curar velhas feridas. Assim, Freire cria uma obra que, mesmo exalando afeto e carinho genuínos pela mulher que o concebeu, não teme adentrar nos territórios mais dolorosos de sua convivência e nos aspectos mais desagradáveis da personagem-título, alcançando um equilíbrio fascinante ao estabelecê-la como uma mãe amorosa, mas dificílima, sem que uma nuance soe incompatível com a outra. Neste sentido, Malu não é só um ótimo filme; é, também, um ato de coragem formidável da parte do diretor.

Ambientado por volta dos anos 1990, o roteiro do próprio Pedro Freire acompanha Malu, uma atriz desempregada que mora com a mãe, Dona Lili, numa casinha humilde em uma comunidade pobre do Rio de Janeiro. Volátil e temperamental, a personagem-título surge já nos primeiros minutos de projeção se revelando uma persona, no mínimo, difícil de lidar, humilhando pesadamente um padre que veio visitar Dona Lili, levando a própria mãe a lágrimas de desespero (numa sequência que representa um soco no estômago do espectador logo no início da narrativa). Porém, a dinâmica da casa torna-se ainda mais atribulada depois que Joana, filha da protagonista, chega para passar uns dias com a mãe e a avó após uma temporada na França, tentando restabelecer uma conexão saudável com Malu mesmo que esta frequentemente trate de dificultar as coisas com seu jeito problemático de ser.

Aliás, um dos aspectos mais doloridos do longa consiste em ver Malu aparentando uma sensível melhora, como ao enfim conduzir uma conversa afável e carinhosa com Joana ou Dona Lili, apenas para, logo em seguida, estragar tudo mais uma vez, já que o misto de orgulho descontrolado, objetivos frustrados e dificuldades psicológicas invariavelmente a torna uma bomba-relógio ambulante. Da mesma forma, ao girar em torno de uma mulher que é simultaneamente filha e mãe, Pedro Freire acaba refletindo, também, sobre uma certa decepção da protagonista acerca dos próprios conflitos geracionais: se os jovens da década de 1960 viveram uma efervescência cultural e uma resistência à opressão que levaram-nos a depositar uma esperança considerável nas gerações posteriores, estas não deram conta da promessa de um “mundo ideal” em função de uma série de questões particulares – algo que Malu obviamente não entende, enxergando a geração da filha com uma amargura que a leva a abraçar a nostalgia como refúgio das desilusões do presente.

Neste sentido, a performance de Yara de Novaes acaba resumindo todos os motivos pelos quais o filme, no geral, é tão bem-sucedido, já que assume uma tarefa incrivelmente desafiadora: tornar convincente o amor de Malu pela mãe e pela filha e, ao mesmo tempo, retratar a vaidade, a truculência e a instabilidade emocional da protagonista sem permitir que estas afastem completamente o espectador – e que a atriz consiga executar tudo isso é um feito digno de aplausos. Enquanto isso, Carol Duarte encarna de forma tocante o pesar de Joana ao tentar uma reaproximação com a mãe (afinal, uma relação afetuosa com os pais é o que todo mundo deseja) apenas para ser frustrada através de conflitos recorrentes e extremos, tornado a personagem uma coletânea de traumas causados por mommy issues. Por fim, Juliana Carneiro da Cunha comove ao ilustrar não só a dor de Dona Lili (ao ser vítima dos constrangimentos de Malu), mas também o pesar e a decepção por sentir ter fracassado retumbantemente na criação da filha.

Ecoando Uma Mulher Sob Influência em sua maneira de registrar, com afeto e delicadeza, as complexidades de uma mãe mentalmente fragilizada, Malu se diferencia da obra-prima de John Cassavetes ao retratar sua protagonista como uma persona infinitamente mais agressiva, desconfortável e hostil do que a Mabel de Gena Rowlands (numa das melhores atuações que o Cinema já registrou). E que ainda assim Pedro Freire exiba empatia, carinho e saudade inegáveis por aquela mesma mulher – sem ignorar as dores que esta causou e que continuam a reverberar – é um atestado não só da complexidade de seu trabalho, mas de seu talento ao transportar para a telona (de modo que se faça entender) sentimentos íntimos, aparentemente contraditórios e que muitos teriam pavor de revisitar.

Visto no Festival do Rio 2024.

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