O Peso do Talento (1)

Título Original

The Unbearable Weight of Massive Talent

Lançamento

12 de maio de 2022

Direção

Tom Gormican

Roteiro

Tom Gormican e Kevin Etten

Elenco

Nicolas Cage, Pedro Pascal, Sharon Horgan, Lily Sheen, Tiffany Haddish, Ike Barinholtz, Alessandra Mastronardi, Jacob Scipio, Neil Patrick Harris, Paco León, Katrin Vankova, David Gordon Green, Demi Moore, Anna MacDonald e Joanna Bobin

Duração

107 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Nicolas Cage, Mike Nilon, Kristin Burr e Kevin Turen

Distribuidor

Paris Filmes

Sinopse

Criativamente insatisfeito e enfrentando a ruína financeira, a versão ficcional de Nicolas Cage deve aceitar uma oferta de US$ 1 milhão para comparecer ao aniversário de um super fã perigoso. As coisas tomam um rumo inesperado quando Cage é recrutado por um agente da CIA e forçado a viver de acordo com sua própria carreira, canalizando seus personagens mais icônicos e amados na tela para salvar a si mesmo e seus entes queridos.

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O Peso do Talento | Crítica

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Cada geração tem uma perspectiva diferente e particular sobre a figura de Nicolas Cage: do ator talentoso que despontou na década de 1980 (O Feitiço da Lua, Coração Selvagem e, claro, Arizona Nunca Mais), ganhou o Oscar em 1995 por Despedida em Las Vegas e engatou uma bem-sucedida fase como astro de ação nos anos seguintes (Con Air, A Rocha, A Outra Face) ao meme ambulante no qual se transformou após o advento das redes sociais (quem nunca viu uma imagem com o rosto do ator estampado numa nuvem, por exemplo?), Cage pode ser descrito como um homem de mil faces, como um indivíduo cuja reputação varia de acordo com a época em que cada espectador o conheceu – e, ainda entre o final dos anos 1990 e o início dos 2000, ator continuava a fazer jus à promessa que representava no início de sua carreira, continuando a acertar em obras como Adaptação, Cidade dos Anjos e O Senhor das Armas.

Infelizmente, eu tive o azar de crescer numa época em que Nicolas Cage era conhecido por estrelar produções de qualidade tão duvidosa (com pontuais exceções, como Kick-Ass e a refilmagem de Vício Frenético) que tornou-se comum brincar que a motivação para o ator entrar naquelas enrascadas se resumia a um desespero para pagar os boletos em dívida. Só isso parecia explicar a frequência com que Cage topava estrelar bombas como O Vidente, Perigo em Bangkok, As Torres Gêmeas, Motoqueiro Fantasma, O Sacrifício, O Aprendiz de Feiticeiro, Caça às Bruxas, Reféns, O Resgate, Fúria, O Apocalipse, O Imperador, etc – e se você conseguiu identificar dois ou três destes filmes, considere-se com a memória aguçada, pois a tendência é embaralhar todos estes títulos e não fazer ideia de qual é qual.

Com isso, as más escolhas tomadas por Nicolas Cage fizeram a minha geração acreditar que ele é um ator pior do que realmente é – uma percepção que, justiça seja feita, Cage tem se empenhado em desfazer nos últimos anos, quando voltou a assumir projetos mais ambiciosos que aos poucos o ajudaram a recuperar sua credibilidade (Joe, Mandy: Sede de Vingança, O Homem-Aranha no Aranhaverso, Pig: A Vingança).

Pois agora, após 41 anos de uma carreira repleta de altos e baixos, Nicolas Cage ganha a oportunidade de revisitar (em maior ou menor grau) todas as nuances de sua trajetória neste curioso O Peso do Talento. Escrito por Kevin Etten (das séries Scrubs e Desperate Housewives) e pelo diretor Tom Gormican (em seu segundo trabalho para o Cinema), o longa gira em torno… bom, de Nicolas “Nick” Cage, um ator que, embora talentoso e consagrado num passado cada vez mais distante, agora se vê mergulhado em dívidas, prestes a decretar falência e artisticamente insatisfeito com seus últimos resultados. Para piorar, a relação de Nick com a filha adolescente parece cada vez mais distanciada, já que a dinâmica de ambos se revela incompatível em função dos gostos (em especial, cinematográficos) díspares de cada um. Assim, para tentar acalmar os ânimos antes de decidir qual será o próximo passo de sua vida (pessoal e profissional), Cage resolve tirar uns dias de férias na ilha de Majorca, sendo bem-recebido pelo estranho bilionário Javi Gutierrez. O que Nick não esperava, porém, é que suas férias imediatamente assumiriam os contornos de um explosivo filme de ação, obrigando o ator a viver uma história tão insana quanto aquelas que protagonizava nas telonas.

Claro que, no processo, Nick Cage passará por várias situações que o farão reavaliar os rumos que sua carreira veio tomando graças às suas decisões equivocadas – o que, no entanto, não quer dizer que O Peso do Talento seja um filme que se debruçará sobre cada etapa da carreira de seu protagonista ou que servirá como um divã para que o verdadeiro Nicolas Cage disserte sobre a própria existência. Em vez disso, porém, o real propósito da obra é… divertir, mostrando-se bastante consciente dos limites de suas capacidades temáticas e assumindo-se, no fim das contas, como uma grande brincadeira que busca extrair o riso explorando a imagem que o ator solidificou nas últimas décadas – uma tarefa que o filme cumpre muito bem. Grande parte do sucesso de O Peso do Talento se deve, é claro, à própria performance de Nicolas Cage, que aqui se vê livre não só para revisitar momentos memoráveis de sua filmografia (a cena da piscina em Despedida em Las Vegas ganha uma “releitura” engraçada), mas para exercitar seu impecável timing cômico e para extravasar (através de gritos, gestos, caras e bocas exageradíssimas) toda aquela energia intensa que guarda dentro de si e que, quando liberada nas ocasiões apropriadas, logo se converte em uma fonte de imenso divertimento para o público.

O que é inesperado, levando em conta a intenção totalmente despretensiosa do projeto, é que ainda assim O Peso do Talento consegue elaborar uma ou outra ideia (para não usar a palavra “mensagem”) simples, porém bacana a respeito da Arte e da relação particular entre o artista e a obra que realiza – e gosto particularmente de como o filme encontra espaço para lembrar ao espectador, através de uma piada recorrente, que até uma obra meramente escapista (e que, justamente por isso, muitos tendem a olhar com preconceito) como Paddington 2, por exemplo, é capaz de conter e exibir um valor artístico formidável (e é mesmo, como discuti na minha crítica sobre aquele maravilhoso longa). Da mesma forma, a resolução que os roteiristas alcançam no terceiro ato – sem spoilers! – é hábil ao ressaltar a importância de uma conexão afetiva entre o artista e sua Arte, demonstrando na prática que, quando uma obra é tratada com carinho e apreço por seus realizadores, isto costuma se refletir no resultado final a ponto de fazê-lo conquistar uma recepção infinitamente mais favorável do que as besteiras que Cage protagonizou de forma totalmente desalentadora e desapaixonada nos anos 2000/2010.

Goste-se ou não da maioria das produções estreladas por Nicolas Cage, é inegável que ele se trata de uma figura intensa e magnética que, quando agraciada com a oportunidade de entrar num projeto que lhe permite explorar bem suas habilidades, os resultados são sempre encantadores. E O Peso do Talento é uma comédia que, mesmo reconhecendo o fracasso de boa parte das decisões tomadas pelo ator nos últimos anos de sua carreira, é também respeitosa o bastante para não se resumir a um deboche cínico com aquelas obras nem para fazer pouco das capacidades interpretativas de seu ótimo protagonista.

***

(Lembre-se: a pandemia não acabou. Se for sair de casa e ir ao cinema, siga todos os cuidados sugeridos pelas organizações sérias de Saúde e, mais importante, vá ao posto tomar sua vacina. Se já tomou a primeira dose, tome a segunda. Se já tomou a segunda e já chegou a vez de tomar a terceira, tome a terceira – se ainda não chegou, espere e vá assim que ela estiver disponível. É triste ter que escrever isto, mas… não escute o atual presidente da República ou mesmo seu ministro da Saúde: vacine-se e proteja-se. #ForaBolsonaro)

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