O Primeiro Homem (1)

Título Original

First Man

Lançamento

18 de outubro de 2018

Direção

Damien Chazelle

Roteiro

Josh Singer

Elenco

Ryan Gosling, Claire Foy, Jason Clarke, Kyle Chandler, Corey Stoll, Pablo Schreiber, Christopher Abbott, Patrick Fugit e Lukas Haas

Duração

141 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Damien Chazelle, Wyck Godfrey, Marty Bowen e Isaac Klausner

Distribuidor

Universal Pictures

Sinopse

A vida do astronauta norte-americano Neil Armstrong (Ryan Gosling) e sua jornada para se tornar o primeiro homem a andar na Lua. Os sacrifícios e custos de Neil e toda uma nação durante uma das mais perigosas missões na história das viagens espaciais.

Publicidade

O Primeiro Homem | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

Não é fácil transformar em filme uma história como a de Neil Armstrong: para começo de conversa, praticamente todas as pessoas no mundo sabem que a missão Apollo 11 deu certo no fim das contas, o que por si só anula boa parte da tensão que deveria haver em uma narrativa como esta (afinal, é difícil criar conflito em uma trama cujo final já é conhecido pelo público). Além disso, a viagem que levou os astronautas à Lua é envolvida em um contexto essencialmente ufanista, já que a Corrida Espacial ocorreu no auge da Guerra Fria e certamente alimentou o patriotismo norte-americano que passou a ser mau visto nas últimas décadas. A boa notícia é que O Primeiro Homem se sai relativamente bem ao prender a atenção do espectador mesmo contando uma história tão manjada; a má é que, desta vez, o diretor Damien Chazelle comete alguns tropeços que certamente fazem sua nova obra empalidecer diante de Whiplash e La La Land, seus dois projetos anteriores.

Escrito pelo mesmo Josh Singer que venceu o Oscar pelo excelente roteiro de Spotlight (sem contar o recente The Post), O Primeiro Homem começa em 1961, quando a filha pequena de Neil Armstrong morreu em função de um tumor cerebral. A partir daí, o filme acompanha a trajetória que levou o piloto da NASA a participar de vários testes como astronauta ao longo dos anos seguintes, o que culmina, claro, na missão que conduziu Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins rumo ao espaço e finalmente pousou na Lua no dia 20 de julho de 1969 – e criando, com isso, uma das frases mais célebres do século 21: “Um pequeno passo para um homem e um grande passo para a Humanidade“. (Ignoremos, portanto, aquelas teorias da conspiração que dizem que isto não passou de uma encenação armada pela NASA para garantir que os Estados Unidos ganhassem logo a Corrida Espacial.)

Aliás, é estranho perceber que a narrativa se estendeu ao longo de oito anos, já que a montagem de Tom Cross não estabelece a passagem deste tempo de maneira particularmente fluída e orgânica (embora alguns letreiros surjam aqui e ali para informar o ano em que se situa determinado ponto da história, os eventos retratados ao longo do filme soam rápidos demais, como se tudo tivesse durado alguns meses). De todo modo, isso é mais do que compensado por praticamente todos os outros elementos técnicos de O Primeiro Homem: contando com um design de produção inteligente que investe em carros, figurinos e mobiliários que parecem saídos dos anos 1960, porém sempre tomando o cuidado necessário para que o resultado não sucumba ao exagero e à cafonice, o longa é fotografado por Linus Sandgren como se fosse um registro legítimo daquela época – e não é à toa que a maioria das cenas adota um grão mais grosso que acaba remetendo à textura das imagens que documentaram os testes na NASA naquele período.

O que torna o trabalho de Sandgren mais admirável, no entanto, é constatar como ele sobrevive apesar dos erros cometidos pela direção de Damien Chazelle, que aqui se mostra bem mais irregular do que em Whiplash e La La Land: aparentemente acreditando que investir em planos fechados é o suficiente para que uma cena torne-se claustrofóbica, o cineasta emprega essa estratégia em sequências que simplesmente não precisavam contar com uma abordagem visual deste tipo (qual o propósito de imprimir claustrofobia e rodar tudo em planos fechados quando os personagens estão numa mesa jantando?). Para piorar, Chazelle ainda tenta flertar com uma linguagem mais “documental” e, para isso, mantém a câmera inquieta o tempo todo, como se isto fizesse o espectador se sentir próximo aos personagens. Em vez disso, o máximo que o diretor consegue é provocar tontura, pois existem vários momentos em que planos que já eram excessivamente fechados fiquem ainda mais confusos graças à instabilidade da câmera (e notem que nem me dei ao trabalho de falar sobre as alterações na distância focal da lente, que, ao serem usadas repetidas vezes, acabam contribuindo para que o filme se torne visualmente cansativo).

Mas este não é o maior pecado de Chazelle, que desta vez parece ter se esquecido de um elemento que não faltava em seus longas anteriores: o centro emocional da história. Pode ser que a decisão tenha sido intencional, como se o cineasta investisse em uma abordagem estéril e pausada justamente para tentar acompanhar de perto a personalidade fria e estável de Neil Armstrong. Infelizmente, o resultado deste esforço é uma obra quase sem vida que soa monótona em vários momentos – e existem vários instantes em que o filme precisava provocar um impacto dramático maior (como naquele onde o protagonista descobre que seus colegas foram vítimas de um acidente fatal), mas isto não acontece graças à direção de Chazelle, que adota métodos óbvios e mecanizados demais na hora de tentar emocionar o espectador. Se somarmos isto ao fato da projeção durar 141 minutos, a impressão final deixada pelo longa torna-se ainda mais frustrante e problemática.

Apesar de todos esses tropeços, a verdade é que O Primeiro Homem é uma produção eficiente e tecnicamente impecável, saindo-se especialmente bem ao levar o espectador a sentir como se fizesse parte da tripulação da Apollo 11. Logo na cena que abre o filme, quando Armstrong ultrapassa a atmosfera terrestre e vislumbra a silhueta da Lua pela primeira vez, Chazelle demonstra que sabe criar uma experiência imersiva – e as sequências que enfocam os testes posteriores da NASA revelam-se tensas e angustiantes, já que, pelo menos nestes instantes, o diretor passa a saltar entre planos abertos e fechados de maneira mais coesa e a empregar a câmera tremida com um propósito mais adequado. Mas nenhum momento se compara ao terceiro ato, quando o cineasta recria um dos eventos emblemáticos do século 21: a chegada do Homem ao solo lunar – e o mais admirável é perceber que, além de incluir alguns planos esteticamente belíssimos (como o travelling circular que mostra com cuidado todo o cenário ocupado pelos personagens), o clímax ainda encerra alguns arcos dramáticos iniciados no começo da projeção através de rimas visuais e simbolismos elegantes (um deles envolve – sem spoilers – uma pulseira).

Ancorado pela performance sutil e eficiente de Ryan Gosling, que tem um talento especial para viver personagens emocionalmente frios e estáveis (o que leva algumas pessoas a subestimá-lo como ator, já que seus gestos calmos e minimalistas são frequentemente confundidos com inexpressividade), O Primeiro Homem conta com um protagonista interessante que ganha uma dimensão dramática ainda maior quando ocasionalmente deixa escapar algum sentimento mais intenso (um bom exemplo disso encontra-se no momento onde Neil se tranca num quarto e chora solitariamente depois da morte de sua filha). Já Claire Foy é bem-sucedida ao retratar Janet Armstrong como uma mulher dividida entre a vontade de ver seu marido realizar seus sonhos e o medo de vê-lo se machucar em função disso – e é uma pena, portanto, que a atriz conte com um tempo de tela bem menor do que merecia.

Surpreendendo ao evitar (na medida do possível) o patriotismo que certamente levaria boa parte do público a antipatizar com a produção logo de cara (neste sentido, é curioso que um dos momentos mais icônicos da chegada de Neil Armstrong à Lua – aquele onde a bandeira dos Estados Unidos é fincada no solo – tenha sido descartado por Chazelle), O Primeiro Homem é uma experiência imersiva e cuidadosa. Só faltou conquistar o espectador emocionalmente.

Mais para explorar

O Aprendiz | Crítica

Retratando um mundo de glamour em decadência, esta biografia é assustadora por mostrar a força e a magnitude de um sistema que não só cria monstros como Donald Trump, como permite que se mantenham praticamente indestrutíveis.

Ainda Estou Aqui | Crítica

Machuca como uma ferida que se abriu de repente, sem sabermos exatamente de onde veio ou o que a provocou, e cujo sofrimento continua a se prolongar por décadas sem jamais cicatrizar.

Manas | Crítica

Há muitos anos uma performance mirim não me deixava sem palavras da maneira como a de Jamilli Correa aqui me deixou. E o filme ao redor de sua atuação, contudo, faz jus a essa brilhante revelação.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *