O Relatório

Título Original

The Report

Lançamento

7 de novembro de 2019

Direção

Scott Z. Burns

Roteiro

Scott Z. Burns

Elenco

Adam Driver, Annette Bening, Jon Hamm, Jennifer Morrison, Tim Blake Nelson, Ben McKenzie, Jake Silbermann, Matthew Rhys, Ted Levine, Michael C. Hall e Maura Tierney

Duração

120 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Scott Z. Burns, Steven Soderbergh, Jennifer Fox, Michael Sugar, Danny Gabai, Eddy Moretti e Kerry Orent

Distribuidor

Diamond Films

Sinopse

Após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, a CIA passou a adotar o uso da tortura como meio de obter informações de pessoas consideradas ameaças ao país, sob a justificativa de evitar a todo custo que um ataque do tipo acontecesse mais uma vez. Trabalhando para a senadora Dianne Feinstein (Annette Bening), o agente Daniel J. Jones (Adam Driver) inicia, em 2007, uma investigação interna acerca de denúncias sobre a destruição de fitas de interrogatório por parte da CIA, divulgadas através de reportagem publicada pelo jornal New York Times. Com muita dificuldade em conseguir os documentos necessários, Daniel dedica-se ao relatório por quase uma década, sem saber se um dia as descobertas por ele feitas serão expostas ao público.

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O Relatório | Crítica

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A entrada dos Estados Unidos no século 21 não poderia ter sido mais constrangedora. Se aproveitando dos atentados de 11 de setembro de 2001 e do medo que estes causaram na população norte-americana (e em boa parte do mundo, principalmente no Ocidente) diante do terrorismo islâmico, o infame George W. Bush – que, vale lembrar, estava com a popularidade em baixa e precisava desesperadamente de alguma coisa que pudesse elevá-la – resolveu usar o contexto estabelecido pela tragédia para… invadir o Iraque (que nada tinha a ver com os ataques promovidos pela Al-Qaeda), alegando que o então presidente Saddam Hussein tinha posse de armas de destruição em massa e que isto representava um risco a ser eliminado em prol da segurança do mundo inteiro. E não demorou até que a tal “Guerra ao Terror” revelasse sua verdadeira natureza: a de mera desculpa para que Bushinho explorasse os poços de petróleo iraquianos – mesmo torturando e matando centenas de milhares de inocentes no caminho.

Aliás, se olharmos para trás e considerarmos que os Estados Unidos (em coalizão com o Reino Unido, na época de Tony Blair) não só invadiram o Iraque como tiraram Saddam do poder e o enforcaram em seguida, percebemos o quão lamentável foi a década de 2000 em termos de políticas norte-americanas, não sendo à toa, portanto, que ainda hoje o Cinema siga retratando as barbaridades ocorridas naquele período. Neste sentido, a importância de um filme como O Relatório é inquestionável: escrito e dirigido por Scott Z. Burns, o longa conta a história real de Daniel J. Jones, um investigador do Senado que, trabalhando para a também senadora Dianne Feinstein, decide coletar o maior número de informações possível a respeito das torturas cometidas pela CIA durante a administração Bush. Depois de quase uma década (já no governo Obama), Jones finalmente termina o relatório – mas é claro que um monte de fatores ainda tentariam impedi-lo de expor estas denúncias ao público.

Assim, O Relatório se estabelece como um thriller político que, por natureza, lida com assuntos que merecem ser tratados com atenção – afinal, as torturas praticadas durante a Era Bush representam uma prova definitiva não só do sadismo institucionalizado naquele governo, mas também de como seres humanos ditos “civilizados” podem se rebaixar ao mais vil dos comportamentos por pura diversão (os agentes da CIA retratados aqui gostam de violentar seus prisioneiros). Neste sentido, a direção de Scott Z. Burns merece pontos por abordar o tema de maneira clara, mas nunca sensacionalista: ao longo da projeção (em especial, do primeiro ato), acompanhamos uma série de sequências que mostram as táticas de tortura empregadas pelos carrascos; mas fica sempre claro que o objetivo destas sequências é denunciar a violência, não explorá-la.

Por outro lado, Burns falha em construir a atmosfera de tensão que se espera de um thriller político: ao contrário de obras como Todos os Homens do PresidenteZodíaco, Spotlight ou The Post, que levavam o espectador a sentir-se aflito e muitas vezes inquieto diante das investigações feitas pelos protagonistas, O Relatório se mantém estável e comedido do início ao fim, como se Burns tentasse fabricar tensão em vez de gerá-la de forma autêntica. Além disso, a maior parte da narrativa é inteiramente dominada por diálogos expositivos, explicando tudo para o espectador através de um didatismo excessivo – e isto acaba enfraquecendo o ritmo do filme, já que a maioria das cenas se resume aos personagens conversando sempre de maneira óbvia. De todo modo, nem o mais artificial dos diálogos se compara ao desfecho da história, que, por sua vez, surge açucarado e bobinho em seus esforços dramáticos.

Prejudicado também pela linha cronológica confusa que tenta estabelecer, não demonstrando muita clareza em suas passagens de tempo e indo/voltando neste de maneira quase aleatória (um problema que também se deve à montagem de Greg O’Bryant), O Relatório ao menos traz duas atuações centrais fortíssimas: Adam Driver transmite com eficiência toda a determinação de seu Daniel J. Jones, que se recusa a desistir de sua missão não por ter levado 10 anos para cumpri-la, mas por uma questão de puro compromisso com a ética, ao passo que Annette Bening encarna bem as incertezas da senadora Dianne Feinstein, dividida entre a pressão presente em seu ofício e a necessidade moral de fazer prevalecer sempre a verdade.

Para finalizar, não deixa de ser curioso que O Relatório chegue aos cinemas na mesma época em que Segredos Oficiais se encontra em cartaz, já que ambos giram em torno de protagonistas que lutam para divulgar arquivos que podem ser comprometedores para o governo Bush, mas cujas informações precisam ser de conhecimento público. E ambos alcançam resultados mais ou menos similares, se revelando apenas razoáveis, mas quase complementares.

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