Planeta dos Macacos A Guerra

Título Original

War for the Planet of the Apes

Lançamento

3 de agosto de 2017

Direção

Matt Reeves

Roteiro

Matt Reeves e Mark Bomback

Elenco

Andy Serkis, Woody Harrelson, Karin Konoval, Amiah Miller, Terry Notary, Steve Zahn, Michael Adamthwaite, Ty Olsson, Toby Kebbell, Gabriel Chavarria, Judy Greer, Max Lloyd-Jones, Sara Canning, Devyn Dalton e Aleks Paunovic

Duração

140 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Rick Jaffa, Amanda Silver, Peter Chernin e Dylan Clark

Distribuidor

Fox

Sinopse

Humanos e macacos cruzam os caminhos novamente. César e seu grupo são forçados a entrar em uma guerra contra um exército de soldados liderados por um impiedoso coronel. Depois que vários macacos perdem suas vidas no conflito e outros são capturados, César luta contra seus instintos e parte em busca de vingança. Dessa jornada, o futuro do planeta poderá estar em jogo.

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Planeta dos Macacos: A Guerra | Crítica

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Desde que chegou aos cinemas com o clássico de 1968, a série Planeta dos Macacos sempre se destacou ao criar alegorias que refletiam a sociedade de modo geral, discutindo temas como intolerância e diversidade ao passo que promovia mensagens pacifistas sem cair no maniqueísmo. Foi surpreendente, portanto, que estas características tenham persistido quando a franquia foi reiniciada em 2011 com A Origem, atingindo um grau de excelência ainda maior quando o diretor Matt Reeves assumiu o comando da história no excepcional O Confronto em 2014. Agora, a saga do chimpanzé Caesar se encerra de maneira absolutamente satisfatória com este A Guerra, um blockbuster ambicioso, ousado e que talvez desaponte quem não espera nada além de ação escapista, mas que merece ser reconhecido pelas ideias que aborda e pelos personagens complexos que desenvolve.

Novamente dirigido por Matt Reeves (do ótimo Cloverfield), A Guerra se passa poucos anos após o início da batalha entre humanos e primatas que o chimpanzé Koba decretou em O Confronto, trazendo os macacos conflitando com militares e alguns gorilas dissidentes. Depois que uma tragédia pessoal ocorre com o líder Caesar, os símios partem numa jornada a fim de buscar uma salvação até serem surpreendidos mais uma vez pelo Coronel, que busca erradicar os primatas pensantes antes que a raça humana perca sua característica de grupo dominante. A partir daí, Caesar precisa organizar seus congêneres para realizar uma rebelião definitiva, pois a vida dos macacos nunca esteve tão ameaçada quanto agora.

Reconhecendo que, numa história envolvendo guerra, é fundamental se apegar aos personagens e compreender o drama que eles enfrentam (algo que faltou a Christopher Nolan em seu recente Dunkirk), este é certamente o mais emotivo e denso dos três filmes que contam a origem do Planeta dos Macacos, trazendo uma série de momentos tocantes (como aquele onde um orangotango interage com uma menininha) e acontecimentos chocantes que vão do assassinato de alguns macacos até a tortura constante que Caesar sofre ao ser capturado (e vê-lo com uma pistola apontada para sua cabeça é, por si só, uma imagem pesadíssima). É graças a esta abordagem adulta e intimista que A Guerra pode frustrar os que buscam apenas um entretenimento casual (como comentei no primeiro parágrafo): em vez de priorizar as explosões, os tiros e a pancadaria, Matt Reeves prefere valorizar as passagens mais reflexivas e os diálogos que debatem os temas propostos pelo roteiro.

O que não significa, porém, que as sequências de ação não se destaquem: conduzidas de maneira tensa e enérgica, as cenas que ilustram a guerra que dá título à obra sempre levam o público a torcer pelos personagens e pela causa abraçada pelos símios, além de serem disciplinadas e organizadas do ponto de vista de mise-en-scène (nestes instantes, Reeves acerta ao investir em planos devidamente longos e abertos que permitem que o espectador compreenda cuidadosamente o que está acontecendo, indo na contramão dos horríveis Transformers de Michael Bay). Ousado também ao diminuir a quantidade de diálogos falados a fim de apostar em gestos e legendas na maior parte do tempo, Reeves é hábil ao inserir dois ou três alívios cômicos que surgem na figura de “Bad Ape” sem comprometer a atmosfera triste e pessimista que caracteriza a narrativa, criando também algumas imagens fortes e marcantes (como a que exibe três corpos sangrando debaixo da neve).

De todo modo, o aspecto mais significativo de Planeta dos Macacos: A Guerra é a maturidade presente nas discussões que o filme propõe: escrito pelo próprio Matt Reeves ao lado de Mark Bomback, o roteiro fala de maneira bastante específica sobre os maiores males que a intolerância pode perpetuar e como a Humanidade está disposta a repetir os mesmos erros que cometeu no passado, ainda mais quando vê o seu status de “espécie dominante” sendo ameaçado pelo que é diferente. É, em suma, um longa que tenta promover um discurso de paz, mas que é realista o suficiente para perceber que este fim dificilmente será alcançado graças à imperfeição natural do Homem. Assim, é apropriado que tanto a direção quanto o roteiro encontrem espaço para fazer uma série de alusões históricas que vão das referências ao nazismo até situações que remetem diretamente ao período da escravidão (e não creio que seja mera coincidência o fato do Coronel ser uma figura autoritária cujo plano maior é construir um muro).

O que nos traz a Caesar, e aqui o filme volta a exibir uma densidade temática admirável: retratando a paranoia e a instabilidade emocional que frequentemente afetam quem está experimentando o horror de uma guerra, o líder dos macacos se afasta cada vez mais da sabedoria que tentava manter no passado depois que uma tragédia fragiliza a sua estrutura psicológica. Com isso, Caesar quase sucumbe à selvageria que transformou Koba num monstro e batalha para preservar seus valores iniciais mesmo que isso seja uma tarefa difícil – não é à toa que o personagem surge fazendo coisas inquestionavelmente reprováveis, chegando a constatar e aceitar suas próprias fraquezas. Neste sentido, a performance de Andy Serkis (que merece ser reconhecido como o ator talentoso que é) torna-se fundamental para que Caesar soe como uma criatura viva e complexa, exemplificando perfeitamente os seus sentimentos conflitantes e inseguros através de olhares e expressões contraídas que expressam raiva, menosprezo, amargura, arrependimento, tristeza e uma leve esperança ocasional.

Diga-se de passagem, A Guerra traz (assim como A Origem e O Confronto) uma computação gráfica espetacular que só não será valorizada no Oscar se os membros da Academia enlouquecerem de vez, já que os animadores da Weta Digital recriam com precisão os movimentos característicos dos primatas e alcançam um novo patamar de primor técnico quando definem a textura dos corpos dos macacos, algo que Matt Reeves faz questão de enfatizar sempre que fecha os rostos dos primatas através de primeiríssimos planos (é impossível não apreciar o trabalho dos efeitos visuais no instante em que o rosto de Caesar está quase congelando diante do frio). E se o diretor de fotografia Michael Seresin parece reviver seus tempos de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, mostrando-se certeiro ao investir numa paleta fria que ressalta a tristeza daquele universo, a trilha sonora de Michael Giacchino aposta em melodias suaves e delicadas que funcionam principalmente nos momentos mais introspectivos do filme.

Para completar, um dos maiores destaques da obra é o vilão – e, aqui, o roteiro novamente demonstra um grau de maturidade que não se vê sempre em blockbusters hollywoodianos: concebido como um verdadeiro ditador do início ao fim, o Coronel marca presença como uma criatura grotesca e que conquista o repúdio do espectador, mas que nem por isso deixa de contar com suas tragédias e razões pessoais (o que torna o vilão tridimensional). Sendo assim, o ator Woody Harrelson merece aplausos por seu desempenho aqui, já que consegue estabelecer o antagonista como um indivíduo perverso e ameaçador sem deixar de injetar uma dose de carga dramática (e quando ele pede desculpas ao protagonista, é possível notar que houve sinceridade em sua fala apesar das atitudes brutais e desumanas que toma). Aliás, A Guerra é tão eficiente que consegue fazer funcionar até um velho recurso que eu normalmente condeno: um longo monólogo que serve apenas para que o vilão explique suas motivações – aqui, a exposição feita pelo Coronel é comovente a ponto de levar o próprio Caesar às lágrimas.

Inteligente também ao empregar câmeras subjetivas durante algumas interações entre os personagens, colocando o público sob a ótica destes em alguns instantes específicos, o diretor Matt Reeves põe um ponto final (ou seria um ponto e vírgula?) perfeito nesta jornada que começou há cinco anos – e mesmo que o roteiro tropece pontualmente (como uma intervenção da Natureza que convenientemente ocorre no terceiro ato), não há nada que diminua os muitos méritos deste que é, sem dúvida alguma, um dos blockbusters mais ambiciosos e tematicamente relevantes que o Cinema apresentou em 2017.

Num mundo justo, Planeta dos Macacos: A Guerra seria reconhecido nas premiações da indústria cinematográfica não apenas como um espetáculo técnico, mas também como um dos melhores filmes do ano.

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