Se Eu Tivesse Pernas Eu Te Chutaria

Título Original

If I Had Legs I’d Kick You

Lançamento

Direção

Mary Bronstein

Roteiro

Mary Bronstein

Elenco

Rose Byrne, Conan O´Brien, Delaney Quinn, Mary Bronstein, A$AP Rocky, Ivy Wolk, Mark Stolzenberg, Christian Slater

Duração

114 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Sara Murphy, Ryan Zacarias, Ronald Bronstein, Josh Safdie, Eli Bush, Conor Hannon e Richie Doyle

Distribuidor

Sinopse

Linda é uma mãe que se vê à beira de um colapso ao lidar com a doença misteriosa da filha, a ausência do marido e o desmoronamento de seu próprio teto, o que a força a viver com a filha num motel. Ela não encontra apoio em ninguém, nem mesmo no terapeuta, que é hostil, e precisa lidar com a frustração, o desespero e o isolamento crescentes, numa tentativa de resolver os problemas que a cercam.

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Se Eu Tivesse Pernas, Eu Te Chutaria | Crítica

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Uma mãe está a um passo de entrar em parafuso. Sua filha é portadora de uma doença (jamais explicada pelo filme) que a obriga a viver com um tubo de alimentação preso à barriga. Seu marido é um militar que há muito escafedeu-se e apenas telefona de vez em quando para saber da filha. Seu apartamento está literalmente caindo aos pedaços, já que o teto do quarto desabou e, com isso, obrigou a dona a gastar uma grana numa reforma. Assim, como nem uma única pessoa se mostra disposta a apoiar a moça (ou, pelo menos, ouvir o que tem a dizer), ela entra numa espiral de situações, visões e loucuras que ao fim só pioram ainda mais seu quadro geral. Esta é a premissa de Se Eu Tivesse Pernas, Eu Te Chutaria (que título!), exibido na Competição Principal do último Festival de Berlim.

Que, por sinal, é ancorado por uma ótima performance central de Rose Byrne, não sendo à toa que ela tenha ganho o prêmio de Melhor Atriz em Berlim. Desde o momento em que surge pela primeira vez (num close-up fechadíssimo, quase como se a câmera invadisse o espaço da personagem ao enfiar-se sobre ela), Byrne compõe a psicóloga Linda como uma mulher mental e fisicamente exaurida, que, sempre que parece ter chegado ao máximo do esgotamento, logo se vê afundar ainda mais. O mais interessante, contudo, é perceber não o estresse e o desespero da protagonista, mas seus esforços em aparentar normalidade, tentando convencer não a nós, mas a si mesma de que não está à beira de um colapso (até os momentos de humor ou irreverência que escapam aqui e ali funcionam ao humanizarem ainda mais a personagem).

Além disso, para enriquecer ainda mais o peso e a construção da protagonista, a diretora Mary Bronstein toma uma decisão interessante: a de jamais mostrar o rosto da filha de Linda. Podemos até ouvir a voz da menina (e ouvimos com relativa frequência), mas nunca vemos sua face – o que acaba servindo para criar não só um senso de mistério em relação à aparência/natureza da garota, como também um distanciamento que reitera Linda como o centro de nossas atenções (nosso foco se mantém sempre nos problemas dela, não nos da filha). Por último, Conan O’Brien é sempre uma presença agradável que se ter em tela – e, aqui, ele cria um personagem (o psicólogo/chefe de Linda) que se torna fundamental por reforçar a ideia de que ninguém na face da Terra tolera a protagonista.

Dito isso, não tenho como negar que, mesmo com todas estas virtudes, Se Eu Tivesse Pernas, Eu Te Chutaria ao fim me soou como uma bagunça: se a princípio o filme parece ter um foco mínimo – com um interesse consistente em discutir a cobrança da sociedade acerca das mulheres e a imposição de que estas devem abraçar incondicionalmente o objetivo de serem mães, como se fosse sua função natural –, aos poucos vai adicionando tantos elementos extras que acaba se perdendo nas próprias pretensões. Assim, quando a projeção chega ao fim, foram tantas “analogias”, “simbolismos” e cenas de “visões” da protagonista se amontoando umas sobre as outras que Mary Bronstein não parece saber exatamente o que concluir da junção delas, criando, com isso, um filme suficientemente vago para que o espectador projete o que quiser sobre as aleatoriedades que lhe foram atiradas.

Também não ajuda muito que as tais “analogias” fornecidas pela trama sejam óbvias e tolinhas ao extremo (o teto da casa desabou e isso reflete o estado de espírito decadente da protagonista? Puxa, que original!) e que Bronstein crie uma série de sequências muito mais interessadas no “choque pelo choque” (a que envolve um hamster, por exemplo) do que em qualquer outra coisa, tornando Se Eu Tivesse Pernas, Eu Te Chutaria uma obra não só irregular, mas também formulaica em sua grife de “novo exemplar da A24”. Ao menos, tem Rose Byrne para salvar.

Visto no Festival do Rio 2025.

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