Um Dia Lindo na Vizinhança

Título Original

A Beautiful Day in the Neighborhood

Lançamento

23 de janeiro de 2020

Direção

Marielle Heller

Roteiro

Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster

Elenco

Matthew Rhys, Tom Hanks, Susan Kelechi Watson, Chris Cooper, Maryann Plunkett, Enrico Colantoni, Christine Lahti, Tammy Blanchard, Wendy Makkena e Noah Harpster

Duração

107 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Youree Henley, Peter Saraf, Marc Turtletaub e Leah Holzer

Distribuidor

Sony Pictures

Sinopse

Fred Rogers (Tom Hanks) foi o criador de Mister Rogers’ Neighborhood, um programa infantil de TV muito popular na década de 1960. Em 1998, Tom Junod (Matthew Rhys), até então um cínico jornalista, aceitou escrever o perfil de Rogers para a revista Esquire. Durante as entrevistas para a materia, Junod mudou não só sua visão em relação ao seu entrevistado como também sua visão de mundo, iniciando uma inspiradora amizade com o apresentador.

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Um Lindo Dia na Vizinhança | Crítica

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Se mais pessoas como Fred Rogers ganhassem espaço na tevê aberta ou tivessem alguma visibilidade para alcançar um público expressivo, o mundo seria um lugar melhor. Dono de um otimismo impressionante em relação à Humanidade, o apresentador viu na Televisão uma forma de propagar mensagens positivas e de incentivar as crianças a fazerem o bem, a prepará-las para se tornar adultos com caráter. E, embora sua linguagem fosse apropriada para o público infantil, o Sr. Rogers não tratava as crianças como burrinhas capazes de se distrair com qualquer coisa – tampouco afastava os adultos ao aparecer brincando com fantoches ou cantando músicas fofinhas.

Chegando aos cinemas um ano depois do sucesso do documentário Won’t You Be My Neighbor?, que recontou a história de Fred Rogers em uma hora e meia e foi considerado o grande injustiçado da última temporada de premiações (não chegando sequer a ser indicado ao Oscar), este Um Lindo Dia na Vizinhança é um filme que desde o princípio exala a energia bondosa e contagiante do icônico apresentador. Escrito por Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster, o roteiro é protagonizado não pelo Sr. Rogers, mas pelo jornalista Lloyd Vogel – baseado livremente no premiado Tom Junod –, que, após ser enviado pela revista Esquire para entrevistar a mente por trás do programa Mister Rogers’ Neighborhood. No entanto, à medida que conversa com o apresentador, Lloyd aos poucos vai se abrindo em relação à briga que teve com seu pai há algum tempo e que terminou por separá-los – e, ao escutar esta história triste, o Sr. Rogers decide ajudar a reconciliá-los.

Já abrindo a projeção atirando o espectador no meio de uma recriação do Mister Rogers’ Neighborhood, apresentado por Fred Rogers entre 1968 e 2001, a diretora Marielle Heller apresenta uma melhora significativa em relação ao seu projeto anterior, Poderia Me Perdoar? (do qual, confesso, não gostei muito), se propondo a recriar a atmosfera do programa comandado por Rogers – com direito a maquetes que simulam establishing shots de Pittsburgh e imagens feitas em uma razão de aspecto menor que remetem à proporção de uma televisão. A abordagem, naturalmente, traz vantagens e desvantagens: por um lado, é ótimo que o filme evite seguir o lugar-comum das cinebiografias, se submetendo a uma missão um pouco menos óbvia (a de transformar o biografado em uma espécie de “anjo” para um protagonista problemático); por outro, é possível alegar certo desinteresse em criar algo novo, apenas reciclando a identidade visual, a dinâmica e o ritmo de um programa de tevê que já havia sido feito há décadas.

Seja como for, o fato é que Um Lindo Dia na Vizinhança funciona dentro de seu objetivo: fazer o espectador se sentir bem – e ninguém melhor do que o Sr. Rogers para fazer isto. Trazendo uma leveza bem-vinda em uma história integrada por um personagem inocente como este (e já abarrotada de elementos novelescos que talvez soassem ridículos caso não contassem com um traço de ingenuidade), Marielle Heller consegue cumprir a função de manter o investimento emocional do público durante a maior parte da projeção, atingindo um clímax particularmente eficiente do ponto de vista dramático. Infelizmente, embora as conversas entre Fred Rogers e Lloyd Vogel sejam bonitinhas, os assuntos discutidos por eles raramente são explorados o suficiente pelo filme, desenvolvendo alguns dos temas de maneira superficial.

Em compensação, o Sr. Rogers é o tipo de papel que Tom Hanks nasceu para interpretar – afinal, estamos falando de um ator que é costumeiramente visto por Hollywood (e pelo mundo inteiro) como a alma mais boazinha e simpática que já passou pelo planeta Terra. Retratando a alegria de Rogers através de um sorriso que, embora expressivo, nunca aparece aberto a ponto de soar forçado, servindo apenas para ilustrar seu contentamento de forma sucinta e autêntica, Hanks mantém o olhar fixo para qualquer pessoa com quem esteja conversando (seja um interlocutor presencial, seja o próprio espectador), o que indica um total interesse de sua parte em ouvir o que seus companheiros de cena têm a dizer – e isto, por si só, sugere imensa gentileza de sua parte. Além disso, o olhar e o tom de voz de Hanks carregam uma certa melancolia dentro de suas palavras de otimismo, o que, aliado à sua postura corporal introspectiva, ajudam a estabelecer o Sr. Rogers como uma persona doce, capaz de criar uma cumplicidade com o espectador e com qualquer um que esteja ao seu redor.

Ancorado pela performance vulnerável de Matthew Rhys, que retrata Lloyd Vogel como um sujeito emocionalmente frágil e cada vez mais disposto a recorrer a elementos da infância para resolver os problemas da vida adulta, Um Lindo Dia na Vizinhança tinha tudo para ser bem mais esquemático do que realmente é. No entanto, a direção de Marielle Heller e o desempenho de Tom Hanks se mostraram capazes de torná-lo um filme condizente com o espírito amigável e caridoso do Sr. Rogers – e isto é uma boa notícia por si só.

Esta crítica foi escrita como parte da cobertura do Festival do Rio 2019.

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