venom

Título Original

Venom

Lançamento

4 de outubro de 2018

Direção

Ruben Fleischer

Roteiro

Jeff Pinkner, Scott Rosenberg, Kelly Marcel

Elenco

Tom Hardy, Michelle Williams, Riz Ahmed, Jenny Slate, Scott Haze, Michelle Lee, Reid Scott

Duração

112 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Avi Arad, Matt Tolmach, Amy Pascal

Distribuidor

Sony Pictures

Sinopse

O jornalista Eddie Brock desenvolve força e poder sobre-humanos quando seu corpo se funde com o alienígena Venom. Dominado pela raiva, Venom tenta controlar as novas e perigosas habilidades de Eddie.

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Venom | Crítica

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O Venom nunca foi um dos meus vilões favoritos. Mesmo contando com um visual selvagem e ameaçador (criado pelo desenhista Todd McFarlane), o personagem sempre me soou como uma variação genérica e desinteressante do próprio Homem-Aranha: seus superpoderes eram praticamente os mesmos, sua presença em cena não era das mais carismáticas e suas motivações se resumiam ao velho clichê do “fracassado que quer se vingar do homem que acabou com sua vida”. Aliás, quando Venom surgiu pela primeira vez no Cinema, em Homem-Aranha 3, muitos fãs ficaram insatisfeitos com a maneira como o vilão foi retratado e, acima de tudo, com o tempo de tela curtíssimo que lhe foi concedido (ele só aparecia no terceiro ato e por poucos minutos).

E qual a solução que os executivos da Sony parecem ter encontrado para resolver o problema? Dar ao Venom a oportunidade de protagonizar sua própria aventura – e mais: sem nenhum indício de que o Homem-Aranha possa coexistir no mesmo universo. Espera, como assim? Isto não faz o menor sentido!

Dirigido pelo mesmo Ruben Fleischer de Zumbilândia, este novo longa baseado nos quadrinhos da Marvel serve como um exemplo perfeito de como a ganância dos grandes estúdios hollywoodianos pode levar suas criações ao fundo do poço. A trama acompanha o repórter Eddie Brock, que, após investigar os experimentos científicos que o empresário Carlton Drake andou fazendo com seres humanos, é demitido da empresa onde trabalhava, perde a confiança de sua namorada e não vê nenhuma solução para seus problemas. Tudo começa a mudar, porém, quando um simbionte alienígena entra em contato com o corpo de Brock e o transforma em uma intimidadora criatura que passa a ser conhecida como Venom. A partir daí, o sujeito decide usar as habilidades fornecidas pelo simbionte (superforça; velocidade; resistência ampliada; etc) para enfim desvendar os crimes cometidos por Drake.

Na teoria, a ideia de fazer um filme só sobre o Venom é tola e dispensável; na prática… bem, é pior ainda. Sem jamais esconder o fato de que não há conteúdo o suficiente para sustentar um longa-metragem de duas horas, o roteiro escrito por Jeff Pinkner, Scott Rosenberg e Kelly Marcel não tem sequer uma história para contar: o primeiro ato acompanha a chegada do simbionte e o fracasso de Eddie Brock; o segundo se resume a um monte de trapalhadas envolvendo o protagonista e seu “amigo”; e o terceiro enfoca uma sequência de ação entre Venom e outro super-vilão genérico. De todo modo, isto não incomoda tanto quanto praticamente tudo o que é dito pelos personagens da primeira à última cena: oscilando entre frases de efeito imbecis e diálogos puramente expositivos, as trocas de conversas retratadas aqui jamais soam como algo que sairia naturalmente da boca de um ser humano razoável – e a impressão que fica é a de que os três roteiristas nunca devem ter interagido com outras pessoas na vida.

Mas o que mais decepciona em Venom é a dinâmica entre Eddie Brock e o simbionte que dá título ao filme (e ignorem o fato de que, sem a existência do Homem-Aranha, a pouca complexidade que o personagem tinha nos quadrinhos é anulada de uma vez por todas, já que ele deixa de ser um reflexo distorcido da personalidade de seu nêmesis para se tornar apenas um brutamontes genérico): em vez de tratar o drama vivido pelo protagonista como algo insano e assustador, o filme prefere ridicularizar a situação, investir em piadinhas constrangedoras e – o mais patético – sugerir um “romance” entre Brock e o alienígena (não é à toa que, quando o simbionte é temporariamente separado de seu hospedeiro, o evento é retratado como um término de relacionamento). Como se não bastasse, o roteiro se atrapalha na hora de decidir se Venom é um vilão ou um herói: na maior parte do tempo, o alienígena põe na cabeça de Eddie algumas ideias inquestionavelmente malignas; ao chegar no terceiro ato, porém, o simbionte subitamente passa a se importar, sim, com o bem estar alheio. Assim, o longa acaba repetindo o mesmo equívoco cometido por Esquadrão Suicida, que começava apostando na ideia de ser um “filme sobre super-vilões”, mas se acovardava no meio do processo e resolvia seguir o caminho mais comercialmente viável (o dos super-heróis bonzinhos e altruístas).

Sem jamais equilibrar os (ridículos) momentos bem humorados e os (também ridículos) momentos que deveriam contar com um peso dramático maior, Venom parece fazer questão de despertar o sentimento de vergonha alheia no espectador – e se a intenção do diretor Ruben Fleischer era flertar com uma abordagem trash, o resultado da proposta acabou se tornando mais incômodo do que divertido. O que dizer, por exemplo, da sequência onde Eddie Brock descobre seus superpoderes e resolve empregá-los para obrigar os vizinhos a diminuírem o volume da música que estão escutando (sim, exatamente como em Mulher-Gato)? Ou daquele instante onde o simbionte possui o corpo de um poodle? Ou daquele monólogo onde o alienígena explica para Eddie como se sentia fracassado em seu planeta natal? Ou daquela cena de beijo?!

Já as sequências de ação parecem ter saído de algum filme ruim do início dos anos 2000, o que fica particularmente claro numa perseguição de moto que, acompanhada de um solo de guitarra exageradíssimo, é prejudicada por alguns planos em câmera lenta que elevam o conceito de cafonice à enésima potência. De qualquer forma, não dá para cobrar muito de um longa que, desesperado para garantir uma classificação indicativa mais leve, chega ao cúmulo de incluir uma cena onde um monstro devora a cabeça de um ser humano sem que escorra uma única gota de sangue. E se a montagem de Maryann Brandon e Alan Baumgarten ignora qualquer tipo de continuidade ou lógica narrativa, chegando a atirar uma inexplicável elipse de seis meses ainda no primeiro ato, a fotografia de Matthew Libatique (que conta com mãe! e outros projetos de Darren Aronofsky no currículo) desaponta ao mergulhar o filme em sombras apenas para disfarçar a precariedade dos efeitos visuais, ao passo que a trilha sonora de Ludwig Göransson (tão eficiente em Pantera Negra) poderia ser facilmente substituída pelo silêncio, já que não acrescenta nada ao resultado final.

Inexplicavelmente contando com a presença da ótima Michelle Williams (que pouco tem a fazer além de servir como par romântico obrigatório do herói), Venom é estrelado por um Tom Hardy que, ao que tudo indica, resolveu ligar o “foda-se” assim que terminou de ler o roteiro – e o ator provou aqui que seu timing cômico merece ser explorado em outras produções, mas… este não era o filme certo para isso. Além disso, Eddie Brock é um protagonista chato e debochado que, em vez de conquistar a simpatia do espectador, prefere bombardeá-lo com uma série de piadinhas irritantes. Para completar, há também o vilão interpretado por Riz Ahmed, que, encarnando o estereótipo do “empresário do mal”, passa a maior parte do tempo citando passagens bíblicas e dizendo frases como “Mas que coisa linda!” ao ver o simbionte pela primeira vez.

Deixando pistas para uma possível continuação (que, a julgar pela cena que surge durante os créditos, provavelmente manterá o padrão de qualidade apresentado aqui), Venom é um filme que parece se esforçar para atingir o fundo do poço – e, neste sentido, ele é bem-sucedido: trata-se de uma das piores coisas que Hollywood já levou às telonas a partir de uma história em quadrinhos.

Para que não me acusem de ter detestado tudo nesta produção, digo somente que o visual do Venom revela-se uma boa transposição das HQs para o Cinema. Se bem que até isso é estragado pelos péssimos efeitos visuais, então… é melhor deixar para lá.

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