Desde 2015, quando ainda escrevia em meu antigo blog, mantenho a tradição de publicar, às vésperas da cerimônia do Oscar, a minha lista pessoal de previsões para todas as categorias da premiação. Quem vencerá? Por que vencerá? Quem merece vencer? São questões como estas que sempre tento resolver – ou, ao menos, dizer o que penso sobre elas. E, assim, aproveitando que a entrega das estatuetas douradas ocorrerá amanhã (9), creio ser um momento apropriado para fazer os palpites deste ano, não?

Dito isso, todas as seções listadas abaixo representarão, claro, aquilo que eu imagino que ocorrerá na premiação de amanhã – e os critérios que adotei ao fazer minhas previsões foram os mesmos que usei ao tentar antever os indicados, me baseando, na maioria das vezes, nos prêmios que vieram rolando nos últimos meses e que servem como termômetros para o Oscar. (E, como sempre faço que questão de lembrar, não levo o Globo de Ouro muito em consideração nos meus palpites, já que seus votantes – cerca de 90 jornalistas correspondentes de Los Angeles – são completamente diferentes dos mais de 8 mil membros da Academia que determinam os indicados e os vencedores do Oscar. A base dos meus argumentos, portanto, será os resultados dos prêmios dos sindicados, como PGA, DGA, WGA, SAG, etc). Além disso, como assisti a literalmente todos os filmes indicados em todas as categorias, vou também dizer quais são os que eu acho que mereciam ser premiados.

Ah, antes de partirmos para as previsões finais, há algo uma novidade muito bacana que simplesmente não posso deixar de comentar: fui gentilmente convidado pelos amigos do canal Pipocando para ir a São Paulo e participar da tradicional live do Oscar que eles farão às 21h e que será apresentada por Bruno Bock, Rolandinho, Lully e Otávio Ugá – além de contar com outras presenças ilustres, como a de Roberto Sadovski, Alice Aquino e Gabriel Gaspar. Desta maneira, será um prazer se vocês puderem assistir à live, que estará disponível aqui. Já a premiação em si começará às 22h e será transmitida, no Brasil, pela TNT (sem contar o habitual “Tapete Vermelho” que acontecerá logo antes).

Agora, vamos às previsões!

MELHOR FILME

Vai ganhar: 1917.

Por quê: Já venceu o prêmio do PGA, considerado principal termômetro desta categoria, e provou-se ainda mais favorito ao repetir a vitória no DGA e no BAFTA. Além disso, é um longa de guerra (gênero que costuma agradar à Academia), dirigido por um sujeito cujo currículo inclui um outro longa vencedor do Oscar de Melhor Filme (Beleza Americana) e que toma decisões estilísticas que chamam atenção para si próprias (como o fato de ter simular um plano-sequência – ou dois – de quase duas horas). Sinceramente, acho difícil qualquer outro concorrente roubar o lugar de 1917 (se houver, será Parasita, que ganhou outro prêmio considerado importante nesta categoria: o SAG de Melhor Elenco).

Qual seria meu voto: Parasita.

MELHOR DIREÇÃO

Vai ganhar: Sam Mendes, por 1917.

Por quê: De novo: ele já foi premiado pelo DGA, pelo BAFTA, já recebeu o Oscar no passado por Beleza Americana e se destacou ao dirigir 1917 como uma experiência daquelas tecnicamente impressionantes, que chamam atenção.

Qual seria meu voto: Martin Scorsese, por O Irlandês.

MELHOR ATRIZ

Vai ganhar: Renée Zellweger, por Judy.

Por quê: Ela já foi premiada no SAG e seu papel em Judy é daqueles bem performáticos, que permitem que a atriz demonstre estar atuando. Além disso, é uma recriação de Judy Garland, um ícone da Era de Ouro de Hollywood. Como a Academia resistiria a isto?

Qual seria meu voto: Scarlett Johansson, por História de um Casamento.

MELHOR ATOR

Vai ganhar: Joaquin Phoenix, por Coringa.

Por quê: A aposta mais segura da noite. Phoenix já foi premiado não só no SAG, mas em praticamente todos os demais prêmios considerados como termômetros. Além disso, o Coringa em si é um personagem muito popular, que – não custa lembrar – já rendeu um Oscar a um outro ator por interpretá-lo em outra versão (Heath Ledger, há 11 anos). E, como na categoria anterior, se trata de um papel bem performático, daqueles que permitem que o ator demonstre estar atuando.

Qual seria meu voto: Adam Sandl… ah, não foi indicado? Ok, então Robert De N… espera aí, também foi esnobado? Como assim?! Bom, então… Joaquin Phoenix mesmo.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Vai ganhar: Laura Dern, por História de um Casamento.

Por quê: Ganhou praticamente todos os prêmios considerados como principais termômetros para esta categoria, incluindo o SAG.

Qual seria meu voto: Kathy Bates, por O Caso Richard Jewell.

MELHOR ATOR COADJUVANTE

Vai ganhar: Brad Pitt, por Era uma Vez… em Hollywood.

Por quê: Ganhou os prêmios considerados como principais termômetros para esta categoria, incluindo o SAG.

Qual seria meu voto: Jogaria uma moeda para cima e tentaria decidir entre Al Pacino ou Joe Pesci, ambos por O Irlandês.

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

Vai ganhar: Era uma Vez… em Hollywood.

Por quê: Sinto que estou sendo teimoso por não apostar em Parasita, já que o mundo inteiro se apaixonou pelo filme e seu roteiro já foi premiado pelo WGA, considerado principal termômetro desta categoria. Mas considerando que o roteiro de Era uma Vez… em Hollywood nem havia sido indicado àquele prêmio, que a Academia nutre uma admiração irrestrita por Tarantino (que não têm muitas chances nas categorias de Filme e Direção) e que o longa em si é um “filme sobre Cinema” (coisa que a Academia adora), acho que vou apostar nele.

Qual seria meu voto: Parasita (que acredito ter uns 49% de chances de ganhar, inclusive). Mas também ficaria feliz se Entre Facas e Segredos ganhasse.

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

Vai ganhar: Adoráveis Mulheres ou Jojo Rabbit…? (Ok, Jojo Rabbit.)

Por quê: Esta categoria está particularmente complicada. Por um lado, Adoráveis Mulheres é baseado numa história clássica, já adaptada várias outras vezes e bem lembrada pelo imaginário norte-americano, além de ter sido dirigido por uma cineasta que muitos apontaram como esnobada na categoria de Melhor Direção (Greta Gerwig) e que, justamente por isso, poderia ser recompensada com o prêmio de Melhor Roteiro; por outro, Jojo Rabbit venceu o BAFTA e o WGA. Além disso, o filme não tem muitas chances em praticamente nenhuma outra categoria, sendo a única oportunidade real da Academia de premiar o longa de Taika Waititi.

Qual seria meu voto: O Irlandês.

MELHOR FILME INTERNACIONAL

Vai ganhar: Parasita.

Por quê: Ué, vocês têm alguma dúvida?

Qual seria meu voto: Parasita, ora!

MELHOR ANIMAÇÃO

Vai ganhar: Toy Story 4 (mas não se espantem se Klaus surpreender).

Por quê: A princípio, o simples fato de ter sido distribuído pela Disney já garantiria a vitória de Toy Story 4 (ter arrecadado caminhões de dinheiro e ter sido bem recebido pelo público e pela Crítica são outros fatores que também ajudam, é claro). No entanto, na última edição do Annie Awards (principal prêmio-termômetro desta categoria), o principal vencedor foi – para a surpresa de todos – Klaus. Então… não sei. Vou apostar em Toy Story 4 apenas por saber que a Academia tem uma fixação especial pela Pixar e por sua dona, a Disney.

Qual seria meu voto: Perdi Meu Corpo.

MELHOR DOCUMENTÁRIO

Vai ganhar: Indústria Americana.

Por quê: Além de ter sido premiado pelo DGA, é também o único dos cinco indicados que se passa nos Estados Unidos e que discute uma situação local de lá. Se somarmos isto ao fato de sua produtora pertencer a ninguém menos que Barack e Michelle Obama, acho que isto o favorece de modo geral. (Mas não se espantem se For Sama ganhar – afinal, trata de um tema pesadíssimo e foi vitorioso em vários prêmios precursores, como o BAFTA.)

Qual seria meu voto: Não acho Democracia em Vertigem um grande filme, mas a oportunidade de ver o Brasil ganhar um Oscar e os bolsolavistas passarem o resto da vida indignados com isso me fariam conceder o voto ao trabalho de Petra Costa.

MELHOR CURTA-METRAGEM

Vai ganhar: Brotherhood.

Por quê: Honestamente, porque é o nome que mais ouvi falar por aí.

Qual seria meu voto: The Neighbors’ Window.

MELHOR CURTA-METRAGEM ANIMADO

Vai ganhar: Hair Love.

Por quê: O curta – bem bonitinho, aliás – é um exemplo bacana de diversidade e representa as características de sua protagonista com orgulho. Acho que a Academia encara uma postura destas com bons olhos.

Qual seria meu voto: Jogaria uma moeda para cima e decidiria entre Kitbull (que é fofo demais) e Mémorable (que emprega sua inventividade plástica de forma narrativamente linda, dramaticamente impactante e esteticamente ambiciosa).

MELHOR CURTA-METRAGEM DOCUMENTÁRIO

Vai ganhar: Learning to Skateboard In a Warzone (If You’re A Girl)

Por quê: É uma obra que mostra uma faceta diferente de um contexto geopolítico dramático. Em vez de se concentrar no modo injusto e limitante com que o Afeganistão trata suas cidadãs mulheres, o curta prefere mostrar como estas – em especial, as pequenas meninas – aprenderam a encontrar no skate uma forma de escapar um pouco desta realidade cruel. Para variar, já ganhou o BAFTA e é provavelmente o mais comentado dos indicados a esta categoria.

Qual seria meu voto: St. Louis Superman.

MELHOR FOTOGRAFIA

Vai ganhar: 1917.

Por quê: Venceu o prêmio de seu sindicato (o ASC), todo mundo ama Roger Deakins (que já ganhou um Oscar há poucos anos) e se trata de um filme que é, por natureza, um desafio técnico (ora, um “plano-sequência” – simulado! – de duas horas, caramba!).

Qual seria meu voto: O Farol.

MELHOR MONTAGEM

Vai ganhar: Parasita.

Por quê: Aqui, a disputa está entre Parasita e Jojo Rabbit (com Ford vs Ferrari correndo por trás – com o perdão do trocadilho), já que ambos foram os principais ganhadores do prêmio do sindicato dos montadores (ACE). Como não vi nada demais na montagem de Jojo Rabbit, vou apostar na de Parasita.

Qual seria meu voto: Parasita.

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO

Vai ganhar: Era uma Vez… em Hollywood.

Por quê: Já venceu o prêmio de seu sindicato (ADG) e é um filme que reconstrói – muito bem – a Hollywood dos anos 1960. Não acho que a Academia vá resistir a isso.

Qual seria meu voto: Parasita.

MELHOR FIGURINO

Vai ganhar: Adoráveis Mulheres.

Por quê: É um filme de época.

Qual seria meu voto: Era uma Vez… em Hollywood.

MELHOR MAQUIAGEM E PENTEADO

Vai ganhar: O Escândalo.

Por quê: O filme já foi premiado pelo seu sindicato. E sua maquiagem é mesmo impressionante.

Qual seria meu voto: O Escândalo (sim, mesmo não gostando do filme).

MELHORES EFEITOS VISUAIS

Vai ganhar: O Rei Leão.

Por quê: O papinho de que se trata de um live-action em vez de uma animação infelizmente colou para muita gente. Dito isso, o que os animadores criaram aqui foi realmente notável.

Qual seria meu voto: O Irlandês.

MELHOR MIXAGEM DE SOM

Vai ganhar: 1917.

Por quê: Nesta categoria, sempre é bom apostar no filme mais barulhento. E, como 1917 é um longa de guerra, por que não confiar nele, né?

Qual seria meu voto: Ad Astra.

MELHOR EDIÇÃO DE SOM

Vai ganhar: Ford vs Ferrari.

Por quê: É um filme de corrida, que depende muito do som e que demonstra uma atenção admirável aos efeitos sonoros que compõem a mística do universo automobilístico (os sons dos pneus, os roncos dos motores, as pancadas na lataria, etc).

Qual seria meu voto: 1917.

MELHOR TRILHA SONORA

Vai ganhar: Coringa.

Por quê: Ganhou praticamente todos os prêmios precursores.

Qual seria meu voto: Coringa.

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

Vai ganhar: “I’m Gonna Love Me Again”, Rocketman.

Por quê: Bom… é Elton John, né?

Qual seria meu voto:“I’m Gonna Love Me Again”, Rocketman.