Rivais (1)

Título Original

Challengers

Lançamento

25 de abril de 2024

Direção

Luca Guadagnino

Roteiro

Justin Kuritzkes

Elenco

Zendaya, Josh O’Connor, Mike Faist, Darnell Appling, AJ Lister, Nada Despotovich, Naheem Garcia, Hailey Gates e Jake Jensen

Duração

131 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Luca Guadagnino, Zendaya, Rachel O’Connor e Amy Pascal

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

Um campeão de tênis do Grand Slam se vê do outro lado da rede do outrora promissor e agora esgotado Patrick, seu ex-melhor amigo e ex-namorado de sua esposa.

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Rivais | Crítica

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Rivais é uma das experiências sensoriais mais intensas e excitantes que o Cinema revelou até agora em 2024 – e quando digo “excitantes”, entendam como quiserem. Dotado de uma energia flamejante que se mantém do início ao fim e se espelha nos três personagens que ancoram a narrativa, o novo trabalho do italiano Luca Guadagnino é não só uma grata surpresa, mas um alento em tempos em que Hollywood parece cada dia mais conservadora em sua maneira de abordar o sexo, o flerte e o desejo. Assim, em vez de esterilizar seus protagonistas como se os próprios conceitos de “prazer” e “libido” não existissem para eles, Guadagnino vai na contramão de seus contemporâneos norte-americanos e cria um longa que transborda tesão e que desperta sentimentos, digamos, flamejantes.

A propósito: Rivais é um filme sobre tênis.

Escrito por Justin Kuritzkes, o roteiro se divide em dois períodos distintos: no presente, acompanhamos uma partida de tênis entre Patrick e Art, ao passo que a esposa do segundo, Tashi, observa a disputa da plateia; já no passado, descobrimos aos poucos todo o desenrolar de um ardente triângulo amoroso que envolveu mágoas, frustrações e egos feridos, criando uma competitividade tóxica que atinge o ápice na partida que ocorre no presente – e, portanto, o título do projeto não se refere apenas a “rivais” de esporte, já que toda a dinâmica entre os tenistas ao longo dos anos os induz a se esforçarem e se destruírem apenas para se provarem.

Aliás, o primeiro aspecto que chama atenção em Rivais é sua estrutura narrativa, que é construída com inteligência por Guadagnino, Kuritzkes e pelo montador Marco Costa a fim de trazer graça, intensidade e, sim, sensualidade a um esporte corriqueiramente taxado de “chato”. Saltando cuidadosamente entre presente e passado, o longa acaba refletindo, com isso, a própria dinâmica de uma partida de tênis, com a cronologia da trama indo literalmente de um lado a outro, de lá para cá – e, à medida que as tacadas se deslocam e o “jogo” (leia-se: o filme) vai se aproximando do placar final, cada novo lance é desferido com ainda mais energia, já que as tensões vão se acumulando mais e mais. Mas não é só: ao iniciar a história no meio da partida e aos poucos descortinar as circunstâncias (de anos) que nela culminaram, a narrativa permite que o espectador comece encarando a disputa de modo totalmente impessoal e, a cada salto ao passado, descubra nuances novas que mudam/complementam sua percepção sobre o que ocorre no agora, aumentando progressivamente o envolvimento com aquele jogo à medida que entende as intrigas por trás.

No entanto, o que mais impressiona em Rivais é o tesão (sim, esta é a palavra certa) de Luca Guadagnino ao criar uma atmosfera constantemente provocativa mesmo sem lidar diretamente com o sexo em si – e, do início ao fim, a narrativa é pautada por uma tensão erótica que vem dos gestos mais minimalistas, pega fogo até escalonar e, sempre que parece prestes a chegar num clímax, é subitamente cessada, já que a intenção do filme é justamente provocar e testar os limites dele, de seus personagens e, sim, do espectador. Além disso, as escolhas estilísticas do diretor não poderiam ser mais eficazes ao tornarem a obra esteticamente sexy, tentadora, não hesitando em usar ao máximo possível câmeras lentas que flagram os jogadores a partir de ângulos sempre inesperados (como contra-zenitais que os convertem em figuras mitológicas, icônicas), planos subjetivos da bola de tênis (que mostram o ponto de vista desta ao ser raqueteada de um canto a outro) e a trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross, que mergulha na música eletrônica e já nasce pronta para tocar em raves daqui para frente.

Reafirmando a versatilidade de Guadagnino ao criar projetos que, mesmo convergindo aqui e ali, não poderiam ser mais distintos uns dos outros (como comprovam o inesquecível Me Chame pelo Seu Nome e a ótima refilmagem de Suspiria), Rivais é elevado por três performances sólidas que funcionam por trazer humanidade ao triângulo amoroso: se Josh O’Connor e Mike Faist são hábeis ao ilustrar a imaturidade de Patrick e Art, posicionando-os como indivíduos incrivelmente manipuláveis um contra o outro justamente por serem tão frágeis, Zendaya transforma Tashi numa figura que devora cada ambiente que atravessa com a ferocidade necessária para dominá-los (ao vencer uma partida de tênis, sua forma de celebrar é rugindo como uma fera) e que exala uma personalidade intrigante a ponto de envolver os demais numa aura de mistério.

Em tempos em que o próprio público parece estar cedendo a um discurso cada dia mais conservador (a ponto de estimular plataformas de streaming a cogitarem o absurdo de criar um “botão para pular cenas de sexo” em filmes), Rivais acaba sendo um bem-vindo respiro por lembrar que o espectador pode ser levado a um estado de êxtase sem culpa. E só por demonstrar tamanha inteligência ao articular suas intensas sensações, o longa já merece atenção o bastante para se firmar, no mínimo, como um dos grandes destaques do ano.

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

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