Adoráveis Mulheres

Título Original

Little Women

Lançamento

9 de janeiro de 2020

Direção

Greta Gerwig

Roteiro

Greta Gerwig

Elenco

Saoirse Ronan, Emma Watson, Florence Pugh, Eliza Scanlen, Laura Dern, Timothée Chalamet, Bob Odenkirk, Tracy Letts, James Norton, Louis Garrel, Chris Cooper, Jayne Houdyshell, Abby Quinn e Meryl Streep

Duração

135 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Amy Pascal, Denise Di Novi e Robin Swicord

Distribuidor

Sony Pictures

Sinopse

As irmãs Jo (Saoirse Ronan), Beth (Eliza Scanlen), Meg (Emma Watson) e Amy (Florence Pugh) amadurecem na virada da adolescência para a vida adulta enquanto os Estados Unidos atravessam a Guerra Civil. Com personalidades completamente diferentes, elas enfrentam os desafios de crescer unidas pelo amor que nutrem umas pelas outras.

Publicidade

Adoráveis Mulheres | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

Primeiro trabalho de Greta Gerwig como diretora após sua bem-sucedida estreia na função com Lady Bird (um dos maiores concorrentes da penúltima temporada de premiações), Adoráveis Mulheres é uma obra que se propõe a discutir assuntos que não poderiam ser mais importantes e condizentes com a atualidade, mas que se prende a uma abordagem estilística tão ultrapassada que acaba diluindo o impacto de sua própria argumentação. E, mesmo fazendo um bom trabalho ao contrapôr a realidade das protagonistas à das mulheres de hoje em dia (demonstrando como a Sociedade ainda tem muito a evoluir mesmo após 200 anos de amadurecimento), a construção do filme como um todo acaba soando redundante e engessada em vários momentos.

Baseado no romance em duas partes que Louisa May Alcott publicou em 1868 e 1869 (e que já havia sido adaptado para o Cinema nada menos que sete vezes), Adoráveis Mulheres se passa na Nova Inglaterra em meados do século 19 e se concentra em quatro irmãs: Jo, Beth, Meg e Amy. Nutrindo carinho e afeto umas pelas outras, as garotas são donas de personalidades e de objetivos diferentes entre si: Jo, por exemplo, quer se tornar uma escritora bem-sucedida, ao passo que Meg pensa frequentemente em se casar e Amy nem sempre se sente à vontade com a ideia de um matrimônio. Enquanto correm atrás de suas ambições individuais, as quatro irmãs acabam sendo sufocadas pelo sexismo de uma época na qual as mulheres em geral eram vistas somente como donas de casa e como protegidas de seus maridos trabalhadores – o que complica, em especial, o sonho de Jo de ganhar espaço em meio aos grandes escritores daquele período.

E é aí que Adoráveis Mulheres começa a ganhar pontos, já que Greta Gerwig naturalmente entende, conhece e sente na pele as consequências do machismo que, embora combatido há tantas décadas, permanece institucionalizado na Sociedade como um todo. Assim, Gerwig faz questão de retratar como a disparidade de oportunidade entre mulheres e homens se faz presente na vida das protagonistas, obrigando as representantes do sexo feminino a se esforçarem infinitas vezes mais para obterem um reconhecimento comparável ao de seus colegas masculinos – e isto complica, em especial, o sonho de Jo de ganhar espaço em meio aos grandes escritores do século 21, já que o editor responsável por publicar seu livro obviamente a encara como uma autora bem menos promissora do ponto de vista comercial.

Boa parte da força do projeto, claro, vem da eficiente dinâmica entre as protagonistas, que ilustra a intimidade delas de maneira sensível, mas verossímil (Gerwig já provou sua habilidade neste sentido não apenas em Lady Bird, mas também no eficiente Frances Ha, que roteirizou e estrelou sob a direção de Noah Baumbach). Aliás, os melhores momentos de Adoráveis Mulheres sem dúvida são aqueles que se concentram nas conversas mais corriqueiras entre as quatro garotas, desde as brincadeirinhas rápidas feitas durante um café da manhã até os comentários mais intimistas sobre os objetivos de cada uma delas. Neste aspecto, embora nem todas as atrizes consigam se destacar na mesma medida, ao menos Saoirse Ronan consegue trazer determinação e dimensão dramática a Jo, ao passo que Florence Pugh (brilhante em Midsommar) estabelece Amy como a mais imprevisível e intensa das quatro irmãs. Infelizmente, se Laura Dern aproveita o pouco desenvolvimento que sua personagem tem para posicioná-la como a bússola moral das protagonistas, Meryl Streep surge em duas cenas ligeiras que não levam a lugar algum.

Como se não bastasse, o roteiro de Greta Gerwig se apresenta frágil e esquemático: composto, na maior parte do tempo, por diálogos que doem nos ouvidos e que tentam descrever os sentimentos das personagens da maneira mais expositiva e artificial possível, Adoráveis Mulheres se mostra conveniente ao desenvolver os arcos de cada uma das quatro irmãs (quando a história determina que uma delas precisa urgentemente de um par romântico para que sua jornada individual prossiga, por exemplo, este é prontamente enfiado à força de última hora na narrativa). Além disso, a insistência do filme em criar vários conflitinhos que se resolvem em pouquíssimos minutos começa a incomodar depois de um tempo, pois acaba diluindo terrivelmente o impacto dramático que todos estes conflitos deveriam causar (afinal, de que adianta se importar com uma briga entre duas irmãs, por exemplo, se estas farão as pazes na cena seguinte?).

Dirigido por Gerwig sem nenhum traço de sutileza (o que encontra ecos, em particular, na trilha sonora de Alexandre Desplat, que, a exemplo do roteiro, faz questão de definir o tom de todas as cenas da forma mais óbvia possível), Adoráveis Mulheres ainda ensaia uma estrutura não linear que, além de não acrescentar nada à narrativa como um todo, não apresenta nenhuma uniformidade em sua feitura (aqui, os saltos entre presente e passado tornam-se mais frequentes; ali, o filme parece se esquecer do presente durante uma hora inteira). Ainda assim, Greta Gerwig continua uma cineasta que merece ser acompanhada de perto – só resta torcer, no entanto, para que os excessos cometidos aqui não se repitam em projetos futuros.

Esta crítica foi escrita como parte da cobertura do Festival do Rio 2019.

Mais para explorar

Gladiador II | Crítica

Mesmo contado com momentos divertidos e ideias interessantes aqui e ali, estas quase sempre terminam sobrecarregadas pelo tanto de elementos simplesmente recauchutados do original – mas sem jamais atingirem a mesma força.

Wicked | Crítica

Me surpreendeu ao revelar detalhes sobre o passado das personagens de O Mágico de Oz que eu sinceramente não esperava que valessem a pena descobrir, enriquecendo a obra original em vez de enfraquecê-la.

Ainda Estou Aqui | Crítica

Machuca como uma ferida que se abriu de repente, sem sabermos exatamente de onde veio ou o que a provocou, e cujo sofrimento continua a se prolongar por décadas sem jamais cicatrizar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *