Guerra Infinita

Título Original

Avengers: Infinity War

Lançamento

26 de abril de 2019

Direção

Joe Russo, Anthony Russo

Roteiro

Christopher Markus, Stephen McFeely

Elenco

Josh Brolin, Robert Downey Jr., Chris Evans, Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Scarlett Johansson, Don Cheadle, Karen Gillan, Zoe Saldana, Chadwick Boseman, Tom Holland, Elizabeth Olsen, Anthony Mackie, Gwyneth Paltrow, Sebastian Stan, Tom Hiddleston, Danai Gurira, Benedict Cumberbatch, Letitia Wright, Bradley Cooper

Duração

149 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Marvel Studios

Distribuidor

Disney

Sinopse

Uma jornada cinematográfica sem precedentes produzida por dez anos através todo o Universo Cinematográfico da Marvel, Vingadores: Guerra Infinita traz para as telas a batalha definitiva e mais mortal de todos os tempos. Os Vingadores e seus super-heróis aliados precisam estar dispostos a sacrificar tudo em uma tentativa de derrotar o poder de Thanos antes que sua onda de devastação e ruína coloque um fim no universo.

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Vingadores: Guerra Infinita | Crítica

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Basta ver a quantidade de nomes listados no elenco da ficha técnica ao lado para pressupor que Vingadores: Guerra Infinita é, ao menos, uma produção grandiosa. E não poderia deixar de ser: se os filmes anteriores no máximo se encarregavam de unir entre seis e doze heróis de franquias diferentes, este leva o desafio a um patamar ainda mais épico ao carregar o peso de ser a culminância de um projeto que começou há dez anos, quando o primeiro Homem de Ferro sugeriu que um universo cinematográfico ramificado se formaria nos próximos anos com base nos personagens criados pela Marvel. De lá para cá, uma penca de outros longas surgiram (já até perdi a conta) e rostos até então desconhecidos tornaram-se populares da noite para o dia – e o fato de tudo isso convergir agora é o bastante para afirmar que, pelo menos em termos de escala, Guerra Infinita é o mais ambicioso de todos os filmes do estúdio até hoje.

Escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely (Capitão América 1, 2, Guerra Civil e Thor 2), o roteiro desta vez acompanha o alienígena Thanos, um megalomaníaco que vive uma busca pelo universo atrás de seis joias cósmicas que, quando encaixadas na Manopla do Infinito, concederão ao extraterrestre um poder devastador – poder este que Thanos pretende usar para dizimar, num estalar de dedos, metade da vida (em suas inúmeras formas) presente em todas as galáxias. Assim, os Vingadores não só terão que voltar a se unir, como terão que buscar aliança com novos super-heróis que possam ajudá-los a enfrentar o vilão mais perigoso que já conheceram. Em outras palavras: se Os Vingadores e Era de Ultron tinham que interligar Homem de FerroHulkThor e Capitão América (uma missão que, convenhamos, já era desafiadora), Guerra Infinita não apenas lida com estas mesmas franquias como ainda adiciona Guardiões da GaláxiaDoutor EstranhoHomem-Aranha e Pantera Negra na equação.

Que o filme seja tão bem-sucedido ao combinar tantos componentes distintos é não apenas um alívio, mas também uma proeza.

Assistindo a Guerra Infinita, inclusive, fica fácil entender por que o projeto deu tão certo: ao longo dos últimos dez anos, a Marvel foi extremamente cuidadosa ao planejar a construção de seu universo, introduzindo seus elementos com paciência e pontualidade em vez de simplesmente atirá-los de forma apressada (algo que faltou, sem dúvida alguma, à sua rival DC na hora de construir seu próprio “universo expandido”). Dito isso, o roteiro de Markus e McFeely acerta especialmente ao dividir os muitos personagens em três subgrupos (Thor e parte dos Guardiões; Doutor Estranho, Homem de Ferro, Homem-Aranha e outra parte dos Guardiões; Capitão América, Viúva Negra, Pantera Negra, Bruce Banner e etc), jogando-os em tramas paralelas que, aos seus respectivos modos, se mostram adequadas às características específicas de cada um e permitem que o filme se concentre em todos com mais facilidade.

Montado de forma notavelmente coesa e organizada por Jeffrey Ford e Matthew Schmidt, que executam muitíssimo bem a tarefa de saltar entre vários personagens e acontecimentos simultâneos (e gosto particularmente da alternância entre as duas batalhas que ocupam o terceiro ato, que potencializa, com isso, a tensão presente em ambas), Guerra Infinita permite que todos os heróis ganhem espaço – ou, pelo menos, algum espaço: sim, há personagens/subgrupos que se destacam mais ou menos que outros (o Capitão América e a Viúva Negra, por exemplo, têm tempo de tela reduzido, como se fossem “reservados” para o próximo filme), mas, se levarmos em conta que já houveram diversos outros capítulos encarregados de desenvolvê-los com mais atenção, passamos a aceitar mais facilmente o modo como são retratados aqui – e, de um modo ou de outro, a função que a maioria dos personagens desempenha na trama é estabelecida com clareza.

Mas o que realmente faz Guerra Infinita funcionar como crossover é a eficácia dos irmãos Anthony e Joe Russo, que constroem o tom da narrativa com uma maleabilidade digna de nota: hábeis ao criarem a esperada interseção de todas as franquias da Marvel, os diretores conseguem balancear os estilos característicos de cada um dos personagens sem trair as personalidades que estes apresentaram em seus filmes-solo. Assim, quando o Capitão América ou o Pantera Negra estão em cena, ambos imbuem a seriedade que nos acostumamos a esperar de suas posturas, ao passo que os Guardiões da Galáxia carregam a irreverência responsável por popularizá-los e o Homem-Aranha preserva sua jovialidade habitual (e sua última cena, por sinal, revela uma vulnerabilidade emocional tocante de sua parte). Além disso, é curioso – e natural – que Tony Stark não demore a se associar ao Doutor Estranho, já que os dois dividem várias semelhanças em seus comportamentos.

Não que o filme em si não tropece ocasionalmente ao buscar o tom certo para a história: há, por exemplo, certas sequências bem humoradas que, por virem logo após uma passagem mais dramática, acabam cortando abruptamente o impacto ainda não digerido pelo espectador. Neste sentido, os Guardiões da Galáxia acabam representando um pequeno problema, já que, mesmo desempenhando funções narrativas claras, eles insistem em esticar algumas piadas além do necessário (o trecho que traz Drax exibindo sua capacidade de “ficar invisível” é um exemplo disso) – e não vou mentir: em dado momento, senti que talvez eu estivesse começando a me cansar dos Guardiões, que desde o Vol. 2 estão exagerando na comédia que sempre abraçaram. Por outro lado, é interessante notar como os irmãos Russo vão aos poucos reduzindo o bom humor e transformando o filme numa experiência progressivamente melancólica, sendo também louvável que Gamora tenha ganhado aqui uma complexidade que lhe faltava até então (e ver o desgosto que sente por ser a filha de Thanos é um dos elementos dramáticos mais eficientes do longa).

O que nos traz, claro, àquele que certamente é o vilão mais aguardado de todos os filmes da Marvel: vivido por Josh Brolin a partir não só de sua voz, mas de uma performance capture que preserva a importância e a expressividade de sua atuação, Thanos faz jus à expectativa gerada desde a cena pós-créditos de Os Vingadores. À primeira vista, suas intenções podem até soar convencionais e batidas, já que o objetivo principal do extraterrestre é… dizimar metade da vida existente no universo; em contrapartida, a maneira como o roteiro desenvolve as ambições do antagonista tende a torná-lo ideologicamente ameaçador, apresentando métodos ditatoriais e enxergando a extinção de incontáveis inocentes como um modo de “equilibrar” (e salvar) a realidade. Mais que uma criatura bruta e poderosa, Thanos é um indivíduo cuja visão de mundo terminou por cegá-lo – e se sua superforça já é suficientemente intimidadora, ainda mais assustadora é a impressão de que nada pode fazê-lo mudar de ideia (o que me leva a admirar mais a composição de Brolin, que consolida o vilão como um perigo genuinamente implacável e enlouquecido). Para completar, o filme surpreende ao conferir uma surpreendente – e trágica – dimensão dramática a Thanos, que, naquela que talvez seja a melhor cena do longa, é levado às lágrimas e toma uma atitude dolorosa em prol da megalomania.

Eficiente na concepção de suas sequências de ação, que fazem jus àquelas que os irmãos Russo conceberam em O Soldado Invernal e Guerra Civil, Guerra Infinita faz questão de sempre situar claramente o espectador em meio aos vários conflitos grandiosos que retrata, enfocando-os através de planos gerais, abertos ou conjuntos (nos permitindo enxergar, de forma inteligível, o que ocorre em cena, qual a dimensão das batalhas e quais as posições dos personagens em relação uns aos outros) e de uma montagem que, mesmo ágil e dinâmica, evita que os cortes se tornem rápidos/excessivos a ponto de atrapalharem nossa compreensão diante da ação – e, com isso, podemos sempre desfrutar de todos os detalhes presentes nas ótimas coreografias, que se mostram intensas já na cena que abre a projeção e que traz Thanos espancando o Hulk com uma brutalidade que funciona por deixar claro, logo de cara, o tamanho do perigo que será enfrentado pelos heróis nas duas horas e meia a seguir. E, por falar em “perigo”, é provável que este seja o primeiro capítulo de toda a franquia no qual senti que algo estava realmente em jogo ali – mérito, de novo, dos irmãos Russo, que conseguiram articular um sentimento de urgência raríssimo nestes filmes.

Infelizmente, o fato de ser uma experiência incompleta acaba gerando alguns problemas que Guerra Infinita nem sempre consegue contornar – afinal, é importante lembrar que esta é apenas a primeira metade de uma trama prevista para se concluir daqui a um ano, quando Vingadores 4 chegar aos cinemas (pensem em Matrix Reloaded, uma boa continuação que deixava em aberto uma série de perguntas intrigantes, mas que acabou enfraquecida, em retrospecto, pelo mau resultado de Matrix Revolutions). O exemplo mais claro disso encontra-se nos minutos finais da projeção, que, trazendo um acontecimento que deveria soar bombástico e que implica em consequências pesadas para a maioria dos personagens, não despertaram em mim o impacto esperado por dois motivos: 1) o hábito que os quadrinhos têm de matar e reviver seus super-heróis acaba reverberando aqui e 2) ainda falta um filme – que provavelmente reverterá aquilo que acontece no desfecho desta primeira parte. Assim, confesso não ter sentido (ou mesmo lamentado) muito as perdas registradas naquele desfecho, o que é uma pena.

Prejudicado também por algumas soluções fáceis que o roteiro inventa de vez em quando (como Bruce Banner descobriu a localização e, principalmente, como chegar à base dos Vingadores tão rápido?), Guerra Infinita não se preocupa com discussões tematicamente complexas ou com floreios estilísticos que quebrem convenções estéticas, mas reclamar disso seria besteira, já que, no fim das contas, o que o filme realmente quer é entreter – e, nisso, é muito bem-sucedido. Que ainda proponha uma abordagem tão ambiciosa para seu vilão e que o torne tão multifacetado é um bônus mais do que bem-vindo.

Agora, resta torcer para que, ao contrário das irmãs Wachowski, a Marvel e os irmãos Russo não desapontem com uma conclusão insatisfatória. Contanto que o próximo capítulo não se chame Avengers: Revolutions, já podemos esperar sossegados.

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