Pets – A Vida Secreta dos Bichos foi um fenômeno curioso: lançado em 2016 sem muitas expectativas, a animação surpreendeu nas bilheterias e se transformou num dos maiores sucessos daquele ano, não devendo nada a superproduções como Deadpool, Zootopia, Batman vs Superman, Capitão América: Guerra Civil, Mogli: O Menino Lobo e Rogue One. O filme em si, no entanto, nem era dos melhores: a qualidade técnica da animação não chegava aos pés do que a Pixar e a DreamWorks eram capazes de fazer; os personagens eram definidos somente pela fofura, revelando-se desinteressantes na maior parte do tempo; e o roteiro nada mais era do que uma colagem de situações avulsas que, a rigor, compunham uma trama frouxa e episódica, soando como uma versão bobinha de Toy Story que substituía brinquedos por animais de estimação.
Dito isso, o que posso dizer sobre Pets 2 é que ele faz jus ao primeiro – o que, convenhamos, não é um elogio. Novamente dirigido por Chris Renaud e escrito por Brian Lynch (os outros dois roteiristas do original, Ken Daurio e Cinco Paul, não voltaram… sei lá por quê), o longa começa poucos meses após o desfecho do anterior: desta vez, a vida dos cachorros Max e Duke passou por uma leve chacoalhada depois que a dona dos dois se casou e teve um bebê chamado Liam. Assim que a família toda resolve sair para passar uns dias numa fazenda, Max pede à poodle Gidget para tomar conta de um brinquedinho – e é claro que, por causa de algum descuido, o objeto acabará caindo em outro apartamento, levando a cadela a uma aventura particular na qual terá que fingir ser uma gata (pois é). Ah, e tem também o coelhinho Snowball, que vive brincando de ser um super-herói e que, depois de ser chamado para tirar um tigre de sua jaula, terá que lidar com a fúria do dono de um circo.
Como podem perceber, o roteiro de Pets 2 está longe de ser dos mais coesos: não demonstrando nenhum tipo de preocupação com a estrutura da narrativa, Brian Lynch mostra-se incapaz de construir uma história com arcos bem definidos e com situações que se conectem de maneira orgânica, transformando o que deveria ser a trama em um monte de ações paralelas que se atropelam à medida que o tempo vai passando. Em outras palavras: é como se estivéssemos vendo não um longa-metragem, mas quatro ou cinco episódios de uma série de TV ao mesmo tempo – e a montagem de Tiffany Hillkurtz prejudica ainda mais o ritmo da história, saltando de uma subtrama para a outra quando estávamos finalmente começando a nos interessar pela primeira. Aliás, a direção de Chris Renaud faz o filme soar ainda mais televisivo, já que a própria decupagem das cenas limita-se a planos/contraplanos, quadros estáticos e pouquíssimos movimentos de câmera.
De um ponto de vista puramente técnico, inclusive, Pets 2 não traz nada que o torne memorável ou mesmo destacável em relação às outras animações lançadas nos últimos anos (nem vou compará-lo ao recente Toy Story 4, pois seria covardia): sim, os animais se movem de maneira fluída, porém seus corpos contam com detalhes minimalistas e suas texturas peludas soam… “duras” demais, ao passo que os cenários são chapados e parecem ter sido modelados rapidamente. Em outras palavras: trata-se do mesmo padrão de qualidade que a Illumination já havia apresentado em Meu Malvado Favorito e que não chega aos pés do que outros estúdios de animação são capazes de proporcionar. Como se não bastasse, as várias situações que o filme tenta criar ao mesmo tempo revelam-se tolas, repetitivas e nada imaginativas, construindo gags previsíveis (quando um coelhinho faz uma cara que parece enojada diante do vestido que lhe foi imposto, é claro que imediatamente “surpreenderá” o espectador com um “Eu adorei!“) e arcos batidos (a interação entre Max e o labrador Galo, por exemplo, é apressada demais para funcionar).
Não que Pets 2 seja um desastre completo: a cada dez momentos que tentam provocar o riso, há dois ou três que se saem razoavelmente bem, como aquele em que Gidget é conclamada “rainha dos gatos” e aquele outro em que os gatos coagem uma velhinha a dirigir um carro. Além disso, a Nova York retratada aqui é uma cidade multicolorida, cartunesca e disforme em suas proporções, distanciando-se consideravelmente da imagem cinzenta e poluída que costumamos ter da megalópole do mundo real – e a falta de comprometimento com a realidade ajuda os animadores a exercitarem sua imaginação e a criarem ambientes visualmente inventivos, o que é louvável. Na maior parte do tempo, porém, Pets 2 é uma obra esquecível, esteticamente irrelevante e narrativamente desestruturada.
Nos primeiros minutos da projeção, o filme surpreende ao criar um momento fofo e delicado no qual Max e Duke recebem a notícia de que Liam está por vir, reagem com dificuldade e aos poucos começam a se apegar à criança. Se o roteiro tivesse se concentrado mais nesta relação entre os cachorros e o menino, provavelmente o resultado teria sido bem mais satisfatório. Em vez disso, preferiu se livrar rapidamente da ideia e se concentrar em um monte de situações chatas, aleatórias e mal amarradas. Não foi uma boa escolha.