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Título Original

Deadpool 2

Lançamento

17 de maio de 2018

Direção

David Leitch

Roteiro

Ryan Reynolds, Paul Wernick e Rhett Rheese

Elenco

Ryan Reynolds, Julian Dennison, Josh Brolin, Morena Baccarin, Zazie Beetz, T.J. Miller, Karan Soni, Brianna Hildebrand, Leslie Uggams, Jack Kesy e a voz de Stefan Kapičić

Duração

119 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Ryan Reynolds, Simon Kinberg e Lauren Shuler Donner

Distribuidor

Fox

Sinopse

Quando o super soldado Cable (Josh Brolin) chega em uma missão para assassinar o jovem mutante Russel (Julian Dennison), o mercenário Deadpool (Ryan Reynolds) precisa aprender o que é ser herói de verdade para salvá-lo. Para isso, ele recruta seu velho amigo Colossus e forma o novo grupo X-Force, sempre com o apoio do fiel escudeiro Dopinder (Karan Soni).

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Deadpool 2 | Crítica

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Há um motivo para que O Cavaleiro das TrevasHomem-Aranha 2X-Men 2 e Capitão América 2 sejam melhores que seus antecessores: se os primeiros filmes sentem a necessidade de contar a origem daqueles super-heróis e explicar pacientemente as regras de seus respectivos universos, as continuações já podem mergulhar de cabeça numa trama mais objetiva e que aproveite mais do que os personagens têm a oferecer. Pois Deadpool 2 não foge à regra: ao contrário de Guardiões da Galáxia Vol. 2 e Kingsman 2: O Círculo Dourado (que basicamente repetiam a fórmula bem-sucedida dos originais e exageravam na dose dos ingredientes), a sequência do longa que revitalizou a carreira de Ryan Reynolds consegue aprimorar o que tinha dado certo antes e até mesmo corrigir alguns pequenos probleminhas.

Escrito pelo próprio Reynolds e pelos mesmos Paul Wernick e Rhett Reese do primeiro, o roteiro de Deadpool 2 pode até ser tido como uma bagunça, já que é meio difícil identificar os três atos deste filme, a trama só começa a acontecer depois de uns 20 minutos e alguns personagens só vêm a ser introduzidos na metade da projeção. Por outro lado, se consideramos que a intenção da obra é concentrar-se na psique de Wade Wilson, a desordem narrativa passa a fazer sentido, pois segue de perto a linha de raciocínio do protagonista. Além disso, o próprio Deadpool – que sabe que está num filme e quebra constantemente a “quarta parede” – aponta e ironiza as falhas pontuais do roteiro (o que talvez seja uma solução cínica, mas que de qualquer jeito acaba funcionando).

Contando com um ritmo bem mais uniforme que o do anterior, cuja estrutura não linear transformava os frequentes flashbacks em interrupções para a história narrada no presente, Deadpool 2 também se sai melhor em seu senso de humor, que mostra-se bem mais certeiro e afinado desta vez – e se boa parte das piadas segue a mesma fonte de conteúdo (escatologia, obscenidades, referências à cultura pop), algo que certamente beneficia esta continuação é o fato de que se passaram dois anos desde o sucesso do original. Batman vs Superman, Stranger Things e Logan são apenas três das obras feitas nesse meio-tempo que são citadas aqui (algumas piadinhas, inclusive, são específicas demais: aquela envolvendo A Paixão de Cristo, que permanece como a produção para adultos mais lucrativa do mercado doméstico dos Estados Unidos, só será captada por quem é louco por números de bilheterias).

Ainda na sequência de créditos iniciais, quando remete às aberturas de 007 – James Bond ao som da música “Ashes”, Deadpool 2 demonstra todo o seu apego pela cultura pop, mas isto não significa que o filme depende necessariamente de referências para provocar o riso, já que o desfecho do paraquedismo executado pela X-Force também é um dos melhores momentos do longa – isto é, até vir outra cena memorável onde Deadpool e outros três personagens enfim conseguem dialogar com Cable numa sala. De todo modo, quando o projeto resolve debochar de fracassos embaraçosos como X-Men Origens: Wolverine e Lanterna Verde, o resultado é sempre eficiente (até gostaria de comentar as cenas que surgem durante os créditos finais, mas prefiro não estragar a surpresa de ninguém).

Outro aspecto que merece destaque é a qualidade da ação, que melhorou significativamente em relação às lutas e perseguições dirigidas por Tim Miller no primeiro: provando-se como uma excelente adição à franquia, o cineasta David Leitch (John Wick Atômica) acerta ainda no prólogo, quando uma montagem acompanha as várias guerras travadas por Deadpool contra o crime organizado – e embora a violência seja bem mais gráfica desta vez, ela continua cartunesca e mantém, com isso, um descompromisso com a realidade que permite que o espectador aprecie aqueles corpos sendo mutilados ou baleados sem culpa alguma. Já a perseguição que ocorre nas ruas, com Deadpool e Dominó confrontando Cable, é conduzida com clareza e energia, soando divertida e organizada em termos de mise-en-scène. Para completar, a fotografia de Jonathan Sela (colaborador habitual de Leitch) confere à obra um charme estilístico que faltou ao primeiro filme, investindo em cores variadas e saturadas que se contrastam, por exemplo, na sequência ambientada numa prisão, onde o azul, o vermelho e o roxo se encontram com elegância.

Novamente encarnado com vitalidade e carisma por Ryan Reynolds, que de fato encontrou o papel de sua vida nesta franquia, Deadpool retorna ainda mais afiado e engraçado desta vez – mas o mais curioso, no entanto, é perceber como o longa consegue encontrar nuances inesperadamente melancólicas no personagem. Aliás, outro mérito do roteiro e da direção encontra-se no equilíbrio inteligente que se estabelece entre o bom humor e alguns toques pontuais de seriedade: algumas passagens são surpreendentemente tocantes, mas mesmo estas vêm envolvidas numa espécie de jocosidade. Como resultado, Deadpool 2 torna-se admiravelmente sarcástico, como se falasse de forma sisuda, mas ainda tivesse uma leve vontade de rir do que está acontecendo. E se Zazie Beetz surge imponente e marcante sob a pele da sortuda Dominó, o Cable vivido por Josh Brolin (recém-saído de Guerra Infinita) se posiciona como o contraponto perfeito para o protagonista, exibindo uma virilidade intimidadora que vai de encontro com a irreverência jovial de Deadpool.

Mas nada me surpreendeu tanto em Deadpool 2 quanto seu modo respeitoso de encarar a diversidade: resgatando aquela ideia de que os mutantes refletem as minorias oprimidas pela sociedade do mundo real (algo aproveitado brilhantemente pela série X-Men), o longa entende que não há graça em simplesmente rir de negros, mulheres, gays, anões, gordos, asiáticos ou indianos, preferindo tomar a iniciativa de ridicularizar não os grupos oprimidos, mas a discriminação com que estes são enxergados. E caso reste alguma dúvida sobre a ética da obra, basta notar que o personagem que desencadeia todo o estresse enfrentado pelos heróis é um garoto acima do peso – algo que o filme jamais usa para depreciá-lo ou para propagar velhos preconceitos.

Servindo, portanto, como mais um indício de que não é necessário bater em quem já está caído para que uma comédia seja engraçada (ao contrário do que alguns humoristas de hoje gostam de apregoar), Deadpool 2 é uma ótima evolução para uma franquia já iniciada de forma promissora. Aliás, admito que, no passado, nutri certa antipatia pelo personagem, mas após ver o que Reynolds e Leitch aprontaram aqui, me convenci de que Deadpool realmente veio para ficar.

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