As Marvels

Título Original

The Marvels

Lançamento

9 de novembro de 2023

Direção

Nia DaCosta

Roteiro

Nia DaCosta, Megan McDonnell e Elissa Karasik

Elenco

Brie Larson, Teyonah Parris, Iman Vellani, Zawe Ashton, Samuel L. Jackson, Gary Lewis, Park Seo-joon, Zenobia Shroff, Mohan Kapur, Saagar Shaikh, Tessa Thompson e Hailee Steinfeld

Duração

105 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Kevin Feige

Distribuidor

Disney

Sinopse

O planeta natal da raça Kree entra em colapso ambiental após Carol Danvers, a Capitã Marvel (Larson) derrotar a Inteligência Suprema, uma inteligência artificial responsável por liderar os Kree na luta contra os Skrulls.

Publicidade

As Marvels | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

A esta altura do campeonato, o Marvel Cinematic Universe (ou apenas MCU) já se desdobrou em tantos filmes e séries que dependem uns dos outros para serem minimamente compreendidos que, para entender até mesmo uma historinha básica e simplória como a de As Marvels, é preciso ter feito praticamente um curso preparatório antes de assistir ao longa. Não é à toa que, durante toda a primeira metade da narrativa, me peguei constantemente quebrando a cabeça para lembrar/descobrir o que tinha ocorrido anteriormente, quais indivíduos pertenciam a quais raças alienígenas, se havia mais de uma realidade paralela envolvida ali (afinal, a ideia de multiverso veio para complicar ainda mais as coisas) e por aí vai, já que, não satisfeito em ser uma continuação de Capitã Marvel e de lidar com conceitos e personagens apresentados em mais de 30 filmes passados, este As Marvels ainda retoma elementos-chave de séries lançadas na Disney+, como Ms. Marvel e Invasão Secreta (que, admito, não vi).

Que as produções do MCU sempre se preocuparam muito mais em servir de mera propaganda para as seguintes do que em funcionar por conta própria, apresentando-se esquecíveis e descartáveis à medida que existiam apenas para gerar expectativa pelo próximo produto da fila, isso não é surpresa para ninguém (basta ver como muitos se acostumaram a conferir estas obras interessados não nos filmes como um todo, mas no que aconteceria… na cena pós-créditos – e só). Agora, porém, o problema é maior: as obras se fragilizam e se tornam intercambiáveis em função das outras que vêm depois, mas também das que vieram antes.

Dito isso, é importante ressaltar que, embora se revele uma bagunça incapaz de encontrar qualquer resquício de personalidade própria, As Marvels também não chega a ser um desastre como várias das produções que o estúdio andou lançando. Dirigido por Nia DaCosta (responsável pela refilmagem de A Lenda de Candyman), este 33º capítulo do MCU surpreende por se apresentar um pouco menos aborrecido e desinteressante visualmente do que a média de seus colegas de franquia, que vêm chafurdando em paletas cada vez mais lavadas, cinzentas e natimortas que carecem do entusiasmo que se espera de uma superprodução destas – e, neste sentido, a fotografia de Sean Bobbitt em As Marvels ao menos respira vida e intensidade visuais, fazendo jus à explosão de cores trazida pelos figurinos e pela direção de arte, em especial, na sequência em que as heroínas visitam um planeta cujos habitantes se comunicam apenas cantando e dançando como num musical da Disney (um momento que, por sinal, representa uma das tentativas de humor mais inspiradas e divertidas que me recordo de ter visto num projeto da Marvel em muito tempo). Além disso, aqui e ali Nia Da Costa surpreende com algumas escolhas estilísticas mais eficazes, como ao resumir o passado da jovem Kamala Khan através de uma breve animação que remete a uma HQ rabiscada num caderno e ao usar o velho recurso das telas divididas para mostrar as Marvels “entrando em ação” ao mesmo tempo.

Mas… é pouco, muito pouco – e, se somarmos a duração de todos os planos que mencionei há pouco, estes não devem resultar nem em um minuto de projeção; na maior parte do tempo, DaCosta e Bobbitt estão enfocando os diálogos e as ações através de planos abertos/conjuntos que pouco se alternam, pouco se movem e que estariam mais à vontade num telefilme do que numa superprodução para cinema. Assim, à medida que a narrativa avança, As Marvels aos poucos vai abrindo mão dos poucos lampejos de imaginação que lhe ocorrem até culminar num clímax que, para variar, se passa num ambiente escuro que ajuda a tornar o confronto final visualmente tedioso e confuso. Aliás, para um filme que gira em torno de três super-heroínas com diferentes poderes e que trocam de corpo à medida que os usam, as sequências de ação vistas aqui se revelam burocráticas e sem imaginação, explorando pouquíssimo o potencial da própria premissa, do cruzamento entre as habilidades específicas de suas personagens e das mudanças de cenários ao redor destas, resumindo-se basicamente às mesmas lutas/batalhas de naves pré-prontas que já vimos em trocentas obras do gênero. Para piorar, a montagem de Catrin Hedström e Evan Schiff é um caos absoluto, costurando a passagem do tempo e a alternância entre núcleos paralelos de forma tão atrapalhada que gera a sensação de que informações importantes ficaram pelo meio do caminho, como se o filme originalmente fosse bem mais longo e tivesse sido picotado de última hora para caber em ligeiros 105 minutos.

Já as intérpretes das três super-heroínas fazem o possível para elevar o projeto, saindo-se relativamente bem ao retratarem a dinâmica e os contrastes/complementos de suas respectivas personalidades – e é bacana ver que, embora presa a uma personagem que ocasionalmente soa aborrecida na tentativa de parecer “emocionalmente distante”, Brie Larson tem mais chances de explorar nuances novas da Capitã Marvel do que em todas as aparições anteriores da personagem (a mais notável é no tal “planeta musical” que citei anteriormente e que põe a atriz para cantar e dançar, criando um contraponto divertido à postura “durona” que aprendemos a esperar dela). E, se Teyonah Parris confere graça e bom humor a Monica Rambeau (mesmo sendo sabotada por alguns diálogos que doem nos ouvidos), a jovem Iman Vellani encarna a adolescente Kamala Khan como uma menina que tinha tudo para tornar-se irritante e inconveniente, mas que, graças ao cuidado da atriz, funciona surpreendentemente bem, ilustrando com eficácia a empolgação, a fofura e o medo da garota ao descobrir-se no meio de uma batalha intergaláctica (por outro lado, os momentos “engraçadinhos” em que ela tenta cunhar um nome super-heroico para Rambeau e para o trio em si enchem o saco em função da insistência).

É uma pena, contudo, que As Marvels seja prejudicado por uma vilã tão patética: surgindo sob o visual mais genérico possível (quantas vezes já não vimos um alienígena malvado vestindo roupão cinza/preto e carregando um cajado com martelo iluminado na ponta?) e fazendo caras/bocas que não dariam medo nem a um bebê recém-nascido, a kree Dar-Benn se converte numa figura ridícula em vez de ameaçadora – e, ainda que o roteiro tente estabelecer uma motivação razoável para suas ações (através de uma ou duas cenas rapidíssimas), não ajuda muito o fato de Zawe Ashton interpretá-la como uma figura de uma nota só, que se limita a gritar enquanto faz as mesmas caretas de sempre. E o que dizer do Nick Fury de Samuel L. Jackson, que soa tão bobalhão e inofensivo que torna-se impossível conciliá-lo ao imponente líder da SHIELD que era até outro dia?

De todo modo, ao menos As Marvels não é uma experiência torturante como EternosThor: Amor e Trovão ou O Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, que representavam o fundo do poço de um universo cinematográfico já saturado após 16 anos de estrada. Ainda assim, esta produção nunca deixa de ecoar todo o cansaço que acometeu o imenso maquinário do MCU – algo que é comprovado de uma vez por todas na cena que surge durante os créditos, quando o desespero para tentar gerar algum entusiasmo nos 45 do segundo tempo torna-se indisfarçável.

Mais para explorar

Wicked | Crítica

Me surpreendeu ao revelar detalhes sobre o passado das personagens de O Mágico de Oz que eu sinceramente não esperava que valessem a pena descobrir, enriquecendo a obra original em vez de enfraquecê-la.

Ainda Estou Aqui | Crítica

Machuca como uma ferida que se abriu de repente, sem sabermos exatamente de onde veio ou o que a provocou, e cujo sofrimento continua a se prolongar por décadas sem jamais cicatrizar.

Gladiador II | Crítica

Mesmo contado com momentos divertidos e ideias interessantes aqui e ali, estas quase sempre terminam sobrecarregadas pelo tanto de elementos simplesmente recauchutados do original – mas sem jamais atingirem a mesma força.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *