Capitã Marvel (4)

Título Original

Captain Marvel

Lançamento

7 de março de 2019

Direção

Anna Boden, Ryan Fleck

Roteiro

Anna Boden, Ryan Fleck, Genava Robertson-Dworet

Elenco

Brie Larson, Samuel L. Jackson, Ben Mendelsohn, Jude Law, Annette Bening, Lashana Lynch, Clark Gregg, Lee Pace, Djimon Hounsou, Gemma Chan

Duração

124 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Kevin Feige

Distribuidor

Disney

Sinopse

Carol Danvers (Brie Larson) é uma ex-agente da Força Aérea norte-americana, que, sem se lembrar de sua vida na Terra, é recrutada pelos Kree para fazer parte de seu exército de elite. Inimiga declarada dos Skrull, ela acaba voltando ao seu planeta de origem para impedir uma invasão dos metaformos, e assim vai acabar descobrindo a verdade sobre si, com a ajuda do agente Nick Fury (Samuel L. Jackson) e da gata Goose.

Publicidade

Capitã Marvel | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

Na virada do segundo para o terceiro ato de Capitã Marvel, há uma cena específica que resume bem o grande problema do filme: após passar a narrativa inteira sem conhecer a real dimensão de seus poderes, a protagonista finalmente consegue romper uma barreira imposta pelos vilões e se descobrir como uma das super-humanas mais fortes que já passaram pelo Universo Marvel. Na teoria, este deveria ser um momento catártico, daqueles que fariam o público vibrar e celebrar a conquista recém-obtida pela heroína – é uma pena, portanto, que a direção de Anna Boden e Ryan Fleck revele-se medíocre, simplória e distante demais para consolidar esta catarse, levando o espectador a se sentir indiferente e apático diante de uma sequência que deveria gerar empolgação. Se somarmos isto ao fato de que os filmes de super-heróis vêm se tornando cada vez mais frequentes sem se diferenciarem uns dos outros (com raras exceções), o resultado de Capitã Marvel soa ainda menos marcante.

Roteirizado por Boden, Fleck e Genava Robertson-Dworet a partir de um argumento escrito pelo mesmo trio e por outras duas pessoas (e tantas cabeças envolvidas num único roteiro nunca é bom sinal), o filme se passa na década de 1990 e acompanha a jornada de Carol Danvers, uma jovem militar da Força Aérea que, depois de entrar em contato com a tecnologia alienígena dos kree, acaba adquirindo superpoderes e sendo transportada para outro planeta, onde tem sua memória apagada. A partir daí, Danvers é treinada para integrar a força tarefa dos kree, que estão em guerra com a raça dos skrulls e vivem se enfrentando em tiroteios, ataques e emboscadas. Tudo começa a mudar, porém, quando Carol cai na Terra e encontra o jovem Nick Fury, com quem parte numa busca para descobrir o passado da garota – e, depois disso, a protagonista percebe que a guerra entre os kree e os skrulls é bem mais complexa do que imaginava, assumindo uma postura inesperada no meio do conflito.

Em outras palavras: trata-se de mais uma história de origem como já vimos em dezenas de outras produções da Marvel e da DC, com direito a clichês como o da protagonista desmemoriada, a perda de uma figura que a inspirava e, claro, o aliado que mais tarde assume o papel de vilão (não adianta reclamar de spoiler, pois a “reviravolta” em si é tão previsível que, sinceramente, nem me sinto à vontade para chamá-la de “reviravolta”). De qualquer forma, o roteiro exibe um esforço ao enfocar a jornada da Capitã Marvel – e a decisão de narrar sua origem sem seguir uma cronologia linear, mantendo-se num presente já estabelecido e ocasionalmente atirando alguns flashbacks, mostra-se eficaz ao fugir do formato que a maioria dos filmes de super-heróis costuma adotar (mesmo que, no processo, alguns detalhes importantes a respeito do passado de Danvers sejam abordados de maneira superficial, impedindo que sua trajetória soe crescente em sua “escalada”).

Aliás, é admirável que Brie Larson resista à mediocridade do roteiro e confira personalidade a uma super-heroína que, ao que tudo indica, se tornará uma das figuras centrais do Universo Marvel. Encarnando bem todos os conflitos internos da personagem-título, Larson é particularmente hábil ao retratar a Capitã Marvel como uma mulher forte, imponente e que sempre toma o controle da ação para si – ao mesmo tempo, a protagonista revela um bom humor que se manifesta através de comentários sarcásticos, tiradas debochadas e sorrisos pontuais, o que tende a torná-la uma persona mais divertida e contagiante. Outro que se destaca é Samuel L. Jackson, que interpreta uma versão mais jovem de Nick Fury e, com isso, expõe um lado brincalhão, descompromissado e até mesmo ingênuo de um personagem que já conhecemos há anos, não sendo à toa o fato da dinâmica entre Fury e Danvers ser a melhor coisa do filme (a propósito: a maquiagem digital empregada para rejuvenescer Jackson é simplesmente impecável – o que não se aplica, no entanto, ao Coulson vivido por Clark Gregg, cujo rosto surge estranhamente artificial).

Mas é impossível falar sobre Capitã Marvel sem discutir os temas que o roteiro obviamente pretende debater – e se o simples fato de ser protagonizado por uma mulher forte já sugere uma questão naturalmente empoderadora (embora menos ambiciosa que a de Mulher-Maravilha), o arco de autodescoberta da personagem faz mais do que jus a esta discussão. Na maior parte do tempo, os homens vivem enxergando Carol como um ser humano menos capacitado para certos trabalhos braçais e mais suscetível a deixar suas emoções interferirem na praticidade de suas ações – e, ao se revelar uma das super-heroínas mais fortes do universo, a jovem mostra que não deve nada a ninguém e cala a boca dos machistinhas que estavam ao seu redor. Já o conflito entre os kree e os skrulls é tratado como uma alegoria para a atual crise dos refugiados e para o histórico que os Estados Unidos têm de explorar países do Oriente Médio, o que poderia funcionar caso o roteiro não escancarasse suas ideias de maneira tão orgulhosa – e de que adianta criticar a mentalidade do império norte-americano (que, nestas invasões motivadas pelo petróleo, acabou estimulando o nascimento de grupos terroristas) se, no fim das contas, o uniforme da protagonista adotará as cores da bandeira dos Estados Unidos?

De todo modo, nada decepciona tanto quanto a direção de Anna Boden e Ryan Fleck, que realizam um trabalho assustadoramente ruim – e se os piores longas da Marvel ainda soavam como superproduções feitas para serem exibidas em tela grande, o mesmo não pode ser dito sobre Capitã Marvel, que mais parece um fan-film produzido para o YouTube. Sucumbindo à incompetência do roteiro (sobrecarregado de exposição e frases de efeito), Boden e Fleck enfocam os diálogos através de planos/contraplanos básicos e se atrapalham ainda mais ao rodarem as sequências de ação, que se resumem a uma combinação de planos fechados (e estáticos), zooms deselegantes, erros de continuidade, saltos no eixo e cortes ininteligíveis que, na prática, servem para disfarçar a (péssima) coreografia das lutas. Para piorar, os efeitos visuais só poderiam ser considerados medíocres caso a média em si fosse definida a partir das produções do canal SyFy, ao passo que a maquiagem utilizada para transformar Ben Mendelsohn em skrull mostra-se problemática ao comprometer a dicção do ator.

Divertindo-se ao resgatar as roupas grunge, o ruído da Internet discada, o interior de uma locadora Blockbuster e um monte de canções que certamente despertarão nostalgia em quem se lembra dos anos 1990 com carinho (o que não me faz perdoar a forma como “Come as You Are” foi utilizada, representando um insulto para os fãs de Nirvana), Capitã Marvel ainda cai num problema que atinge grande parte das produções do estúdio: a necessidade de escancarar, para o espectador, as conexões entre este filme e todo o universo dos Vingadores. Obviamente concebido apenas para servir de “ponte” entre Guerra Infinita e Ultimato, o longa se vê obrigado a fazer menções descartáveis a outros personagens e eventos conhecidos pelos leitores de quadrinhos, chegando a incluir participações que pouco acrescentam à trama e respondendo a perguntas que ninguém fez.

Assim, a Marvel nos apresenta a mais uma obra que não anda com as próprias pernas, que não funciona por conta própria, soando mais como um trailer de duas horas do que como um filme individual. Neste sentido, o fato de o único momento realmente emocionante de Capitã Marvel aparecer durante a vinheta inicial do estúdio não poderia ser mais revelador.

Mais para explorar

Guerra Civil | Crítica

Como espetáculo de ação, Guerra Civil é uma obra tecnicamente eficiente. Como tese – que obviamente tenta ser – sobre algum tema mais amplo, é um filme que reflete as velhas e costumeiras limitações de Alex Garland.

As Marvels | Crítica

Não é uma experiência tão torturante quanto algumas das últimas produções do MCU, mas, ainda assim, nunca deixa de ecoar o cansaço que acometeu a franquia e o desespero para manter-se relevante.

Duna: Parte 2 | Crítica

Uma obra cujos méritos são diversos, inquestionáveis e, sim, constituem um verdadeiro milagre – mesmo que nem sempre consiga envolver emocionalmente o espectador a ponto de fazê-lo se entusiasmar com tais proezas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *