Thor Amor e Trovão (1)

Título Original

Thor: Love and Thunder

Lançamento

7 de julho de 2022

Direção

Taika Waititi

Roteiro

Taika Waititi e Jennifer Kaytin Robinson

Elenco

Chris Hemsworth, Christian Bale, Natalie Portman, Tessa Thompson, Taika Waititi, Russell Crowe, Chris Pratt, Pom Klementieff, Dave Bautista, Karen Gillan, Vin Diesel, Bradley Cooper, Sean Gunn, Kat Dennings, Stellan Skarsgård, Jaimie Alexander, Matt Damon, Sam Neill, Luke Hemsworth, Melissa McCarthy, Ben Falcone e a voz de Stephen Murdoch

Duração

118 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Kevin Feige e Brad Winderbaum

Distribuidor

Disney

Sinopse

Thor embarca em uma jornada diferente de tudo que ele já enfrentou – uma busca pela paz interior. Mas sua aposentadoria é interrompida por um assassino galáctico conhecido como Gorr, o Carniceiro dos Deuses, que busca a extinção dos deuses. Para combater a ameaça, Thor pede a ajuda de Valquíria, Korg e da ex-namorada Jane Foster, que, inexplicavelmente, carrega seu martelo mágico, Mjolnir, como a Poderosa Thor.

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Thor: Amor e Trovão | Crítica

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Thor: Amor e Trovão é um filme que tem certeza absoluta de que se trata da coisa mais engraçada que já aconteceu em toda a História do Cinema (não é nem a coisa mais engraçada que aconteceu esta semana). Ao mesmo tempo – e é irônico perceber isso –, é também um filme que parece ter vergonha de ser “só” uma bobagem despretensiosa, como se acreditasse que sua condição de puro besteirol o classificasse como um Cinema “menor”. Com isso, este 29º capítulo do MCU (Marvel Cinematic Universe) se sente praticamente obrigado a enfiar na narrativa um monte de draminhas esquemáticos e artificiais que não se encaixam na proposta geral do longa e que, para piorar, são explorados pelo diretor Taika Waititi com um desinteresse indisfarçável – o que é uma pena, já que o filme anterior, Thor: Ragnarok, funcionava bem justamente por abraçar o humor inconsequente sem reservas nem receios.

Escrito por Waititi e por Jennifer Kaytin Robinson, Amor e Trovão tem início mostrando a tragédia vivida pelo alienígena Gorr, que, após ver a filha morrer debilitada em meio a um planeta desértico, é tomado por um sentimento de vingança contra os deuses para os quais rezou implorando para que a vida da menina fosse poupada, apropriando-se, assim, de uma espada superpoderosa e partindo numa cruzada para ceifar todas as divindades espalhadas pelo(s) universo(s). A partir daí, voltamos nossas atenções ao velho conhecido Thor, que, depois dos eventos transformadores de Vingadores: Ultimato, agora leva uma vida inconsequente ao lado dos Guardiões da Galáxia em um canto distante do espaço sideral, sendo chamado de volta para o combate, contudo, assim que fica sabendo da ameaça representada por Gorr. De volta à Terra com o intuito de reunir seus amigos asgardianos e montar uma equipe que o ajude a derrotar o vilão, Thor é surpreendido, porém, pela aparição de ninguém menos que sua ex-namorada Jane Foster, que, lutando contra um câncer em estágio IV (o mais grave de todos os estágios), tornou-se capaz de empunhar o antigo martelo Mjölnir, transformando-se em uma guerreira tão poderosa quanto o Deus do Trovão.

Mas se a presença de vilões com desejos assassinos, crianças morrendo subnutridas e pessoas padecendo de câncer em estágio terminal faz parecer que Thor 4 é uma obra com grandes ambições dramáticas, a verdade é que, na maior parte do tempo, o objetivo primordial do projeto é o de levar o espectador ao riso – um objetivo que Taika Waititi tenta cumprir pelo menos umas sessenta vezes a cada minuto de projeção. O problema, contudo, é que a imaginação dos esforços do cineasta é inversamente proporcional à sua quantidade, algo que se torna notório pelo tanto de vezes em que vemos cabras mágicas berrarem loucamente e pelo tanto que o diretor insiste em prolongar momentos como aquele em que Zeus (aqui interpretado por um desconfortável Russell Crowe) brinca de rodopiar um raio-bumerangue diante de uma enorme plateia – ou seja: não basta a piada ser ruim; é preciso repeti-la até que o espectador sinta-se forçado a aceitá-la. O mesmo se aplica à inserção de várias canções do Guns N’ Roses, que são jogadas por Waititi de maneira tão arbitrária que confesso ter saído do cinema desejando nunca mais ouvir uma sílaba dita na voz de Axl Rose pelo resto de minha vida.

Aliás, levando em conta o interesse de Taika Waititi em quebrar constantemente a mística dos super-heróis ao expô-los ao ridículo e ao debochar de suas mitologias (algo que ele fizera bem em Ragnarok), é frustrante perceber como o máximo que o diretor consegue criar neste sentido é… uma ou outra piada boba (e nada original) envolvendo os esforços de Jane Foster em elaborar um bordão heroico para si e/ou as crises de ciúmes que o martelo de Thor sente sobre seu dono (uma babaquice frívola que Waititi obviamente considera uma iconoclastia genial). Por outro lado, nos poucos instantes em que o filme consegue pensar em algo minimamente inspirado (como, por exemplo, toda a montagem que resume os vários anos do relacionamento entre Thor e Jane e que intriga justamente por brincar de trazer a fantasia dos super-heróis para o mundo real), estes esforços acabam durando poucos minutos, sendo imediatamente descartados para que a narrativa volte logo ao lugar-comum.

Porém, o grande problema de Thor 4 nem é a sua (frágil) comicidade, mas, sim, a falta de confiança de Waititi sobre o humor besteirol e descompromissado ao qual supostamente se dedica. Aparentemente acreditando que uma obra – até a mais escapista – precisa evocar drama e solenidade para ser aceita como algo artisticamente valioso, o cineasta toma a estranha decisão de inchar a história com uma penca de situações dramáticas (um sujeito que vê a filha morrer em seus braços; crianças que são raptadas por um vilão assustador; uma mulher que padece de câncer) mesmo que, na prática, não faça muita questão de desenvolvê-las com o mínimo de… dramaticidade, apenas pendurando-as na narrativa como se cumprisse os protocolos de uma checklist para que seu trabalho pudesse ser considerado Cinema “de verdade”.

Isto fica óbvio logo na sequência que abre a projeção e que explica as motivações de Gorr: a urgência do drama está lá (em especial, no sofrimento evocado pela atuação de Christian Bale), porém a forma com que Waititi e sua equipe retratam a situação parece sempre apontar para uma irreverência subjacente (os figurinos são propositalmente toscos, as atuações do restante do elenco são canastronas como se buscassem o riso como resposta e o ritmo que os quatro montadores imprimem à cena é tão acelerado que suprime quaisquer pausas/respirações que pudessem conferir peso à situação, passando rápido pelo drama a fim de deixá-lo logo para trás). Não é à toa que, apesar dos esforços de Bale e da excelente maquiagem empregada para torná-lo intimidador, Gorr acaba soando como um vilão genérico e desinteressante, já que tudo relacionado a ele parece perdido em uma zona neutra na qual nunca sabemos se devemos levar a sério ou na brincadeira.

O que nos traz ao Thor de Chris Hemsworth, um super-herói cuja trajetória inteira parece definida menos por um arco bem planejado e mais pelos interesses comerciais imediatos de cada momento da franquia. Neste sentido, é revelador que, após oito filmes nos últimos onze anos, eu tenha chegado até aqui com a sensação de que ainda não conheço direito este personagem nem consigo entender qual é a dele, já que sua personalidade foi mudando drasticamente (e sem explicações) de filme para filme: se a abordagem shakespeariana que Kenneth Branagh conferiu ao Deus do Trovão no início não agradou, pouco depois ele foi subitamente transformado numa figura engraçadinha e irreverente e daí voltou a ser encarado como um herói firme e imponente pelos irmãos Russo para, agora, chegar aqui e ser reapresentado quase como uma versão superpoderosa do Kramer de Seinfeld – e, embora Hemsworth seja dotado de um timing cômico notável, não posso negar que em vários momentos aqui seu Thor me deixou não entretido, mas de saco cheio. Já Natalie Portman fica presa a uma super-heroína que o filme cinicamente finge encarar como um bastião de empoderamento, mas que, na prática, só existe mesmo para sofrer e fazer o arco do protagonista homem avançar, ao passo que a carismática Tessa Thompson pouco tem a fazer com as fracas tiradas concedidas à Valquíria.

Eficiente ao menos em seu design de produção, que se sai bem ao abraçar visualmente a natureza absurda, exagerada e por vezes ridícula dos quadrinhos (o uniforme de Thor nunca esteve tão colorido), Amor e Trovão é uma comédia que sente vergonha de sê-lo e uma aventura de super-heróis que não tem disposição para encarar as decisões que ela própria toma.

Obs.: as críticas sobre todos os demais filmes do Universo Cinematográfico da Marvel estão disponíveis aqui.

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

***

(Lembre-se: a pandemia não acabou. Se for sair de casa e ir ao cinema, siga todos os cuidados sugeridos pelas organizações sérias de Saúde e, mais importante, vá ao posto tomar sua vacina. Se já tomou a primeira dose, tome a segunda. Se já tomou a segunda e já chegou a vez de tomar a terceira, tome a terceira – se ainda não chegou, espere e vá assim que ela estiver disponível. É triste ter que escrever isto, mas… não escute o atual presidente da República ou mesmo seu ministro da Saúde: vacine-se e proteja-se. #ForaBolsonaro)

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