Capitão América Admirável Mundo Novo imagem de topo (1)

Título Original

Captain America: Brave New World

Lançamento

13 de fevereiro de 2024

Direção

Julius Onah

Roteiro

Julius Onah, Rob Edwards, Malcolm Spellman, Dalan Musson e Peter Glanz

Elenco

Anthony Mackie, Harrison Ford, Danny Ramirez, Shira Haas, Carl Lumbly, Tim Blake Nelson, Xosha Roquemore, Jóhannes Haukur Jóhannesson e Giancarlo Esposito

Duração

118 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Kevin Feige e Nate Moore

Distribuidor

Disney

Sinopse

Após a eleição de Thaddeus Ross como presidente dos Estados Unidos, Sam Wilson se encontra no meio de um incidente internacional e deve trabalhar para deter os verdadeiros cérebros por trás dele.

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Capitão América: Admirável Mundo Novo | Crítica

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A Marvel é mestre em lançar premissas muito promissoras, que prometem algo temática ou dramaticamente muito interessante, e nunca aproveitá-las por completo. O drama de Steve Rogers ser deslocado no tempo, as dualidades trágicas de Bruce Banner/Hulk, os impactos da batalha de Nova York no psicológico de Tony Stark, a revelação de que havia nazistas infiltrados na SHIELD, o fato de metade do universo ter sido dizimada entre um filme e outro, a exposição da identidade de Peter Parker para tia May e, depois, para o resto do mundo… ideias cheias de potencial, mas que terminam ou relegadas a lembranças casuais, ou completamente descartadas no longa seguinte. O resultado disso é que, no fim da linha, estes dilemas mal resolvidos trazem uma sensação de… incompletude; um sentimento de vazio que permeia praticamente todo o MCU (e, para citar um exemplo, quando Steve passa o escudo para Sam Wilson ao fim de Vingadores: Ultimato, aquilo não ressoa, já que nunca sentimos a força incondicional desta amizade ser construída a fundo nos filmes anteriores).

Em Capitão América: Admirável Mundo Novo (subtítulo emprestado do livro de Aldous Huxley apenas para dar um verniz de intelectualidade à obra), este problema chega ao máximo. Não à toa, os primeiros 20/30 minutos são o que o filme tem de melhor, apresentando o agora presidente Thaddeus Ross de forma eficiente e linkando bem com os eventos dos longas anteriores. Ora, é uma premissa que tinha tudo para representar um divisor de águas: o arqui-inimigo do Hulk assumiu a autoridade máxima dos Estados Unidos! Além disso, é interessante que o roteiro evite tornar Ross uma alusão a Trump ou Biden, preferindo, em vez disso, encará-lo como uma personalidade autônoma; como um desdobramento lógico de como aquele general de O Incrível Hulk soaria caso eleito presidente. Da mesma forma, Harrison Ford (que assume o papel de Ross após a morte de William Hurt, que o interpretava desde 2008) é hábil ao equilibrar a energia raivosa do ex-general e a necessidade de contê-la a fim de tentar cicatrizar velhas feridas (no caso, a relação mal resolvida com a filha, Betty). Mas não é só: a própria ideia de Ross querer ressuscitar os Vingadores serve não só para trazer algo novo ao personagem (ele deixou de ser inimigo dos heróis para tornar-se aliado destes), como também para sinalizar um possível comentário autocrítico acerca do atual estado do MCU: as coisas deram tão errado sem os Vingadores que, agora, Kevin Feige precisa recriá-los do zero…

… pena que isso não passe de uma sinalização, já que o filme em si nada faz com esta premissa – e, após estabelecer com cuidado a ascensão do presidente Ross, o personagem passa a surgir em cena apenas para dizer umas frases pré-prontas e ser manipulado por outras circunstâncias da trama, como um mero action figure. Se em teoria há uma série de dinâmicas políticas que poderiam ser criadas a partir de um Ross eleito presidente, na prática este serve só para, ao fim, virar um bonequinho do Hulk Vermelho que será jogado contra o Capitão, terminando somente como mais um caso da semana. Neste ínterim, todo o sentimento de urgência que o longa tenta criar (e como tenta!) é anulado: como podemos sentir que há algo realmente em jogo se nada parece ter peso ou consequência? Chega a ser constrangedor o esforço destas produções (sim, no geral) em querer nos convencer de que há algum perigo envolvido ali; no fundo, elas sabem que nós sabemos que nada de fatal acontecerá.

E se no primeiro ato o “clima de thriller político” que o filme tenta articular funciona razoavelmente bem (é uma repetição da fórmula de O Soldado Invernal? Óbvio, mas se funcionou lá, talvez funcionasse aqui), conforme vai avançando (e se complicando), vai ficando cada vez mais claro que esta tal “politicagem” não existe; é mera fachada para fazer Capitão América 4 parecer “diferentinho” (há uns 10 anos, talvez isso fosse o suficiente para trazer um frescor a este subgênero; hoje, porém, soa mais como o uso requentado da receita dos irmãos Russo). Assim, à medida que a história vai se embolando e envolvendo contrabandos e vilões com planos mirabolantes por trás, qualquer aspecto um pouco mais político vai se perdendo e dando lugar às mesmas burocracias de sempre, como se o bagunçado roteiro (escrito por cinco pessoas!) apenas não tivesse saco nem coragem para se politizar a valer.

Isso se reflete em toda a abordagem de “thriller político” do longa: se a princípio o diretor Julius Onah consegue criar uma atmosfera intensa e singular, aos poucos Admirável Mundo Novo recai nas mesmas lutinhas, piscadinhas e piadinhas fora de hora de sempre (há um diálogo bonito entre Sam e um personagem-surpresa que é arruinado, ao fim da cena, pela necessidade de incluir uma brincadeirinha ali). Aliás, tudo no filme parece perder o brilho aos poucos: se a primeira cena de ação é competente, as outras que vêm a seguir são geralmente confusas, picotadas, escuras a ponto de tornarem-se ininteligíveis e com umas coreografias meio capengas – e há uma sequência num corredor escuro (e rodada num plano só) que claramente tinha a intenção de ser o auge da ação, mas que acaba se revelando apenas… ruim. Por incrível que pareça, as cenas em maior escala, que parecem pré-programadas por uma IA (e que envolvem aviões e homenzinhos digitais se perseguindo pelos ares), são mais interessantes do que aquelas que trazem confrontos corpo a corpo – embora a luta entre o Capitão e o Hulk Vermelho pareça um epílogo encaixado à força só para agradar aos fanboys da Marvel, já que o clímax real ocorre uns 20 minutos antes.

E não adianta querer aspirar a uma atmosfera tensa e política se Julius Onah é um péssimo encenador (é dele o pavoroso The Cloverfield Paradox): do início ao fim, Admirável Mundo Novo parece uma produção feita para a televisão, com uns planos fechados, basicões, com uns fundos chapados que carecem de dimensão/profundidade. Às vezes, Onah e o diretor de fotografia Kramer Morgenthau até tentam ostentar um ou outro movimento de câmera que eles acreditam imprimir personalidade ou dinamismo visual, mas que são apenas… feios. Aliás, é impressionante como o fraco roteiro se apoia inteiramente em diálogos expositivos; nada no longa é transmitido de qualquer outra forma que não seja diretamente em palavras – o que só reitera como Capitão América 4, mesmo implorando para ser considerado “adulto” e/ou “politizado”, na verdade não poderia ser mais infantilizado. (E não ajuda muito que quase todos os diálogos se resumam ou a frases de efeitos horríveis, ou a uma exposição barata e artificial.)

E se Shira Haas pouco tem a fazer no papel de uma Viúva Negra genérica que vem do nada e vai a lugar nenhum, Danny Ramirez surge apenas irritante na pele do novo Falcão – e o roteiro tenta vender uma amizade dele com Sam (supostamente tão cara quanto a de Steve com Bucky) que não funciona justamente por ser desenvolvida de forma apressada (bem como a dinâmica entre Sam e o personagem de Carl Lumbly). Por outro lado, Anthony Mackie segura bem o posto de novo protagonista da série: além de conciliar carisma e um pouco de brutalidade ao novo Capitão, ele também explora com eficiência as inseguranças de Sam Wilson, que se sente uma versão inferior de Steve Rogers (num reflexo óbvio dos vários chiliques que nerdolas têm na Internet simplesmente por não aceitarem um Capitão América que seja negro).

Ao menos, Sam Wilson me parece ser um Capitão um pouco mais interessante do que Steve Rogers. Ou pelo menos tem potencial para sê-lo. Mas é sempre isso: potencial. Chegar lá, que é o que importa, nunca chega.

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

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