Maestro (1)

Título Original

Maestro

Lançamento

7 de dezembro de 2023

Direção

Bradley Cooper

Roteiro

Bradley Cooper e Josh Singer

Elenco

Bradley Cooper, Carey Mulligan, Maya Hawke, Matt Bomer, Sarah Silverman, Brian Klugman, Michael Urie, Josh Hamilton, Scott Ellis, Miriam Shor, Tim Rogan, Yasen Peyankov, Zachary Booth, Gideon Glick, Sam Nivola e Alexa Swinton

Duração

130 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Bradley Cooper, Martin Scorsese, Steven Spielberg, Fred Berner, Amy Durning e Kristie Macosko Krieger

Distribuidor

Netflix

Sinopse

O maestro americano Leonard Bernstein se apaixona pela atriz costarriquenha Felicia Montealegre.

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Maestro | Crítica

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A princípio, todas as peças de Maestro parecem encaixadas no lugar. Projeto que ficou anos passando pelas mãos de cineastas como Martin Scorsese e Steven Spielberg (que, não à toa, continuaram como produtores) até cair no colo de Bradley Cooper, que volta à direção após estrear em sua refilmagem de Nasce uma Estrela, o filme já parte de uma decisão que se mostra bastante eficiente: adotar, como centro de sua narrativa, um recorte histórico mais específico, se apresentando menos como uma biografia do lendário compositor e regente Leonard Bernstein e mais como um estudo da relação entre este e o amor de sua vida, a atriz Felicia Montealegre. Com isso, o roteiro de Josh Singer e do próprio Cooper se permite explorar uma faceta determinante da persona do personagem-título em vez de sucumbir ao mal comum das cinebiografias de aglutinar décadas de história em duas horinhas e se destrambelhar no processo – embora acabe caindo em outras armadilhas que ele próprio arma contra si.

Dito isso, é claro que, num filme que gira em torno da relação entre Leonard e Felicia, o desempenho dos intérpretes do casal principal é fundamental para que compremos toda a lógica da trama – e, neste aspecto, Maestro está bem-servido, já que tanto Bradley Cooper quanto Carey Mulligan compõem indivíduos de personalidades ambiciosas e de espíritos fortes, mas simpáticos, e que mais do que justificam a atração de um(a) pelo(a) outro(a). Sim, é verdade que aqui e ali Cooper parece se esforçar demais para demonstrar estar atuando (às vezes, ele exagera nos tiques e nas expressões que resgata de Bernstein, como se implorasse “Vejam como estou atuando! Me deem um Oscar logo!”), mas a sorte é que, sempre que o ator parece perigosamente perto de descambar para a caricatura, vem um momento em que ele impressiona ora com um olhar que sutilmente exprime todas as dores e angústias do biografado, ora com sua entrega simultaneamente enérgica e meticulosa ao recriar os gestos de Bernstein enquanto rege uma orquestra (e há um plano, em especial, que dura cerca de cinco minutos sem cortes que representa o auge da performance de Cooper neste sentido).

No entanto, é mesmo Carey Mulligan quem rouba Maestro para si, já que a graça e doçura que incute a Felicia são decisivas para que nos afeiçoemos de imediato à jovem atriz. Da mesma forma, Mulligan é hábil ao costurar cada “etapa” de Felicia ao longo das décadas de modo coeso e orgânico, adicionando um peso gradual à personagem à medida que o tempo vai passando e suas frustrações vão se acumulando – o que, de certa maneira, ajuda a estabelecer Felicia como uma âncora entre Leonard e o mundo real. Aliás, não nego que alguns momentos de Maestro (principalmente do meio para o fim) me trouxeram um nó na garganta – e muitos destes se devem justamente à eficácia de Mulligan ao construir uma personagem intrigante e adorável o bastante para levar o espectador a temer por seu destino (não à toa, a sequência que traz o casal num quarto de hospital recebendo o diagnóstico de um câncer é outra que Cooper acerta ao rodar num único plano, explorando ao máximo os talentos de ambos os atores, e que acompanha bem todas as etapas emocionais da situação, começando com os dois tratando tudo com certa normalidade, passando pelo choque e pela negação – que surgem silenciosamente – do recebimento da notícia em si e culminando no desabamento tanto de Felicia quanto de Leonard).

Qual o problema de Maestro, então? Bom, o primeiro (e mais escancarado) é a velocidade com que o roteiro de Singer e Cooper passa por diversos estágios do relacionamento entre Leonard e Felicia e de seus arcos individuais: se num momento eles estão perdidamente apaixonados entre si, pouco depois já se passaram alguns anos, algumas atitudes específicas do marido levam a um atrito com a esposa e daí ambos se distanciam até eventualmente se reaproximarem – e, embora os motivos para cada briga/reconciliação sejam explicados através de diálogos expositivos (que são o que menos falta aqui, por sinal), eles quase nunca são mostrados de modo a levar o público a senti-los de fato, já que o filme salta bruscamente de um conflito que acabou de ser estabelecido a uma resolução que levou anos para se articular. Da mesma forma, não deixa de ser decepcionante que o filme abra mão de alguns aspectos importantes da vida de Bernstein a fim de não desagradar uma parte mais, digamos, conversadora (eufemismo para “intolerante”) da audiência: ora, para que estabelecer a interação do personagem-título com outros homens e seu eventual vício em drogas (lícitas e ilícitas) como fatores determinantes para as desavenças do casal se tais questões se limitarão a uma ceninha brevíssima (que será prontamente esquecida) aqui e outra ali?

Com isso, a impressão que fica ao fim de Maestro é a de incompletude, soando superficial a ponto de diluir boa parte do peso dramático de cada etapa da história. Além disso, é difícil ignorar que várias das decisões estilísticas de Bradley Cooper e do diretor de fotografia Matthew Libatique (as variações na razão de aspecto; a alternância entre preto-e-branco e colorido; as tomadas que atravessam cenários enquanto acompanham Bernstein zarpando da cama até o palco) raramente parecem desempenhar uma função além do mero exibicionismo, por mais eficientes que sejam de um ponto de vista puramente técnico. (Dito isso, o plano que traz a sombra gigantesca do compositor “engolindo” Felicia, minúscula, nos bastidores de uma apresentação é fabuloso; um dos poucos momentos em que Cooper consegue dizer algo mais por imagens que por palavras óbvias.)

Entre a megalomania e o intimismo, Maestro acaba se perdendo ao tentar se firmar como uma obra tecnicamente vistosa e, ao mesmo tempo, dramaticamente introspectiva.

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

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