7 de Chicago
7 de Chicago (1)

Título Original

The Trial of the Chicago 7

Lançamento

16 de outubro de 2020

Direção

Aaron Sorkin

Roteiro

Aaron Sorkin

Elenco

Eddie Redmayne, Sacha Baron Cohen, Mark Rylance, John Carroll Lynch, Jeremy Strong, Yahya Abdul-Mateen II, Alex Sharp, Joseph Gordon-Levitt, Frank Langella, Kelvin Harrison Jr., Ben Shenkman, John Doman, Damian Young, Noah Robbins, Daniel Flaherty, J. C. MacKenzie, Alice Kremelberg, Caitlin FitzGerald, Alan Metoskie, Wayne Duvall, Max Adler e Michael Keaton

Duração

129 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Stuart M. Besser, Matt Jackson, Marc Platt e Tyler Thompson

Distribuidor

Netflix

Sinopse

O que era para ser um protesto pacífico se transformou em um confronto violento com a polícia e o resultado foi um dos julgamentos mais famosos da História.

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Os 7 de Chicago | Crítica

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Dono de uma carreira notável como roteirista, Aaron Sorkin se estabeleceu, ao longo dos anos, como um autor de diálogos longos, rápidos e verborrágicos que – o mais importante – se tornavam ainda mais eficazes quando transformados em filme por diretores como David Fincher (A Rede Social), Bennett Miller (O Homem Que Mudou o Jogo) e Danny Boyle (Steve Jobs); afinal, quando falamos de Cinema, falamos de uma Arte audiovisual na qual a diferença é feita não pelo roteiro, mas pela forma com que este é levado à tela. Este detalhe, aliás, é fundamental para entendermos o porquê de certos roteiristas não se darem muito bem quando tentam a sorte como diretores – e, quando Sorkin decidiu fazê-lo em 2017, com A Grande Jogada, o resultado foi um filme razoável, mas que falhava justamente em ilustrar as linhas de diálogo escritas pelo realizador de forma cinematograficamente interessante (na verdade, o longa até tinha um começo promissor, dotado de dinamismo visual; o problema era que o cineasta… bom, não conseguia manter este dinamismo por muito mais tempo).

O que nos traz a Os 7 de Chicago, segundo trabalho de Aaron Sorkin à frente não só do roteiro, mas da direção. Contando a história real de um dos julgamentos mais famosos da História jurídica dos Estados Unidos, o filme tem como ponto de partida as manifestações que ocorreram em Chicago entre 23 e 28 de Agosto de 1968, quando um imenso grupo de ativistas tentou realizar um protesto pacífico, em plena Convenção Nacional Democrata, contra a infame Guerra no Vietnã. No entanto, depois que um ou dois manifestantes entraram em confronto com a polícia, esta decidiu responder com violência e repressão absolutas – o que, por consequência, serviu para alimentar a narrativa de que os ativistas ali presentes eram todos baderneiros em busca de caos e brutalidade, resultando, meses depois, na prisão de sete organizadores (Yom Hayden, Abbie Hoffman, Rennie Davis, David Dellinger, Jerry Rubin, Lee Weiner e John Froines) e de Bobby Seale, membro do Partido dos Panteras Negras que nada tinha a ver com a situação toda, mas que foi incluído estrategicamente entre os réus a fim de fortalecer a imagem de que aquele era um grupo perigoso, facilitando, portanto, o trabalho (parcial) do juiz Julius Hoffman ao condená-los.

Com uma das melhores sequências de introdução do ano, Os 7 de Chicago consegue estabelecer em poucos minutos o contexto sociopolítico que levou às marchas de Agosto de 1968 e as motivações manifestadas principalmente nos discursos de Yom Hayden e Abbie Hoffman – e, neste sentido, tanto Sorkin quanto o montador Alan Baumgarten (também de A Grande Jogada) se saem muitíssimo bem ao saltar entre imagens de arquivo que mostram a barbaridade no Vietnã, os pronunciamentos das autoridades da época e as falas de cada um dos personagens-título complementando umas às outras, ajudando a recriar a sensação de instabilidade, de ebulição, que obviamente fez parte daquele contexto específico. Além disso, o filme é especialmente hábil ao mostrar como nem os próprios ativistas levados ao banco dos réus estavam sempre de pleno acordo, sendo interessante que, em vez de retratar os sete/oito réus como mocinhos perfeitamente alinhados em suas ideologias, Sorkin lembre, por exemplo, de que Tom Hayden, por mais progressista que fosse, ainda era contaminado pelo conservadorismo que deveria combater ao enxergar o hippie Abbie Hoffman com inveja e menosprezo.

Por outro lado, se continua a ser um roteirista sólido e consistente, Sorkin ainda não se mostra um diretor dos mais regulares: submetendo-se a um desafio óbvio ao dirigir uma história que se concentra, na maior parte do tempo, em longos diálogos trocados dentro de quatro paredes (algo que, por natureza, é mais difícil de ganhar ritmo e interesse), o realizador nem sempre é hábil ao superar este obstáculo, já que, durante boa parte da projeção, o máximo que ele consegue imaginar ao filmar estes diálogos é… bom, apenas filmá-los, não se mostrando visualmente inventivo ao fazê-lo (percebam como a maioria das sessões do julgamento se resumem ao básico plano/contraplano, às reações dos demais atores e a um ou outro plano que, mesmo saindo disso, também não foge ao convencional). Em outras palavras: quando enfoca os acontecimentos no tribunal, Sorkin se limita a ilustrar o que antes estava em seu roteiro (de vez em quando, ele até tenta surpreender com uma ou outra ação mais entrecortada ou com um ou outro flashback inesperado, mas estes acabam soando como tentativas desesperadas de trazer algum dinamismo visual a estas cenas), o que é uma pena quando consideramos, em contrapartida, a força e o impacto dramático que confere às cenas das manifestações que antecederam o tal julgamento.

Felizmente, se a encenação de Aaron Sorkin não é das mais inspiradas, ao menos ele se beneficia da impecável escalação de elenco, coordenando com eficiência cada ator que tem à disposição (Sorkin já havia se saído bem neste sentido em A Grande Jogada, quando dirigiu Jessica Chastain, Idris Elba e Kevin Costner). Deixando de lado os tiques e a artificialidade que costuma adotar em suas composições (A Teoria de Tudo, A Garota Dinamarquesa, a série Animais Fantásticos), Eddie Redmayne é surpreendentemente eficaz ao retratar Tom Hayden como um jovem idealista cuja postura sempre segura e determinada acaba sendo justamente o que torna seus raros momentos de impulsividade e preconceito (principalmente diante dos hippies) tão inesperados e, claro, reveladores. Enquanto isso, Sacha Baron Cohen é bem-sucedido ao transformar Abbie Hoffman em uma figura cuja aparência desorganizada jamais diminui a força de seus atos (embora talvez os torne menos esperados) e cujo bom humor nunca sacrifica seu idealismo (ao contrário: sua irreverência diante do juiz Hoffman – eles não eram parentes – é uma prova de sua coragem), ao passo que seu parceiro, Jerry Rubin, é vivido por Jeremy Strong de forma também equilibrada entre a descontração em sua fala e a nobreza de socorrer as vítimas da brutalidade policial durante as manifestações.

Para completar, se Yahya Abdul-Mateen II protagoniza um dos momentos mais marcantes do filme (e que, justamente por parecer tão absurdo, foi real), Mark Rylance encarna o advogado de defesa William Kunstler como um sujeito que, mesmo submetendo-se a atos quase heroicos (notem a quantidade de vezes em que ele “desacatou” o juiz Hoffman simplesmente ao questionar sua óbvia parcialidade), soa sempre humano graças às frustrações e às inseguranças que constantemente sente, ao passo que Joseph Gordon-Levitt pouco tem a fazer sob a pele do advogado de acusação Richard Schultz (mesmo que o filme tente acrescentar alguma dimensão a ele ao trazê-lo no parque com as filhas, mostrando como ele não era só um vilão que queria demonizar os heróis). Já John Carroll Lynch se estabelece como um importante lembrete de que os ativistas de Agosto de 1968 não se resumiam, afinal, a um bando de jovens vagabundos que buscavam apenas baderna (o David Dellinger que interpreta era, na vida real e no filme, um ativista com anos de experiência e que vestia ternos bonitinhos mais facilmente aceitos pela sociedade do que trapos hippies), enquanto Frank Langella, com sua voz grave e sua expressão cerrada, posiciona o juiz Julius Hoffman como o mais perigoso dos vilões: aquele que esconde suas intenções macabras debaixo de uma fachada de imparcialidade e moralidade (qualquer semelhança com um certo juizeco de Curitiba é mera coincidência: este não compartilha da voz e postura intimidadoras de Langella).

E é justamente por desenvolver a maioria de seus personagens com notável ambiguidade que Os 7 de Chicago acaba se revelando tão decepcionante em seus cinco minutos finais, quando subitamente resolve abraçar de vez o maniqueísmo e entregar-se ao mais barato e antiquado dos ufanismos; com direito até mesmo a uma trilhazinha heroica e revigorante que, composta por Daniel Pemberton, basicamente implora para que os cidadãos norte-americanos que estiverem assistindo ao filme ergam a cabeça e sintam-se empoderados por serem… norte-americanos. Um desfecho tolo, infantil e que, depois de quase duas eficientes horas de projeção, leva o espectador a deixá-la com um gosto amargo na boca.

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