Wonka (1)

Título Original

Wonka

Lançamento

7 de dezembro de 2023

Direção

Paul King

Roteiro

Paul King e Simon Farnaby

Elenco

Timothée Chalamet, Calah Lane, Paterson Joseph, Keegan-Michael Key, Matt Lucas, Mathew Baynton, Olivia Colman, Tom Davis, Hugh Grant, Sally Hawkins, Rowan Atkinson, Jim Carter, Natasha Rothwell, Rich Fulcher e Rakhee Thakrar

Duração

116 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA/Inglaterra

Produção

David Heyman, Alexandra Derbyshire e Luke Kelly

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

Willy Wonka é um jovem determinado, criativo e, com sua mãe, aprendeu a importância dos sonhos. Seu talento para inventos e chocolates é algo inexplicável. Só que para oferecer ao mundo as suas delícias, ele precisará enfrentar um grupo de vendedores da guloseima, que fará de tudo para impedir que ele entre no mercado. Disposto a proporcionar ao mundo mais doçura e magia, Willy vai encarar o desafio e, pra isso, contará com o parceiro Oompa-Loompa.

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Wonka | Crítica

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Fazendo um esforço rápido de imaginação aqui, não consigo pensar em nenhum diretor contemporâneo que me pareça tão apropriado para comandar uma adaptação de uma obra de Roald Dahl do que o britânico Paul King. Alçado a um status de notoriedade após dirigir os dois excepcionais Paddington, o cineasta demonstrou, naquelas produções, uma rara capacidade de narrar fábulas infantis com a inocência e o entusiasmo de uma criança que se encanta ao escutar uma história de fantasia bem contada – algo perfeitamente adequado, portanto, a uma história situada no universo de A Fantástica Fábrica de Chocolate. Assim, depois de Mel Stuart e Gene Wilder fazerem magias na versão de 1971 (pela qual sou apaixonado) e de Tim Burton aventurar-se em sua mediana releitura de 2005 (que, apesar de traduzir visualmente alguns aspectos do livro de Dahl com mais eficácia que o filme de Stuart, tropeçava na caracterização michaeljacksoniana do Willy Wonka de Johnny Depp), Paul King volta a incutir, neste Wonka, a mesma atmosfera doce e fabulesca que tanto enriqueceu seus trabalhos anteriores.

Escrito pelo próprio King e por Simon Farnaby (que também co-roteirizou Paddington 2), o filme se apresenta não como uma adaptação direta do livro de Roald Dahl, mas como um prequel daquela obra – e, considerando os esforços que o longa faz para resgatar vários elementos (narrativos e estéticos) da versão de 1971, é razoável encará-lo também como um prelúdio daquele filme (ou seja: descartando completamente a refilmagem de 2005). Assim, somos apresentados a um jovem Willy Wonka que, décadas antes de gerir a fábrica pela qual é conhecido, acaba de chegar numa cidade pequena, mas populosa, a fim de abrir uma lojinha de doces com o intuito de ascender no mercado de chocolates. O que Willy não esperava, porém, era que os donos das grandes empresas de guloseimas instalados na região formariam um cartel que concentraria toda a produção e distribuição de doces em suas mãos e, com isso, faria de tudo para impedir a instalação de um novo negócio por ali – ainda mais levando em conta o talento extraordinário de Wonka para a tarefa.

O curioso é que, ao focar na aventura do protagonista para escapar das sabotagens feitas por seus concorrentes, Wonka acaba se estabelecendo, sim, como uma história de origem (afinal, não deixa de mostrar como o personagem-título cresceu na vida, conheceu os Oompa-Loompas e criou sua Fantástica Fábrica de Chocolate), mas sem perder tempo com detalhes que seriam desnecessários ou que tentariam explicar demais uma fantasia cuja graça reside precisamente no fato de ser… inexplicável (notem que em momento algum o filme se sente obrigado a dizer como Willy Wonka aprendeu a criar chocolates tão fabulosos nem a se aprofundar na natureza dos Oompa-Loompas – o que é ótimo, já que uma criança jamais cobraria tantos detalhes da fábula que escuta). Não é à toa que, no fim das contas, os 116 minutos de Wonka transcorrem num ritmo afiadíssimo, costurando bem a transição de uma ação à outra (e de uma prioridade narrativa à outra) sem se prender a explicações que, na ânsia de ancorar a fantasia num “realismo” tolo, acabariam justamente rompendo com a magia da fábula.

Pois não devemos esquecer que, como diz a canção mais famosa do filme de 1971, aquela história é ambientada em “um mundo de pura imaginação” – e é por isso que reitero: não consigo pensar num cineasta mais capaz de absorver esta máxima hoje do que Paul King, que se orgulha do fato de lidar com um universo ilusório a ponto de criar, no primeiro ato, um número musical que traz Willy Wonka dançando dentro de sua própria imaginação, como se todos aqueles bailarinos e aquelas luzes roxas/rosas à la Broadway constituíssem… a realidade para o protagonista (e, mesmo incluindo um rápido instante em que duas pessoas veem Wonka dançar sozinho e indagam “Quem é este maluco?”, King decide não encerrar a cena por aí – como faria a maioria dos cineastas –, retomando a cantoria e mostrando-a até o final). Neste sentido, King faz um belo trabalho ao articular uma atmosfera lúdica e fantasiosa conciliando os recursos possibilitados pelas tecnologias modernas (os efeitos visuais, por exemplo, assumem a artificialidade daquele mundo em vez de tentar disfarçá-la) e os aspectos clássicos/tradicionais que decide resgatar, desde os números musicais (sempre magnânimos e esplendorosos) até o senso de humor geral do projeto (que revelam uma ingenuidade quase infantil, como se intocados pela irreverência e pela autodepreciação que tanto predominam hoje em dia).

Não que Paul King não passe do ponto aqui e ali: a performance dos três vilões dançando e cantando para o chefe da polícia local, por exemplo, chega perigosamente perto de deixar de ser engraçada e tornar-se apenas embaraçosa (o que não acontece por pouco), ao passo que as piadinhas relacionadas ao sobrepeso do oficial interpretado por Keegan-Michael Key (que surge mais gordo a cada nova cena) soam antiquadas até demais, encarando corpos obesos como algo necessariamente digno de risadas. Por outro lado, na maior parte do tempo os esforços de King são eficientes, articulando um humor ingênuo, mas construído de forma sempre inteligente – e até piadas óbvias (como aquela que traz uma lâmpada se acendendo em cima da cabeça de Wonka no exato instante em que lhe ocorre uma ideia genial) funcionam graças ao timing com que são executadas e ditas/reagidas pelos atores. E se as várias ações que vão se empilhando no terceiro ato até atingirem um clímax geral ajudam a reforçar a lógica absurda que rege aquele universo particular, os figurinos de Lindy Hemming e a direção de arte de Nathan Crowley fazem jus à proposta fantástica do projeto, investindo pesadamente em cores intensas e variadas que terminam criando um mundo que parece quase comestível (o que, neste filme específico, é importantíssimo).

Esta abordagem, inclusive, é refletida nas performances de todo o elenco: numa obra que se pretendesse “realista”, a vilania ostensivamente caricata dos personagens de Tom Davis, Olivia Colman e Paterson Joseph certamente soaria como um problema; num longa como Wonka, porém, as três atuações não poderiam ser mais apropriadas, pois encontram-se em total sintonia com a proposta geral de King. O mesmo se aplica a Timothée Chalamet, que consegue a proeza de criar um Willy Wonka que convence como uma versão mais jovem daquele interpretado por Gene Wilder em 1971, mas, ao mesmo tempo, contém uma energia totalmente particular e um otimismo que o mantém alegre, sorridente e em movimento, como se ainda não tivesse sido contaminado pelo cinismo (e mesmo pelos toques de crueldade) do Wonka que já conhecíamos há décadas. Além disso, embora esmiuçando detalhes até então inéditos sobre o personagem, a informação mais importante que o filme revela é que o talento de Willy para com a fabricação de doces é motivado pelas memórias que tem de sua saudosa mãe, realçando um sentimento puramente afetivo em vez de propor explicações frias/técnicas para as ações do sujeito (e lhe trazendo uma complexidade dramática que a versão de 2005 tentou incutir, mas sem o mesmo sucesso).

Remetendo pontualmente à adaptação de 1971 através da repetição de alguns acordes que, embora sutis, serão prontamente reconhecidos pelos fãs daquele longa (como eu), Wonka emprega a nostalgia de forma surpreendentemente contida – o que é excelente, pois evita que o filme se construa em torno do saudosismo a ponto de depender deste para funcionar. Sim, reconhecemos vários elementos familiares aqui (o Oompa-Loompa de Hugh Grant, em particular, é hilário), mas estes surgem sempre de forma natural e orgânica, colorindo as bordas do quadro em vez de desenhá-lo por inteiro. Aliás, é justamente por ser comedido em suas referências que Wonka as faz funcionar – e, em especial, a decisão de guardar a música mais nostálgica de todas para um momento-chave, nos minutos finais da projeção, é perfeita por torná-la ainda mais emocionante do que já seria.

Em tempos nos quais Hollywood tende a apostar cada vez mais num irritante cinismo como norte de suas narrativas (seja ao tentar renegar a fantasia em prol de um pretenso “realismo”, seja ao revesti-la de uma “irreverência” de autoparódia), Wonka é uma obra que encanta por assumir-se como fábula e, principalmente, por encarar todos os elementos de sua trama com olhos infantis.

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