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Festival do Rio 2024 | Todos os longas que conferi

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Após cinco anos e uma pandemia, em 2024 pude voltar ao Festival do Rio não como espectador comum, mas como crítico credenciado. Sim, já é a quarta vez que cubro oficialmente o evento (com crachá de imprensa e tudo mais), mas a terceira – e última – vez tinha sido em 2019.

Admito, portanto, que estou feliz em ter voltado! Não só por razões profissionais (é legal ter mais uma cobertura de Festival no currículo, ainda mais com meu próprio veículo), mas também porque, desta vez, o nível dos longas, médias e curtas conferi foi consideravelmente alto. Ao todo, foram 30 longas15 curtas. Conto nos dedos de uma única mão os títulos que considerei realmente decepcionantes. Aqueles que me pegaram de surpresa com sua riqueza narrativa/temática/estética, por outro lado, apareceram aos montes.

Minha vontade era a de escrever textos elaborados sobre cada um deles. No entanto, como a dinâmica de festivais é, em essência, muito frenética (de três a cinco sessões por dia, correria de um cinema/canto-da-cidade a outro e só algumas poucas horas de sono), acabei não podendo me aprofundar em tudo que vi. Até pude publicar críticas sobre alguns títulos – e todas estarão linkadas abaixo –, mas vários outros ficaram de fora.

Assim, deixo abaixo uma seleção com textos, links para críticas completas ou, no mínimo, breves comentários sobre 28 longas aos quais assisti no Festival do Rio 2024. Sobre os curtas, escrevi umas palavrinhas aqui.

(Um adendo: na mostra “Clássicos Restaurados”, aproveitei para assistir a Iracema, uma Transa Amazônica e Eles Não Usam Black-tie. Porém, não escrevi sobre eles, já que acabei focando em títulos inéditos. Dito isso, uma palavrinha sobre ambos: que restaurações maravilhosas, hein? Não só em termos de qualidade de imagem, mas também de som. A de Iracema foi a que mais saiu ganhando, considerando que as cópias disponíveis Internet afora são quase ininteligíveis.)

Bom… sem mais delongas, vamos lá!

 

1) Emília Pérez (Idem, França, 2024) – 3 estrelas em 5

A crítica completa pode ser lida aqui.

 

2) O Quarto ao Lado (The Room Next Door, EUA, 2024) – 4 estrelas em 5

A crítica completa pode ser lida aqui.

 

3) Um Filme Inacabado (An Unfinished Film, Singapura/Alemanha, 2024) – 3 estrelas em 5

Por volta de 2019 a 2020, uma equipe de produção independente voltou a se encontrar em Wuhan para retomar as gravações de um projeto que deixaram pelo caminho cerca de 10 anos antes. Eis que, assim que começaram as novas filmagens, eclodiu a pandemia de Covid-19 e toda a equipe teve que entrar em lockdown, afetando diretamente os resultados finais daquele filme. Em teoria, seria interessante acompanhar as mudanças drásticas que ocorreram na realização de uma obra simplesmente porque a História aconteceu. Na prática, infelizmente Um Filme Inacabado nunca consegue extrair muito de sua premissa. Com exceção de um momento em que os membros da equipe celebram o Ano Novo Chinês através de conferências online (ah… tomara que aquela época não volte nunca) e de outro em que são perseguidos (um dele até apanha) por escaparem rapidamente do isolamento, não há praticamente mais nada de revelador ou instigante que o diretor Lou Ye apresente sobre o momento histórico em questão, sobre como a pandemia impactou aqueles indivíduos e seu trabalho ou sobre o fazer cinematográfico em si. Com isso, não demora até que Um Filme Inacabado se torne meio entediante – o que é uma pena, pois tinha muito potencial.

 

4) Mambembe (Idem, Brasil, 2024) – 4 estrelas em 5

Documentário no qual o diretor retoma as gravações de um projeto que tinha começado e parado lá em 2010 e aborda as mulheres de um circo itinerante. Ele demonstra tanto afeto ao se aprofundar em cada personagem desse circo que fica impossível chegar ao fim da projeção sem uma vontade absurda de conhecer, abraçar e falar com cada uma delas.

 

5) Os Enforcados (Idem, Brasil, 2024) – 4 estrelas em 5

 

 

6) Manas (Idem, Brasil, 2024) – 5 estrelas em 5

A crítica completa pode ser lida aqui.

 

7) 3 Obás de Xangô (Idem, Brasil, 2024) – 4 estrelas em 5

 

 

8) Quando Vira a Esquina (Idem, Brasil, 2024) – 4 estrelas em 5

Documentário que aborda várias garotas de programa da Vila Mimosa e que faz por essas mulheres, que vivem sendo tratadas como objeto, a coisa mais digna e respeitosa que se poderia fazer: humanizá-las. Ele pára pra escutar o que elas têm a dizer e cria personagens que, mesmo vivendo no mesmo lugar/contexto, têm visões e vivências tão diferentes que se tornam todas muito fascinantes.

 

9) Betânia (Idem, Brasil, 2024) – 3 estrelas em 5

 

 

10) Malu (Idem, Brasil, 2024) – 4 estrelas em 5

A crítica completa pode ser lida aqui.

 

11) Kasa Branca (Idem, Brasil, 2024) – 4 estrelas em 5

A crítica completa pode ser lida aqui.

 

12) Baby (Idem, Brasil, 2024) – 4 estrelas em 5

A crítica completa pode ser lida aqui.

 

13) The Seed of the Sacred Fig (Idem, Irã/Alemanha, 2024) – 5 estrelas em 5

A crítica completa pode ser lida aqui.

 

14) Retrato de um Certo Oriente (Idem, Brasil, 2024) – 3 estrelas em 5

 

 

15) Filhos do Mangue (Idem, Brasil, 2024) – 2 estrelas em 5

 

 

 

16) Apocalipse nos Trópicos (Idem, Brasil, 2024) – 2 estrelas em 5

A crítica completa pode ser lida aqui.

 

17) Serra das Almas (Idem, Brasil, 2024) – 2 estrelas em 5

 

 

18) Alma Negra, do Quilombo ao Baile (Idem, Brasil, 2024) – 4 estrelas em 5

 

 

19) Lispectorante (Idem, Brasil, 2024) – 3 estrelas em 5

É meio complicado falar sobre um filme que não te despertou muita coisa, mas vamos lá. Em Lispectorante, Glória Hartman é uma mulher em crise que retorna à sua cidade natal, agora abandonada. Dona de uma profunda e notória sensibilidade artística, ela começa a se relacionar com um artista independente da região. Ao adentrar nas ruínas da casa onde viveu Clarice Lispector, décadas antes, Glória passa a enxergar cenas líricas que mudam sua percepção sobre a própria vida, corrigindo seu rumo através… da Arte.

É um bom filme sobre a inquietação do artista, que é movido por “algo” dentro de si (a partir, em boa parte, do que o cerca) que o obriga a criar. Com uma direção de arte que se entrega a cores vivíssimas e uma montagem que sobrepõe imagens a fim de gerar um clima de “delírio” (ou uma “suspensão da realidade”), a diretora Renata Pinheiro compõe uma atmosfera que é hábil ao despertar uma sensação lúdica que tem tudo a ver com a jornada de Glória – e a personagem, por sua vez, é vivida por Marcélia Cartaxo em uma performance que combina a frustração de se ver num ponto da vida em que não desejaria estar e a doçura de quem ainda consegue enxergar algo no mundo que possa servir de matéria-prima para suas viagens criativas.

É um filme em que várias de suas peças parecem encaixadas no lugar, mas… falta algo. Acho que o longa dá muitas voltas no mesmo círculo, demorando um pouco a se articular em direção a algum ponto mais interessante. Talvez a culpa seja minha; eu dormi só cinco horas, tinha acabado de almoçar e estava exausto na hora.

 

20) Continente (Idem, Brasil, 2024) – 3 estrelas em 5

 

 

21) A Queda do Céu (Idem, Brasil, 2024) – 4 estrelas em 5

Esse filme é um documentário que eu vi no Festival do Rio e que achei poderosíssimo. O filme acompanha um ritual da comunidade Watoriki, que é uma das comunidades do povo Yanomami, e o protagonista dessa história é o líder Davi Kopenawa. A narração em off dele vai guiando a gente ao longo do filme. É interessante que, parando pra pensar agora, tem cinco filmes nessa lista aqui que, além de serem obras excepcionais, eles também servem como uma denúncia severa sobre algum problema maior, pra jogar um holofote em cima duma questão que precisa de luz.

No caso da Queda do Céu, os Watoriki vivem sob a iminência de uma “queda do céu” que vai ser causada pelos homens que Davi identifica como “povo da mercadoria”. Quem é esse povo? Esse povo são os garimpeiros ilegais. O setor do agronegócio que tá devastando as terras, a natureza e, também, os povos originários. Os diretores desse filme, o Eryk Rocha e a Gabriela Carneiro da Cunha, eles demonstram não só um cuidado muito grande pra fazer esse encontro antropológico se despindo de qualquer de preconceito e etnocentrismo, como eles também demonstram um respeito muito grande com aquela comunidade. Eles dão a ela todo destaque que podem dar.

E acho excepcional como a fotografia, a montagem e, principalmente, o som fazem de tudo pra imergir o espectador na realidade dos Watoriki. Eles criam longos planos (de vários minutos) que mostram só… o céu, as estrelas. Vários planos-detalhe de itens que eles manejam, do fogo, da terra, enfim. Isso tudo ajuda a estabelecer a conexão espiritual deles, dos rituais deles e dos espaços que eles habitam.

Além disso, fiquei muito contente que esse filme ganhou o prêmio de Melhor Som, no Festival do Rio, porque o desenho de som desse filme é um personagem fundamental. Tanto pra ajudar a criar essa contemplação e essa ligação dos personagens com a natureza, quanto pra ajudar a construir a tensão, o horror e a ameaça da chegada dos garimpeiros e do desmatamento. É aterrorizante.

A Queda do Céu é um documentário realmente bem impactante.

 

22) Enterre Seus Mortos (Idem, Brasil, 2024) – 3 estrelas em 5

 

 

23) Conclave (Idem, EUA, 2024) – 4 estrelas em 5

A crítica completa pode ser lida aqui.

 

24) Super/Man: A História de Christopher Reeve (Super/Man: The Christopher Reeve Story, EUA, 2024) – 4 estrelas em 5

A crítica completa pode ser lida aqui.

 

25) As Aventuras de uma Francesa (Yeohaengjaui pilyo, Coreia do Sul, 2024) – 4 estrelas em 5

Assistir a um filme de Hong Sang-soo na telona do cinema é sempre uma experiência interessante: é mais ou menos como ser engolido por… detalhes, conversas e coisas pequenas do dia a dia que, acumuladas, compõem o nosso viver. É como se a tela se tornasse uma janela através da qual víssemos, por uma horinha e meia, alguns dos conflitos mais corriqueiros que poderíamos imaginar.

No caso, As Aventuras de uma Francesa acompanha uma professora de francês, interpretada por Isabelle Huppert (o que é sempre ótimo), morando na Coreia do Sul e tentando superar suas dificuldades enquanto ensina sua língua aos cidadãos locais. O que torna a jornada da personagem instigante é o fato de não depender de reviravoltas; apenas… de sentir sua relação com os espaços e/ou com os outros indivíduos que neles ocupam. Isso enquanto sente suas próprias inseguranças, aqui refletidas/respingadas em um aluno no terço final.

Estas pequenas coisas, que interessam tanto ao Cinema de Hong Sang-soo, tornam-se gigantescas com o toque particular do diretor e com a projeção na tela grande.

 

26) O Aprendiz (The Apprentice, EUA, 2024) – 4 estrelas em 5

A crítica completa pode ser lida aqui.

 

27) A Garota da Agulha (Pigen Med Nålen, Suécia, 2024) – 3 estrelas em 5

 

—–x—–

Meu ranking pessoal de longas (inéditos!) vistos no Festival do Rio 2024:

  1. The Seed of the Sacred Fig
  2. Manas
  3. A Queda do Céu
  4. O Aprendiz
  5. Kasa Branca
  6. Malu
  7. Quando Vira a Esquina
  8. Mambembe
  9. Conclave
  10. Super/Man: A História de Christopher Reeve
  11. Baby
  12. O Quarto ao Lado
  13. Os Enforcados
  14. Betânia
  15. As Aventuras de uma Francesa
  16. Alma Negra, do Quilombo ao Baile
  17. 3 Obás de Xangô
  18. Lispectorante
  19. Retrato de um Certo Oriente
  20. A Garota da Agulha
  21. Continente
  22. Enterre Seus Mortos
  23. Um Filme Inacabado
  24. Emilia Pérez
  25. Filhos do Mangue
  26. Apocalipse nos Trópicos
  27. Serra das Almas

—–x—–

Essa foi a cobertura. Até ano que vem!

Mais para explorar

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