Logan

Título Original

Logan

Lançamento

2 de março de 2017

Direção

James Mangold

Roteiro

James Mangold, Scott Frank e Michael Green

Elenco

Hugh Jackman, Patrick Stewart, Dafne Keen, Boyd Holbrook, Stephen Merchant, Richard E. Grant, Eriq La Salle, Elise Neal, Elizabeth Rodriguez, David Kallaway, Han Soto e Krzysztof Soszynski

Duração

137 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Simon Kinberg, Hutch Parker e Lauren Shuler Donner

Distribuidor

Fox

Sinopse

Em 2029, Logan (Hugh Jackman) ganha a vida como chofer de limousine para cuidar do nonagenário Charles Xavier (Patrick Stewart). Debilitado fisicamente e esgotado emocionalmente, ele é procurado por Gabriela (Elizabeth Rodriguez), uma mexicana que precisa da ajuda do ex-X-Men para defender a pequena Laura Kinney / X-23 (Dafne Keen). Ao mesmo tempo em que se recusa a voltar à ativa, Logan é perseguido pelo mercenário Donald Pierce (Boyd Holbrook), interessado na menina.

Publicidade

Logan | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

Faz todo o sentido que Logan tenha recebido este título em vez de ser batizado de Wolverine 3 ou algo parecido: concentrando-se bem mais na pessoa do que no ícone preservado desde o primeiro X-Men, a última aparição de Hugh Jackman como o anti-herói que catapultou sua carreira nos apresenta a uma versão completamente diferente do personagem, trazendo um mutante que parece ter sido destruído emocional e fisicamente pelas marcas deixadas pelo seu passado – uma concepção ambiciosa e que é devidamente correspondida com uma abordagem que se afasta daquilo que conhecemos como “adaptação de quadrinhos”, entregando aquele que talvez seja o longa mais intimista da franquia. Em outras palavras: Logan não é um filme de super-herói convencional, mas uma obra centrada em um homem que tem superpoderes.

Novamente dirigido por James Mangold (que comandou o mediano Wolverine – Imortal, há quatro anos), o projeto se passa num ano de 2029 alternativo e tem início revelando Logan como um sujeito que manca, tem dificuldades ao desembainhar suas garras de adamantium, conta com um fator de cura que já não funciona tão bem quanto antigamente, precisa de óculos para a leitura, demonstra uma fixação preocupante por bebidas alcoólicas, ganha dinheiro dirigindo uma limousine e mora no meio de um deserto cuidando do professor Charles Xavier – que, agora, está mentalmente debilitado e pode se transformar numa arma de destruição em massa. Ainda que se esforce para manter distância das desventuras brutais que enfrentou no passado, Logan é forçado à retomar sua selvageria depois que a menina Laura Kinney surge em sua vida.

Criando referências pontuais aos outros filmes da série (como citações a eventos específicos ou alusões a itens que foram importantes nos longas anteriores), Logan evoca uma nostalgia que surtirá um efeito especial naqueles espectadores que acompanharam a jornada do personagem ao longo dos últimos 17 anos: sim, é chocante encontrar o herói num estado tão degradado; contudo, isso se torna ainda mais impactante se lembrarmos de quando vimos este mesmo personagem crescer, lutar em guerras, esquecer seu passado, redescobri-lo gradualmente com o passar das décadas, ser obrigado a matar o amor de sua vida, afastar-se de outra paixão que apareceu em seu caminho, viajar no tempo e estrelar diversas brigas. Por outro lado, o roteiro escrito pelo próprio James Mangold junto a Scott Frank e Michael Green também é hábil a ponto de funcionar sem depender demais dos seus antecessores – e notem, por exemplo, que a metalinguagem envolvendo uma revista em quadrinhos não só confere ao filme uma identidade própria como ainda justifica o fato desta obra ser tão mais melancólica e violenta do que as anteriores.

Por falar nisso, não há como deixar de mencionar um dos aspectos mais aguardados de Logan: a liberdade concedida por uma classificação indicativa que, desta vez, é mais elevada e bem menos limitadora (algo que se deve ao sucesso arrebatador de Deadpool). Coordenadas por Mangold com uma brutalidade que certamente levará os fãs do personagem à loucura, as sequências de ação finalmente trazem o Wolverine que todos queriam ver há 17 anos, mas essa violência nunca soa gratuita e serve especialmente para ilustrar o impacto que a selvageria dos vilões e de pessoas com garras nas mãos realmente causaria – e quando vemos Logan sangrando, passamos a temer ainda mais pelo seu destino. Além disso, o fato da produção ser assumidamente voltada para o público permite que o filme inclua palavrões que vão além daqueles um ou dois “fucks” que surgiram a partir de X-Men: Primeira Classe (aliás, eu nunca imaginei que o professor Xavier pudesse ser um senhor tão desbocado).

De todo modo, o que verdadeiramente chama a atenção em Logan é sua abordagem que se afasta quase que completamente dos filmes de super-heróis costumeiros: logo na cena que abre a projeção, Mangold surpreende ao não investir numa sequência de créditos elaborada e estilizada (como ocorre nos longas dos X-Men), preferindo apostar numa tela preta acompanhada por sons diegéticos que, alguns segundos depois, serão complementados pelas imagens da primeira cena da narrativa. Da mesma forma, os conflitos enfrentados pelos personagens nunca remetem às recentes adaptações de HQs, trazendo um herói cujo tormento físico e emocional soa sempre genuíno, um mentor cujo estado de saúde chega a ser trágico e vilões que despertam o ódio de maneira legítima. Por sua vez, o confronto que representa o clímax da projeção funciona ao se manter contido em sua escala e dispensar batalhas grandiosas ou vilões extravagantes – e embora tenha sido composta por Marco Beltrami, eu não me espantaria caso descobrisse que alguns trechos da trilha sonora foram elaborados pelo mesmo Clint Mansell de O Lutador (outra obra espetacular que gira em torno de um batalhador torturado pelas consequências do passado).

O que nos traz à interpretação de Hugh Jackman e sua última oportunidade de viver Wolverine: surgindo com um semblante exaurido e um corpo que já não é mais tão definido quanto aquele que vimos nos capítulos anteriores, o personagem-título tosse o tempo todo e exibe dificuldades notáveis ao lutar contra oponentes que, no passado, não representariam uma ameaça tão grande – e não é à toa que, pela primeira vez na franquia, eu temi que algo pudesse machucar gravemente o mutante. Da mesma maneira, Jackman não só transmite as fragilidades de Logan com convicção como ainda diferencia essa última aparição das outras que a antecederam (e o peso dramático que o protagonista parece carregar nas costas dá origem a momentos tocantes e funciona ainda mais – como já foi dito – quando relembramos tudo aquilo que ele vivenciou nas décadas antecessoras). E se a pequena Dafne Keen é uma surpresa promissora e compõe Laurie como uma garotinha que gera tensão graças aos seus olhos intimidadores (um sentimento que se justifica quando ela desembainha as garras e começa a cortar todos ao seu redor), Patrick Stewart reinventa Charles Xavier de modo comovente, apresentando um Professor X completamente distinto daquela figura poderosa e sábia que prevalecia desde o primeiro X-Men (e reencontrar aquele indivíduo de um jeito tão enfraquecido é algo que chega a ser trágico).

Igualmente eficientes são as interações entre os personagens: contando com dois personagens que são velhos amigos e que aspiram às glórias compartilhadas no passado, a produção é especialmente eficaz na maneira como aborda a amizade de longa data entre Logan e Charles Xavier, que vivem juntos uma situação difícil e que sempre parecem estar dispostos a oferecer o afeto que eles têm um pelo outro (e o ápice do apego está presente na lindíssima cena que ocorre num jantar, representando um dos poucos momentos genuinamente felizes que a dupla experimenta no decorrer da projeção). Já a interação entre Logan e Laurie remete de imediato à dinâmica entre o Joel e a Ellie de The Last of Us, trazendo um adulto que se recusa a cuidar de uma menina por medo de que velhos traumas retornem, mas que aos poucos começa a se importar com a garota – e, graças ao bom roteiro de Mangold, Frank e Green, essa transição soa orgânica e convincente, pois é possível acreditar que Logan vai desenvolvendo uma relação calorosa e recíproca com Laurie a ponto de se configurar como uma figura paterna.

Por fim, temos a concepção de um universo triste e que parece estar se despedaçando, refletindo as condições físicas e emocionais do protagonista: imaginando um mundo ao mesmo tempo futurista e desgastado, o designer de produção François Audouy inclui caminhões que se dirigem sozinhos, máquinas enormes que auxiliam os trabalhadores rurais e personagens com mãos biônicas, mas isso tudo é cercado por paisagens que poderiam pertencer ao nosso presente. E se a fotografia de John Mathieson imprime um tom árido e quente que transmite a sensação de calor para o espectador sem se esquecer do verde refrescante das florestas, a trilha sonora de Marco Beltrami mostra-se ousada ao nunca se render à tentação de criar temas grandiosos durante cenas mais movimentadas, apostando em gaitas, pianos e instrumentos de cordas que vão na contramão do que o público esperaria encontrar nessas circunstâncias e ressaltando o tom visceral que existe nas agoniantes sequências de ação. Para completar, a maquiagem merece ser reconhecida em premiações, destacando-se graças ao envelhecimento perfeito (vejam as rugas no rosto de Logan ou as manchas na testa de Xavier), às marcas detalhadas deixadas pela violência e à aparência “nosferática” de Caliban.

Remetendo ao belíssimo Shane (ou Os Brutos Também Amam) na forma como retrata um herói que tenta se afastar do seu passado, mas que vê seus esforços sendo frustrados por causa de suas condições naturais, Logan se encerra de maneira perfeita com aquela que talvez seja uma das imagens mais marcantes que a franquia e os filmes de super-heróis já produziram, demonstrando a reverência e a devoção que o personagem-título sempre terá aos X-Men e ao professor Xavier; o que, de certo modo, também pode ser encarado como um relato do quão importante a série é para Hugh Jackman e, claro, para o público.

Mais para explorar

Gladiador II | Crítica

Mesmo contado com momentos divertidos e ideias interessantes aqui e ali, estas quase sempre terminam sobrecarregadas pelo tanto de elementos simplesmente recauchutados do original – mas sem jamais atingirem a mesma força.

Wicked | Crítica

Me surpreendeu ao revelar detalhes sobre o passado das personagens de O Mágico de Oz que eu sinceramente não esperava que valessem a pena descobrir, enriquecendo a obra original em vez de enfraquecê-la.

Ainda Estou Aqui | Crítica

Machuca como uma ferida que se abriu de repente, sem sabermos exatamente de onde veio ou o que a provocou, e cujo sofrimento continua a se prolongar por décadas sem jamais cicatrizar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *