Primeira Classe

Título Original

X-Men: First Class

Lançamento

3 de julho de 2011

Direção

Matthew Vaughn

Roteiro

Matthew Vaughn, Jane Goldman, Ashley Edward Mille e Zack Stentz

Elenco

James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Rose Byrne, Kevin Bacon, Nicholas Hoult, January Jones, Zoë Kravitz, Caleb Landry Jones, Edi Gathegi, Lucas Till e Jason Flemyng

Duração

132 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Lauren Shuler Donner, Bryan Singer, Simon Kinberg e Gregory Goodman

Distribuidor

Fox

Sinopse

No início dos anos 1960, durante o auge da Guerra Fria, um mutante chamado Charles Xavier conhece um mutante chamado Erik Lehnsherr. Apesar de suas origens muito diferentes – Charles cresceu em uma família rica enquanto Erik perdeu seus pais em Auschwitz -, os dois se tornam grandes amigos. Enquanto o mundo oscila à beira de uma guerra nuclear, Charles e Erik unem forças com outros mutantes para salvar a humanidade. No entanto, um acontecimento separa os dois amigos.

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X-Men: Primeira Classe | Crítica

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Após o desastroso X-Men Origens: Wolverine, tornou-se fácil torcer o nariz para o exemplar da franquia X que viria logo em seguida. Tudo levava a crer que X-Men: Primeira Classe, segunda tentativa de realizar um prequel da trilogia Singer-Ratner, tratava-se de uma produção precária e feita de maneira desleixada apenas para arrecadar uns trocados a mais para a 20th Century Fox com a marca dos mutantes, mesmo com o ótimo elenco, com o retorno de Bryan Singer à franquia (dessa vez, como produtor) e com direção assinada por Matthew Vaughn (cineasta responsável pelo fabuloso Kick-Ass). Assim, descobrir a eficácia deste prelúdio é uma surpresa mais que agradável: comprovando que a Fox pôs a mão na consciência, este Primeira Classe se revela um filme mais interessado no desenvolvimento dos personagens e na idealização de um pano de fundo intrincado do que na ação em si, unindo-se a X-Men e X-Men 2 como um dos melhores capítulos da série.

Escrito por Vaughn, Jane Goldman, Ashley Edward Mille e Zack Stentz, o roteiro traz como ponto de partida a sequência inicial do primeiro X-Men, mostrando Erik Lehnsherr em sua adolescência se encaminhando para o campo de concentração e revelando suas habilidades especiais de controlar metais ao ser afastado de sua mãe. Com isso, Sebastian Shaw vê-se atraído e, afim de fazer o menino expor completamente o potencial de sua mutação, executa uma tragédia traumatizante para Erik. Décadas depois, Lehnsherr, que desde então busca vingança contra Shaw, torna-se amigo do jovem telepata de ideais diplomáticos Charles Xavier. Eis que nos anos 60, em meio ao cenário da Crise dos Mísseis Cubanos, a agente da CIA Moira MacTaggert os recruta para formar um grupo de mutantes para que possam ajudar a organização a perseguir Shaw. Com isso, Xavier, Lehnsherr, Raven Darkholme, Hank McCoy, Sean Cassidy e Alex Summers tornam-se respectivamente Professor X, Magneto, Mística, Fera, Banshee e Havok para, ao lado de Moira, impedir o Clube do Inferno composto por Sebastian Shaw, Emma Frost, Azazel e Maré Selvagem de executar um plano que terminará com Estados Unidos e União Soviética entrando em conflito e, com outros países envolvidos, estourando uma Terceira Guerra Mundial , para posteriormente fazer com que Shaw se torne ditador da Terra dominada por mutantes.

Incluindo novamente o subtexto que tornou a trilogia Singer-Ratner tão memorável (sim, também considero X-Men: O Confronto Final um ótimo filme), o roteiro mostra-se impecável ao utilizar esse discurso e somá-lo ao fato de que a produção ambienta-se nos anos 60, fazendo com que as duas características se beneficiem. Com isso, Primeira Classe agrada aos fãs por desenvolver-se na época em que os mutantes X surgiam nos quadrinhos, e dessa vez com os mesmos uniformes. Ao mesmo tempo, os indivíduos – como eu – que se encantam com histórias envolvendo realidades paralelas e teorias que questionam como o desenrolar da História teria ocorrido se tivesse acontecido tal evento se verão profundamente agradados com a narrativa interessantíssima do longa. Ao mesmo, o contexto que reflete a realidade ao promover discussões a respeito do preconceito contra minorias será capaz de agradar a todos, beneficiando e beneficiando-se também das outras duas características ao usar eventos históricos como forma de colocar um pé de sua abordagem na realidade.

E se um dos maiores problemas envolvendo a maioria dos prequels encontra-se justamente no fato de que já sabemos como a trama irá terminar ou como as versões mais jovens de tais personagens estarão espiritualmente ao final do prelúdio, tornando-o previsível e dificultando gravemente qualquer chance de se conferir algum grau de tensão à obra. No caso de Primeira Classe, porém, tal defeito é evitado de maneira admirável: além de funcionar omo reboot, o filme é beneficiada também devido à forma como o trabalho de Vaughn conduz a narrativa, apresentando novos personagens que são admiráveis, aprofundando os já conhecidos que não haviam ganhado destaque anteriormente (como Mística) e revelando aspectos a respeito da vida dos protagonistas, conferindo-lhes dramas pessoais desconhecidos. Com isso, a busca vingativa de Magneto por Sebastian Shaw torna-se instigante, sem contar como o desenvolvimento da trama se beneficia da emoção adicionada pelo talento demonstrado por Vaughn, fazendo com que o filme torne-se instigante e eletrizante.

Entretanto, o grande ponto positivo certamente diz respeito ao elenco e seus personagens: numa produção estrelada pelos X-Men onde Hugh Jackman, Patrick Stewart e Ian McKellen fazem-se ausentes, é no mínimo admirável que o novo elenco consiga alcançar o nível daquele da trilogia original. Paralelamente, Kevin Bacon entrega uma performance fantástica, fazendo de Sebastian Shaw um vilão ameaçador e cuja vastidão de seu poder contribui para que o sentimento de urgência em torno da situação a qual os heróis se encontram seja alcançado. Entretanto, assim como a Irmandade de Mutantes no primeiro X-Men, o restante do Clube do Inferno, com exceção de Emma Frost, jamais se vê ganhando aprofundamento, dando a impressão de que Azazel e Maré Selvagem encontram-se na equipe antagonista pelo simples prazer de criar pânico.

Por outro lado, Rose Byrne interpreta uma Moira interessante e cujas intenções soam verdadeiras, além de jamais se entregar a estereótipos machistas típicos de produções da 20th Century Fox (vide a Mulher Invisível dos dois horrendos Quarteto Fantástico); por sinal, palmas para o roteiro, que conseguiu encaixar uma situação onde a personagem aparece semi-nua sem que a cena soe supérflua ou artificial. De mesmo modo, Nicholas Hoult surge como uma versão jovial de Hank McCoy interessante (ainda que não tanto quanto a mais velha e experiente vista em X-Men 3), enquanto Caleb Landry Jones e Lucas Till entregam performances aceitáveis como Sean Cassidy/Banshee e Alex Summers/Havok respectivamente – este segundo, parente de Scott Summers, o Ciclope. Fora isso, Zoë Kravitz pouco tem a fazer como Angel Salvadore, soando rasa e esquecível ao passo que Edi Gathegi entrega um Dawin (codinome do personagem Armando Muñoz) simpático e carismático.

Simultaneamente, Jennifer Lawrence cria uma Mística que finalmente ganha o destaque que merece. Raven é uma mulher frustrada com sua condição desde o início por ter de se esconder sob uma aparência a qual não é a dela. Com essa ressalva criada devido à não aceitação dos mutantes perante a sociedade, a personagem cria uma dinâmica interessante tanto com Charles como com Erik. Com isso, sua transição para uma personagem cujos ideais se opõem à raça humana soam convincentes. Todavia, os grandes pilares do elenco e da obra são James McAvoy e (principalmente) Michael Fassbender, como os jovens Charles Xavier e Erik Lensherr: o primeiro soa interessantíssimo aqui justamente pelo fato de ser mais novo, sendo mais inexperiente, divertido e (pasme!) solto, mas que a todo momento convence como um homem que se torará aquele sábio vivido por Patrick Stewart. Fora isso, a apreciação proporcionada por seu carisma ainda é beneficiada devido à sua inteligência, que rende momentos divertidos e impede que o personagem se torne inútil nas missões. E mais: seu pensamento claramente diplomático casa primorosamente com o Xavier visto na trilogia original, criando mais um fator que torna crível a versão mais velha vista nos exemplares passados da franquia; além de trazer uma bondade e uma compaixão que automaticamente o diferenciam de Magneto e, consequentemente, criam mais uma razão para que aquele Professor X mais velho torne-se verossímil.

Quase tudo dito no parágrafo anterior também pode ser aplicado ao jovial Magneto: Michael Fassbender, que tinha se provado em 300 e Bastardos Inglórios, cria um antagonista cujas motivações vão além do já conhecido pensamento mais radical acerca da opressão contra mutantes e ganham contornos mais trágicos; e com isso, o fato do personagem ser um sobrevivente do Holocausto torna sua descrença nos humanos ainda mais verossímil. Com isso, o Magneto vivido por Ian McKellen na trilogia Singer-Ratner (assim como o Xavier de Patrick Stewart em relação ao de James McAvoy) torna-se um personagem ainda mais profundo e, consequentemente, interessante. Como se não bastasse o personagem ser notoriamente multifacetado, Fassbender faz de seu Erik Lensherr um personagem divertidíssimo ainda que amargurado e traumatizado, fazendo com que Magneto – quando ainda estava ao lado de Xavier – assuma uma identidade que lembra bastante o comportamento mais explosivo e carismático de Wolverine na trilogia original, impossibilitando um sentimento de falta provocado pela ausência de Hugh Jackman e ainda tornando a química entre os dois personagens mais detalhada.

Além disso, Vaughn (assim como Singer e Ratner) sabe ilustrar a relação entre Xavier e Lensherr, mas dessa vez merece mais créditos, pois a química respeitosa e amistosa entre os dois serve como um ponto de partida brilhante para o que foi visto na trilogia original. Enquanto a dupla possui boas motivações para sua amizade e esta é desenvolvida de forma admirável, a interação entre os dois soa interessante e bem realizada pelo simples fato de que cada um carrega consigo uma personalidade cujas diferenças são nítidas. Se um sonha com a convivência pacífica entre humanos e mutantes, o outro deseja a erradicação dos primeiros. Com isso, é admirável que a franquia jamais tenha se entregado a um maniqueísmo, e assim também não deixa de ser genial que, mesmo quando decidem tomar rumos diferentes a partir de seus pensamentos opostos, Professor X e Magneto continuam mantendo um respeito mútuo; sem contar que um tinha uma vida confortável e divertida, enquanto o outro levava uma sofrida e seguida pela sede de vingança. Também não deixa de ser interessante notar o uso que Vaughn faz de rimas visuais com os exemplares anteriores da série, como na sequência em que Charles e Erik jogam xadrez.

Entretanto, Primeira Classe tem notórios problemas: sem saber se definir exatamente como reboot ou prequel, o roteiro causa estranheza com furos de roteiro óbvios – e devo alertá-los que o restante deste parágrafo trará spoilers do filme. O jovem Xavier fica paralítico e segue um rumo diferente do seguido pelo jovem Magneto, mas e quanto à sequência inicial de X-Men 3, que traz Patrick Stewart andando em parceria com Ian McKellen? E a Mística irmã de consideração de Xavier, característica sequer mencionada na trilogia original? Daí pressupõe-se que o filme é um reinício da série X-Men, mas e quanto à aparição especial de Wolverine interpretado por Hugh Jackman? Aí, resta conferir o resultado de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido. Sem contar a química profunda, porém apressada entre Mística e Fera. E por sinal, alguém pode me explicar o porquê de Raven ter consolado Hank após este ter se transformado num ser azul peludo dizendo que ”…era assim que você deveria ser” se essa aparência tinha sido resultado de um teste para livrar o jovem cientista de sua mutação enquanto Darkholme defendia o ideal de que todos deveriam aceitar suas verdadeiras raízes? Por outro lado, apesar dos efeitos digitais surgirem pavorosos em cena, a mixagem de som mostra-se é absolutamente fantástica, ao passo que a trilha de Henry Jackman que confere uma energia invejável ao longa.

Mesmo com alguns pecados aqui e ali, X-Men: Primeira Classe continua sendo mais um grande acerto na franquia X e a maior surpresa positiva apresentada por ela até então. Divertido, empolgante, inteligente, maduro e emocionalmente intenso, características primordiais dessa tão fantástica cinessérie dos mutantes.

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