Dias de um Futuro Esquecido

Título Original

X-Men: Days of Future Past

Lançamento

22 de maio de 2014

Direção

Bryan Singer

Roteiro

Simon Kinberg

Elenco

Hugh Jackman, James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Patrick Stewart, Ian McKellen, Peter Dinklage, Evan Peters, Omar Sy, Ellen Page, Shawn Ashmore, Fan Bingbing e Daniel Cudmore

Duração

131 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Bryan Singer, Lauren Shuler Donner, Simon Kinberg e Hutch Parker

Distribuidor

Fox

Sinopse

Convencido de que os mutantes são uma ameaça para a humanidade, o Dr. Bolivar Trask desenvolve os Sentinelas, gigantescos robôs, que os perseguem impiedosamente. Os poucos sobreviventes têm que viver escondidos. Entre eles está Wolverine, que viaja no tempo, rumo aos anos 1970, a fim de impedir que este futuro trágico para os mutantes se torne realidade.

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X-Men: Dias de um Futuro Esquecido | Crítica

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Os X-Men me proporcionaram algumas das melhores experiências que já tive com o gênero ”super-heróis” tanto nos Quadrinhos quanto no Cinema. No entanto, mesmo com seu subtexto riquíssimo que torna os filmes de 2000-2006 e o prequel de 2011 tão respeitáveis, a franquia sofria de inúmeras incongruências envolvendo sua cronologia – que discuti ao analisar Primeira Classe. E mesmo com a imensa expectativa gerada por fatores que partiam desde a cena final do segundo Wolverine até os trailers excepcionais, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, novo longa da cinessérie, carregava a dificílima missão de consertar parte das gritantes incoerências utilizando como único recurso imaginável (fora um reboot completo) uma característica igualmente arriscada: a viagem no tempo. Felizmente, a volta de Bryan Singer (X-Men X-Men 2) provou que o cineasta ainda sabe dirigir uma filme dos mutantes melhor que Gavin Hood, James Mangold ou mesmo Brett Ratner, tornando Dias de um Futuro Esquecido um dos capítulos mais marcantes da saga.

Realizado pelo mesmo Simon Kinberg que escreveu X-Men a partir do argumento assinado pelo mesmo ao lado de Matthew Vaughn e Jane Goldman, o roteiro do novo longa tem início no longínquo ano de 2023, onde o mundo é dominado por robôs impiedosos programados para prender ou assassinar cruelmente mutantes e simpatizantes da causa destes. Os sobreviventes dos X-Men resistem com o auge de suas forças ao lado de Magneto e novos mutantes. Desesperados, os membros da resistência descobrem que Kitty Pryde é capaz de transportar a consciência de outros indivíduos para décadas no passado caso tenham capacidade de regeneração para suportarem as lacerações no cérebro – mutação criada para o filme numa excelente adaptação (entre várias). Com isso, a consciência do envelhecido Logan/Wolverine é mandada para o seu corpo mais novo do ano de 1973 para buscar os jovens Charles Xavier, Fera e Erik Lensherr (ou Magneto), formando um plano para impedir Mística de matar o industrial Bolivar Trask, criador dos robôs caçadores de mutantes Sentinelas, e consequentemente deter a distopia a qual o homo superior foi confinado.

Apostando em elementos mais fantasiosos cujo grau de surrealismo ainda não havia sido visto na cinessérie, Dias de um Futuro Esquecido consegue saltar com segurança da abordagem mais ”pé no chão” mantida até então na franquia X para uma mais próxima da recorrente nos Quadrinhos sem que perca a riqueza de seu subtexto sobre intolerância. Com isso, ao mesmo tempo em que traz de volta tudo que torna os quatro X-Men (deixando os Wolverine de lado) anteriores e, consequentemente, agradar os que só conheciam e se encantavam com as aventuras cinematográficas do grupo, ao mesmo tempo em que traz um clima remetente às HQs dos anos 90 protagonizadas pela equipe, a nova película dos mutantes torna-se capaz de agradar tanto os cinéfilos não leitores quanto os leitores de quadrinhos. E melhor: o filme consegue se sustentar como uma experiência evocativa mesmo se o espectador não tiver assistido aos exemplares anteriores da série, sobrevivendo enquanto entretenimento independente do resto da franquia ainda que, obviamente, os espectadores que já tiverem visto os outros X-Men aproveitarão com mais energia.

É possível sentir aqui um bom retorno de Singer à franquia X-Men. Com enquadramentos que remetem diretamente ao estilo empregado em X-Men 1 e 2Dias de um Futuro Esquecido remete não só aos dois primeiros filmes da série como a toda a trilogia original ao incluir, por exemplo, uma sequência computadorizada de créditos iniciais seguida por uma imagem de uma das portas (circulares com um ”X” formatado em sua estrutura) da mansão de Charles Xavier. Até mesmo os créditos finais remetem aos empregados nos desfechos de X-Men 13. No que diz respeito à pancadaria, Singer merece aplausos enérgicos por conseguir criar sequências de ação absolutamente fantásticas e, acima de tudo, incrivelmente compreensíveis. Adotando enquadramentos que conferem uma visão totalmente ampla dos cenários durante as batalhas, Singer é capaz de demonstrar com clareza absoluta tudo que está ocorrendo em tela, mostrar as ações de cada um dos combatentes e como elas se interagem, além de usar de maneira absolutamente inteligente a câmera lenta na maravilhosa cena inicial com o intuito de ilustrar os eventos registrados de forma mais compreensível. Vale lembrar que o Nimrod é mostrado aqui em quantidade maciça e em anonimato, surgindo como os caçadores de mutantes descendentes dos Sentinelas e tendo sua ferocidade representada de forma assustadora, rendendo assassinatos de mutantes surpreendentemente brutais e agressivos.

Hábil ao retratar a diferença entre as duas linhas temporais, Singer e sua equipe de produção saem-se primorosamente ao adotar um estilo totalmente distinto para ilustrar respectivamente os anos de 1973 e de 2023. Enquanto os figurinos, músicas, design de produção, fotografia e direção de arte sabem recriar os anos 70 com absoluto realismo e competência que, inevitavelmente, acabam remetendo ao recente Trapaça, as mesmas categorias técnicas fazem o futuro distópico acompanhado paralelamente soar igualmente plausível, retratando a época com roupas de colorações mais neutras e menos extravagantes (uma evolução dos uniformes de couro preto da trilogia original), design de produção que retrata a Terra como um lugar absolutamente desagradável, tenso e perigoso, cores frias, escuras e que dividem a tela com luzes roxas no melhor estilo O Exterminador do Futuro – que, por sinal, fora influenciado pela HQ a qual o novo filme dos mutantes se baseia.

Sem contar também a inteligente sacada do diretor em usar eventualmente câmeras antigas e conceber noticiários criados para o filme, ajudando a manter o clima setentista da narrativa de maneira bastante viva. Por falar em figurinos, vale ressaltar que as vestimentas utilizadas pelo elenco sempre procuram traduzir as emoções sentidas pelos personagens em determinadas sequências e retratar também todo o clima da situação a qual os personagens se encontram, alternando entre as cores mais chamativas e a sobriedade dependendo do momento em questão. E assim como Primeira Classe,  Dias de um Futuro Esquecido também utiliza o contexto histórico e cultura de épocas como fonte de criação de uma série de referências e forças motrizes determinantes para o desenvolvimento dos personagens em suas versões setentistas, criando uma clara alegoria à cultura da heroína para retratar o vício de Xavier no soro que lhe devolve a mobilidade das pernas mas apaga sua telepatia e divertindo-se ao apresentar uma nova versão para a morte do presidente John Kennedy.

Outro nome a ser destacado é o do montador e compositor John Ottman: conseguindo lidar com duas linhas narrativas ao mesmo tempo sem cair em nenhuma quebra de ritmo, o montador consegue manter uma dinâmica exemplar entre o passado e o futuro e melhor ainda: usar seu trabalho para auxiliar a formação do tom requisitado por muitas das cenas, além de se mostrar inteligente também ao apresentar, nesse mesmo momento, as batalhas definitivas ocorridas tanto no passado quanto no futuro e posicioná-las retirando alguns trechos variados de cada combate e complementando-os com trechos que ocorrem na linha temporal alternativa e que, teoricamente, serviriam para concluir ações parecidas acontecidas na outra linha. Para ficar mais fácil: as sequências de ação do clímax tanto do passado como do futuro são apresentadas ao mesmo tempo e ambas vão se complementando. Fora isso, a excepcional montagem também é funcional ao tornar o ritmo do longa ágil e fazer do filme uma experiência tremendamente apreciativa e divertida. Ottman, que havia realizado a ótima trilha sonora de X-Men 2, retorna com a melhor composição incidental já vista na cinessérie dos mutantes e, além de criar momentos emblemáticos que acentuam o sentimento de urgência incutido pela direção e pela montagem, ainda traz de volta o fantástico tema musical do segundo filme dos X-Men numa versão ainda melhor.

Além de se entreter brincando com o contexto histórico, o roteiro também é competente ao criar diálogos excepcionais e explorar com grande eficiência a química entre os personagens, seja ela usada como comédia (como a divertidíssima interação entre Wolverine e Fera) ou não. As sequências onde o jovem Charles Xavier discute fervorosamente com o jovem Erik Lensherr dentro de um avião e outra onde o primeiro é apresentado à sua versão mais velha são dois dos melhores momentos vistos no Cinema em 2014 até agora. Mas além de conceber dramaticidade com absoluta eficácia, o roteiro demonstra-se sábio ao alternar entre a seriedade e a comédia. O humor do filme, por sinal, também é digno de nota por sempre surgir com naturalidade e jamais soar previsível ou determinado a roubar o foco da narrativa, provocando o riso e seguindo adiante com a história.

E claro, não tem como deixar o elenco de lado: como já era de se esperar, Hugh Jackman (Os Miseráveis Os Suspeitos) ressurge com seu carisma costumeiro e novamente cria um Logan fabuloso, comprovando pela sétima vez que é um dos melhores intérpretes de personagens de Quadrinhos no Cinema. Ao mesmo tempo (literalmente), James McAvoy (Em Transe) aparece como um Charles Xavier bastante distinto do visto em Primeira Classe, numa interpretação perturbada, traumatizada e amargurada do personagem onde as três características são ilustradas de forma absolutamente convincente e criando um contraponto interessantíssimo ao Professor X sábio, preocupado e mais amadurecido do futuro. O mesmo pode ser dito de Magneto, onde Michael Fassbender (300Bastardos Inglórios e Shame) entrega um Erik Lensherr imprevisível, instável e totalmente focado na causa mutante, ao contrário de sua versão futurista, que é obrigada a posicionar o ideal em segundo plano devido à situação distópica a qual todos os mutantes se encontram. E se é fabuloso ver a volta do elenco d, a oscarizada Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida) retorna à personagem Mística numa versão claramente evoluída comparada à de Primeira Classe, surgindo como se estivese meio de uma transição: na de garota amargurada, porém bondosa de Primeira Classe para uma mulher fria e implacável como a de Rebecca Romjin.

Ao mesmo tempo, Peter Dinklage (Game of Thrones) entrega um Bolivar Trask multifacetado que jamais se limita a ser uma mera caricatura e possui motivações cientificamente profissionais, sem demonstrar um ódio exacerbado pelos mutantes – na verdade, fica claro que ele até possui um certo fascínio pelo homo superior. E claro, não há como não citar Mercúrio: interpretado com carisma por Evan Peters (Kick-Ass: Quebrando Tudo), Peter Maximoff (outra adaptação, feita para diferenciá-lo de Pietro – nome que certamente será utilizado na versão do personagem feita pelo Marvel Studios) tem seu sarcasmo ilustrado de modo certeiro, sem contar que sua supervelocidade dá origem ao melhor momento do filme; e o fato do personagem ser filho de Magneto nas HQs é referenciado aqui numa fala enlouquecedora para os fãs de Quadrinhos proferida por Mercúrio (”Você controla metais? Minha mãe conheceu um cara que controlava metais”). Vai ser dificílimo para Aaron Taylor-Johnson entregar um Mercúrio igualmente excepcional em Os Vingadores 2: A Era de Ultron.

E, ainda que acabe sofrendo artisticamente por não eliminar algumas (ou muitas) das inconsistências de cronologia presentes na franquia e não se dar ao luxo de propor explicações mais acentuadas para certos acontecimentos – para aproveitá-lo por inteiro, devemos ignorar completamente a existência de X-Men 3 e Wolverine – Imortal, infelizmente -, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido não permite que nenhum desses defeitos lhe tirem o brilho.

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