Napoleão (1)

Título Original

Napoleon

Lançamento

23 de novembro de 2023

Direção

Ridley Scott

Roteiro

David Scarpa

Elenco

Joaquin Phoenix, Vanessa Kirby, Tahar Rahim, Rupert Everett, Mark Bonnar, Paul Rhys, Ben Miles, Ludivine Sagnier, Edouard Philipponat, Miles Jupp, Youssef Kerkour, Sinéad Cusack, Sam Troughton e Catherine Walker

Duração

157 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Ridley Scott, Joaquin Phoenix, Kevin J. Walsh e Mark Huffam

Distribuidor

Sony

Sinopse

As origens do comandante militar Napoleão e sua rápida ascensão. Uma visão através do prisma de seu relacionamento e muitas vezes volátil com sua esposa e por ser amor verdadeiro, Josephine.

Publicidade

Napoleão (2023) | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

Que Ridley Scott é um cineasta absurdamente irregular, acho que não é surpresa para ninguém. Sua capacidade de conceber uma obra-prima que entrará para a história do Cinema (Alien – O Oitavo Passageiro, Blade Runner, Thelma & Louise) e uma bomba de proporções homéricas (Robin HoodO Conselheiro do Crime, Alien: Covenant) é realmente notável. Dito isso, ainda assim é decepcionante ver Scott tendo a oportunidade de comandar um projeto sobre uma das figuras mais megalomaníacas (e, por que não?, interessantes) da História moderna apenas para resultar num longa com carinha de telefilme feito a toque de caixa para o History Channel. Isso fica claro logo na primeira sequência de batalha que ocorre em Napoleão, que é conduzida de forma anêmica: basicamente, ela se resume um close aqui, um plano fechadíssimo ali e um plano geral do campo de batalha acolá, se alternando numa montagem que carece de intensidade ou dinamismo.

E, se isso poderia funcionar caso a intenção de Ridley Scott claramente fosse a de desprezar a escala daqueles conflitos em prol das reações intimistas de Napoleão perante eles, na prática… não, a “proposta” do diretor parece ser a de retratar aquelas batalhas como eventos de fato grandiosos – mas estes são registrados de forma tão mecânica e pouco imaginativa que acabam soando “pequenos”. Para falar a verdade, o único momento em que as batalhas de Napoleão conseguem provocar alguma sensação que não seja a pura monotonia é a sequência no lago congelado, que é enfocada por Scott como uma verdadeira tragédia, como um pesadelo que deixa bem claro como o personagem-título é não só um exímio estrategista, mas também um carrasco sádico como poucos.

Aqui, neste momento, alguém pode contra-argumentar (com certa razão, não vou negar) que o objetivo de Napoleão não é o de retratar a grandiosidade de seu biografado, mas, sim, o de explorar os aspectos íntimos e minimalistas de sua persona a fim de mostrar, através dos pequenos detalhes, quem era o ser humano por trás do mito/monstro.

Mas aí, me sinto obrigado a responder com uma pergunta: é? Porque, sinceramente, a abordagem de Ridley Scott e do roteiro de David Scarpa me parece tão destrambelhada (entre o micro e o macro, entre qual Napoleão será retratado, entre qual faceta será o norte da narrativa) que não consigo cravar/enxergar uma proposta geral no projeto como um todo. E este, para mim, é o grande problema do Napoleão de Ridley Scott: afinal, sobre o que é o filme e qual é o seu enfoque? É sobre o grande – e, de novo, megalomaníaco – estrategista que tanto impactou a Europa entre o fim do século 18 e o início do 19? Ou é sobre a relação conturbada, mas emocionalmente muito cara a Napoleão, entre ele e Joséphine?

Na tentativa de tratar ambos os enfoques como o centro de uma única narrativa, o filme acaba não conseguindo ser nem uma coisa, nem outra, falhando em trazer dimensão ou profundidade a qualquer uma das duas. Nesse sentido, muito me admira o trabalho de Vanessa Kirby, que faz o possível para imprimir intensidade e peso dramático a Joséphine – e, se no papel a personagem parece oscilar bruscamente de uma cena à outra, na prática Kirby se sai razoavelmente bem ao tentar amarrar uma ponta à outra e, com isso, fazer Joséphine soar multifacetada em vez de inconsistente. Infelizmente, nem isso é o suficiente para salvar todo o arco da relação entre os dois, já que, sempre que o filme parece prestes a se aprofundar nos conflitos do casal e nos impactos duradouros que cada um provoca em ambos, Ridley Scott decide subitamente cortar para alguma outra prioridade narrativa que resolveu ter de última hora – e, assim, quando aparece um letreiro no final dizendo que as últimas palavras de Napoleão foram “França, o exército, chefe do exército, Joséphine“, tal revelação carece do impacto que julgava que tivesse porque o filme em si não construiu bem a escalada até ela.

No meio dessa bagunça toda, o que resta a Joaquin Phoenix é fechar a cara e atravessar praticamente todos os momentos de Napoleão no filme com o mesmíssimo semblante, na esperança de que, em alguma hora, isso acertará em alguma coisa (ou terá a ver com o que o personagem pede em alguma ocasião). Sim, aqui e ali Phoenix ilustra bem a humanidade do biografado ao exemplificar seu medo e seu pânico diante de algumas situações mais graves, mas… estes instantes são pontuais demais para criarem um contraste com a frieza do restante da projeção e, assim, resultarem numa composição multifacetada e/ou complexa. Aliás, a impressão que fica é a de um personagem desenvolvido ao longo de todo um arco mais longo que, no fim das contas, terminou retalhado numa montagem apressada que deixou, de última hora e de forma destrambelhada, um monte de coisa fora.

Se bem que, justiça seja feita, o filme inteiro gera essa impressão – e a correria com que a narrativa passa de um evento histórico a outro é tão gritante que se esquece de construir, com um mínimo de coesão, as circunstâncias que levaram um a outro, soando como um resumão de História que passa rapidinho por vários subtópicos da Wikipédia sem registrar minimamente o que está escrito neles (uma sensação que é acentuada pelo uso constante de legendas que descrevem superficialmente os dados de cada episódio histórico para de evitar a fadiga de… desenvolvê-los de fato). E, sinceramente, eu não acho que isso justifique o fato de todo o filme (dos momentos mais grandiosos aos mais introspectivos) ser uniformemente desinteressante em termos visuais/de estilo – e, se a intenção ao mergulhar todas as cenas numa paleta excessivamente cinzenta (que chapa as cores de tudo que vemos em cena) era a de escancarar sua “seriedade”, na prática o único efeito que se conquista é um tédio visual que não dialoga com qualquer outro aspecto da narrativa.

Mas, pelo menos, Ridley Scott já anunciou que esta versão de 157 minutos não é a edição definitiva do longa e que já, já chegará na Apple TV+ um corte de quatro horas para suprir as frustrações de quem foi assistir a Napoleão nos cinemas. Ou seja: Scott, com todo o poder e liberdade artística que sua carreira premiadíssima de quase 50 anos lhe trouxe, decidiu lançar nas telonas o que julgava ser uma versão pior de sua obra.

Ah, se tem uma coisa que eu mal posso esperar para fazer, depois de pagar o valor inteiro de um ingresso de cinema e ser soterrado com duas horas e meia de aborrecimento, é rever este filme numa versão com 90 minutos a mais…

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

Mais para explorar

As Marvels | Crítica

Não é uma experiência tão torturante quanto algumas das últimas produções do MCU, mas, ainda assim, nunca deixa de ecoar o cansaço que acometeu a franquia e o desespero para manter-se relevante.

Guerra Civil | Crítica

Como espetáculo de ação, Guerra Civil é uma obra tecnicamente eficiente. Como tese – que obviamente tenta ser – sobre algum tema mais amplo, é um filme que reflete as velhas e costumeiras limitações de Alex Garland.

Duna: Parte 2 | Crítica

Uma obra cujos méritos são diversos, inquestionáveis e, sim, constituem um verdadeiro milagre – mesmo que nem sempre consiga envolver emocionalmente o espectador a ponto de fazê-lo se entusiasmar com tais proezas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *